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Exames complementares

No documento Clínica de animais de companhia (páginas 87-90)

III. Monografia

4. Causas

6.5. Exames complementares

Independentemente da causa subjacente, na maioria dos animais, as manifestações clínicas e história associada são semelhantes, consequentemente, podem não ser suficientes para identificar a causa subjacente (Lorenz et al., 2011). Um estudo mais aprofundado da etiologia das convulsões requer a realização de exames complementares de diagnóstico (Lahunta et al., 2015). A extensão dos exames dependem do número de convulsões, da idade do paciente, da lista de diagnósticos diferenciais e do custo dos exames complementares (Lahunta et al., 2015). Todos os animais devem ser submetidos a um plano de diagnóstico semelhante, com o objetivo de estabelecer um diagnóstico definitivo. Idealmente, os exames de diagnóstico devem ser realizados por uma determinada ordem, inicialmente deve começar-se pela exclusão das causas extracranianas e posteriormente pela exclusão das intracranianas (Lorenz et al., 2011). Em última instância, a extensão dos exames de diagnóstico, vai depender da vontade do dono, das restrições financeiras, dos achados clínico patológicos e da disponibilidade dos exames de diagnóstico (Lorenz et al., 2011). Num paciente que tenha sofrido apenas uma convulsão, os dados clínicos mínimos necessários, (Minimum Database-MDB) consistem no hemograma, no perfil bioquímico e na urinálise. De acordo com os resultados, pode ser necessário realizar testes mais específicos para se conseguir chegar ao diagnóstico definitivo (Lorenz et al., 2011). A informação dada pelo MDB conduz a uma das três situações: a obtenção de um diagnóstico definitivo, a obtenção de um diagnóstico presuntivo que requer a realização de mais exames de diagnóstico para a sua confirmação ou não se obtém nenhuma pista relativamente à etiologia (Lorenz et al., 2011). Deve de ser realizado um exame fecal aos animais com menos de um ano de idade, pois uma elevada carga parasitária pode ser responsável pelas convulsões, particularmente no caso de coccídeas (Sanders, 2015 b). No caso de se suspeitar de intoxicação é necessário realizar testes específicos para determinar a toxina responsável (Lorenz et al., 2011). Por exemplo, a determinação das concentrações sanguíneas de chumbo deve ser feita em pacientes suspeitos de terem sido expostos ao chumbo ou residentes em áreas com grande incidência de intoxicação por chumbo e nos animais com menos de um ano de idade (Thomas & Dewey, 2016). Quando se suspeita de epilepsia idiopática com base na idade, no exame físico e no exame neurológico, deve realizar-se um hemograma e perfil bioquímico completo, a avaliação dos ácidos biliares pré e pós-prandiais e uma urinálise para

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excluir as causas metabólicas das convulsões. Os exames complementares, a RM e a análise ao LCR, podem ser propostas ao dono, de modo a poder excluir-se a existência de lesões estruturais intracranianas. Sem a realização de todos os exames de diagnóstico, apenas podemos fazer um diagnóstico presumptivo de epilepsia idiopática por ser um diagnóstico de exclusão (Moore, 2013). Qualquer paciente que seja inicialmente diagnosticado com epilepsia idiopática, mas se apresente refratário à medicação, deve ser reavaliado recorrendo a RM do cérebro, para procurar sinais de afeções estruturais corticotalâmicas (Moore, 2013). Os pacientes que apresentem convulsões recorrentes (Lahunta et al., 2015), alterações neurológicas no período interictal (Nelson & Couto, 2009 b) ou que têm menos de um ou mais de cinco anos quando iniciaram as convulsões devem realizar uma avaliação diagnóstica completa (Lorenz et al., 2011).

6.5.1 Hemograma, análises bioquímicas e urinálise

As alterações que podemos encontrar no hemograma de um paciente com convulsões incluem: a anemia, a policitémia, a leucocitose, a leucopénia, a presença de glóbulos vermelhos nucleados e a trombocitopenia (Sanders, 2015 b). A policitemia, com um valor de hematócrito superior a 70 %, pode causar viscosidade suficiente para desencadear uma convulsão. Os cães com shunt porto-sistémico podem apresentar anemia microcítica e leucocitose no hemograma (Lahunta et al., 2015).

Nas análises bioquímicas, as alterações que possíveis incluem: a hipoglicémia, a hiperglicemia, o aumento dos valores de ureia (BUN- Blood urea nitrogen), as elevações dos enzimas hepáticos, a bilirrubinémia, as alterações ácido-base, as alterações eletrolíticas e as alterações dos valores das hormonas da tiróide (T4 e TSH) (Sanders, 2015 b).A função hepática deve ser avaliada em cães que tenham a sua primeira convulsão com menos de um ano de idade e em todos os animais com resultados laboratoriais indicativos de disfunção hepática (Nelson & Couto, 2009 b). A avaliação das concentrações séricas dos ácidos biliares é realizada nos cães jovens para despistar a existência de shunt portossistémico (Thomas & Dewey, 2016). A maioria dos animais com encefalopatia hepática vai apresentar azotémia. O valor de BUN pode estar aumentado nos casos de doença renal crónica ou diminuído nos casos de shunt porto- sistémico. As neoplasias das células-beta do pâncreas estão associadas a hipoglicémia ou alterações no rácio glucose: insulina (Lahunta et al., 2015).

Na urinálise, podem estar presentes alterações indicativas de afeções subjacentes concomitantes, tais como a DRC, ou alterações indicativas de outras causas responsáveis, tais como uma doença de armazenamento ou presença de Aspergillus spp.(Sanders, 2015 b).

6.5.2 Exames imagiológicos

A radiografia torácica e abdominal são utilizadas como meios de diagnóstico complementares no caso de se suspeitar da existência de afeções estruturais extracranianas (Gruenenfelder, 2008; Nelson & Couto, 2009 b). A realização de três projeções, uma laterolateral esquerda e

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direita e uma ventrodorsal, pode permitir identificar a presença de alterações na silhueta cardíaca, a presença de metástases a nível pulmonar, bem como alterações do tamanho do fígado, microhepatia ou hepatomegália, sugestivas de afeções hepáticas (Sanders, 2015 b). A realização de ecografia abdominal é particularmente importante em pacientes muito jovens ou muito idosos, quando temos história de vómitos, diarreia, anorexia ou quando temos alterações nas análises bioquímicas (Sanders, 2015 b).

A RM proporciona imagens tridimensionais do cérebro com excelentes resoluções dos tecidos moles e contraste entre os tecidos (Sanders, 2015 b). É o exame mais sensível e específico para identificar afeções estruturais intracranianas (Wolff, 2012 referido por Ghormley et al., 2015), sendo considerado o gold standard tanto em medicina veterinária como em humana (Sanders, 2015 b). Contudo, uma RM normal não excluí a possibilidade de haver uma lesão no prosencéfalo responsável pelo desenvolvimento de convulsões (Lahunta et al., 2015). Embora os pacientes com epilepsia idiopática por norma tenham uma RM normal, podem ser identificadas, ocasionalmente, alterações temporárias secundárias à atividade convulsiva (Lahunta et al., 2015; Thomas & Dewey, 2016). A TC pode ser uma opção quando não é possível realizar a RM ou no caso de trauma craniano, pois produz um excelente detalhe nos tecidos ósseos (Sanders, 2015 b). A realização de RM, de TC e a análise do LCR, estão especialmente indicadas quando existem deficits neurológicos no período interictal ou convulsões refratárias ao tratamento médico ou quando o início das convulsões ocorre antes de um ou depois dos cinco anos de idade ou quando o dono quer descartar a possibilidade de uma lesão estrutural (Thomas & Dewey, 2016). Idealmente os exames imagiológicos são realizados em primeiro lugar e com base nos resultados, o LCR pode ser colhido durante a anestesia (Thomas, 2010).

6.5.3 Análise do Líquido cefalorraquidiano

Após a colheita do LCR deve ser realizada a avaliação macroscópica da coloração e da turvação, em seguida deve realizar-se a análise quantitativa, com determinação da quantidade de proteínas totais e contagem de células total. Uma porção do LCR deve ser armazenada refrigerada para posteriores testes de diagnóstico mais específicos, tais como cultura, avaliação serológica do título de Ac ou PCR para pesquisa de agentes infecciosos. A análise do LCR é primariamente utilizada para diagnosticar encefalite. A encefalite pode provocar o aparecimento de alterações específicas no cérebro que podem ser visualizadas na RM, caso sejam muito severas, mas, na maioria dos casos, os animais com encefalite apresentam uma RM normal (Sanders, 2015 b). Pode ser necessário realizar análises serológicas para fazer o rastreio de doenças inflamatórias infeciosas através da avaliação dos títulos de anticorpos ou PCR para os agentes infeciosos mais comuns da área geográfica em questão (Parent, 2010), tais como o vírus da esgana, protozoários como Neospora caninum e Toxoplasma gondii e fungos como Cryptococcus neoformans (Gruenenfelder, 2008). A análise do LCR também pode

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auxiliar na distinção entre duas causas que têm uma apresentação semelhante na RM, tais como a presença de metástases no cérebro e uma encefalite (Sanders, 2015 b).

6.5.4 Eletroencefalografia

A eletroencefalografia (EEG) é a gravação da atividade elétrica espontânea do cérebro. A sua avaliação permite-nos identificar a presença de atividade elétrica anormal e ajudar a determinar a localização das alterações (Sanders, 2015 b). Portanto, pode ser útil para confirmar a atividade epilética quando o veterinário têm dúvidas se os eventos descritos são convulsões (Thomas & Dewey, 2016). Em cães e gatos, a EEG é realizada através da inserção de agulhas pequenas e finas por de baixo da pele que cobre áreas específicas do cérebro. Em medicina veterinária o uso da EEG tem sido suplantado pelo uso de técnicas de diagnóstico mais avançadas como a RM (Sanders, 2015 b).

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