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Examinando a legitimidade do monopólio da violência, explorou-se o uso abusivo da força por parte dos órgãos públicos encarregados de realizar o

enfrentamento da criminalidade, mais especificamente a polícia militar, que faz parte da solução do problema e não o contrário. Conclui-se que há dificuldades em aferir se uma polícia militar é ou não violenta, pois restam dúvidas quanto a exatidão dos critérios até então utilizados, pois o Estado Democrático de Direito exige que para um policial ser considerado culpado é necessária uma sentença penal condenatória transitada em julgado, o que por sua vez subsidiaria uma pesquisa científica sobre este fenômeno.

46 III - DESMILITARIZAÇÃO DAS POLÍCIAS MILITARES NO BRASIL

No atual quadro de violência existente no Brasil, que contabiliza números de homicídios maiores do que alguns países em guerra, o uso abusivo da força é visto como uma das causas desta situação, sendo que alguns pesquisadores atribuem isso a militarização da segurança pública, uma vez que as ações de polícia ostensiva são realizadas pelas polícias militares. Neste contexto, a desmilitarização surge como uma possível solução para o fenômeno, ou ao menos para que a polícia seja menos agressiva e truculenta.

Tamanha é a repercussão de certas ações letais das polícias militares, que as discussões sobre a desmilitarização são alvo de debates internacionais, como por exemplo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos, e o Conselho de Direitos Humanos ONU. Há opiniões contra e a favor da manutenção da polícia militar, e até mesmo propostas legislativas para uma mudança estrutural do atual modelo de polícia ostensiva brasileira.

A DESMILITARIZAÇÃO COMO POSSIBILIDADE DE DIMINUIÇÃO DE ABUSO NO USO DE MEIOS COERCIVOS

Inicialmente é forçoso analisar a abrangência de uma possível desmilitarização, pois caso ocorra, não se terá mais uma polícia militar, e sim uma polícia regida por um estatuto civil. Por consequência lógica, desmilitarizando não ocorreria diminuição da violência empregada pela polícia militar, por que simplesmente esta não mais existiria, sendo que as expectativas seriam voltadas para que minimizassem os índices de violência policial na atuação desta nova polícia, agora civil. Também há que se considerar a existência de propostas sugerindo que ocorra unificação entre as polícias civis e as polícias militares, já que ambas são estaduais, sendo regida por um estatuto civil.

Vencidas essas informações preliminares, afirmando que o militarismo não é coerente com questões de segurança pública, tem-se o pensamento de Costa (2004):

47 A militarização teria difundido uma “ideologia militar” no trato de questões que são civis, como é o caso da segurança do cidadão, seria responsável por formas de atuação que foram batizadas de “militarismo”.

[...]

Junto com essa militarização veio a ideologia militar, a ideia de que existe um “inimigo interno” querendo subverter a ordem. Para que isso não comprometa a governabilidade das elites, é preciso adotar táticas de “guerra”, visando o combate e a derrota do inimigo imaginário. (COSTA, 2004).

Já Machado (2015) argumenta que se o Estado é de direito, a segurança pública não pode ser militarizada, pois as democracias exigem distinção entre as funções dos órgãos policiais e das forças armadas. Guerra é uma atividade típica dos militares, mas nunca das polícias, e dessa forma segurança interna do país só pode ser desempenhada por uma polícia de natureza civil. Freixo (2015, p. 11) aduz que desmilitarizar é urgente para se superar o paradoxo de termos em nossa democracia uma polícia concebida à semelhança das forças de repressão do antigo regime militar, sendo a iniciativa um passo importante para que os servidores da segurança pública convivam com a democracia, recebam treinamento adequado e sejam valorizados. A diferença entre os servidores públicos civis e militares ocorre em razão de suas peculiaridades, conforme aduz José Roberto Castro (2016):

Os direitos e deveres dos militares são muito diferentes. Os militares não fazem greve, não têm hora extra, não podem ter outros empregos e pode ser removido a qualquer tempo. O militar ainda tem um contrato não escrito de entregar a vida para defender o país. Então, não dá para colocar junto. (CASTRO, 2016).

Além disso, os militares devem ter dedicação exclusiva ao serviço, sujeição a preceitos rígidos de disciplina e hierarquia, disponibilidade permanente, pois se mantém disponível para o serviço ao longo das 24 horas do dia, mobilidade geográfica (pode ser movimentado em qualquer época do ano, para qualquer lugar do estado), manutenção do vigor físico (é submetido durante toda a sua carreira a periódicos exames médicos e testes de aptidão física), formação específica, aperfeiçoamento constante, proibição de participar de atividades políticas, proibição de sindicalizar-se e de participação em greves, restrições a direitos trabalhistas, e por fim o dever de proteger a sociedade mesmo com o risco da própria vida. O antropólogo Luiz Eduardo Soares (2017) discorre sobre as características supra,

48 afirmando que em decorrência delas os militares são as principais vítimas do ordenamento castrense, in verbis:

Nesse contexto, dar-se-ia a super-exploração da força de trabalho policial, calada e domesticada pelo arbítrio punitivo dos superiores sobre os subalternos, em benefício de governos estaduais insensíveis à dignidade do trabalho e aos direitos humanos dos operadores da segurança pública menos graduados. Impedidos de se organizar, criticar, propor mudanças e formular demandas, os policiais seriam as primeiras e principais vítimas de um ordenamento discricionário e autoritário. (SOARES, 2017).

Zaverucha (2011, p. 109) afirma que forças policiais serem auxiliares do Exército é algo típico durante os regimes autoritários, pois nas democracias somente em período de guerra é que as polícias militares ficam nesta situação. Em tempo de paz, continua o pesquisador, o Exército é quem se torna reserva da polícia, auxiliando-a quando consegue dissuadir distúrbios sociais.

Com base no art. 34 da CRFB, no dia 16 de fevereiro de 2018 o presidente