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2. TEORIA GERAL DA RESPONSABILIDADE CIVIL

2.2 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

De acordo com CAVALIERI FILHO., as excludentes da responsabilidade civil são também causas de exclusão do nexo de causalidade, uma vez que configuram situações em que se torna impossível o cumprimento da obrigação de reparação, na medida em que o dano suportado pela vítima é decorrente de causa alheia ao agente. Configurando-se o nexo causal como elemento fundamental para o surgimento do dever de reparação, ante sua ausência, não haverá que se falar em responsabilização civil. São circunstâncias que restam por romper como nexo causal entre a

148 Cf. DIAS, José de Aguiar. Op. cit. p. 120.

149 Cf. GONÇALVES, Carlos Roberto. Op cit. [Minha Biblioteca]. 150 Cf. DIAS, José de Aguiar. Op. cit. p. 120.

151 Cf. GONÇALVES, Carlos Roberto. Op cit. [Minha Biblioteca]. 152 Cf. CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op cit. p. 52.

conduta do agente e o dano sofrido pela vítima o fato exclusivo da vítima, o fato de terceiro, o caso fortuito e a força maior. 154

2.2.1 Fato exclusivo da vítima

Verifica-se a ocorrência de fato exclusivo da vítima quando o sujeito preponderante da origem do dano é a própria vítima, sendo o suposto agente um mero instrumento para a consecução do resultado final.155

Trata-se de hipótese em que a ação da própria vítima é causa voluntária de exclusão da responsabilidade, uma vez que nessa situação não resta configurada a relação de causa e efeito entre a conduta do agente e o prejuízo experimentado pela vítima, havendo, portanto, exclusão do nexo de causalidade.

Conforme ilustra GONÇALVES, configura-se a culpa exclusiva da vítima quando, por exemplo, o motorista dirige com toda cautela, mas vê-se subitamente surpreendido pelo ato da vítima que pretende se suicidar e se atira sob as rodas do veículo. 156

2.2.2 Fato de terceiro

Configura-se fato de terceiro quando o dano for causado exclusivamente por conduta de terceiro, não havendo, por consequência, responsabilidade de indenizar do aparente agente causador do dano, visto que o fato exclusivo de terceiro tem o condão de excluir o nexo causal entre a conduta do suposto agente e o dano experimentado pela vítima.157 Consoante leciona DIAS, terceiro é o sujeito que não se confunde com a vítima, tampouco com aparente causador do dano e que não possuiu qualquer relação com esse último. 158

É o que acontece, por exemplo, quando dois veículos se encontram parados, um à frente do outro, aguardando a abertura do semáforo, e o segundo sofre um abalroamento na traseira por

154 Cf. CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op cit. p. 85. 155 Idem, ibidem, p. 86.

156 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil: doutrina, jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2002, p.

717.

157 Cf. CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op cit. p. 87. 158 Cf. DIAS, José de Aguiar. Op. cit. p. 299.

um terceiro veículo, conduzido por motorista desatento, sendo lançado, com consequência, contra a traseira do automóvel que lhe está à frente. Nesse caso, se o dono do primeiro veículo acionar o motorista do segundo, este poderá defender-se com sucesso, alegando o fato de terceiro, ou seja, que serviu de mero instrumento da ação do motorista imprudente, nada podendo fazer para evitar a consecução do dano.159

Impende ressaltar que, conforme observa CAVALIERI FILHO, o fato de terceiro apenas irá excluir a responsabilidade quando romper por completo o nexo causal havido entre a conduta do suposto agente e o dano sofrido pela vítima, situação na qual excluirá a responsabilidade do aparente ofensor. 160

2.2.3 Caso fortuito e força maior

O caso fortuito e a força maior encontram sua disciplina normativa amparada pelo artigo 393 do Código Civil:

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir161

Inicialmente destaca-se que, CAVALIEIRI FILHO, afirma que muito já se discutiu acerca da diferença entre os institutos do caso fortuito e da força maior. Não obstante, o próprio Código Civil os considera como sendo sinônimos, uma vez que os caracteriza como um fato necessário, cujos efeitos não poderiam ser evitados ou impedidos. Todavia, referido autor entende que há uma diferença entre ambos os intuitos, na medida em que afirma que o caso fortuito é o evento imprevisível e, por ser imprevisível, também é inevitável, enquanto que a força maior se refere a uma força superior quando comparada com a do agente e que, muito embora possa ser prevista, não pode ser evitada, tal como enchentes e tempestades.162

159 Cf. GONÇALVES, Carlos Roberto. Op cit. [Minha Biblioteca]. 160 Cf. CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op cit. p. 87.

161 BRASIL. Código Civil, 2002.

Com efeito, a inevitabilidade configura-se como elemento imprescindível para a caracterização da força maior, assim como a imprevisibilidade para o caso fortuito, ressaltando, contudo, que a imprevisibilidade deve ser especifica a um fato concreto, e não uma previsibilidade genérica de que podem ocorrer acidentes, porque se assim o fosse tudo passaria a ser previsível.163

Apesar disso, independentemente de serem ou não expressões sinônimas, no que concerne à seara da responsabilidade civil, irão atuar como se sinônimas fosse, uma vez que tanto o caso fortuito como a força maior extinguem o nexo de causalidade, e como consequência, rompem com o dever de indenizar.164

Ressalte-se apenas, que no que concerne a responsabilidade civil objetiva, em alguns casos, o caso fortuito não afastará o dever de indenizar, é o que ocorre, por exemplo, nas hipóteses de fortuito interno, que muito embora seja um fato imprevisível e, portanto, inevitável, não rompe o nexo de causalidade, uma vez que se relaciona com os riscos do empreendimento, de modo que não é possível a realização da atividade sem a assunção dos riscos quanto a uma possível ocorrência de fortuito165