• Nenhum resultado encontrado

Capítulo III A responsabilidade civil objetiva nos viés da tutela da pessoa humana

5. Excludentes de responsabilidade civil objetiva

As excludentes de responsabilidade objetiva são exceções previstas expressamente em lei, que eximem o suposto agente de responder civilmente pelo dano ocorrido, tendo em vista que realizam a quebra do nexo de causalidade. Tais excludentes ocorrem por fatores exógenos que demonstram a ausência de elo entre o suposto responsável e o dano.

É a força maior excludente de responsabilidade na perspectiva da teoria do nexo causal, que entende causa como elemento atribuído ao agente de forma direta, e não como elemento que poderia ser suprimido para realização da conduta.298

296

“A responsabilidade civil por dano moral trabalhista é, fundamentalmente, de natureza subjetiva, assim fundada na culpa. Todavia, mesmo diante de fatos não imputáveis ao empregador, no nosso entender determinadas sequelas ou traumas psíquicos podem ensejar a reparação por responsabilidade objetiva nos casos em que o empregador promove atividades de risco ou o empregado labora em situações de periculosidade”. (BELMONTE, Alexandre Agra. Curso de

responsabilidade trabalhista: danos morais e patrimoniais nas relações de trabalho. São

Paulo: LTr, 2009. p.242-243)

297 As excludentes da responsabilidade civil objetiva não serão utilizadas caso adote-se a teoria do

risco integral, tal como na seara ambiental, todavia não é o nosso entendimento nesta dissertação.

298 LIMA NETO, Francisco Vieira. A força maior e o caso fortuito como excludentes da

responsabilidade. In: TARTUCE, Flavio; CASTILHO, Ricardo (coord.). Direito Civil: direito

Considerando que a doutrina adota diversos critérios para definir força maior e caso fortuito, aderimos ao posicionamento de Cavalieri, que defende o caso fortuito como sendo dividido em interno e externo, sendo a força maior o caso fortuito de fato externo, que não promove conexão à pessoa do devedor ou à sua empresa. Em contrapartida, o caso fortuito interno é o fato imprevisível, e por isso inevitável, relacionado à organização da empresa e à pessoa, que se relaciona com os riscos da atividade, da empresa, ou da pessoa299.

Não obstante, tanto o caso fortuito interno e externo devem ser fatos necessários, uma vez que não é qualquer acontecimento que libera o devedor, assim como, devem ser supervenientes, haja vista poderia conjecturar a respeito desse prejuízo.300

Além do mais, os contornos do caso fortuito, interno ou externo, são constituídos pelo nexo causal entre o dano e a sua causa jurídica301. Logo, é fato determinante para realização do evento danoso.

É certo que se consideradas excludentes de responsabilidade haverá ausência do elemento da responsabilidade civil nexo de causalidade.

Ao nos referir à teoria do risco, vale destacar que o simples caso fortuito ou caso fortuito externo não extingue a responsabilidade civil, será apenas a força maior capaz de obstar a incidência da reparação, desde que não configure culpa remota, tal como pelos fenômenos naturais, culpa da vítima, ordens de autoridades, guerras e/ou revoluções.302

No campo do direito do trabalho, a CLT no artigo 501, §1°, trata da força maior como ato humano inevitável e remete a sua não configuração em caso de imprevidência do empregado. E mais, não faz a CLT qualquer menção ao caso fortuito com exceção do artigo 61,§3°, referente à obra pública inesperada, adota a teoria do risco, que leva à paralisação do trabalho e à possibilidade de recuperação pelo empregador em período superior a 45 (quarenta e cinco) dias por ano, por meio da prestação pelos empregados de até duas horas extras diárias.303

299 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Atlas, 2012. p.71. 300 LIMA NETO, Francisco Vieira. Op. cit. p.407.

301 DE PAULA, Carolina Bellini Arantes. As excludentes de responsabilidade civil objetiva. São

Paulo: Atlas, 2007. p.93.

302LIMA NETO, Francisco Vieira. A força maior e o caso fortuito como excludentes da

responsabilidade. In: TARTUCE, Flavio; CASTILHO, Ricardo (coord.). Direito Civil: direito

patrimonial e direito existencial. São Paulo: Método, 2006. p.488.

303“No Direito do Trabalho, a imprevidência (entenda-se como a culpável ou mesmo a compreendida

Não obstante, a tese de Cavalieri acima explanada sobre casos fortuitos interno e externo nos auxilia na melhor aplicação das excludentes de responsabilidade na Justiça do Trabalho.

Outra excludente de responsabilidade é o fato de terceiro. Assim, o dano é atribuído à conduta ou atividade de outra pessoa, identificado ou identificável, que não seja o suposto responsável, nem a vítima.304

A culpa exclusiva da vítima é também excludente de responsabilização, uma vez que a própria vítima realizou o evento que gerou o dano contra si mesma, denominada auto-lesão. Caracteriza-se independente da apreciação da imputabilidade ou voluntariedade da vítima.305

A mudança interpretativa promovida pela responsabilidade civil como solidariedade social nos casos concretos ensejará alterações em diversas características do instituto, tal como a análise das excludentes e de seus elementos, uma vez que imprime ao intérprete a tarefa de buscar o dever de proteção da vítima sobre danos decorrentes da sociedade complexa. É o Direito por via da responsabilidade civil adaptado à realidade contemporânea e preocupado com a interpretação associada ao conteúdo axiológico.

racionamento de energia elétrica não é normalmente tido como motivo de força maior, porque pode o empregador se aparelhar para evitar os seus efeitos, prevendo-os (gerador, por exemplo); quanto à crise econômica e falta de matéria-prima, estão, de ordinário, inseridas na teoria do risco empresarial. Embora a CLT se refira apenas à força maior (fortuito humano), parecendo utilizar denominação de forma genérica e abrangente da força maior e do caso fortuito (fortuito natural), pontualmente termina distinguindo as duas hipóteses”. (BELMONTE, Alexandre Agra. Curso de

responsabilidade trabalhista: danos morais e patrimoniais nas relações de trabalho. São

Paulo: LTr, 2009. p.70-71)

304

“Caracteriza-se o fato de terceiro como excludente, em síntese, apenas quando; (i) a causa exclusiva dos efeitos do fato prejudicial seja o fato de terceiro, porque somente então estará eliminando o vínculo de causalidade entre o dano e a conduta do autor; e (ii) o terceiro seja pessoa distinta do autor indigitado do dano e da vítima, bem como não seja, direta ou indiretamente, legal ou contratualmente, subordinado àquele”. (DE PAULA, Carolina Bellini Arantes. As excludentes de

responsabilidade civil objetiva. São Paulo: Atlas, 2007. p.108) 305

“A culpa da vítima pode concorrer com o ato ou fato do agente na produção ou extensão do dano. Nesse caso, em razão de a culpa concorrente da vítima ser verdadeira concausa do dano, a doutrina sustenta a sua atuação como atenuante, e aplica-se o rateio dos prejuízos advindos. Na maioria das situações reguladas pela responsabilidade civil objetiva, há determinação expressa de que apenas a culpa exclusiva da vítima tem o condão de excluir o agente de sua responsabilidade”. (DE PAULA, Carolina Bellini Arantes. As excludentes de responsabilidade civil objetiva. São Paulo: Atlas, 2007. p.117)

Documentos relacionados