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A exclusão da participação nos processos eleitorais locais, embora com integração nos organismos consulares dos países de origem

A forma como os imigrantes se relacionam com as organizações locais, traduz-se num modo indi- recto de avaliação do seu grau de integração, assim como permite aferir acerca das necessidades sociais emergentes da condição de imigrante. Um indicador indirecto de integração na comuni- dade, refere-se ao recenseamento eleitoral.

De acordo com a lei orgânica n.º 1/2001 de 14 de Agosto – lei eleitoral para os órgãos das autar- quias locais – no seu Capítulo II, Artigo 2.º, alínea a), refere-se que:

“Gozam de capacidade eleitoral activa os cidadãos maiores de 18 anos a seguir indicados:

a) Os cidadãos portugueses;

b) Os cidadãos dos Estados membros da União Europeia, quando de igual direito gozem legalmente os cidadãos portugueses no Estado de origem daqueles;

c) Os cidadãos de países de língua oficial portuguesa com residência legal há mais de dois anos, quando de igual direito gozem legalmente os cidadãos portugueses no respectivo Estado de origem;

d) Outros cidadãos com residência legal em Portugal há mais de três anos, desde que nacionais de países que, em condições de reciprocidade, atribuam capacidade eleitoral activa aos portugueses neles residentes.”

Verifica-se, então, que a todos os cidadãos da União Europeia é conferido direito eleitoral nas eleições autárquicas, a par dos oriundos do Brasil e de Cabo Verde. Se é certo que, no caso de outros cidadãos estrangeiros, esse esteja previsto para o caso das eleições locais, após um dado período de permanência no país ou cujo país de origem actue em regime de reciprocidade com Portugal25, certo é que a maior parte dos imigrantes, independentemente da nacionalidade, não

está inscrita nos cadernos eleitorais (65%). A única excepção, é verificada no caso dos imigrantes cabo-verdianos, ambos recenseados26. Conclui-se que, apesar dos direitos existentes, nem toda a

população imigrante os reclama.

Registam-se diferenças na situação face ao recenseamento eleitoral, por relação à média de anos de residência em Portugal, concluindo-se que à medida que aumenta o tempo de permanência

25

Para análise da especificidade do recenseamento eleitoral para os órgãos autárquicos, vide Mendes e Miguéis (2005). 26

no país, aumenta a representação daqueles que estão recenseados. A média de anos de estadia em Portugal para aqueles que estão recenseados, é de 12 anos e meio, ao passo que aqueles que não estão recenseados vivem, em média, há oito anos e meio. Só a partir dos 11 anos de residência no país é que encontramos mais de metade dos imigrantes recenseados.

Gráfico 7 – Inquiridos recenseados por classes de anos de residência em Portugal (% por relação ao número de anos)

Fonte: Própria – Questionário à população imigrante de S. Brás de Alportel, 2007/2008

A inscrição nos consulados ou embaixadas do país de origem, não só se traduz num meio de re- lacionamento com esse, como pode estar indirectamente associado à necessidade de regularizar a situação no nosso país. Tal será particularmente válido nos grupos de imigrantes que vêm para Portugal, com a finalidade central de trabalhar ou que pretendam usufruir de dados direitos do seu país (de que é exemplo o exercício do direito de voto).

Conclui-se por uma dispersão grande nas respostas em função da nacionalidade. Se bem que a maioria se encontra inscrita no consulado ou embaixada do país de origem (57,3%), é no grupo dos imigrantes com origem na Europa Ocidental que se regista uma menor representação da- queles que se encontram nessa situação. Para tal, em muito contribui a população imigrante de

origem inglesa, cuja grande maioria não se encontra inscrita no consulado ou embaixada do país de origem (75% face ao total de imigrantes com origem neste país, representando quase metade dos imigrantes que não se encontram inscritos nestes organismos).

Quadro 62 – Imigrantes inquiridos segundo a inscrição na embaixada/ consulado do país de origem e nacionalidade

Nacionalidade por regiões continentais Se está inscrito(a) na embaixada/consulado do seu país de origem Total

Sim Não Europa Ocidental Nº 23 33 56 % 41,1% 58,9% 100,0% Europa do Leste Nº 23 8 31 % 74,2% 25,8% 100,0% América do Norte Nº 3 2 5 % 60,0% 40,0% 100,0% América do Sul Nº 9 0 9 % 100,0% ,0% 100,0% África Nº 1 1 2 % 50,0% 50,0% 100,0% Total Nº 59 44 103 % 57,3% 42,7% 100,0%

Fonte: Própria – Questionário à população imigrante de S. Brás de Alportel, 2007/2008

Acesso generalizado ao sistema de segurança social independente

da nacionalidade

Os imigrantes foram, igualmente, questionados sobre se tinham cartão de Segurança Social. Obviamente que o ter acesso a este cartão é apenas uma parte do processo de integração institu- cional e que não permite medir a qualidade que se tem nesse acesso.

Verifica-se que mais de três quartos da população imigrante tem o cartão da segurança social. No entanto, existem diferenças entre a nacionalidade e o acesso ao cartão de segurança social. Também a este nível, é entre os imigrantes da Europa Ocidental que se verifica uma menor re- presentação daqueles que têm a posse deste cartão, donde a população britânica sobressai pelo menor enquadramento institucional (42,9% não tem cartão de segurança social).

Os imigrantes do Leste europeu e do continente africano, são os que na sua grande maioria têm cartão de segurança social, o que se justifica pela centralidade no acesso ao trabalho nas motiva- ções de vinda para o nosso país.

Quadro 63 – Imigrantes inquiridos segundo a posse de cartão de segurança social e nacionalidade

Nacionalidade por regiões continentais Se tem cartão da Segurança SocialSim Não Total

Europa Ocidental Nº% 64,3%36 35,7%20 100,0%56 Europa do Leste Nº% 96,8%30 3,2%1 100,0%31 América do Norte Nº% 60,0%3 40,0%2 100,0%5 América do Sul Nº% 88,9%8 11,1%1 100,0%9 África Nº% 100,0%2 ,0%0 100,0%2 Total Nº 79 24 103 % 76,7% 23,3% 100,0%

Fonte: Própria – Questionário à população imigrante de S. Brás de Alportel, 2007/2008

A manutenção de relações sociais locais, valorizando-se as amizades com os

portugueses

Uma outra forma de avaliar o grau de integração social, reporta-se à manutenção de relações sociais locais ou com a comunidade de destino em geral. A maior parte dos inquiridos, afirma que relaciona com vizinhos portugueses ou que tem amigos nacionais. Tal é independente da nacionalidade, se bem que se verifiquem algumas diferenças que devem ser sublinhadas. Assim, entre todos os imigrantes das comunidades lusófonas, tais relações são mantidas. É nos imigrantes da Europa Ocidental que se verifica uma maior percentagem de inquiridos que refere não ter relação com vizinhos portugueses (11%) e não ter amigos portugueses (16%). Entre os inquiridos da Europa do Leste, constata-se que 90% dos inquiridos tem relação com os seus vizi- nhos e tem amigos portugueses. Nos inquiridos da América do Norte, 40% não tem relação com os vizinhos, mas todos referem ter amigos portugueses.

Gráfico 8 – Inquiridos segundo a existência de relação com vizinhos e amigos portugueses, segundo a nacionalidade

Fonte: Própria – Questionário à população imigrante de S. Brás de Alportel, 2007/2008

A avaliação que é feita dessas relações de vizinhança e de amizade é muito positiva, não existindo variações relevantes em função da nacionalidade. Em nenhum caso se referiu ter uma relação má seja com vizinhos ou com amigos portugueses. No entanto, independentemente da nacionalida- de, há uma apreciação mais favorável da relação tida com os amigos do que a que mantêm com vizinhos, o que é um dado relativamente espectável.

As apreciações mais positivas, são empreendidas pelos imigrantes da América do Norte e de Cabo Verde, verificando-se que, quer nas relações com vizinhos, como nas relações com amigos portu- gueses, os inquiridos referem manter uma relação boa ou muito boa.

Gráfico 9 – Inquiridos segundo a avaliação da relação mantida com vizinhos e com amigos portugueses, segundo a nacionalidade

Fonte: Própria – Questionário à população imigrante de S. Brás de Alportel, 2007/2008

Quando questionados acerca das dificuldades sentidas na relação com a comunidade portugue- sa, são as fragilidades comunicacionais decorrentes do não domínio da língua que são referidas por maior número de imigrantes.

As diferenças culturais, são assinaladas de diferentes formas, nalguns casos reflectindo opiniões mais pejorativas sobre a comunidade portuguesa. Sendo referenciadas, em situações pontuais, a análise de conteúdo das suas apreciações permite identificar algumas das fragilidades na inclu- são social destes imigrantes. Vejam-se, a título de exemplo, algumas das opiniões referenciadas acerca da comunidade portuguesa:

“A comunidade portuguesa é desconfiada.” “A comunidade portuguesa é muito individualista.”

“Os homens em Portugal são mais machistas e as famílias mimam muito as crianças.”

“Os portugueses metem-se muito na vida uns dos outros.” “Os portugueses são mentirosos, «ciganos», é uma cultura fraca.” “Os portugueses são muito stressados.”

“Os portugueses são muito fechados.”

Um desconhecimento e uma frágil utilização do Centro Local de Apoio