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Exemplo de jogos para trabalhar a Compreensão Auditiva

3. Estratégias de aprendizagem: breve definição e classificação

3.3. Exemplo de jogos para trabalhar a Compreensão Auditiva

Como já mencionado por diversas vezes, o principal e grande objetivo da CA é que os estudantes entendam cada vez melhor a LE, neste caso, o espanhol, em situações naturais de comunicação. Contudo, aquando do momento da eleição do jogo lúdico a utilizar em sala de aula, para favorecer uma melhor compreensão da CA, o docente tem de, em primeiro lugar, refletir sobre quais os aspetos concretos que quer trabalhar com os seus alunos, ou seja, se quer debruçar-se mais sobre um conteúdo gramatical, lexical, cultural ou outros do texto oral ou se pretende uma compreensão geral ou detalhada do mesmo. Digo isto porque talvez nem com todos os jogos se poderá trabalhar gramática ou vocabulário da mesma forma ou com a mesma facilidade, por exemplo. O professor poderá, como é óbvio, recorrer ao mesmo jogo para diferentes atividades de CA, mas terá de ser capaz de adaptá-lo a cada uma delas. O importante é que a atividade lúdica ajude os alunos a entenderem melhor a mensagem transmitida pelo texto e que não seja apenas utilizada como pretexto para ocupar os vazios da aula que por vezes possam ocorrer.

Assim, após várias pesquisas sobre este assunto, não encontrei nenhum teórico ou didático que se debruçasse especificamente sobre uma possível classificação dos jogos mais adequados para trabalhar prioritariamente a CA, exceto Cassany, Sanz & Luna (1998). O que se pode encontrar, de facto, são distintas classificações dos jogos lúdicos a utilizar em contexto de sala de aula, isto porque através do recurso a um jogo específico, o professor poderá trabalhar distintas destrezas, desde que saiba adequá-lo ao contexto em que está inserido. Deste modo, podemos deduzir que a utilização do jogo em sala de aula é válida e pertinente desde que o docente saiba adequá-lo ao contexto em que está inserido e à(s) destreza(s) que pretende trabalhar.

Segundo, então, os autores referidos anteriormente (1998: 113), os jogos mais adequados para exercer a compreensão oral são os jogos mnemotécnicos. Alguns jogos populares, segundo eles, são muito úteis sobretudo para os alunos mais pequenos, por exemplo, o jogo de dizer e repetir palavras, as listas de palavras com alguma característica determinada ou a frase maldita (uma frase muito longa que se deve dizer, lembrar e repetir), as adivinhas e a literatura popular. Memorizar refrões de contos e saber repeti-los no momento adequado também consiste num excelente exercício para trabalhar a CA: Soplaré y soplaré, y tu casita tiraré (com a rima e o ritmo como recurso mnemotécnico). Para alunos mais velhos, segundo os autores, os jogos como o telefone (transmitir informação de um aluno a outro e ver como esta se vai perdendo ou alterando progressivamente), o ditado do secretário ou o simples exercício de retenção do máximo de dados de uma exposição são exemplos de exercícios que desenvolvem as capacidades de atenção e retenção, além da compreensão.

Deste modo, após várias leituras e apoiando-me na minha experiência docente, acredito que o professor pode recorrer a diversas tipologias de jogos para trabalhar a CA. Como já referido, o mais importante é, sem dúvida, a sua capacidade em adaptar cada um às atividades que propõe aos seus alunos e, também, saber eleger o momento adequado da aula para utilizá-lo, ponto sobre o qual me irei debruçar no último item deste enquadramento teórico. Assim, tanto os jogos de mesa / tabuleiro, os jogos baseados em concursos de TV, os jogos tradicionais / populares e até mesmo os jogos criados pelos professores são adequados a qualquer tipo de atividade de CA, desde que contribuam para o desenvolvimento de estratégias de escuta, referidas no ponto 3.1 deste relatório, e, consequentemente, para o desenvolvimento desta competência de compreensão. Além disso, hoje em dia, os jogos interativos disponíveis na internet e quase todos os manuais criados para o ensino do ELE incluem a componente lúdica nas

suas atividades e o professor pode encontrar, na maioria dos casos, uma classificação dos mesmos segundo a competência que desenvolvem.

A fim de justificar o que anteriormente foi dito, passo a dar, em seguida, alguns exemplos de jogos lúdicos que considero pertinentes para trabalhar a CA e que já utilizei em contexto de sala de aula. Assim, na minha opinião, e tendo em conta o público-alvo a que se dirigiu este meu trabalho de investigação, muitos são os jogos que o professor pode utilizar com alunos de nível iniciação, para desenvolver a competência auditiva dos mesmos, como por exemplo:

 Jogos de caráter social, como o bingo, o pictionary, o jogo da memória, o dominó, o tabu – excelentes para trabalhar os números e todo o tipo de léxico, assim como para exercer a memória.

 O jogo do galo (tres en raya), o pitufar (este consiste em substituir determinadas palavras num discurso pelo verbo “pitufar”, com o objetivo que os alunos, pelo contexto, consigam inferir a(s) palavra(s) oculta(s) ), ótimos para trabalhar formas verbais, por exemplo.

 A cabra cega (gallinita ciega) – recomendado para pedir, dar e receber instruções, ou seja, para trabalhar determinadas estruturas gramaticais.

 Jogos individuais, como os crucigramas, para rever determinado tipo de léxico.

Acredito, também, que qualquer professor seja capaz de criar os seus próprios jogos desde que estes sejam planificados com certa antecedência e que as suas regras sejam evidentes e de fácil compreensão para os discentes. Não podemos esquecer-nos, como aliás já mencionado anteriormente, que os jogos supracitados também podem ser utilizados para trabalhar outras destrezas, isto é, com o bingo, por exemplo, o docente poderá querer que os seus alunos trabalhem a sua CA já que, através da enumeração de vários números, estes, escutando os mesmos, terão de ser capazes de identificá-los, como poderá solicitar-lhes igualmente que sejam eles a pronunciar os números, exercendo assim a sua expressão oral.

Conveniente é relembrar que nem todas as atividades lúdicas são vantajosas, ainda que nos pareçam adequadas para trabalhar a CA dos discentes, ou seja, como referido em diversas ocasiões, tudo depende do contexto em que estamos inseridos e dos alunos que temos, pois com turmas de quase trinta alunos (o mais comum hoje em dia), é quase impossível recorrer a determinados tipos de jogos porque a turma poderia

mais parecer-se a um concerto de hard rock devido ao barulho, provocado quer pelas conversas paralelas que pudessem surgir entre os alunos, quer por alguma confusão própria dos jogos. Desta forma, nem todos os métodos pedagógicos que elegemos são convenientes a todos os alunos / grupos, e o mesmo ocorre com os jogos.

Além disso, se o jogo é, como já referido no ponto 1.1 deste relatório, facilitador da aprendizagem, não deve, porém, ser utilizado demasiadas vezes, pois perderia a sua eficácia, ou seja, muitos jogos lúdico-didáticos poderiam aborrecer os alunos, fazendo com que estes não tivessem vontade em participar neles.

Em suma, o papel do docente na escolha dos jogos lúdicos é de extrema importância, porque é necessário analisar o conteúdo de cada um para oferecer aos discentes momentos de aprendizagens e ao mesmo tempo proporcionar-lhes um certo prazer. Deste modo, é preciso que o professor varie os jogos, assim como os materiais, suportes e tipos de textos utilizados. Nunca poderá esquecer também que o jogo eleito não pode ser demasiado complicado, caso contrário os alunos poderão desistir dele com maior facilidade, não atingindo o objetivo principal do mesmo: a CA de uma determinada mensagem. E, por terminar, posso acrescentar que no momento de escolher o jogo, importante é não esquecer que este tem de ser atraente, tem de chamar a atenção dos alunos, ou seja, isto implica que o professor tenha de ouvir e estar atento às necessidades dos seus discentes, esquecendo por vezes as suas próprias preferências.