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PARTE II – COMPONENTE EMPÍRICA

Anexo 10: Exemplo do diário de bordo

DIÁRIO DE BORDO 1ª Sessão

(aula de Mundo Atual e Cidadania) 08/01/2013

Hoje foi a primeira sessão do plano de intervenção, tendo sido dinamizada na sala e horário da aula de Mundo Atual e Cidadania (MAC), com a presença da diretora de turma (DT), a qual é docente desta disciplina.

Começámos por nos apresentar, explicar aos alunos o plano que iremos desenvolver, o contexto e respetivos objetivos. De uma forma geral, todos ouviram com atenção, mostrando motivação e recetividade em participar neste plano. No sentido de confirmar se o Pedro tinha compreendido a informação, pedimos-lhe para ele nos ajudar a resumir o que foi dito. Prontamente, ele disse “Eu digo sozinho, sei”. De fato, ele repetiu o que foi dito, com o seu vocabulário, mas com todo o conteúdo correto. Alguns colegas ficaram a olhar para ele com ar de admiração, outros soltaram gargalhadas e outros fizeram comentários de gozo. Perante esta situação, aproveitámos logo para realçar o facto de todos sermos diferentes, tendo qualidades e defeitos, bem como a importância de respeitarmos o outro tal como ele é para que também sejamos respeitados. Quanto ao Pedro utilizámos de imediato o reforço social para valorizar a sua iniciativa.

De seguida, de forma a conhecer um pouco os alunos, dinamizámos o jogo cooperativo “Nomes com gestos”. Os alunos adoraram, foi um momento de partilha de sorrisos, gargalhadas e, sobretudo, de entreajuda, porque espontaneamente, ajudaram-se uns aos outros, repetindo cada um o seu gesto, quando viam que o aluno que estava a jogar estava com dificuldade em lembrar-se dos gestos dos colegas. O Pedro participou neste jogo com alegria e sucesso, pois ele tem uma boa capacidade de memória, o que surpreendeu os colegas pela positiva. Afinal eles viram que o Pedro também tem qualidades. Aproveitámos este facto para salientar que todos nós temos áreas em que somos mais eficientes ou mais deficientes. Utilizámos esta terminologia de “eficiência” versus “deficiência”, uma vez que é a utilizada pela docente de Educação Especial e pelos docentes da turma., sendo já conhecida para os alunos. O Pedro interagiu com a turma (apesar de no início não o ter feito por vontade), ajudou os colegas, mostrou o seu agrado pelo jogo, levantando-se do lugar para nos dizer: “Este jogo foi muito divertido!”.

Este jogo permitiu-nos observar vários comportamentos perturbadores, exibidos por algumas meninas da turma, tais como: conversas paralelas constantes tanto em tom baixo como alto; gargalhadas e comentários de gozo para com alguns colegas, entre os quais o Pedro; verbalização de palavras inadequadas; expressão de gestos impróprios; posturas incorretas e circulação pela sala de aula, sem autorização. Todos estes comportamentos mostram uma nítida ausência de regras, educação e respeito tanto pelos colegas como pelos docentes. Segundo a DT, estes comportamentos são constantes e repetitivos em todas as disciplinas, exibidos pelas mesmas alunas, apesar das diversas reuniões com docentes e Encarregados de Educação e, inclusive,

127 processos disciplinares. De acordo com a opinião da maioria dos docentes, e segundo os questionários passados aos docentes antes da intervenção, estes comportamentos, por parte de algumas meninas, dificultam o desenvolvimento de competências sociais no Pedro e a sua inclusão na turma.

No entanto, apesar de todos estes comportamentos perturbadores, de um modo geral, a turma compreendeu a importância da cooperação e da entreajuda entre todos, pois sem estes elementos não seria possível dinamizar este jogo.

No fim entregámos a cada aluno uma folha com a calendarização de todas as sessões de intervenção, com o respetivo local e horário, dado que sete sessões realizar-se-ão no horário e na sala de aula na hora da aula de MAC e as outras onze no recreio, à terça- feira das 13h10m às 13h40m, na sala de ATL, disponibilizada pela coordenadora da escola para o efeito, ou no exterior, dependendo do estado do tempo e do tipo de jogo. Durante toda a sessão, quando ocorreram comportamentos adequados utilizou-se sempre o reforço positivo e o reforço social com todos os alunos, mas ainda mais com o Pedro, no sentido de promover a continuidade desse comportamento correto e de aumentar a autoestima dos alunos.

De um modo global, os alunos aderiram muito bem ao que foi proposto, tendo aceitado participar neste plano. Uma aluna expressou o seu agrado e estimulou a motivação do grupo verbalizando: “Estas sessões vão ser fixes, vamos participar. O Pedro se calhar já não vai querer ir para a sala da Unidade de Autismo”. Pelo que a DT nos disse, esta menina é uma das que se esforça para brincar e compreender o Pedro, embora quase nunca consiga porque ele tem interesses muito diferentes, mudanças bruscas de humor e quer seguir apenas as regras que ele define.

Apesar do interesse espontâneo da turma em participar neste plano, fizemos questão de salientar que as sessões desenvolvidas no horário da aula de MAC são obrigatórias, dado que substituem esta aula, mas que as que são dinamizadas no recreio são facultativas, só vai quem quer interagir com o colega no sentido de promover as suas competências sociais. Por esta razão não haverá faltas, mas serão marcadas as presenças para controlar o interesse da turma em participar. Tomámos esta decisão porque a diretora do Agrupamento de Escolas autorizou o desenvolvimento deste estudo de caso, com a condição de não se sobrecarregar o horário dos alunos, uma vez que já está muito preenchido. Por outro lado, um dos objetivos deste plano é promover a interação do Pedro com a turma, o que se pretende que aconteça durante as sessões dinamizadas e após a intervenção. Depois de partilharmos opiniões e sugestões com a DT, sentimos receio que se fosse um plano obrigatório e não facultativo, que os alunos depois dele terminar, se afastassem de novo do Pedro. Deste modo, tomámos a decisão de deixar à vontade de cada um, correndo o risco de nem todos participarem nas sessões.

Nesta sessão, as maiores dificuldades do Pedro foram esperar pela sua vez para falar, permanecer sossegado e sentado no seu lugar, estar concentrado nos jogos e colaborar com os colegas sem ser preciso insistir.

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