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3. Arquitectura geriátrica

3.2 Exemplos

A evolução da arquitectura geriátrica é notória com os excelentes exemplos sobretudo a nível internacional, que além da intervenção de arquitectos e ateliês de renome têm como base a acomodação desta faixa etária da população num ambiente físico que proporcione o bem- estar consoante a cultura em que vivem. É o caso do edifício Residential Home for Elderly em Chur, projectado por Peter Zumthor, que salienta a importância da integração do objecto na paisagem e que procura reavivar as tradições rurais dos utentes no próprio edifício para os idosos se sentirem num ambiente doméstico. Em oposição, na Holanda, o ateliê MvRdV, com o edifício 100 WoZoCo’s, optou por proclamar a individual apostando numa estrutura de habitações que se liberta da fachada do edifício e se prolonga sustentando-se como terraços, e que cada uma diverge através de pequenas alterações (posição das janelas, tamanho e posição dos terraços, cores, materiais e texturas) (Silva, 2009).

Os projectos têm-se modelado ao tipo de vida, que se alterou ao longo dos séculos, em oposição a Portugal os edifícios deste género de arquitectura têm-se diversificado intensamente e encontram-se vários modelos que seguem intenções diferentes para no fundo receber os idosos e proporcionar-lhes qualidade de vida. Decidiu-se optar por expor dois casos em Portugal que divergem desde o conceito ao género de construção, mas que são dois tipos de arquitectura de saúde que se desenvolveram há pouco tempo e que têm como objectivo comum servir o grupo de seniores do país nas melhores condições físicas possíveis.

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A- Hospital Residencial do Mar, Loures

Figura 11 – Alçados do Hospital Residencial do Mar, Loures

O Hospital do Mar, inaugurado em 2006, teve como promotor o Grupo Espírito Santo Saúde, um dos principais grupos privados de saúde. O projecto de aproximadamente 9000m2 é da autoria do gabinete RISCO, liderado pelo arquitecto Manuel Salgado e o especialista em equipamentos de saúde, o arquitecto Albert de Pineda, de Barcelona. Além de estar integrado na Rede Nacional de cuidados intensivos, este equipamento apresenta uma ala destinada aos doentes de Alzheimer. O programa inclui um hospital, uma residência médica e apartamentos para idosos.

O equipamento, localizado na antiga estação de Loures, perto de Lisboa, na Bobadela, resulta da reabilitação de parte do edifício histórico existente e da ampliação através de uma nova construção em que ambas estão inter-relacionadas. O arquitecto Albert de Pineda refere que o maior desafio foi integrar a arquitectura histórica e a nova arquitectura (ver anexo C), procurar os diferentes usos de cada uma delas e integrando-o em cada edifício de modo a conseguir uma homogeneidade.

O conceito do projecto baseia-se na luz, conseguindo fazer um maior aproveitamento da luz natural. Para Albert de Pineda, a orientação do edifício, a textura dos materiais e as cores ajudam a melhorar o doente e com ele também se consegue uma integração mais acolhedora tanto para a família como para o doente. As vistas para o estuário do rio Tejo e a aproximação de jardins com qualidade paisagística ajudam também a formular este ambiente positivo para os doentes, ao mesmo tempo faz-se um aproveitamento dos jardins para fins terapêuticos (Cubero, 2009).

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Figura 12 – Interior do Hospital Residencial do Mar, Loures

A reabilitação consistiu na parte de maior interesse arquitectónico e o restante foi demolido. Na parte reabilitada funcionam as áreas que pela sua disposição facilitavam a conservação das características históricas, tais como a cafetaria, as áreas de permanência e terapia e as áreas administrativas.

O novo volume consiste em três pisos e uma cave e dispõe-se num formato em “L”, situa-se em planta pela zona A e B (ver figura 13). Nestes três pisos foi projectada uma unidade de hospitalização que funciona como uma peça independente. Em comum cada planta disponibiliza uma zona de controlo, uma zona de refeições e instalações sanitárias adaptadas. A forma em “L” permite a orientação de um maior número de habitações ao sul e vistas para o rio.

Figura 13 – Esquema dos volumes do Hospital Residencial do Mar, Loures

Na cave encontram-se os serviços gerais do hospital, como a zona de carga e descarga, a cozinha, o armazenamento geral, a morgue, a lavandaria, o compartimento de lixo e demais instalações. O desenho da zona de carga e descarga proporciona um acesso independente através de um pátio de mercadorias (Cubero, 2009).

Na planta do rés-do-chão, piso 0, concentra-se a entrada, com acesso aos pedestres e aos automóveis. Neste piso encontram-se as zonas públicas do edifício como o hall de entrada, recepção, bar/cafetaria, agrupadas na zona do edifício reabilitada. Enquanto que na parte de nova construção, na mesma planta, organiza-se uma das três unidades de internamento com 31 habitações duplas e uma habitação individual (para isolamento) com entrada e saída directa ao jardim (Cubero, 2009).

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Figura 14 – Planta do Piso 0 e zona de recepção do Hospital Residencial do Mar, Loures

No piso 1 encontra-se a sala polivalente/consultas médicas, salas de terapia ocupacional, reabilitação e cabeleireiro/podólogo na parte da planta correspondente ao edifício reabilitado. No mesmo piso, já na zona de nova construção está a segunda das unidades de internamento com 31 habitações duplas e uma habitação individual.

No piso 2, na planta do edifício reabilitado situam-se as salas de direcção, a sala polivalente, a sala de reuniões, todas as zonas administrativas e uma zona reservada de habitações para residentes. No mesmo piso, zona de nova construção, dispõe-se a terceira das unidades de internamento com 26 habitações individuais para doentes de Alzheimer, com tratamentos inovadores neste sector, com o objectivo de potenciar a mobilidade física e a estimulação cognitiva dos pacientes.

A cobertura do edifício alberga parte das instalações técnicas do equipamento e estas situam- se na parte inclinada do edifício reabilitado (Cubero, 2009)

Os alçados, ao cumprir o propósito principal de entrada de luz e sol em todas as habitações na parte de construção nova do edifício, têm 50% das superfícies de vidro com uma estrutura exterior à parede que funciona como uma parede falsa onde se podem mover as lâminas de madeira corrediças que permitem controlar a luz e claridade. A madeira, o vidro e o revestimento com monocapa e com cores, que são os materiais predominantes.

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Figura 15 – Portada de protecção solar do Hospital Residencial do Mar, Loures

B- Residências assistidas, Alcácer do Sal (Atelier Aires Mateus)

O projecto de residências assistidas, executado pelo atelier Aires Mateus em 2006-2007, teve como promotor a Santa Casa da Misericórdia de Alcácer do Sal e a sua construção finalizou-se em Julho de 2010. O projecto de 3640m2 é definido como um edifício que traça o seu percurso naturalmente pela topografia acidentada do terreno, faz parte de um conjunto de edifícios já existentes ao redor deste e não é independente nem auto-suficiente dos restantes.

Figura 16 – Maqueta de volumes e fachada principal das residências assistidas, Álcácer do Sal

O programa como o ateliê define “meio caminho entre um hotel e um hospital”, define-se com o objectivo de interpretar o binómio do espaço privado e social de modo a responder aos dois critérios deste tipo de comunidade, o desenho do projecto baseia-se nestas relações (ver anexo D, número 1). O aspecto do equipamento é mais distante de um hospital pela contínua relação com o exterior, as áreas comuns têm vistas para o terreno exterior distintas e os corredores têm muita luz solar (ver anexo D, numero 2). Outro factor que foi cuidadosamente pensado relaciona-se com a mobilidade dos utentes do edifício, a sua movimentação mais lenta ou difícil obriga a que os corredores de circulação e a distância entre núcleos tenham sido cuidadosamente “medida e desenhada transformando a ideia de percurso em vida” (ver anexo D).

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As áreas predominantemente sociais e recreativas estão no rés-do-chão e este inclui a recepção; a zona de refeições e salas comuns; e as zonas técnicas (cozinhas, vestiários) com proximidade para o edifício existente.

Figura 17 – Planta do piso 0 das residências assistidas, Álcácer do Sal

Os pisos superiores, piso 1 e 2, são sobretudo destinados aos quartos (individuais e duplos) e áreas de serviço, incluindo zonas para relações sociais. Ao todo organizam-se 16 quartos individuais e 22 duplos, o que permite o total de 60 residentes. Todos os quartos contêm uma casa de banho completa privada e um terraço privado, a luz que entra no quarto é projectado para o seu interior pelo reflexo nas paredes do terraço, ao mesmo tempo que mantém a privacidade dos residentes de olhares indiscretos também os protege da luz directa do sol.

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Figura 19 – Interior do quarto das residências assistidas, Alcácer do Sal

O edifício possibilita o contacto constante com o exterior por várias vistas e ao longo do dia o movimento da luz natural é constante dentro dos corredores, o que permite experiências visuais ao circular pelos vários pisos.

Figura 20 – Corredor interior das residências assistidas, Alcácer do Sal

O corpo do edifício “cresce” pela agregação de unidades independentes a um único corpo. A fachada desenvolve-se entre volumes e vazios, os volumes são os quartos, os vazios entre os volumes são entradas de luz e conjugam vistas para exterior e terraços privados de cada quarto (ver anexo D, número 2). A implantação do edifício a sueste teve como objectivo a deliberação de uma extensa área de terreno livre para conjugar zonas ajardinadas frontais à obra onde esta comunica mais com a comunidade. As árvores de maior idade ou de grande porte foram preservadas, mantendo a natureza do local.

Os materiais são extremamente simples (Cubero, 2011): estrutura de betão, interior das paredes de alvenaria, estucadas e pintadas; coberturas invertidas (inverte-se a posição tradicional, o isolamento é colocado sobre a impermeabilização) e vidro duplo com cortinas blackout. A referência ao estilo tradicional da arquitectura da região reflecte-se no revestimento dos recintos exteriores e muros de painéis de chapa brancos, e na aplicação da pedra de mármore de Estremoz (tipicamente alentejana) como por exemplo nos terraços dos quartos. Apesar destes elementos, o edifício espelha uma imagem contemporânea variando a escolha de materiais nos acabamentos e nas técnicas de aplicação (Cubero, 2011).

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