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Monitoramento do fluxo natural de uma tendência.

3. Olhar indígena brasileiro

3.1. Exemplos de danças:

FIGURA 31 FIGURA 32

Fonte: F. Barreto, Danças do Brasil.

As figuras 31 e 32 mostram cenas de uma fase da cerimônia nupcial, sendo chamada de “dança da noiva”.

A etnia: Apapocúva Guarani, da região do Rio Curuá, no Xingú comemora o nascimento de uma criança, que é sempre um grande e misterioso acontecimento entre os indígenas, com a dança: Nimangá, que é acompanhada da solidariedade de toda a aldeia. O pajé afirma nessa ocasião o seu propósito e seus poderes sobrenaturais. Apresenta-se aparamentado, carregando chocalhos e outros instrumentos. O pai da criança recém nascida inicia o resguardo, deitando-se na rede onde permanece cinco dias. Ao amanhecer do quinto dia após o nascimento, os membros da aldeia retiram os pertences da família da maloca e a defuma bem como o bebê e seus pais, que, em seguida, se encaminham para o rio, e ainda defumam a canoa, o rio e os peixes, e tomam o seu primeiro banho.

Logo no dia seguinte ao nascimento iniciam-se as cerimônias da indagação da origem da alma da criança. Para isso o pajé deita-se numa rede cantarolando baixinho, cercado pela tribo, formando homens e mulheres filas separadas, sentados no chão. A certa altura o pajé deixa a rede e passa adiante das mulheres, enquanto elas, com o olhar fixo dentro da noite pulam de pés juntos batendo com o bastão de ritmo no chão enquanto

cingem com o braço livre a cintura da vizinha, mantendo o corpo em atitude ereta. Os homens curvados, com os joelhos dobrados, a mão esquerda no ombro do companheiro do lado, tocam os maracás à altura dos ouvidos. A dança se anima. A fila dos homens avança e recua, enquanto as indígenas, uma após a outra, dançam até a ponta esquerda da fila dos homens, que na sua passagem lhes dirige os maracás. Depois a primeira mulher da fila convida o primeiro da outra fila, a segunda o segundo, e assim por diante. Os homens aceitam o convite pulando fora da fila, iniciando uma evolução em volta de seu par como querendo impedir-lhe a passagem. Depois cada um segue em meia lua até o lado oposto das filas. Isto se repete três vezes, no último círculo voltam aos seus lugares primitivos e, assim, uma após outra, até que todos tenham saído para dançar. Então dança o pajé, intensificando os movimentos até estancar de repente no meio da roda e então revela a quem pertenceu antes a alma que agora se reencarnou no recém- nascido.

Nimongaraí é uma dança de paz e harmonia. A festa acontece durante quatro dias

entre os meses de janeiro e março e nesta época ficam suspensas as lutas, a caça e a pesca. Todos, mulheres, homens e crianças procuram observar o mais completo silêncio, ruídos exagerados ou gritos. O povo da aldeia se abstém nesta época de relações sexuais e bebidas alcoólicas.

Para esta festa, os indígenas, durante os três primeiros dias, se entregam ao repouso e durante a madrugada do terceiro para o quarto dia, o pajé dirige-se a um determinado ponto, acompanhado de toda a aldeia e convidados e lá ficam aguardando nascer do sol.

Ao despontar os primeiros raios, eles se curvam, de braços estendidos e com as mãos espalmadas para o nascente reverenciando demoradamente o sol.

Interessante a dança dos Terena, da região da Aldeia Bananal, quando eles se apresentam com varas de aproximadamente dois metros de comprimento e com elas

executam uma série de evoluções. Para finalizar a dança, os terena formam um círculo com as varas apontadas para o centro, acima das cabeças, com as pontas se entrelaçando de tal maneira, que formam uma estrutura circular sobre o qual um deles salta e lá permanece, equilibrado, voltado para o mesmo lado, enquanto a estrutura formada pelas varas gira, porque os terena que formam o círculo continuam se movimentando.

Outro exemplo, da etnia Xokleng, da região do Rio Itajaí, á a dança da Fartura. A festa da Fartura é realizada na ocasião das boas colheitas. Os indígenas pintam- se de preto, enfeitam a cabeça com um cocar de plumas e, colocando em fila, uns atrás dos outros, iniciam a dança. Batem forte com o bastão que seguram para marcar o ritmo e pulam: primeiro em diagonal, dando quatro pulos para a esquerda, quatro para a direita. Assim o cordão avança, com todos pulando e dançando.

Agradecer e reverenciar a mãe Terra através das danças é o que fazem os indígenas brasileiros ainda nos dias de hoje.

Considerações Finais

O homem primitivo sentiu a necessidade de lutar, fugir ou caçar para sobreviver. Assim o homem à luz da ciência executa os seus movimentos corporais mais básicos e naturais desde que se colocou de pé: corre, salta, arremessa, trepa, empurra, puxa e etc.

Na Grécia, é de Platão o conceito de equilíbrio entre corpo e espírito ou mente. As atividades sociais e físicas eram uma prática até a velhice, lotando os estádios destinados a isso. Nos templos de Esculápio que tratavam do corpo humano através de dança, música, exercícios físicos, poesia, ritos e sono sagrado, onde os enfermos dormiam para terem sonhos de comunhão com a divindade que os tocava e curava, locais onde havia a integração de mente e corpo, o ser humano era então considerado como um todo.

Na Índia, Buda atribuía aos exercícios o caminho da energia física, pureza dos sentimentos, bondade e conhecimento das ciências para a suprema felicidade.

No Brasil, os indígenas utilizam o corpo através dos movimentos naturais e as danças, cada uma com seu significado.

O aspecto de totalidade acabou se perdendo, ou por processos de dissecação que foram extremamente importantes, ou porque fomos nos especificando por demais e acabamos nos distanciando do ser humano íntegro, que tinha em harmonia o corpo, a mente e o espírito.

O homem ocidental conhece hoje seu corpo e sua estrutura. Sabe-se parte de um planeta e busca integrar-se ao cosmos. Para tal, há que equilibrar o corpo físico, mental e espiritual, tornando-se mais consciente de si e do outro.

Apesar de diferentes os olhares sobre o corpo humano, pudemos perceber que a busca é a de si mesmo, do ser humano, e a resposta encontrada é a da simplicidade, da reverência, do agradecimento, do tratar do próprio corpo e do outro com zelo, de

harmonizar o corpo e o cosmo obedecendo às suas leis, ao seu ritmo. Procurar manter o corpo são para que a mente fique em equilíbrio com o corpo e o espírito.

Ainda tem validade hoje o verso do romano Juvenal (60 a 128 d.C.): “Orandum est mens sana in corpore sano”

Através dos movimentos do corpo é possível entender melhor as manifestações da vida.

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