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EXEMPLOS DE IMPACTOS NA CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS

2. IMPACTOS SOCIAIS NA CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS E UHE

2.3 EXEMPLOS DE IMPACTOS NA CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS

No inicio de 1966, foram realizados os primeiros estudos para aproveitamento energético da Bacia do Uruguai em 1969 (UCZAI, 1992). São sete grandes barragens que estão em operação: Ita, Machadinho, Barra Grande, Campos Novos, Foz do Chapecó, Passo Fundo e Monjolinho, todas são administradas por grandes multinacionais (MAB, 2008).

O Plano 2010 da Eletrobrás, elaborado em 1986/87, previa a construção de 25 barragens na Bacia do Uruguai, três seriam binacionais, desalojando de 200 a 300 mil pessoas nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (VAINER, 2003).

O Plano 2015, elaborado em 1991/93, prevê a construção de usinas hidrelétricas binacionais, ampliando a interligação elétrica do Brasil com os países do MERCOSUL, a construção da UHE Garabi, UHE Roncador, UHE São Pedro Brasil no Rio Uruguai entre Brasil e Argentina; no Rio Jaguarão a construção da UHE Talavera, UHE Passo Centurion entre Brasil e Uruguai.

A construção da UHE de Ita provocou queda na produção agrícola. De acordo com os responsáveis pelo cultivo, havia dificuldade em plantar nas áreas próximas à represa, já que o reflexo do sol no lago queimaria as plantações.

Os agricultores ainda enfrentam mais dois problemas: a construção de uma cerca numa faixa de 30 metros ao redor do lago que impede a produção na área e multa aplicada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) pelo uso dos outros 70 metros.

Desde a década de 1970, a população rural da Bacia do Uruguai começa a se mobilizar contra o modelo de desenvolvimento praticado por um governo autoritário

(UCZAI, 1992); o movimento se inicia antes do inicio das obras e, nesse período, é criada a Comissão Regional das Barragens8, cujo objetivo era conseguir informaçõessobre o projeto e repassá-las para as comunidades que seriam atingidas com a obra (VAINER,2003).

Na construção da barragem de Machadinho, só estavam previstas indenizações para os proprietários documentados e para os índios do Posto Indígena Ligeiro. Estavam excluídos os posseiros, arrendatários e os sem terra (UCZAI, 1992).

Como já havia ocorrido em outras localidades, o silêncio é uma das estratégias das empresas construtoras. A população se vê amedrontada, angustiada pela falta de informação, desesperada, com medo de perder tudo, então, cede a essas empresas suas terras a preço irrisório.

Os atingidos pelas barragens do Alto do Uruguai se uniram com o apoio da Igreja Católica e militantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), além dos sindicatos e das entidades regionais numa proposta “Terra por Terra”, por uma indenização justa e as decisões seriam tomadas de forma coletiva (VAINER, 2003; MORAES, 1996).

Os 15 proprietários desapropriados para a construção do canteiro foram indenizados de forma justa pela terra e pelas benfeitorias existentes na propriedade.

Diante de grandes injustiças que assolaram a população de Sobradinho, o bispo da diocese de Juazeiro (BA), D. José Rodrigues, estimula a população a dizer não à construção de barragens, não se satisfazendo com o lema “Terra por Terra”, ou “indenizações justas” (UCZAI, 1992).

O modo como foi organizado o projeto das Bacias do Uruguai como, a falta de alternativas para as comunidades atingidas e para o meio ambiente levou a população a dizer não às barragens, onde o lema era “Terra sim, Barragem não”, essa foi a marca do movimento entre 1983 e 1985.

8 A Comissão Regional das Barragens é estruturado a partir de 1981, e os atingidos diretamente não participam dessa comissão, os participantes direto eram: três padres, dois pastores, um sindicalista e um membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

A construção de barragens no Rio Uruguai foi marcada por muitos protestos e diversas formas de luta, como reuniões, romarias e abaixo-assinados. Num dos piquetes, chegaram a retirar os marcos colocados pela ELETROSUL e pessoas ligadas à empresa sofreram sequestros relâmpago (VAINER,2003). O descontentamento geral ocorreu principalmente em razão das grandes obras que não visam aos interesses do povo e sim do capital.

A luta pela não construção de barragens na Bacia do Uruguai, apenas retardou as obras; mesmo diante dos protestos, a Comissão Especial dos Efeitos dos Complexos Hidrelétricos na Bacia do Uruguai, emitiu parecer favorável à construção das barragens e a viabilização das usinas de Ita e Machadinho (UCZAI, 1992).

Mesmo assim, as lutas continuaram e a organização pela não construção de barragens se reestruturou. Finalmente no dia 29 de outubro 1987, a ELETROSUL, num acordo com os atingidos, atende a todas as reivindicações do movimento, pela primeira vez, inclui trabalhadores rurais sem terra e reconhece a CRAB09 como única representante dos atingidos (VAINER, 2003).

De todos os compromissos firmados com a ELETROSUL, as mais importantes eram:

...fim das negociações individuais e aceitação de que todas as negociações seriam feitas comunidade por comunidade, com a presença dos representantes da CRAB; atrelamento do cronograma das obras ao cronograma de negociação e solução dos problemas sociais; oferta a todos os atingidos, inclusive os não-proprietários, da possibilidade de reassentamento coletivo (VAINER 2003, p. 193). Alegando falta de recursos financeiros, em 1989 as indenizações de Ita foram paralisadas. Se por um lado faltava dinheiro para amparar a comunidade, por outro, os trabalhos de pesquisa em outras áreas da Bacia do Uruguai continuaram.

As reuniões e as manifestações dos atingidos recomeçam, contudo, a ELETROSUL reafirma que devido à crise nacional, não tem condições financeiras 09 A Comissão Regional dos Atingidos por Barragens (CRAB) foi um Movimento que representou os Atingidos pela construção de Barragens do Rio Uruguai. A partir de 1992 passou a chamar MAB/Região Sul.

para iniciar a obra e nem para resolver os problemas sociais, propondo então, o adiamento por um ano da construção da UHE de Machadinho (UCZAI, 1992).

Apesar do grande movimento e de muitas conquistas não se conseguiu inviabilizar do projeto da Bacia do Rio Uruguai (UCZAI, 1992), no entanto, houve definição de um novo eixo de barragem, reduzindo de 3.500 para 1.600 o número de famílias desapropriadas (MAB, sd). As empresas foram obrigadas a reassentar toda a população atingida. Devido aos movimentos populares, alguns projetos de barragens no Rio Uruguai, como o de Iraí e de Itapiranga foram cancelados.