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O exercício da Autoridade Marítima no contexto do exercício dos poderes do Estado

No documento TII CTen Sousa Ferreira VFinal Revista (páginas 33-42)

Na base do actual modelo português do exercício da autoridade do Estado nos espaços dominiais e marítimos, subsistem as funções de Autoridade Marítima (AMN), de Administração Marítima (IPTM) e Administração Portuária, também associada à função de Autoridade Portuária (AP), sendo este, efectivamente, o conceito que melhor se adapta jurídica, funcional e operacionalmente, à cultura, ao enquadramento sócio-económico e à geografia do Estado Português.

Para execução de missões de manutenção e imposição do ordenamento legal23 pelos

órgãos com poder para exercer a autoridade do Estado no mar, ou seja, com poder de autoridade marítima, nomeadamente os órgãos da AMN (CP e PM), da GNR e os centros de Comando e Controlo (C2), designadamente da ANCTM (CCTMC) e da GNR/UCC, teria que existir um conjunto de requisitos necessários para o cumprimento das atribuições que lhes estão legalmente cometidas, nomeadamente no que se refere à cobertura dos espaços marítimos jurisdicionais com meios adequados (Diogo, 2011).

Não obstante o conceito de duplo uso enunciado nas disposições preambulares da LOMAR, e que permite que vários órgãos de Marinha, enquadrados em estruturas diferentes, tenham funções militares e não militares, os órgãos da estrutura militar da Marinha24, não detêm, contudo, qualquer tipo de autoridade de polícia, “apenas” tendo a

capacidade para a decisão de algumas medidas cautelares e de intervenção fiscalizadora e de controlo em sentido material, que lhe advêm, no aplicável, do direito internacional (Convenção de Viena, 1988, e CNUDM, 1982), e do direito interno (Pescas, DL 235/2000, DL 45/2002 e Lei 34/2006). Esta situação revela falta de sustentação perante ilícitos que ocorram em águas sob jurisdição nacional perante os quais seja necessária a intervenção de autoridades de polícia (PM, PJ, SEF, GNR e PSP) para que exista um quadro competente, em termos de polícia, para se aplicarem as medidas de polícia que a legislação processual penal e a Lei 53/2008 definem (Diogo, 2011).

O conceito de Marinha de duplo uso, e o estatuto jurídico-funcional da AM garante, à estrutura orgânica da AMN, em termos de logística estrutural e operacional, uma valiosa sustentabilidade de reduzido custo benefício que, salvo melhor opinião, não pode ser

23 Law enforcement.

comparável com outros departamentos do Estado com atribuições nos espaços sob soberania e jurisdição nacional e actividades que neles se desenvolvem.

A autoridade marítima do Estado exerce-se, nos termos do estatuído nos artigos 4.º e 5.º do DL 43/2002, nos espaços marítimos sob soberania e jurisdição nacional, isto é, AI, o MT e a PC, bem como, a ZEE e a Zona Contígua (ZC), sendo que o CP é o único órgão da Administração Pública com uma competência tripartida em áreas fundamentais do interesse público, porquanto lhe estão cometidas funções de SI25 como comandante local de

polícia, de conservador patrimonial marítimo (registo de navios e inscrição de marítimos e tripulantes) e portanto, com funções técnico-administrativas, e ainda na área da segurança marítima26, em cujo âmbito detém competências de salvamento marítimo (com maior

incidência no litoral costeiro), socorro a náufragos e assistência a banhistas nas praias, e gere, em termos operacionais, o assinalamento marítimo do seu espaço de jurisdição, promovendo ainda, nos 3.º e 4.º graus do Plano Mar Limpo, como definido por lei, os mecanismos de combate à poluição marítima (Diogo, 2011).

25 Security.

Conclusões

No início deste estudo propôs-se responder à seguinte pergunta de partida: “Em que medida fará sentido manter o actual formato de exercício do cargo de Capitão do Porto, baseado no modelo conceptual português clássico de exercício da Autoridade Marítima?”. Para responder à pergunta de partida e às respectivas perguntas derivadas foram levantadas três hipóteses que se procurou confirmar ao longo do presente trabalho.

Tendo por base uma estrutura tripartida em que a administração marítima (IPTM) exerce um quadro de intervenção própria, que não é sobreponível ao quadro de intervenção das administrações portuárias nos portos, e que é distinta, por razões conceptuais, estruturais e operacionais, como se viu supra, ao âmbito de intervenção da Autoridade Marítima, verificámos que o cargo de CP deverá manter-se no actual formato, porque transporta um conhecimento e especialidade acrescidos, e um efectivo valor acrescentado a um eficiente desempenho do exercício da autoridade do Estado no mar.

É, assim, um modelo que mantém toda a actualidade, porque assegura uma posição de “árbitro” nas actividades que se exercem nos terrenos dominiais e nos espaços marítimos sob soberania e jurisdição nacional, e que se distancia, de uma forma sólida e clara, de processos que, por um lado, visam apenas regular tecnicamente o funcionamento de actividades marítimas, e por outro, de intervenções que procuram e visam, juridicamente, o lucro nos portos. O ente Capitania do Porto é, hoje, essencial a um controlo público desinteressado de tais vectores.

Julga-se assim, ter confirmado a Hipótese: O actual modelo de base, do exercício de autoridade, deve compreender uma actuação e coordenação sólidas e efectivas, e processos de intervenção cooperantes sobretudo entre aqueles três “actores”; o que permitiu responder à seguinte pergunta derivada: De que forma o actual modelo de base, fundado num triângulo conceptual assente numa Administração Marítima, na Autoridade Marítima e nas Administrações Portuárias, poderá manter-se como um argumento sólido para que o exercício da autoridade se faça com eficácia e actualidade?

Constatou-se que à AMN estão cometidas funções de vigilância, controlo, fiscalização e exercício de policiamento marítimos, sendo que a Autoridade Marítima é uma autoridade de serviço público não militar a qual, através do seu instrumento operacional - PM -, detém, em sentido estrito, competências de polícia; estas, contudo, são competências funcionalizadas em razão da matéria e do território ao quadro de competências do CP, o que é notório, entre outras matérias, no âmbito do Port State

Control, do Código ISPS, da visita e despacho de largada de navios, acompanhamento de

tráfego de navios e respectivas notificações para terra, determinação de acesso ou recusa de navios estrangeiros a águas territoriais e ao porto, autorização para intervenção a bordo de navios estrangeiros, e no quadro mais específico dos sinistros marítimos e respectivos inquéritos e diligências averiguatórias, os quais são elementos fundamentais que definem a sua actuação departamental como GC/FGC. O que significa, por outras palavras, que não é

possível, nem desejável, desagregar a PM do quadro de funcionamento do CP, sob pena de

desarticulação total do exercício da autoridade marítima do Estado Português, bem como de indução de impactos imponderáveis no quadro legislativo.

Neste contexto, e num ponto de vista de fundamentação de actos públicos e de lógica de actuação dos organismos de Estado, é estruturalmente impossível, considerando o preceituado no artigo 13.º do DL 44/2002 e no DL 226/2006, separar o que constitui uma actuação específica de polícia da actuação enquadrante da Autoridade Marítima.

Julga-se assim, ter confirmado a Hipótese: A lógica legislativa que comete ao Capitão do Porto, por inerência, o cargo de Comandante Local da Polícia Marítima, deve manter-se pelas especificidades, inter-relações e competências das suas funções; o que permitiu responder à seguinte pergunta derivada: Com vista a ser o executor de um poder público que inclui autoridade de segurança de navegação, autoridade de registo e inscrição marítima e autoridade de polícia, mantém-se válida a lógica legislativa que comete ao Capitão do Porto, por inerência, o cargo de Comandante Local da Polícia Marítima?

Atento que o exercício da Autoridade do Estado deve pautar-se pela uniformidade pública, pela coesão e não dispersão, urge a necessidade de existir um órgão integrador com autoridade para coordenar, dirigir, controlar e, no aplicável, comandar, as entidades e autoridades de polícia que integram, nos termos da lei, a lógica do DReg 86/2007 e, portanto, o CNCM. Como supra se explicitou sobre a questão dos entes coordenadores das matérias do foro da Autoridade Marítima, num contexto de actuação estratégico- operacional, essa função deve ser cometida a uma entidade nomeada pelo Governo, num formato orgânico-funcional de tipo secretário-geral, cujo enquadramento deve ser previsto no âmbito da regulamentação do CCN, com representatividade assegurada, em moldes mais operacionais, na direcção do CNCM.

Julga-se assim, ter confirmado a Hipótese: A rede de cooperações interdepartamentais, dever ser coesa e reforçada de forma a permitir uma melhor e

e do território; o que permitiu responder à seguinte pergunta derivada: Sendo certo que o exercício da Autoridade do Estado deve ser coeso e não disperso, qual a importância de uma rede de cooperações reforçadas, sob tutela interdepartamental coordenadora do Conselho Coordenador Nacional, e no âmbito de articulação operacional definida no Centro Nacional Coordenador Marítimo?

Ponderando o analisado ao longo do presente estudo foi possível verificar que o conceito enquadrador que permite a órgãos de Marinha, há mais de dois séculos, actuarem em áreas de actividade pública não apenas do foro militar, e que a LOMAR qualifica como uma actuação de duplo uso - como racionalização e uso dos meios e recursos -, baseia-se no emprego dos meios da Marinha no serviço público militar e no serviço público não militar, e que encontrou uma lógica de intervenção da autoridade pública que assegura uma continuidade entre o exercício da autoridade marítima e a presença naval nos espaços sob soberania e jurisdição nacional. Num Estado Costeiro como o Português, cujo poder jurisdicional é exercido sobre uma área que é, na Europa, a mais vasta em âmbito marítimo, há uma postura pública, que é igualmente um raciocínio estruturalmente lógico, que assegura que é desta forma que se garante uma maior optimização dos recursos existentes.

É este, efectivamente, o conceito marítimo que melhor se adapta jurídica, estrutural, funcional e operacionalmente, à cultura, ao enquadramento sócio-económico e à geografia marítima do Estado Português, e que preserva o sentido último desta repartição de poderes públicos.

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Entrevistas

 VALM M Cunha Lopes, Director-Geral da Autoridade Marítima/Comandante-Geral da Polícia Marítima. [Abril de 2011].

 DIOGO, Luís da Costa - Chefe do Gabinete Jurídico do VALM Director-Geral da Autoridade Marítima/Comandante-Geral da Polícia Marítima. [Janeiro a Abril de 2011].  CMG M Dionísio Varela, - Adjunto do VALM Director-Geral da Autoridade

Marítima/Comandante-Geral da Polícia Marítima, para a área da Segurança Marítima. [11 de Abril de 2011].

 CMG M Matos Nogueira - Oficial de Ligação da DGAM com o COMNAV (COMAR). [12 de Abril de 2011].

 CFR M Ribeiro Ezequiel, - Adjunto do VALM Director-Geral da Autoridade Marítima/Comandante-Geral da Polícia Marítima, para a área dos Recursos Vivos. [Março a Abril de 2011].

 1TEN Alexandra Lima - Gabinete Jurídico do VALM Director-Geral da Autoridade Marítima/Comandante-Geral da Polícia Marítima. [Fevereiro a Março de 2011].

Apêndices e Anexos.

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