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Exercício da cidadania por meio da Tutela Jurisdicional Coletiva

CAPÍTULO VI-TUTELA JURISDICIONAL COLETIVA COMO EXERCÍCIO DA CI-

VI- 8 A Tutela Coletiva no Novo Código de Processo Civil Brasileiro de 2015

VI.10- Exercício da cidadania por meio da Tutela Jurisdicional Coletiva

A partir da vigência da Lei LACP - Lei de Ação Civil Pública-, foi-se, gradativa- mente, alargando a abrangência da defesa judicial de interesses transindividuais. A própria Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 concedeu ao Ministério Público a de- fesa “do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, como dispõe o artigo 129, inciso III.

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116- Idem.p. 122 117- Idem.p.123

Com o advento do CDC - Código de Defesa do Consumidor passou-se a inserir uma norma de extensão no artigo 1º, IV, da LACP, no qual os legitimados à ação civil pública vieram a tornar-se autorizados a defender em juízo qualquer interesse difuso ou coletivo.

Insta por pertinente ressaltar que outras leis passaram a conter normas de proteção a interesses difusos e coletivos, principalmente no tocante à pessoa com deficiência.

A Lei n. 7.853/89, ao disciplinar a proteção e a integração social das pessoas defici- entes, aludiu expressamente à atuação do Ministério Público e a outro colegitimado ativo, a incumbência da defesa de interesses difusos, coletivos, individuais homogêneos e individuais indisponíveis das pessoas deficientes.

E, desta feita, o Ministério Público atuará em qualquer acção em que seja parte uma pessoa deficiente, desde que não verificada a incapacidade para os fins do CCB, e não apenas em acções que versem interesses individuais homogêneos, coletivos ou difusos relacionados com a proteção das pessoas deficientes.

O Ministério Público não oficiará em qualquer ação proposta por pessoa deficiente ou contra ela, se não estiver em discussão a questão relacionada com a sua especial condição, posto que a pessoa deficiente, por si só, não é necessariamente incapaz para os atos da vida civil.

Temos assim que só a qualidade da parte não é suficiente para ensejar a intervenção do Ministério Público no processo em que haja interesse de uma pessoa deficiente.

No entanto, se o objeto da matéria que se ponha a litigar diga respeito a própria condição, como eliminação das barreiras arquitetônicas para viabilizar o acesso ao transporte público, evidenciado estará o interesse público não só pela qualidade da parte, mas também pela natureza da lide, e portanto, a intervenção ministerial.

E a solução da ação não dirá respeito somente ao interesse de um único indivíduo, mas de toda uma colectividade.

Essa atuação do Ministério Público é protetiva, com o cunho de assegurar em favor das pessoas deficientes, medidas protetivas, sob o manto do princípio da igualdade.

Por outro lado, o legislador no Código de Processo Civil Brasileiro de 2015 não seguiu o modelo do Código de Defesa do Consumidor Brasileiro no tocante à suspensão de acções individuais em razão do advento da lide coletiva.

O Código de Defesa do Consumidor Brasileiro, nos artigos 94 e 104, acolheu o sistema conhecido como opt-in, no qual aquele que tenha uma acção individual em andamento, ao ser cientificado de que foi ajuizada a acção coletiva com objecto que englobe o seu pedido, terá 30 (trinta) dias para requerer a suspensão de seu processo individual.

E, assim, aguardará o julgamento da acção coletiva, podendo ser beneficiado do even- tual resultado de procedência e, dessa forma, executar o julgado colectivo nos autos de seu processo individual, sem ter tido necessidade de fazer prova, sem ter tido os ônus de promover pessoalmente seu processo até obter uma prestação jurisdicional reconhecendo seu direito.

Assim, verificamos que o CDC, ao conferir essa opção, respeitou os direitos constituci- onais de acesso à justiça.

O CPC de 2015 optou pelo opt-out, no qual o indivíduo não pode optar por não se incluir no resultado da lide coletiva.

O indivíduo terá de optar por ver-se excluído do processo coletivo se demonstrar a dis- tinção do seu caso.

Do período do Código de Processo Civil Brasileiro de 1973 até o atual Código de Processo Civil Brasileiro de 2015, houve um crescimento notável da tutela coletiva, com o advento de leis sucessivas, por meio da qual foi inserida no objeto da ação civil pública a tutela da ordem econômica, da ordem urbanística, a defesa do idoso, dos grupos raciais étnicos ou religiosos, das pessoas deficientes, do patrimônio público e social, dentre outros.

Contudo, o Código de Processo Civil Brasileiro de 2015, deixou de disciplinar a tutela coletiva ao vetar os artigos 333 e inciso XII do artigo 1.015, no qual tratavam da tutela coletiva e da conversão da tutela coletiva em ação individual.

Salienta Hugo Nigro Mazzilli118, (2016, p. 850), que “a proibição ao acesso coletivo é uma verdadeira denegação de acesso à Justiça, até mesmo de acesso individual”.

E para corroborar com sua justificativa cita que: “milhares de lesões individuais ficariam sem a proteção judicial se exigíssemos que sua defesa ficasse limitada ao acesso indi- vidual”.

E complementa suscitando que “os custos do processo individual, a certeza do ad- vento de decisões contraditórias mesmo em situações individuais homogêneas, a pequena ex- pressão do dano individual posto enorme dano coletivo - tudo isso deixaria milhares, em muitos caso milhões de lesados sem efetivo acesso à Justiça-”(…).

Como já mencionado alhures, sob o aspecto processual, o que caracteriza os inte- resses transindividuais, ou de grupo, não é o fato de diversos titulares terem a mesma relação jurídica ou fática, mas também a circunstância de que a ordem jurídica reconhece a necessidade de que o acesso individual dos lesados à Justiça seja substituído pelo acesso coletivo, de modo que a solução obtida no processo coletivo não deva ser apta apenas para evitar decisões contra- ditórias, mas inclusive e principalmente que se conduza a uma solução eficiente da lide, haja vista que o processo coletivo é exercido em proveito de todo o grupo lesado.

Hugo Nigro Mazzilli119, (2016, p. 851), sustenta com propriedade que os “interes- ses difusos ou coletivos” podem hoje ser defendidos por meio de ação civil pública ou coletiva. Mesmo que não estejam expressamente prevista ou mencionada no artigo 1º da LACP, visto que o CDC e a LACP complementam-se reciprocamente em matéria de defesa de interesses transindividuais. E sustenta ainda que uma lei é de aplicação subsidiária para a outra.

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118-MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. Editora Saraiva. 29ª Edição. São Paulo.

2016. p. 850

De certo que o Ministério Público não atua apenas em ações que versem interesses individuais homogêneos, coletivos ou difusos relacionados com a proteção das pessoas com deficiência, mas inclusive em qualquer ação em que seja parte uma pessoa deficiente e que o objeto dessa ação esteja relacionado com a respectiva deficiência.

E nesse caso ora argumentado, podemos dizer que a atuação do Ministério Público é protetivo.

Todavia, considerando o princípio da igualdade, da celeridade, da efetividade, não paira dúvida que a viabilidade da conversão de ação individual e coletiva, no qual o dispositivo da sentença abrangeria um grupo de pessoas, ou seja, efeito erga omnes, impactaria não só o número de ações judiciais e a demora na prestação jurisdicional positiva, mas o principal de tudo, o direito ao exercício à cidadania por via do acesso à Justiça por meio da Tutela Coletiva com interesse metaindividuais.

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