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No que se refere a função e atribuições do CT não poderia deixar de abordar a compreensão dos Conselheiros quanto ao exercício do Colegiado, indispensável nas decisões para a aplicação das medidas, considerando que o órgão prevê em sua criação a atuação participativa colegiada.

QUADRO 8 – Exercício do Colegiado do Conselho Tutelar Conselheiro Tutelar Depoimentos Conselheiro Tutelar Presidente do CTL

“O nosso aqui ta bom! [Conseguem trazer os casos para discussão, trocam idéias, informações, para a aplicação das medidas?] Trocamos, trocamos. Aqui ta assim, todo o problema, todo... inclusive teve assim as picuinhas, todo o local existe n/é? Só que quando eu vejo que estão essas picuinhas, assim, a gente se reúne pra acabar, sabe? Porque a maior parte da nossa vida a gente fica aqui, sabe? Então queira ou não queiramos, nós vamos ter que estar junto. Sabe? Por incrível que pareça a gente se dá bem, teve... já teve... Zizizi daqui, zizizi dali, mas agora não tem mais graças a Deus”.

Conselheiro Tutelar Reeleito do

CTL

“Não exerce, eu acho que é despreparado, talvez da pessoa que assume n/e? A presidência, presidência, não é uma pessoa preparada pra este tipo de... [...] Geralmente não, quase nem há mais reuniões, porque muito trabalhoso todo dia, então acha-se que não tem o porque de se reunir. Que eu acho que é o contrário, que é uma coisa muito importante”.

Conselheiro

Tutelar Presidente

do CTO

“(...) Essa questão da gente discutir caso no Colegiado, era muito mais discutida antes, do que agora. [...] Eu não sei se aumentou a demanda, ou se quando a gente entrou nós éramos mais inseguros e acabava levando quase que todos os casos para o colegiado. [...] Dentro do horário de expediente. (...) A gente fazia dentro do expediente, na sala. Vem cá, vem cá; e já sentava e discutia. Então todos os conselheiros conheciam os casos de todos os conselheiros, e hoje em dia não. [...] Só em casos considerados mais graves, daí porque eu não quero tomar uma atitude sozinha, então eu acabo levando para o colegiado; eu tenho receio da medida que eu vou tomar; então só os casos que considero gravíssimo”.

Conselheiro Tutelar Reeleito do

CTO

“Nós já exercemos o Colegiado de uma maneira bem mais efetiva, anteriormente, há uns anos atrás, logo que a gente começou, nós fazíamos reuniões semanais, fazia nossas reuniões semanais, os conselheiros, todo mundo conhecia os casos de todos os conselheiros, ta certo, quando a gente começou em dois mil e dois, nós tínhamos poucos casos, então, a gente acabou que a união dos conselheiros era maior porque, porque ninguém conhecia nada, então ou você se unia ou você não fazia o teu trabalho. Então nós tínhamos a participação do colegiado muito mais efetivo do que hoje”.

O próprio nome do órgão já diz tudo sobre o assunto: Conselho, princípio fundamental do trabalho, em conjunto; portanto não é um trabalho solitário. Se assim for, os atos e decisões tomadas são considerados ilegítimos. Dentro do CT, nenhum Conselheiro é proprietário dos casos. Por certo os Conselheiros têm autonomia para atender os casos individualmente, mas quando necessita de uma decisão sobre a situação, o Colegiado vai atuar. As atribuições do CT são colegiadas. O artigo 25, parágrafo primeiro da Lei Municipal 4667/91, determina que o CT deverá reunir-se uma vez por semana para a tomada de decisões que se fizerem necessárias nos casos de sua competência; é a necessidade do trabalho colegiado do CT.

Quanto às deliberações do Colegiado, o Regimento Interno no Capítulo VIII: Do Plenário, parágrafo 2º, normatiza que as deliberações somente serão válidas se tomadas pelo voto de maioria simples, presentes no mínimo 03 (três) Conselheiros.

Conforme já foi dito no Capítulo 3, sendo órgão colegiado, as suas deliberações devem ser tomadas pela maioria de votos de seus integrantes, em sessões deliberativas próprias, realizadas da forma como dispuser o Regimento Interno e registradas em Ata. Com base na mesma Resolução, se o conselheiro estiver sozinho num plantão, ele pode tomar decisões, contudo depois deverá discuti-las no colegiado, para aprovação ou não.

Todas as decisões do Conselho Tutelar deverão passar pela deliberação do colegiado, sob pena de nulidade dos atos praticados isoladamente, sem respeito ao quorum mínimo. As deliberações do colegiado interferem diretamente na eficiência das atribuições do Conselho Tutelar.

As decisões emanadas do Conselho Tutelar são sempre decisões coletivas. As atitudes adotadas devem ser discutidas pelo conjunto dos Conselheiros. A responsabilidade, tanto das atitudes como das decisões assumidas, são do Conselho Tutelar como um todo (BARREIRA, 1992, p. 14).

A primeira Conselheira Presidente do CTL apontou para problemas de ordem de relacionamento entre os Conselheiros Tutelares e que interferem em qualquer ação na perspectiva coletiva, prevista em uma lógica colegiada. A segunda Conselheira, do mesmo Conselho Tutelar, diz que o Colegiado não funciona, e culpa o Presidente. Mas e o restante do grupo? Não acha tempo para se reunir? É problema sério dentro de um Conselho como já explicaram os autores, a Lei Municipal e o próprio Regimento Interno que norteia o trabalho do CT. Os

Conselheiros Tutelares precisam ser melhor orientados, pois o exercício do Colegiado é essencial para o cumprimento das atribuições que lhes competem.

No CTO, os Conselheiros entrevistados relatam que o Colegiado já foi bem mais eficiente, e procuram justificar, que anteriormente eram mais inseguros e precisavam de maior apoio uns dos outros; atualmente os casos aumentaram e discutem apenas os casos mais “graves”.

O Colegiado está discutindo os casos, mas precisa rever se não está deixando passar situações importantes e que necessitam da reunião do grupo para a decisão, pois está lidando com a defesa dos direitos das crianças e adolescentes. Neste sentido, Seda (2001) acrescenta que o Conselheiro Tutelar não é uma autoridade em si mesmo, ele compõe um órgão em que a autoridade é Colegiada, e as decisões são tomadas por consenso ou por maioria.

QUADRO 9 – Impasses e desafios para o cumprimento das atribuições do Conselho Tutelar Conselheiro Tutelar Depoimentos Conselheiro Tutelar Presidente do CTL

“Bom durante um ano que eu estou aqui, n/é? O artigo 136 ele está completo, é uma coisinha assim, mas que você batalha assim você consegue. Está completo, está completo. [...] (...) Isso, colocando o artigo 136, porque ali é um jeito da gente falar o que: Não, este não dá mesmo, não tem condições mesmo, sabe? Mas eles fazem valer o artigo, eles fazem valer o artigo. [...] (...) que tem pessoas que querem entrar no CT só por causa do dinheiro mesmo, porque no final do mês cai o dele, n/é? [...] Você tem que gostar, você tem que vestir a camisa pra aquilo. Você tem que vestir a camisa mesmo, não é só pelo salário (...)”.

Conselheiro Tutelar Reeleito do

CTL

“Eu acho que teria que haver mais cuidado na seleção dos candidatos a Conselheiros Tutelares. [...] Melhorar os critérios, ser mais rígidos, mais exigentes, sabe?”

QUADRO 9 – Impasses e desafios para o cumprimento das atribuições do Conselho Tutelar (conclusão) Conselheiro Tutelar Depoimentos Conselheiro Tutelar Presidente do CTO

“(...) chegar pras instituições ou pra quem está solicitando um trabalho que não é função do conselheiro e dizer: ‘Isso não é minha função’. Primeiro esta postura... Eu tenho cinco anos de CT, e não consigo em algumas situações, chegar pra pessoa que ta pedindo uma situação que não é do CT e dizer: olhe isso não é função, porque já tem a prática de que o Conselho faz, então você quebrar,

romper esta prática é complicado... O primeiro desafio pras futuras gerações,

seria a postura do conselheiro, realmente dizer o que é função dele e o que não é... Cada um conhecer realmente a sua função. Escola... O que, que o Conselho Tutelar trabalha em escola? Qual é o momento em que a escola tem que chamar, ou tem que encaminhar pro CT. A própria comunidade, e a polícia, e todos os outros órgãos. [Sobre o Artigo 136] Eu acho que ele é completo, (...) ele vem falando de todas as necessidades, o que realmente falta, é a gente assumir; o CT assumir efetivamente as suas atribuições. Daí vai estar tudo ótimo, mas nós não assumimos isso. Por que... Em Ponta Grossa, pelo Colégio de Representantes, que acaba indiretamente cobrando do Conselheiro Tutelar, certas atitudes; a prática que é muito difícil de quebrar (...) [...] Historicamente, mas o maior culpado é o Conselheiro Tutelar, eu me coloco nesta culpa, porque ele não consegue romper. Pra romper é difícil, é difícil, você vai ter problemas, você vai ser cobrado, vai ser dito que você não está querendo trabalhar, e tudo mais. Eu assumo a minha parcela de culpa nisso, dizendo também que não consegui romper”.

Conselheiro Tutelar Reeleito do

CTO

“(...) eu acho que era necessário que a gente tivesse uma assessoria orçamentária. Que tivesse um órgão da prefeitura, que a gente chegasse lá e, (...) e eles transformassem isso em números pra nós, que a dificuldade nossa é fazer essa fiscalização, que a gente não conhece!”

FONTE: Entrevistas com os Conselheiros Tutelares – Organização da autora.

Com relação à questão dos impasses e desafios para que o CT possa cumprir efetivamente com as suas atribuições, em favor dos direitos e da cidadania da criança e do adolescente pontagrossense, cada Conselheiro interpreta de uma forma, e levantam questões diferentes conforme a vivência e experiência de cada um. Não se parte do pressuposto de que a Lei é o ideal, mas se questiona junto aos Conselheiros Tutelares se o Artigo 136 do ECA dá conta de atender a realidade da demanda que busca o CT.

Ao que parece, a “queixa” ou a dificuldade não está no Artigo em si, que a princípio contém os dispositivos necessários para o atendimento dos Usuários do órgão, porém, cada Conselheiro coloca um desafio para melhorar a eficácia dos serviços prestados à comunidade, visto que o CT é o representante legal da sociedade civil na área da criança e do adolescente; é o órgão que vai prestar o atendimento inicial, emergencial e dar o encaminhamento mais adequado, conforme suas atribuições.

A CT Presidente do CTL, disse que o artigo 136 do ECA é uma forma de dizer a quem está sendo requisitado o serviço, que “aquela família tem grande necessidade, precisa mesmo da requisição dos serviços”. Há um equívoco nesta interpretação; os direitos fundamentais previstos no ECA são para todas as crianças, independente de classe social. Não é função do CT fazer triagem. Portanto, como afirmou a própria Conselheira, “tem que vestir a camisa, gostar e se dedicar à causa”; a função exercida é muito mais que um emprego ou uma função remunerada. É preciso entender do ECA e sua história, caso contrário, o direito não será garantido.

A Conselheira Tutelar reeleita do CTL demonstra preocupação com os critérios de seleção à candidatura para Conselheiro Tutelar, e sugere maior rigidez, rigor nos critérios, para o cumprimento das funções e atribuições com qualidade.

A Conselheira Tutelar presidente do CTO propõe o rompimento com práticas antigas e históricas, que visam a harmonia entre órgãos, porém não favorecem a atuação eficiente do CT, e acaba prejudicando a compreensão da sociedade quanto a real função do CT: a proteção dos direitos da criança e do adolescente. A sugestão é o rompimento com possíveis relações corporativas ou de favoritismo. Há casos em que o pedido de atendimento ao CT não é de sua atribuição, porém o Conselheiro se vê obrigado a fazer, pois pode ser cobrado como se tivesse uma dívida a pagar, ou poderá precisar do voto para uma reeleição, por isso tem de agradar, assumindo atribuições que não lhe competem.

O CT requisita, no dia a dia, serviços a várias pessoas que compõem o Colégio de Representantes na eleição do CT, como os Delegados, os Secretários do Governo municipal, os Vereadores, os Diretores das entidades, entre outros. Essa atribuição, de requisitar, quer dizer cobrar, ou exigir uma providência em favor dos direitos dos Usuários, que por vezes se torna uma relação desgastante entre as partes. Se houver maturidade e ética no trabalho dos envolvidos, será simplesmente uma rotina de trabalho. Caso contrário, o Conselheiro poderá sofrer conseqüências por fazer pressão para garantir o direito. Esta é a compreensão da Conselheira, quando diz que o Conselheiro Tutelar que romper com as “ações tradicionais” vai enfrentar dificuldades e vai ter problemas. Porém, na ruptura é muito provável a princípio, a estranheza e debates.

A Conselheira reeleita do CTO lembra da não participação do CT no Orçamento para Planos e programas de atendimento à criança e ao adolescente,

como sendo uma das principais atribuições do órgão, e que interfere diretamente na política de atendimento. Sugere Assessoria Orçamentária para o CT, e este deve solicitar ao município, caso contrário as queixas continuarão.

Para tanto, são necessárias coragem e ousadia para enfrentar os problemas ou as conseqüências que virão. Mudança causa surpresa, comentários, críticas, exposição. A “política da boa vizinhança” se contrapõe à Política de Direitos. A idéia é a de que o CT tem de assumir efetivamente seu papel na sociedade e para o qual foi criado. Cumpre sim muitas de suas funções, mas deixam a desejar em algumas e primordiais que exigem exposição de idéias e tomadas de decisões importantes.

4.3 A EXPECTATIVA DO USUÁRIO EM RELAÇÃO À FUNÇÃO E ATRIBUIÇÕES

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