• Nenhum resultado encontrado

2. A Saúde dos Adolescentes

2.4. Exercício Físico

Do ponto de vista da saúde pública e da medicina preventiva, a promoção da atividade física em períodos desenvolvimentais como a infância e a adolescência traduz-se num estabelecimento de bases sólidas para a redução do sedentarismo na idade adulta e contribui previsivelmente para uma melhor qualidade de vida. Quanto à intenção, importa distinguir entre atividade física – “qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resulte num consumo de energias” e exercício físico – “movimento corporal planeado, estruturado e repetitivo executado para melhorar ou manter um ou mais componentes da boa forma física” (Matos et al., 2000, p. 43).

Sabe-se que a atividade física traz inúmeros efeitos benéficos para o estado de saúde dos praticantes contribuindo, sobretudo, para a prevenção de doenças cardiovasculares. Permite ainda o controlo do peso corporal e a redução da obesidade, se for equilibrada com um plano nutricional adequado (Ogden, 2004). Vários estudos mostram efeitos positivos ao nível de lípidos no sangue, pressão arterial, composição corporal, metabolismo da glicose, saúde do esqueleto e saúde psicológica em jovens que praticam exercícios aeróbicos (Sallis, Prochaska, & Taylor, 2000). A atividade física, nas diversas idades, tem inúmeras vantagens, contribuindo para uma vida positiva e dinâmica. No entanto, os benefícios do exercício dividem-se em (1) benefícios de ordem física, correspondendo ao aumento da longevidade, pois a atividade física ajuda a reduzir a tensão arterial, o peso, a diabetes e as doenças coronárias e protege contra a osteoporose e o enfraquecimento dos ossos; e (2) benefícios de ordem psicológica, porque a atividade física contribui para uma melhoria do bem-estar psicológico, sobretudo na redução de estados de ansiedade (menor stress, por exemplo) e de estados depressivos, aumento de auto-estima e de auto- confiança, bem como a melhoria ao nível da concentração (Ogden, 2004).

23 2.5. Consumo de Substâncias

Durante a década de setenta, do século XX, as preocupações parentais sobre o uso de drogas conduziu a intervenções muito específicas, com as quais se pretendia advertir as crianças dos perigos do seu uso. Em muitos casos, pretendia-se que com uma intervenção única em sala de aula se “vacinassem” os estudantes (LPCC, s.d.). De facto, o consumo de substâncias é um preditor importante quer da morbilidade, quer da mortalidade entre os adultos sendo, no entanto, mais comummente considerado comportamento de risco entre os adolescentes (Matos, et al., 2000). O presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência, João Castel-Branco Goulão, refere mesmo que, relativamente às substâncias psicoativas, a intervenção preventiva nas escolas é da maior importância, pois a escola é frequentada por um grande número de jovens que, na esmagadora maioria, não consomem substâncias mas devem ser informados sobre os riscos do consumo. Acrescenta, ainda, que uma informação bem fundamentada em termos técnicos e científicos deve ser discutida, dando-se ênfase a um discurso dissuasivo (Sousa et al., 2007).

O consumo de tabaco é referido por Baum e Posluszny (1999) como sendo um dos comportamentos que diminuem a saúde, tendo início, geralmente, durante a adolescência ou início da idade adulta. Nos anos 80, o consumo do tabaco era considerado, na sociedade portuguesa, um grande fator de risco, por isso mesmo, a maioria das intervenções junto dos jovens, nos últimos anos, tem-se centrado na prevenção do consumo do tabaco. O Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro, preocupado com estas questões, desenvolveu o projeto Caça- Cigarros. O Clube dos Caça-cigarros foi um projeto de prevenção do tabagismo e educação e promoção da saúde, distribuído por mais de uma centena de escolas do Norte e Centro do País, assim como nas ilhas. Com este projeto pretendia-se que os jovens permanecessem não fumadores, fornecendo-lhes uma série de informações e estratégias e tornando-os elementos responsáveis e participativos na educação e promoção da saúde. No entanto, as atividades estavam previamente definidas e os jovens assumiam ainda um papel passivo, sendo dado muito ênfase à doença (LPCC, s.d.).

Não existe uma causa isolada ou uma justificação simples para explicar o início e, consequente, manutenção dos hábitos tabágicos pelos adolescentes. Existem sim múltiplos fatores – genéticos, psicológicos, sociais, económicos e culturais. Alguns estudos têm mostrado uma associação entre o início do consumo e os hábitos de fumar do melhor amigo, dos pais, a facilidade de acesso, o valor da semanada e as pressões sociais (Sousa et al., 2007). Se atentarmos nas causas de manutenção do consumo, estas parecem relacionar-se com fatores pessoais, como a baixa auto-

24 estima, fraca auto-imagem, sintomas depressivos, informações erradas sobre os efeitos do tabaco e perceção do risco. Para além das consequências nefastas para a saúde, existem ainda consequências que são percebidas como positivas para os adolescentes, como a crença de que o tabaco previne o aumento de peso, o que motiva a experimentação, sobretudo no sexo feminino (Baum & Posluszny, 1999). Para a maioria dos jovens, fumar é um gesto carregado de simbolismo, que significa a afirmação pessoal, a chegada da idade adulta, o aumento da auto-estima e da imagem de si próprios, a aceitação do grupo de pares (Sousa et al., 2007).

A grande maioria dos estudos realizados na área dos consumos de substâncias refere que o álcool é a substância mais utilizada pelos adolescentes. Aaron (1999, citado em Matos et al., 2000) diz que os problemas de saúde durante a adolescência estão relacionados com o consumo de álcool e que os problemas serão mais pronunciados se o seu início for precoce. Se atentarmos no contexto português, estudos realizados em 2003, apontam Portugal como um dos países com consumo per capita dos mais elevados do mundo, estando em 6ºlugar (Sousa et al., 2007). Muitos pais e professores têm uma atitude tolerante relativamente ao álcool, pois consideram que os consumos devem ser enquadrados em fenómenos de grupo, ou considerados como meros acontecimentos ocasionais, típicos da adolescência. Acresce ainda o facto de vivermos numa sociedade que atribui o consumo de bebidas alcoólicas a festas e convívios, sendo complicado demonstrar os riscos ou advertir para as consequências da sua utilização (Sousa et al., 2007). A escola surge, mais uma vez, como contexto privilegiado para minimizar riscos, através de informação atualizada, políticas de proibição do uso de álcool em todos os locais e suporte a alunos que manifestem comportamentos desajustados com a ingestão alcoólica (ibidem).

Documentos relacionados