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Exigências atípicas ou incoerentes para contratação de profissionais de Secretariado Executivo no período de 2011 a 2015 em Fortaleza e sua Região metropolitana

5 APRESENTAÇÃO EANÁLISE DOS DADOS

5.2 Exigências atípicas ou incoerentes para contratação de profissionais de Secretariado Executivo no período de 2011 a 2015 em Fortaleza e sua Região metropolitana

A partir da exploração do conteúdo das vagas, foram destacadas as exigências atípicas ou incoerentes mais recorrentes nos anúncios, sendo dispostas no Quadro 8 abaixo, apresentando cada item de forma ranqueada e segmentada por ano.

Quadro 8 - Exigências atípicas ou incoerentes encontradas na amostra de vagas analisadas

Atipicidade/Incoerência 2011 2012 2013 2014 2015 Total

Formação Nível Médio 27 39 20 23 20 129

Formação em Secretariado ou Administração 18 35 28 39 32 152

Formação em outros Cursos 5 8 10 11 15 49

Remuneração inferior ao piso da categoria 6* 14* 4* 7* 7* 0 Atribuições incompatíveis com a profissão 10 27 15 12 11 75 Exigência por profissional do sexo feminino 1* 2* 0 1* 1* 5

Total 61 111 73 86 79 410

Fonte: Dados da pesquisa (2016).

No quesito formação, a análise dos dados revela que, até o ano de 2012, a grande maioria dos anúncios estão incoerentes com relação à legislação que regulamenta a profissão, tendo em vista requisitarem apenas o nível médio ou formações em outro cursos para as vagas com título de secretária, quando o que determina a Lei nº 7.377/1985, é que só poderá exercer a profissão aquele que possuir diploma de formação superior em Secretariado e que obtenha o devido registro profissional na DRTE A partir de 2013, há um aumento no número de vagas com título de Secretária Executiva; muitas delas requisitam a formação superior em Secretariado ou outras áreas, como: Administração, Ciências Contábeis, Biblioteconomia, Direito, ou até mesmo mencionam qualquer formação superior, o que se contrapõe ao que é determinado na referida lei . Contudo, o que pode ser constatado é que há um número muito pequeno de vagas que requisitam qualificações a nível estratégico e que estas em geral são vagas oriundas de organizações de grande porte.

Ressalte-se, porém, que a análise feita neste estudo apropria-se da literatura relacionada especificamente à área secretarial e à Lei de regulamentação da referida profissão, podendo haver outras proposições teóricas que defendam a multifuncionalidade profissional, que, em virtude da multidisciplinaridade, aceitem a assunção de cargos por formações diversas como tendência de mercado. Como tais proposições não são exploradas neste estudo, as vagas

são denominadas incoerentes conforme critério já explicitado anteriormente. A seguir são apresentados exemplos de vagas coletadas.

Figura 1 – Vaga Secretária 18.12.2015

Fonte: Grupo de Empregos na Rede Social Facebook.

Figura 2 – Vaga Secretária 15.08.2014

Fonte: Site MRH

Com relação às atribuições, alguns anúncios apresentam atipicidades, como a exigência de que o profissional possua veículo próprio, para realizar atividades externas, tratar

de assuntos pessoais e de saúde, faça gestão da manutenção e utilização de avião/helicóptero, tenha conhecimento e habilidade com softwares, como: photoshop e coreldraw, realize atividades do ramo imobiliário, faça captação de clientes, realize fluxo de caixa, entre outras. A maioria dos anúncios limitou-se a definir atribuições meramente operacionais, como: atendimento, recepção, anotar recados, organizar arquivo, entre outras, revelando que as empresas erram em atribuir atividades de baixo nível instrucional aos profissionais de Secretariado, e que se contrapõem ao que é constatado em pesquisas realizadas com profissionais formados e atuantes na profissão, como Santos e Durante (2010); Barros, Braga e Silva (2011); Barros et al. (2013), os quais identificam que os profissionais de secretariado vêm assumindo cada vez mais atribuições e responsabilidades de nível estratégico.

Analisando o quesito remuneração, com base nas Convenções Coletivas estabelecidas entre o Sindicato das Secretária do Estado do Ceará (SINDISECE) e a Federação do Comércio do Ceará, identificou-se que, no período de 2011, quando o piso salarial da categoria Técnico em Secretariado estava R$ 802,50 e o de Secretário Executivo estava R$ 911,50, de sete vagas que especificaram o valor do salário, seis apresentaram valor inferior ao piso salarial da época. Dos anúncios de 2012, quando os pisos salariais das categorias acima especificados estavam R$ 858,70 e R$ 975,30 respectivamente, 14 ofereceram salários inferiores ao piso das categorias. Na convenção de 2013/2014, os pisos foram estabelecidos em R$ 918,80 e 1.043,60, e para 2015/2016, em R$ 1081,60 e R$ 1228,52. Durante os três últimos anos, poucos anúncios informavam o valor salarial, e desses, 18 estavam abaixo do piso, com uma média salarial de R$ 800,00 a R$ 1000,00. Ferreira Lima, Santana e Santos (2011) afirmam que o salário não é o fator que mais influencia a satisfação dos secretários, contudo se estiver associado a outros fatores, como desvalorização ou falta de reconhecimento profissional, podem acarretar desmotivação e desinteresse pela profissão.

Figura 3 – Vaga Secretária 02.06.2015

É possível constatar que o estereótipo de “profissão feminina” ainda está muito presente no sensu comum dos contratantes, praticamente todos os 514 anúncios, com algumas exceções, intitulam a vaga como: Secretária; Secretária Recepcionista; Secretária administrativa; Secretária Executiva. Alguns anúncios apresentam, inclusive, a exigência de que o profissional seja do sexo feminino, como mostram as Figuras 4 e 5, abaixo.

Figura 4 – Vaga Secretária 09.12. 2015

Fonte: Classificados do Diário do Nordeste de 09/12/2015.

Figura 5 – Vaga Secretária 11 de novembro de 2014

Fonte: Grupo de emprego da Rede Social Facebook.

Desde o início do processo de feminização da profissão, como foi explanado anteriormente, no referencial desta pesquisa, as organizações priorizavam o fator boa aparência como um critério determinante para a seleção de secretárias. Paim e Pereira (2010) identificaram, em pesquisa realizadas com estudantes de Secretariado da Universidade Federal

da Bahia, que estes percebem e sofrem com a existência de critérios étnico-raciais nos processos seletivos para inserção profissional ainda nos dias atuais.

Essas incoerências revelam que ainda há bastante não observância por parte do mercado de trabalho no que tange às Leis que regulamentam a profissão de Secretariado, às Diretrizes Curriculares que estruturam os cursos de nível superior em Secretariado Executivo, o que remete a questionamentos, como: o que conduz a estas inobservâncias por parte das empresas? Será que o erro é só das empresas e dos seus departamentos de Recursos Humanos, que não estão atualizados o suficiente, ou ainda é consequência dos fatores histórico-sociais que influenciaram e influenciam no reconhecimento da profissão? Qual o efeito dessas incoerências sobre a classe secretarial?

Estes questionamentos poderão ser respondidos por meio de uma análise mais profunda e específica com essas empresas acerca de seus conhecimentos sobre a profissão de Secretariado Executivo. Contudo, não se pode descartar a hipótese que, de fato, os desafios para o reconhecimento da profissão secretarial ainda estão longe de acabar, sendo uma luta constante, que requer mais união por parte dos profissionais para criação do Conselho Federal de Secretariado.