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3 O DIREITO CRIMINAL AMBIENTAL: A DIGNIDADE PENAL DO AMBIENTE E

3.4.1 A existência de normas penais em branco

Inserido dentro do tipo penal, outra questão polêmica presente na Lei 9.605 de 1998 diz respeito à existência no corpo deste regramento de normas penais em

194

BUGALHO, Sociedade de risco e intervenção do direito penal na proteção do ambiente. In: Anais

Congresso Internacional de Direito Ambiental, 2008, p. 420.

195Nesse sentido, escrevem: ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. O princípio do poluidor pagador –

Pedra angular da política comunitária do ambiente. Coimbra: Coimbra Ed., 1997, p. 159; BOTTINI,

Crimes de perigo abstrato e princípio da precaução na sociedade de risco, 2007, p. 94; etc.

196

ARAGÃO, O princípio do poluidor pagador – Pedra angular da política comunitária do ambiente, 1997, p. 159.

197

COSTA JÚNIOR, Paulo José da; GREGORI, Georgio. Direito penal ecológico. São Paulo: Cetesb, 1981, p. 50.

198

BOTTINI, Crimes de perigo abstrato e princípio da precaução na sociedade de risco, 2007, p. 94.

199

branco200, ou seja, de tipos penais que necessitam de outras normas para serem complementados. Tal modalidade de técnica legislativa acaba por gerar junto à doutrina201 severas críticas, alegando-se, inclusive, ofensa ao princípio da legalidade.

Nesse sentido encontra-se o posicionamento de Luís Paulo Sirvinkas, para o qual a norma penal em branco afronta o princípio da reserva legal, conforme preceitua:

A norma penal em branco causaria uma insegurança enorme, pois se estaria outorgando poderes inconcebíveis ao administrador. Este, por sua vez, poderia criar verdadeiros tipos penais, contrariando o princípio da legalidade ou da reserva legal e o princípio do nullum crimen sine previa

lege. Somente a lei poderia criar tipos penais.202

Outros autores203, entretanto, entendem que tal assertiva não merece respaldo. Os crimes contra o meio ambiente exigem uma tutela ampla, fazendo-se por vezes necessário que a lei faça remissão a disposições externas, a normas e a conceitos técnicos, em busca de uma maior segurança na preservação ambiental e da adequada aplicabilidade das normas ao caso em concreto. Nesse sentido, afirma Nestor Eduardo Araruna Santigo que a adoção de normas penais em branco nos tipos incriminadores ambientais não viola o princípio da legalidade e da taxatividade;

200Conforme Luiz Regis Prado, a norma penal em branco é “[...] aquela em que a descrição da

conduta punível se mostra incompleta ou lacunosa, necessitando de complementação de outro dispositivo legal. [...] isto significa que o preceito é formado de maneira genérica ou indeterminada, devendo ser colmatado por ato normativo (legislativo ou administrativo), em regra, de cunho extrapenal”. PRADO, Luiz Regis. Direito penal do ambiente: meio ambiente, patrimônio cultural, ordenação do território e biosegurança (com análise da Lei 11.105/2005). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p.93. Como alguns exemplos de normas penais em branco inserida dentro da Lei 9.605/98 têm-se: art. 29, § 4º, I; art. 29, § 4º, VI; art. 33, § único; art. 54; art. 60; art. 62, I e II; art. 63; art. 68; e etc.

201

Nesse sentido escrevem: PRADO, Direito penal do ambiente: meio ambiente..., 2005, p. 180; SANTOS, Responsabilidade penal da pessoa jurídica. In: PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel (Coord). Responsabilidade penal da pessoa jurídica..., 2010, p. 274; etc.

202

SIRVINSKAS, Tutela Penal do Meio Ambiente, 2004, p. 40.

203

Nesse sentido escrevem: FREITAS, Ilícito penal ambiental e reparação do dano, 2005, p. 120; SANTIAGO Nestor Eduardo Araruna. A tutela penal do ambiente: A lei n. 9.605/98 e as normas penais em branco. Revista de Ciências Jurídicas – UEM, v. 5, n. 1, p. 27-40, jan./jun. 2006, p. 39; etc.

trata-se de elemento constitutivo do tipo penal, posto pelo Poder Legislativo, absolutamente adequado aos preceitos constitucionais.204

No mesmo sentido, a doutrina, de forma majoritária, vem se orientando no sentido de que para uma efetiva proteção penal do meio ambiente, dada a sua complexidade, torna-se imprescindível a utilização da norma penal em branco.205 Tal técnica legislativa presente na lei ambiental traz maior maleabilidade e segurança na aplicabilidade das normas. Mostra-se, assim, não apenas perfeitamente justificável, como se constitui numa necessidade, na medida em que torna possível a escolha de indicadores de qualidade mais adaptáveis às situações.206 Trata-se de técnica de integração normativa do Direito Penal, na medida em que as normas penais em branco acabam por remeter a conduta a uma concreta determinação do tipo, seja nas leis ou em outras disposições de caráter geral, sendo um importante instrumento para uma efetiva tutela ao meio ambiente.207

Tal modalidade de norma detém a característica de não apresentar conteúdo completo. Exige, dessa forma, uma complementação de seu preceito por outra norma, seja esta lei, decreto ou portaria, devendo posteriormente ser adequada e aplicada ao caso em concreto, oferecendo maior maleabilidade e segurança.

Nesse campo tão mutável como é o meio ambiente e tão carecedor de cuidado, especialmente em razão de sua primazia nesta sociedade de risco mundial, parece justificável a opção adotada pelo legislador quanto à utilização de conceitos externos, oriundos de outros campos, como do Direito Administrativo, do Direito Ambiental, da Biologia, etc., a fim de regular e regularizar questões concernentes às licenças, autorizações, áreas de preservação permanente, dentre outras. Portanto, utiliza-se de preceitos técnicos de outros ramos para melhor amparo e eficiente proteção ambiental.

204

SANTIAGO, A tutela penal do ambiente: A lei n. 9.605/98 e as normas penais em branco. Revista

de Ciências Jurídicas, 2006, p. 39.

205

RODRIGUES-ARIAS apud FREITAS, Gilberto Passos de. Ilícito penal ambiental e reparação do

dano. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 116.

206

FREITAS, Ilícito penal ambiental e reparação do dano, 2005, p. 120.

207

MARTINS, José Renato. A utilização do direito penal na efetividade da tutela do meio ambiente em

face da sociedade de risco. Disponível em:

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