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1. SEGREGAÇÃO ESPACIAL: do conceito a manifestação

2.1 A capital Belo Horizonte e o processo de metropolização de 1930 – 1970

2.1.2 Da expansão para metropolização

O crescimento da mancha urbana de Belo Horizonte se espraia e começa a avançar também para os eixos sul e leste, mesmo com toda a persistência da administração municipal em controlar o crescimento espacial da cidade. No plano inicial, a capital havia sido projetada para receber uma população de 200 mil habitantes,

FIGURA 4 - Mapa do Município de Belo Horizonte no ano de 1953. Observa-se o direcionamento da expansão urbana para o eixo norte com a Avenida Antônio Carlos (verde), Lagoa da Pampulha (azul) e para o eixo oeste através da Av. Amazonas (amarelo) e do o Parque Industrial (vermelho). Destaque para a Avenida do Contorno (preto) e a expansão para além do seu perímetro.

entretanto, no ano de 1940, BH já contava com 211.377 habitantes. De acordo com o Plambel (1979:262) “Belo Horizonte não tem possibilidades de oferecer serviços de infraestrutura demandados pela população crescente” evidenciando um cenário com a necessidade de um (re) planejamento.

Além da implantação da Cidade Industrial e do Complexo da Pampulha, a década de quarenta foi marcada também pela construção de alguns empreendimentos que contribuíram para o direcionamento e intensificação da expansão da capital. São eles:

 A construção do primeiro conjunto vertical do país, o Conjunto Habitacional IAPI, na região da Lagoinha. Foi construído através de uma parceria com o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários, que dá o nome ao conjunto.

 O surgimento, na região Sul, dos bairros de Lourdes e Santo Agostinho dentro dos limites da Avenida do Contorno, e o bairro Cidade Jardim, fora dos limites. Bairros destinados a classe alta da capital o que favoreceu a confirmação do caráter elitista dessa região.

 O intenso processo de verticalização da área central da cidade, que contribuíram para interferências significativas tanto no centro, onde iniciou o processo, como nos espaços urbanos adjacentes.

O processo de verticalização da área central foi e se mantém vertiginoso, principalmente com a legislação aprovada que autorizava a demolição de antigos prédios para a construção de novos. Com a legislação mais permissiva e com o incentivo a maior aproveitamento dos terrenos, o comércio de terras dentro do centro da capital começa a se valorizar, o que provocou a mudança das atividades da área central para locais mais distantes. Exemplo disso são os comércios atacadistas e pequenas indústrias que necessitavam de maiores terrenos passam a se deslocar para as grandes avenidas abertas neste período. Segundo Plambel (1985) a década de 1940 a expansão e a diferenciação espacial observada se consolidam majoritariamente com gradual afastamento dos loteamentos das classes populares.

No início da década de 1950, Juscelino Kubitscheck torna-se governador de Minas Gerais e estabelece uma política de crescimento e desenvolvimento para o estado, principalmente no setor energético e de transporte. Em 1952 foi criada a

Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG, empresa responsável pela administração de todas as usinas hidrelétricas do estado, que causou grande impacto e repercussão no setor energético mineiro. No âmbito do transporte foram feitas obras de ampliação do sistema viário e abertura de novas avenidas, como a Avenida Silviano Brandão e a Avenida Pedro II, entretanto tais medidas não contribuíram de modo eficaz para o contexto precário em que o sistema viário de Minas encontrava-se (PLAMBEL, 1979).

Diante deste contexto a metropolização se intensifica durante toda a década de cinquenta. Os municípios vizinhos a capital aumentam progressivamente as relações com o centro, principalmente Contagem, no eixo oeste, devido a sua característica industrial. Aliado a esse aspecto, Contagem, assim como Betim e Ibirité, estreitam ainda mais sua relação com a capital devido ao lançamento de vários loteamentos em seus territórios que configuraram a primeira frente da conurbação com Belo Horizonte.

Ainda na década de 1950, de acordo com o Mercado de Terras (PLAMBEL, 1987) foram aprovados 113 loteamentos em Belo Horizonte, Contagem e Betim, totalizando 88.660 lotes. A grande maioria situava-se nos municípios de Contagem e Betim, 50.400 no total, representando 24% dos lotes aprovados entre 1950 e 1976 em todo aglomerado metropolitano. Com a especulação imobiliária, esses loteamentos não foram ocupados assim que lancados, o valor dos terrenos não era condizente com a condição dos proletários e da classe pobre. Desse modo, o crescimento da região oeste se deu com a ocupação de loteamentos implantados anteriormente, irregulares, mais afastados e com menos infraestruturas e também pelas invasões de terras em regiões de encostas e beira de rios.

A década de 1960 ficou marcada pelo crescimento populacional de Belo Horizonte, com uma taxa anual de 6,99%. Os demais municípios que pertenciam ao aglomerado metropolitano4 tiveram um incremento de 3,37% na taxa de crescimento anual em relação à década de 1950. Segundo Fernandes (2008) devido ao ritmo vertiginoso de crescimento populacional aliado à falta de planejamento regional e urbano, os municípios metropolitanos observaram o aumento gradual de ocupações irregulares da terra, criando-se vilas clandestinas e favelas, principalmente no eixo oeste e norte.

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É denominado Aglomerado Metropolitano, a área compreendida por Belo Horizonte e espaços urbanos conurbados dos municípios vizinhos (MINAS GERAIS, 2013)

Em consequência deste processo de crescimento acelerado, em que as políticas públicas urbanas não acompanharam a expansão, o aglomerado metropolitano entrou em um cenário de “desordem urbana”, principalmente pela intensificação da diferenciação urbana. Esse cenário de problemas decorrentes devido à relação precária entre os centros das metrópoles e os municípios periféricos era realidade também em outras capitais brasileiras, fato que levou o governo federal a reconhecer que para a minimização dos problemas, seria necessário primeiro um planejamento levando em conta todo o contexto metropolitano, e não apenas as metrópoles. Segundo Fernandes (2008), foram aprovadas as Leis 4591/64, 4380/64 e 4864/65 que versavam sobre a política nacional de habitação e de planejamento territorial.

2.2 A criação da Região metropolitana de Belo Horizonte e o processo de