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A expectativa de valorização da região tem resultado em uma crescente exploração imobiliária, levando inclusive à mudança no Plano Diretor, que por um decreto municipal de 1989 passou a permitir a construção de edifícios com até 12 andares - anteriormente, a construção limitava-se a cinco andares - e atualmente já são permitidos até 17 andares. É preciso levar em consideração que o crescimento vertical que vem ocorrendo nos últimos anos promove também um aumento da população, interferindo diretamente em toda a malha viária da região. Problema que inicialmente seria solucionado com a construção da avenida Beira- Mar Continental e que agora não se mostra mais suficiente.

O espaço urbano do Balneário é caracterizado na engenharia como “uma malha urbana reticulada e pouco homogênea na configuração das quadras”, sendo evidenciado o seu crescimento vertical, mas ainda com predomínio da horizontalidade:

Com topografia plana, o bairro apresenta basicamente duas áreas distintas quanto à ocupação do solo, marcadas pelo eixo da rua Sérgio Gil, onde temos: a lateral sul caracterizada por construções mistas (comercial e residencial) e a maior oscilação de edificações, entre térreas e 12 pavimentos; e a lateral norte deste eixo apresentando predomínio no uso residencial, com edificações que não ultrapassam 2 pavimentos. Apesar das variações de volumetria entre as edificações, predomina a horizontalidade no bairro. As construções verticais estão mais concentradas no limite sul do bairro, próximas das ruas e avenidas de maior fluxo, onde a área comercial está mais presente. (VIERA, 2004, p.70).

Justamente o aumento da população somado ao grande fluxo de veículos é uma das questões que preocupa Fábio, colocando-se contra a construção de uma grande avenida como a Beira-Mar Continental:

Porque quer ver só uma coisa, não tem uma rua aqui pra resistir a um trânsito pesado. Eu acho que a hora que os ônibus entrarem nessas nossas ruazinhas aqui, caminhões pesados vão entrar também, isso aí, isso vai arrebentar tudo. Apesar de ouvir comentários que essa principal aqui

[avenida Santa Catarina] e aquela do Clube 6 lá [rua Sérgio Gil] deram um reforcinho nelas.158

Cléia, que mora muito próximo da nova avenida, diz que nunca tinha pensado em sair do local, mas que agora teria vontade de morar num sítio, numa região tranquila, pois percebe que o bairro está ficando muito diferente. Ela recebeu diversas propostas para vender a casa:

Agora não vieram mais, mas há uns anos atrás aí vinham muito. Mas eu nunca aceitei, nunca queria. Primeiro que eu levei alguns anos com a escritura do terreno, porque era da minha mãe e de um cunhado, e levou bastante tempo na justiça, e nesse meio tempo vinha muita gente oferecer. Mas daí foi resolvido... [...] Na época nem se falava na Beira-Mar ainda. [...] Eu calculo de uns quinze anos pra cá... quando começaram mesmo a comentar e falar.159

E ela ainda compartilha com os filhos a preocupação com o crescimento do bairro:

Eu digo pra eles, vai chegar um tempo não sei se daqui a cinco, dez anos, ou mais ou menos daí pra frente não vai ter nem condições de morar... Porque se for como passar uma avenida, colocarem prédios, vai ser mais assim pra comércio, porque nisso aqui não se vê comércio nenhum. Agora tem aqui a Volvo [casa ao lado], mas não tinha mesmo, não tem. Da rua José Candido da Silva agora já tem corretora, imobiliária.160

A paisagem da região do Estreito já apresenta mudanças significativas, com uma crescente exploração imobiliária, a construção de edifícios residenciais e comerciais, inclusive com a alteração no Plano Diretor, permitindo a construção de edifícios com até 17 andares. Devido à proximidade com o Centro – cerca de 4 quilômetros – e sua diversificação de comércio, ocorre uma grande procura pelos investidores e moradores, gerando o aumento gradativo nos preços de venda e locação. Novos edifícios são construídos com padrão superior ao existente na região e os anúncios dos empreendimentos trazem o apelo de “viver à beira-mar” para atrair camadas com maior poder aquisitivo e outros já chamam inclusive de “Novo Estreito”, referindo-se à área em frente à Escola de Aprendizes-Marinheiros.

No Balneário, exemplo disso é o Residencial Saint Bernard, na rua Vereador Batista Pereira, próximo à Caixa Econômica Federal, que ressalta entre as características do imóvel a proximidade com a “futura Beira-Mar Continental” e “a melhor localização do Balneário do Estreito com vista para o mar”. Com entrega prevista para abril de 2011, os preços variam de

158 Entrevista já citada. 159 Entrevista já citada. 160 Entrevista já citada.

acordo com o andar e com o número de suítes (de uma a três), ficando entre R$ 338.000,00 e R$ 733.000,00, com 83 metros quadrados de área privativa no apartamento com uma suíte.161

Para se ter um comparativo, um imóvel do mesmo padrão, uma rua abaixo deste – rua São Pedro – adquirido em 1988 em fase similar de construção, com três dormitórios e uma suíte, com 126 metros quadrados de área privativa, foi pago o valor de Cz$ 7.501.243,22 – a moeda em vigência na época era o Cruzado.162 Em frente a este imóvel, outro construído na mesma época, final da década de 1980, possui um apartamento à venda, também de três dormitórios e uma suíte, com 114 metros quadrados de área privativa, por R$ 238.000,00.163 A conversão financeira não é fácil de ser calculada, pois a quantia deve ser corrigida por um índice de preços apropriado para que a paridade do poder de compra da moeda seja mantida,164 mas pelo preço do imóvel novo e do usado percebe-se a valorização que os imóveis do bairro tiveram, apesar da compartimentação dos tamanhos dos apartamentos.

O trânsito do Estreito, que motivou o início das obras, é bastante intenso diariamente durante todo o horário comercial, especialmente nas horas de pico. Nem mesmo o Balneário possui mais a tranquilidade de alguns anos atrás. Fábio observa:

Se o Estreito hoje tivesse um trânsito solto, eu tenho certeza que o comércio comercializaria muito mais. A falta de clientela hoje perto de nós é pela dificuldade de entrar dentro do Estreito. Eu tenho a loja ali há 40 anos, tem hora que eu não encontro lugar [para estacionar], eu que conheço todos os cantinhos perto da minha loja, eu faço idéia de uma pessoa que mora a 20, 30 quilômetros daqui. Primeiro que pra entrar já é uma dificuldade tremenda.165

Além disso, Fábio percebe as mudanças no seu ramo de autopeças pela própria transformação dos veículos:

A minha empresa eu comecei em 71. [...] Ah... tá bem diferente. Inclusive antes, a gente trabalha com autopeças, e antes aparecia conserto de veículos. Mas devido hoje em dia à tecnologia os automóveis não quebram mais, apesar da quantidade de automóveis, 20 a 30 vezes mais do que naquela época. Eu até considero isso como conserto de geladeira, televisão, ninguém

161 Orçamento feito com a Construtora Stylo. CONSTRUTORA STYLO. Informações Ed. Res. S. Bernard.

[mensagem pessoal] Mensagem recebida por <gisapalma@yahoo.com.br> em 26 maio 2010.

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Imóvel adquirido pelo pai da autora em 28 de junho de 1988, informações contidas no contrato do imóvel assinado com a construtora.

163 Edifício Rúbia Carla. Venda: Apartamento 3 dormitórios – Balneário. Data da publicação: 13 de março 2010.

Disponível em: <http://www.imobiliariasflorianopolis.com.br/vendas/balneario/index.php?bairro=Balneario>. Acesso em: 23 maio 2010.

164 Tabela de Conversão de Moedas Brasileiras disponível em: <http://www.ocaixa.com.br/passos/passos3.htm>.

Acesso em: 29 maio 2010.

mais faz isso. O automóvel tá ficando isso também. Então, o nosso ramo de autopeças tá se acabando. [...] Tu vê que na minha rua tinha 18 autopeças, hoje só tem eu.166

“Agora, isso aí eu também achava que... todo mundo acha, né... que com a avenida aqui vai ser tudo diferente”, afirma Cléia, um pouco temerosa pelo que virá após a conclusão da Beira-Mar Continental, pois são tantos os projetos que nem mesmo os moradores sabem qual e quando será a próxima etapa. A moradora comenta o que já ouviu falar:

Só parece que acima de três, quatro andares não pode. Não vão poder deixar construir nada aqui. [...] Uns dizem que o outro lado da rua sim [que serão desapropriados]. Por isso já querem tirar a comunidade dali, porque dizem que depois já tá tudo firmado o projeto pra eles continuarem, que vai até a Marinha [Escola de Aprendizes-Marinheiros] e de lá é com [o município de] São José. Mas, por enquanto, dizem que até 2011, um vizinho ali falou, que é só até aqui, mas que pra cá esse meu lado não.167

As especulações dos vizinhos, os novos espaços que surgem, o ritmo da grande cidade que invade o bairro. Assim, aos poucos, vai sendo composta a colcha de retalhos do Balneário. Crescimento que gera uma constante preocupação com o trânsito, a infra-estrutura básica de água, saneamento, energia elétrica, além de uma especulação do turismo com novos projetos a cada dia.

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