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A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA E INTERNACIONAL NA PRODUÇÃO DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE

III – INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: ASPECTOS TÉCNICOS E TEÓRICOS

IV. A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA E INTERNACIONAL NA PRODUÇÃO DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE

Este capítulo apresenta alguns dos sistemas mais conhecidos de avaliação de sustentabilidade e as experiências brasileira e internacional na produção de indicadores. Depois do sistema PER (pressão-estado-resposta), proposto pela OECD e escolhido para tese como base na construção do ISAGRI, os outros três métodos mais utilizados de avaliação são apresentados: pegada ecológica (ecological footprint), barômetro da sustentabilidade (barometer of sustainability) e painel da sustentabilidade (dashboard of sustaianability).

4.1 - O estado de arte das informações ambientais no Brasil: a experiência do IBGE

Ainda há muito que se fazer em termos de Estatísticas Ambientais no IBGE, embora, atualmente, a Instituição conte especialmente com a Diretoria de Geociências - DGC, com uma longa tradição de geografia, de levantamentos e estudos de recursos naturais e diagnósticos ambientais. Essa diretoria se divide em duas grandes vertentes ambientais: uma que foca o mapeamento de recursos naturais e outra que foca pesquisas de profundidade de aspectos ambientais mais próximas do modelo acadêmico. Muitos desses estudos baseiam-se na observação in loco por parte do próprio analista;têm por objeto porções limitadas do território e atêm-se a questões e problemas singulares, especialmente relevantes para a realidade local.

Grande parte da produção da DGC sobre temas ambientais é constituída de informação cartográfica, resultado final de trabalhos de levantamento e/ou sistematização de informações advindas de mapeamentos. É uma tradição muito relevante que, em particular, antecipa muito das tendências atuais de geo- referenciamento de informações, mas que, no entanto, não tem ênfase na

produção de estatísticas, aqui entendidas como “expressões numéricas de múltiplos organizados” (SENRA, 1998).

Em anos mais recentes, o IBGE dedicou esforços à apropriação de metodologias que procuram sintetizar as questões ambientais e integrá-las com o sistema de Contas Nacionais, a partir de um arcabouço teórico coerente, com o objetivo de destacar de forma explícita a relação entre desenvolvimento econômico e a depleção de recursos naturais e degradação do meio ambiente. Sua implementação, no entanto, depende ainda de um desenvolvimento posterior das contas do patrimônio e parece requerer um acúmulo mais sedimentado de estatísticas ambientais de caráter básico, ainda não alcançados. Resulta que hoje ainda não encontramos no Anuário Estatístico Brasileiro, um capítulo denso e específico dedicado ao meio ambiente; ou no site do IBGE, um link que derive para estatísticas ambientais.

Entretanto, a necessidade de se ter indicadores criteriosamente selecionados que fossem capazes de avaliar áreas temáticas para as quais a carência de informações é maior, motivou a idéia de construir os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do Brasil – IDS-BR. Dessa forma, o investimento recente do IBGE, visando à publicação de indicadores de desenvolvimento sustentável, teve seu estímulo na realização da Cúpula Mundial de Meio Ambiente em 2002, na cidade de Joanesburgo. O principal objetivo é oferecer à sociedade brasileira uma informação estruturada voltada a avaliar a trajetória do País em relação ao desenvolvimento sustentável e, em particular, à Agenda 21, passados 10 anos da realização da ECO-92.

Além disso, esse trabalho contribuiu com o esforço proposto pelas Nações Unidas a um grupo de nações em testar a metodologia da Comissão de Desenvolvimento Sustentável – CDS1; aborda um dos temas estabelecidos como prioritários em termo de cooperação técnica entre o Ministério do Meio Ambiente e o IBGE, em dezembro de 1999.

1

Ver Comission on Sustainable Development. Status Report on the Implementation of the CSD Work Programme on Indicators of Sustainable Development United Nations, 1998 disponível em http://www.un.org/documents/ecosoc/cn17/1998/background/ecn1711998-bp18.htm

Por outro lado, a Agenda 21 gerou ao menos dois subprodutos: (a) um levantamento da disponibilidade no País de informações estatísticas adequadas ao acompanhamento dos principais temas relativos ao desenvolvimento sustentável, bem como as dificuldades teórico-metodológicas e práticas para agrupar essas estatísticas convenientemente; (b) a identificação de lacunas que podem servir para orientar os trabalhos para o aprimoramento de nossas estatísticas. Os indicadores de desenvolvimento sustentável foram organizados em quatro dimensões: ambiental, social, econômica e institucional.

A dimensão ambiental diz respeito ao uso de recursos naturais e à degradação ambiental, e está relacionada aos objetivos de preservação e conservação do meio ambiente, considerados fundamentais ao benefício das gerações futuras. Essas questões aparecem organizadas nos temas: atmosfera, água doce, terra, oceanos, marés e áreas costeiras; biodiversidade; e saneamento (IBGE, 2004).

A dimensão social, segundo o IBGE (2004), corresponde especialmente, aos objetivos ligados à satisfação das necessidades humanas, à melhoria da qualidade de vida e à justiça social. Os indicadores incluídos nessa dimensão abrangem os temas: população; trabalho e rendimento; saúde; educação; habitação; segurança. Os mesmos procuram retratar a situação social, a distribuição da renda e as condições de vida da população, apontando o sentido de sua evolução recente.

A dimensão econômica trata do desempenho macroeconômico, financeiro e dos impactos no consumo de recursos materiais e uso de energia primária. É uma dimensão que se ocupa com os objetivos da eficiência dos processos produtivos, e com as alterações nas estruturas de consumo orientadas a uma reprodução econômica sustentável ao longo prazo. Os diferentes aspectos da dimensão econômica do desenvolvimento sustentável são organizados nos temas quadro econômico e padrões de produção e consumo (IBGE, 2004).

Finalmente, a dimensão institucional que diz respeito à orientação política, capacidade e esforço despendido para as mudanças requeridas para uma efetiva implementação do desenvolvimento sustentável. O IBGE (2004) salienta que esta

dimensão aborda temas de difícil medição, e que carece mais estudos para o seu aprimoramento. A dimensão é desdobrada nos temas quadro institucional e capacidade institucional, e apresenta cinco indicadores.

4.2 - A abordagem metodológica da OECD na produção de indicadores de sustentabilidade

A OECD tem trabalhado efetivamente desde 1980 na proposição de metodologias que sejam capazes de capturar medidas de sustentabilidade. O primeiro workshop, realizado pela OECD em setembro de 1999, permitiu que várias metodologias fossem discutidas e avaliadas. Em 2001-2003, um segundo

workshop Accounting Frameworks for Sustainable Development foi organizado

pela OECD com o objetivo de comparar as experiências concretas dos países membros e organizações internacionais na utilização de seus indicadores econômicos, sociais e ambientais. A reunião contou com a participação de 70 especialistas, aproximadamente, representando 19 países membros da OECD, 4 Organizações internacionais e muitos diretórios da OECD.

De todos os artigos apresentados no workshop, a maioria discute as controvérsias existentes na proposição de ferramentas que sejam capazes de medir a sustentabilidade. Dentre as principais preocupações relatadas, estão: coerência entre os conceitos e as classificações adotadas na contabilidade nacional e nas estatísticas básicas; a correlação entre as unidades físicas e monetárias e a disponibilidade das informações básicas dos fenômenos ambientais.

O Grupo da OECD do Estado do Ambiente está desenvolvendo um conjunto de indicadores ambientais através de todos os setores da economia. Esse grupo dá a informação tão bem quanto o conjunto de indicadores ambientais para alimentar o Compendium de dados da OECD. Indicadores relacionados ao setor agrícola referem-se às atividades agrícolas que geram pressão no ambiente,

como por exemplo, a poluição por fertilizantes e pesticidas, como já discutido anteriormente.

Dentre as diversas metodologias consultadas, considerou-se mais interessante adotar uma já internacionalmente aceita, de fácil execução e entendimento; aplicável a diferentes níveis, escalas e atividades humanas e com alguma possibilidade de agregação dos diversos indicadores para se chegar a um índice de sustentabilidade ambiental agrícola. Assim, para a elaboração do ISAGRI, adotou-se a abordagem metodológica do PER proposta pela OECD.

4.2.1 - A estrutura Pressão – Estado – Resposta (PER)

O trabalho da OECD em indicadores desenvolve-se dentro do que é chamada de abordagem pressão-estado-resposta (PER), que considera os impactos ambientais não só resultantes de fatores naturais (por exemplo,

terremotos), como também de pressões decorrentes das atividades humanas. Dessa forma estrutura as informações existentes em três tipos de indicadores:

• Indicadores de Pressão das atividades humanas sobre o meio ambiente (por exemplo, crescimento e densidade populacional). São indicadores de causas dos problemas ambientais; mostram os efeitos das ações (ou pressões) do homem sobre o meio ambiente. Costumam-se agrupar em dois itens: indicadores de stress, ou seja, aqueles cuja pressão é próxima – pressão direta exercida sobre o meio ambiente; e indicadores de

background, de pressão indireta, que refletem atividades humanas que

conduzem a pressões ambientais próximas (ex: crescimento da população, desenvolvimento econômico, etc.).

• Indicadores de Estado, que descrevem a qualidade do meio ambiente (por exemplo, qualidade da água, do solo, do ar, etc). Mostram as condições ambientais como resultado e efeito das atividades do homem. São indicadores que se relacionam com a qualidade do meio ambiente e

aspectos da qualidade e quantidade de recursos naturais; têm por objetivo orientar a elaboração de políticas ambientais.

• Indicadores de Resposta para a melhoria do meio ambiente (por exemplo, percentagem de dejetos reciclados). São os indicadores que mostram as medidas (mitigadoras ou protecionistas) tomadas pela sociedade para reduzir ou evitar os impactos negativos da atividade humana sobre o meio ambiente, ou por medidas que permitam parar ou reverter o dano ambiental já inflingido (OECD, 1993). Trata-se, portanto, de uma gama bastante ampla de indicadores que compreende desde políticas, programas e projetos voltados para a vigilância e controle de qualidade ambiental, até itens de consumo e desenvolvimento de técnicas mais adequadas e eficazes para a utilização dos recursos naturais.

Da perspectiva política é crucial que a distinção possa ser feita entre aquelas atividades agrícolas que beneficiam e aquelas que prejudicam o ambiente. Isso talvez seja uma controvérsia, embora o nível de referência ou a linha de base escolhida e a direção da mudança dos efeitos ambientais irão indicar se tem existido uma melhora ou uma deterioração da performance ambiental (LEGG, 1997).

A OECD tem explorado o conceito e o uso operacional do nível de referência como uma meta para identificar uma apropriada resposta política (OECD, 1997b). Existe um número de maneiras possíveis nas quais um nível de referência poderia ser expresso de uma forma operacional: em termos de rendas ambientais, práticas agrícolas e ou mesmo em termos de níveis e composição de produção agrícola.

A Estrutura PER foi adotada pela Comissão das Nações Unidas em Desenvolvimento Sustentável em 1995 como uma ferramenta para organizar as informações em desenvolvimento sustentável e para desenvolver, apresentar e analisar indicadores de desenvolvimento sustentável. A estrutura é utilizada no programa de trabalho de indicadores de desenvolvimento sustentável (UNITED NATIONS, 1995). O objetivo desse programa de trabalho é produzir indicadores

de desenvolvimento sustentável acessíveis aos tomadores de decisão num plano nacional.

A estrutura PER tem sido usada pelo Banco Mundial num trabalho de indicadores de desenvolvimento sustentável (WORLD BANK 1995). Além disso, muitas outras organizações e países têm recentemente usado a estrutura no desenvolvimento e uso de indicadores de desenvolvimento sustentável.

4.2.2 - Critérios utilizados pela OECD na seleção de indicadores

A OCDE define os seguintes critérios para a elaboração de um indicador ambiental ideal:

a) Relevância política e utilização por usuários – Um indicador ambiental deve:

• fornecer um quadro representativo de condições ambientais, as pressões sobre o meio ambiente ou as respostas da sociedade;

• ser simples, fácil de interpretar e capaz de mostrar a tendência ao longo do tempo;

• ser sensível às mudanças no meio ambiente e atividade humanas relacionadas;

• fornecer uma base para comparações internacionais;

• ser nacional em escopo ou aplicável a questões ambientais de significância regional;

• apresentar um valor de patamar ou de referência, contra o qual possa ser comparado, de forma que os usuários sejam capazes de avaliar a significância dos valores a ele atribuídos.

b) Relevância Analítica – Um indicador ambiental deve:

• ser teoricamente bem fundamentado em termos técnicos e científicos; • ser baseado em padrões internacionais e consenso internacional sobre sua

• permitir ligação a modelos econômicos, sistemas de previsão e informação.

c) Mensuralidade – Os dados requeridos para suportar um indicador devem ser:

• prontamente disponíveis ou tornados disponíveis numa razão de custo/benéfico razoável;

• adequadamente documentados e de qualidade reconhecida;

• atualizados em intervalos regulares com procedimentos confiáveis.

4.3 - Outros sistemas de indicadores de sustentabilidade

Abaixo, destacam-se os principais projetos em indicadores de sustentabilidade existentes no mundo:

• Pressão- Estado- Resposta (PSR – OECD); • DSR – CSD;

• GPI – Cobb;

• Índice de Desenvolvimento Humano (HDI – UNDP);

• Material input per service (Mips) – Wuppertal Institut – Alemanha;

• Dashboard of sustainability (DS) (painel da sustentabilidade) – International Institut for Sustainable Development – Canadá;

• Ecological footprint model (EFM) (pegada ecológica) – Wackernagel e Rees;

• Barometer of sustainability (BS) (barômetro da sustentabilidade) – IUCN – Prescott – Allen;

• System basic orientors (SBO) – Bossel – Kassel University; • Wealth of nations – Banco Mundial;

• Seea – United Nations Statistical Division;

• National round table on the environment and economy (NRTEE) – Human/ Ecosystem Approach – Canadá;

• Interagency working group on sustainable development indicators (IWGSDI) – US President Council on Sustainable Development Indicator Set;

• Eco efficiency (EE) – World Business Council on Sustainable Development (WBCSD);

• Sustainable process index (SPI) – Institute of Chemical Engineering – Graz University;

• European Indices Project (EIP) – Eurostat;

• Environmental sustainability index (ESI) – World Economic Forum

O ISAGRI conforme justificado acima será fundamentado na estrutura metodológica PER da OECD, apresentada no tópico anterior. A seguir, os outros 3 sistemas de indicadores de sustentabilidade mais utilizados depois do sistema da OECD – pegada ecológica, painel da sustentabilidade e barômetro da sustentabilidade - serão apresentados. O objetivo principal é descrever cada uma dessas metolodologias ressaltando-se os principais aspectos teóricos de cada uma delas.

4.3.1 - O método da pegada ecológica (ecological footprint method)

O lançamento do livro Our ecological footprint, de WACKERNAGEL e REES (1996), um trabalho pioneiro sobre esse sistema, marca definitivamente a utilização dessa ferramenta para medir e comunicar o desenvolvimento sustentável. Embora esse trabalho não seja o primeiro que aborde explicitamente o conceito, foi ele que marcou o início de diversos trabalhos de pesquisadores e organizações no desenvolvimento dessa ferramenta. Uma obra mais recente,

Sharing nature´s interest, também de Wackernagel e com a contribuição de

Chambers e Simmons (2000), traz o resultado do aumento de interesse sobre a ferramenta com a contribuição de mais de 4 mil websites que tratam da utilização desse sistema para as mais diferentes aplicações.

A ferramenta proposta por Wackernagel e Rees (1996) é denominada

ecological footprint method, termo que pode ser traduzido como “pegada

ecológica” e que representa o espaço ecológico correspondente para sustentar um determinado sistema ou unidade. Trata-se, segundo seus autores, de uma ferramenta simples e compreensível; afirmam que sua metodologia basicamente contabiliza os fluxos de matéria e energia que entram e saem de um sistema econômico e converte esses fluxos em área correspondente de terra ou água existentes na natureza para sustentar esse sistema.

O método da pegada ecológica é, portanto, uma ferramenta que transforma o consumo de matéria prima e a assimilação de dejetos, de um sistema econômico ou população humana, em área correspondente de terra ou água produtiva. Portanto, por definição, a pegada ecológica é a área do ecossistema necessária para assegurar a sobrevivência de uma determinada população ou sistema. O método representa a apropriação de uma determinada população sobre a capacidade de carga de um sistema total (WACKERNAGEL; REES, 1996; CHAMBERS et al., 2000).

O método da pegada ecológica fundamenta-se basicamente no conceito de capacidade de carga. Para efeito de cálculo, a capacidade de carga de um sistema corresponde à máxima população que pode ser suportada indefinidamente no sistema, entretanto, parece que esta definição não é adequada para a sociedade, uma vez que a espécie humana tem a capacidade de aumentar consideravelmente seu espaço na ecosfera pela utilização de tecnologia, eliminação de espécies concorrentes, importação de recursos escassos etc. Os autores do sistema reforçam essa inadequação quando utilizam a definição de CATTON (1986), que afirma que a capacidade de carga refere-se especificamente à carga máxima, que pode ser segura e persistentemente imposta ao ambiente pela sociedade. Para os autores do sistema, a carga não é apenas decorrente da população humana mas também da distribuição per capita do consumo dessa população. Como resultado dessa distribuição, a pressão relativa sobre o meio ambiente está crescendo proporcionalmente de forma mais rápida do que o crescimento populacional.

Como observado pelos autores, a carga exercida sobre o meio ambiente alcança atualmente dimensões críticas. Sendo ecológica a base do desenvolvimento humano, o método da pegada ecológica reforça a necessidade de introduzir a questão da capacidade de carga na sociedade, entretanto seus autores também abordam em suas obras, alguns pontos críticos do sistema. Um deles é relativo à determinação do tamanho adequado da população para determinada região. Isso traz consigo uma série de problemas por duas razões principais:

• 1ª. A carga imposta por essa população varia em função de diversos fatores como: receita média, expectativas materiais e nível de tecnologia, isto é, energia e eficiência material. De fato a capacidade de carga imposta é uma função de fatores culturais de produtividade ecológica.

• 2ª. Numa economia global, não existe região totalmente isolada do mundo.

Resumidamente, esse método consiste em estabelecer a área necessária para manter uma determinada população ou sistema econômico indefinidamente, fornecendo: energia e recursos naturais e capacidade de absorver os resíduos ou dejetos do sistema.

O tamanho da área requerida vai depender das receitas financeiras, da tecnologia existente, dos valores predominantes dentro do sistema e de outros fatores socioculturais. O método da pegada ecológica deve incluir tanto a área da terra exigida direta e indiretamente para atender ao consumo de energia e recursos, como também à área perdida de produção de biodiversidade em função de contaminação, radiação, erosão, salinização e urbanização (WACKERNAGEL e REES, 1996; CHAMBERS et al., 2000).

HARDI e BARG (1997) afirmam que o propósito da ferramenta é definir a área necessária para que um determinado sistema se mantenha. Para esses autores, trata-se de um sistema fortemente aceito em vários meios, haja vista a sua utilização em larga escala. O método da pegada ecológica é, portanto, função do consumo de material e energia de uma população.

O modelo assume que todos os tipos de energia, o consumo de material e a descarga de resíduos demandam uma capacidade de produção e/ou absorção de uma área finita de terra ou água. Os cálculos desse modelo incorporam as receitas mais relevantes, determinadas por valores socioculturais, tecnologia e elementos econômicos para a área estudada. A pegada ecológica per capita é definida pelo somatório de área apropriada para cada bem ou produto e, a pegada total, por sua vez, é obtida multiplicando a pegada per capita pela população total (HARDI e BARG, 1997).

O método mostra, em valores numéricos, em quanto a capacidade de carga local foi excedida, na medida em que expressa a apropriação de recursos como função de sua utilização per capita. A ferramenta fornece um índice simples agregado, área apropriada de terra ou água, que reflete o impacto ecológico da utilização de diferentes tipos de cultura e tecnologia.

O método da pegada ecológica calcula a área necessária de terra para manter a produção de bens requeridos por um certo sistema e para assimilar os dejetos por ele produzidos. Entretanto, a tentativa de incluir todos os itens de consumo, todos os tipos de dejetos e todas as funções de um ecossistema, pode tornar o sistema muito complexo e criar problemas no processamento das informações. Os autores da ferramenta, em função disso, utilizam uma abordagem simplificada do mundo real na maioria de suas obras. Isso não significa dizer que seja impossível incorporar grande parte dessas variáveis. Entretanto, como o objetivo da literatura que trata da ferramenta é a apresentação do método, os autores não consideram necessário esse aprofundamento (Wackernagel e Rees, 1996; Chambers et al., 2000).

Em geral, os exemplos fornecidos pelos autores partem de algumas suposições simplificadoras, por exemplo, o cálculo fundamenta-se na suposição de que a agroindústria utiliza métodos sustentáveis, o que não corresponde à realidade. Na maioria das vezes, o cálculo da pegada ecológica inclui apenas os serviços básicos da natureza, mas, se o processo de avaliação dever ser mais refinado, algumas funções complementares do meio ambiente podem ser adicionadas.

O método da pegada ecológica utiliza uma taxonomia simples da produtividade ecológica, envolvendo oito tipos de terreno ou ecossistemas, e está apenas começando a incluir áreas marinhas.