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2.1. Breve Histórico da Construção do PRONERA: a centralidade da Educação de

2.2.4. Experiência com o teatro político na formação da Licenciatura em Educação

Vivemos dentro de um sistema político capitalista e muitas vezes não percebemos a essência da nossa existência, tudo que nos tornamos, na verdade é criado a partir de um mecanismo ideológico de alienação. O nosso comportamento perante a sociedade é consequência dessa estratégia política para controle da população. A maioria das pessoas não adquire consciência de classe, nem tão pouco se dão conta da grande manipulação á qual somos submetidas, e consequentemente sofremos uma série de negações e violações de direitos.

O Teatro Político em nossa formação nos deu elementos práticos para que pudéssemos dar “forma” a vários problemas sociais, tão latentes na sociedade capitalista em que sobrevivemos cotidianamente. Somos trabalhadoras, camponesas, universitárias, negras e periféricas, encontramos vários desafios dentro da universidade, e aconteceu um fato que marcou tanto algumas estudantes da LEdoC quanto trabalhadoras terceirizadas da Faculdade UnB Planaltina.

Escutando alguns relatos das funcionárias que hoje participam do Projeto de Extensão EJA na UnB-FUP, conseguimos descrever o fato que ocorreu, e logo em seguida uma peça de Teatro Invisível elaborada por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo, da turma da área de Linguagens, integrantes da quinta turma da LEdoC, turma Zumbi dos Palmares.

Em certo dia de “faxina” na Faculdade UnB Planaltina, algumas trabalhadoras estavam com uma mangueira próxima à lanchonete, perto da entrada do prédio UAC-Unidade Acadêmica, (próximo também ao auditório Augusto Boal) elas se organizavam para lavar a rampa de acesso ao primeiro andar do prédio, e a mangueira que estava ligada e esticada, acabou se rompendo da torneira, e por acidente, a água que espirrou, acabou molhando o material de algumas estudantes que estavam sentados no local.

A reação de algumas estudantes foi gritar, de maneira agressiva, com a trabalhadora que tentava conter a água da mangueira. Culpando-a e humilhando-a pelo acidente. Este fato foi presenciado por vários estudantes do campus, que no

momento não tiveram reação alguma em defesa da trabalhadora, mesmo todos sabendo e presenciando o acidente. E que não havia como culpar ninguém.

Mas o que mais impactou o ocorrido foi o fato de como uma trabalhadora é tratada dentro da instituição e o silêncio das pessoas que observarem uma violência verbal diante de um incidente.

Depois dessa circunstância ocorrida, algumas estudantes da LEdoC refletiram sobre o acontecido, e propuseram em refazer a o que aconteceu, mas desta vez, com a ajuda das trabalhadoras e com uma cena ensaiada de Teatro Invisível, mediada através da disciplina de Teatro, intitulada “Arte e Sociedade”, que estava em curso no semestre. O Teatro Invisível é um dos exercícios propostos por Augusto Boal (Ano), para tratar de questões que passam “despercebidas e naturalizadas” no cotidiano automatizado de nossas ações e não-ações.

Os exercícios propostos por Boal visam à autorreflexão e ampliação das possibilidades corporais de expressão. Suas técnicas teatrais de Teatro Imagem, Teatro Invisível e Teatro Fórum visam cumprir várias finalidades, dentre as quais podemos destacar duas principais: ajudar a compreender melhor uma situação cotidiana, que aparentemente é “natural” e ensaiar ações que possam auxiliar na quebra de opressões reveladas nesse processo. (GARCIA, 2015, p. 87).

As estudantes da LEdoC conseguiram um uniforme emprestado de uma das trabalhadoras, para que pudesse se passar por uma delas na cena de Teatro Invisível. Estando “despercebida” no meio dos estudantes, já que a mesma estava de uniforme, isto é algo lamentável, mas as trabalhadoras relatam que quando estão de uniforme elas muitas vezes não são vistas pelas pessoas que frequentam a instituição.

A cena foi montada, exatamente no mesmo local, mas agora as “atingidas” pela água da mangueira, seriam também, estudantes da Licenciatura em Educação do Campo, que iria tratar com agressividade à trabalhadora.

Com proposta de mostrar a realidade do cotidiano dos trabalhadores e trabalhadoras da Universidade de Brasília, e o que fazemos para intervir? O Teatro Político deu ferramentas para que a cena fosse recriada. Com a metodologia do exercício do Teatro Invisível: onde as pessoas não sabem que uma cena acontecerá, e observam como se a cena fosse real, é exatamente este o objetivo das cenas de teatro invisível. Tratar um assunto que não ganha espaço para isso.

Diariamente trabalhadoras e trabalhadores sofrem injustiças, desumanidades e violências, esta intervenção da turma Zumbi dos Palmares é lembrada até hoje por estas trabalhadoras, e que quando relatam, se emocionam, uma cena que aconteceu no ano de 2014, que marcou, e criou mecanismos de consciência crítica para estas trabalhadoras, através da intervenção do teatro político.

Em uma das nossas primeiras aulas, em outubro de 2017, no Projeto de Extensão EJA na UnB-FUP fizemos alguns jogos teatrais com os (as) estudantes do projeto, fundamentados no Livro “TEATRO POLÍTICO, FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO SOCIAL Avanços, limites e desafios da experiência dos anos 1960 ao tempo presente”, apresentamos e estudamos o histórico do Teatro Político no Brasil. Relembramos a cena do Teatro Invisível, as trabalhadoras presentes na aula, relataram com emoção e disseram o quanto foi importante para elas a intervenção feita por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo. Fizemos jogos, lemos os principais conceitos e elaboramos uma apostila para cada estudante.

O processo de aprendizagem ainda está ocorrendo, e ainda teremos aulas de Teatro Político com as estudantes do projeto de extensão. Na organização deste cronograma de aulas, estudantes egressas da LEdoC assumiram a disciplina e também estudantes que estão em formação na área de Linguagens na Licenciatura em Educação do Campo. Estudantes do projeto já assistiram duas intervenções de teatro político realizado por estudantes das turmas de Linguagens da LEdoC. Estamos criando uma articulação com a aulas do Projeto EJA na UnB-FUP, devido o envolvimento de estudantes da LEdoC no projeto.

2.2.5. A organicidade e os espaços formativos na Licenciatura em Educação do