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EXPERIÊNCIA DA VIDA

No documento Aspectos fundamentais da experiência da vida (páginas 136-200)

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INTRODUÇÃO

§17

Os sentidos muito diversos da noção “experiência da vida”: a “experiência da vida” como mero ramo da experiência ou toda a experiência, tal como acontece em nós, sempre já de

raiz “experiência da vida”

Um componente essencial que as secções anteriores deixaram por desenhar diz respei- to ao quadro em que se produz o tipo de captação do proprium da experiência que nelas en- saiámos. Vendo bem, no quadro que as secções anteriores esboçaram, concebe-se a experiên- cia como uma operação numa espécie de “éter”.

Se o fenómeno da experiência correspondesse meramente ao resultado da análise leva- da a cabo nas secções anteriores, o que teríamos seria a experiência entendida como uma for-

ma “solta” de constituição de um aparecimento mais complexo e essa forma “solta” seria

compreendida independentemente daquilo a que concretamente se aplica (e isto tanto no que diz respeito ao teor, quanto no que diz respeito à amplitude daquilo a que se aplica).

Poderíamos dizê-lo assim: segundo o modelo que vimos até agora, a estrutura da expe- riência constituiria algo de invariável e constituiria, por outro lado, em simultâneo, uma forma

abrangente, de aplicação geral. Na medida em que a experiência constituiria uma única for-

ma (na medida em que tem o mesmo conjunto de propriedades fundamentais em qualquer ca-

so), então a forma da expe-riência seria susceptível de ter lugar nos mais diversos âmbitos ou de se aplicar sobre os mais diversos objectos.

Quer dizer: vista como a vimos até este ponto, a experiência poderia ser do que quer

que fosse– na medida em que a todos os objectos de que se tem ou se pode ter experiência se

aplica a forma da experiência. Poderia dizer-se, em suma, segundo o modelo que vimos até este momento, que a forma da experiência se aplicaria de modo indiferenciado.

Ora, essa consideração “abstracta” da experiência pode fazer perder de vista a possibi- lidade de justamente não ser assim.

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Isto é: ela pode fazer perder de vista a possibilidade de o quadro em que estamos cons-

tituídos em relação à experiência ser muito diferente deste registo aberto a toda a espécie de possibilidades de aplicação.

A perspectiva em que laborámos nas secções precedentes esquece a possibilidade de

as operações próprias da experiência terem sempre lugar no quadro de uma vinculação, por estarem sempre já voltadas para um dado complexo de teores ou de “objectos” com uma de- terminada amplitude.

Na verdade, pode muito bem acontecer que a experiência nunca seja alheia a um qua-

dro dessa ordem. Isto é: pode acontecer que a experiência se caracterize sempre já por uma

grelha de determinações e por uma amplitude fixa, não sendo de raiz indiferente nem a uma, nem à outra. E isto de tal modo que até pode acontecer que esse quadro seja justamente tal que se preste a ser fixado na forma “experiência da vida” – e que toda a experiência, tal como

acontece em nós, seja sempre de raiz uma experiência da vida (e nunca menos do que isso). Para seguirmos na pista desta possibilidade, consideremos o seguinte.

É notável que – mesmo quando se faz valer que a nossa forma de acesso é uma forma de acesso empírica, como as secções anteriores procuraram demonstrar – o modelo que conti-

nua sub-repticiamente a subsistir é o modelo da experiência como algo avulso.

Isto é: à revelia do que vimos atrás, o modelo que continua a subsistir é um modelo em

que uma mesma forma abrange ou abarca muitos “objectos”, se dirige a x ou a y (mas não,

por exemplo, a z) – como uma “viagem” com vários “destinos”. O modelo que subsiste é, em suma, um modelo que assenta no carácter distributivo da forma da experiência.

Neste sentido, a experiência incidiria sobre alguns “conteúdos” (ao mesmo tempo que deixaria de fora todos os “conteúdos” em que não incidisse), constituiria ramos, consistiria em pequenos focos isolados, etc.

Na verdade, é assim – i.e., seguindo subtilmente o modelo de experiência avulsa – que habitualmente se tende a conceber a experiência. Quando falamos de “uma experiência” ou de “experiências”, o modelo que inconscientemente aplicamos faz sobressair o carácter pontual ou circunscrito do que aparece ou do que ocorre. O termo “experiência” isola habitualmente uma ocorrência singular – uma ocorrência que é apartada do resto das ocorrências. O que com isso se salienta é um certo carácter excepcional, excêntrico; por “experiência” toma-se, por assim dizer, algo de perfeitamente localizado, destacado, díspar, etc. Tem-se experiência de x mas não de y ou z, etc.

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O que isto quer dizer é que, no sentido habitual do termo, “uma experiência” é algo que aparece como uma “ilha” no meio de um “mar” de ocorrências que não têm a forma da

experiência.

É isto que, daqui em diante, importa reconsiderar. E é no âmbito desta reconsideração que entra em cena o conceito de “experiência da vida”.

Vendo bem, a noção “experiência da vida” pode acolher sentidos muito diversos, eventualmente contraditórios entre si. Isto tem que ver com o facto de poder ser abordada de vários ângulos, que modificam muito significativamente a nossa perspectiva a seu respeito.

Não cabe considerar aqui todas essas perspectivas. Mas há alguns aspectos que deve- mos pôr em destaque.

Ao considerarmos habitualmente a “experiência da vida”, tendemos a supor que es- tamos a falar de um campo de aplicação particular, de algo como um ramo da experiência

geral, se assim se pode dizer.

Essa perspectiva não se acha desmentida nas secções precedentes. De facto, o modelo que vimos até agora sugere justamente que a) a experiência pode ter diversos “objectos” (po- de ser de diversas “coisas” e ter diversas amplitudes de aplicação) e que b) entre os “objec-

tos” possíveis da experiência se encontra também o “objecto” “vida”.

Nesta óptica, a noção “experiência da vida” compreenderia a contracção de dois ter-

mos(“experiência” e “vida) sem qualquer nexo essencial entre si.

A “vida” não seria mais do que um mero tema ou um domínio possível da experiên- cia. Dito de outro modo: a “vida” seria algo como um “objecto” entre outros, que se limitaria

a ser entendido sob a matriz da experiência, como uma variação dessa matriz, etc.

Mais ainda: não apenas a experiência da “vida” seria uma mera variedade de experiên- cia (de entre uma variedade de outras experiências possíveis), como seria um ramo facultativo – um ramo que se poderia constituir em “objecto” ou não.

Ao mesmo tempo, isto quereria dizer que não haveria qualquer relação de interacção

ou coordenação entre os diferentes “ramos”. Ou seja: a constituição de experiência de qual-

quer “objecto” não estaria dependente de uma eventual constituição de experiência da “vida” – e o contrário seria igualmente verdadeiro. No limite, a experiência de qualquer “objecto” (e, assim também, a experiência da “vida”) seria uma experiência avulsa, completamente isolada

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da experiência de qualquer outro “objecto” (i.e., sem interferir de modo algum com a experi- ência de qualquer outro “objecto”).

É claro que este modelo de constituição separada da experiência e da vida (que os concebe como dois domínios separados – “experiência” e “vida” – susceptíveis de se junta-

rem, cruzarem, etc.) chama a atenção para o facto de termos habitualmente noção de qual-

quer coisa como uma experiência da vida. Isto quer dizer que estamos constituídos de tal mo- do que a vida é algo de que se tem experiência e faz sentido falar de algo como ter-se “expe- riência” da “vida”.

Isto é: mesmo que fosse assim (mesmo que se aplicasse o modelo que vimos até ago- ra), a “vida” traria algo à equação, já que a “experiência” da “vida” se distinguiria de todas

as outras variações de experiência possíveis. Na medida em que não seria idêntica a nenhu- ma das outras variações de experiência possíveis, então caberia à “experiência da vida” ser uma experiência particular, específica, etc. Porém, seja como for, a variação não seria mais do que uma mera variação quanto ao “objecto” (quanto ao teor e à amplitude). A matriz fun-

damental da experiência seria univer-salmente válida (e aplicável a todos os “objectos”). E o que a “experiência” da “vida” traria de particular e específico seria algo secundário, um caso

particular dessa matriz fundamental, etc.

Acontece que, ao considerar mais detidamente este modelo (e o facto de estarmos fa- miliarizados com algo como a “experiência” da “vida”), resulta que toda a compreensão que

se tem disso mantém aberta ou indeterminada a relação que a “vida” tem com a “experiên-

cia”.

Na evidência de que temos uma noção de “experiência” da “vida” está totalmente por compreender como é que a vida tem que ver com a experiência, como é que a experiência da

vida se distingue de todas as outras modalidades de experiência, a que “objecto” se refere,

etc. Fica igualmente por esclarecer se a vida desempenhará algum papel na constituição da

experiência e, no caso de uma resposta positiva, que papel desempenha a vida na constituição

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§18

O carácter óbvio, vago, desfocado e equívoco da noção habitual de “vida” – Abordagem preliminar à noção de “vida”: a unidade máxima do aparecimento, na primeira pessoa

Se não estamos a ver mal, a perspectiva que habitualmente se tem quando se com- preende a “vida” como um mero campo de aplicação entre outros (como um mero “objecto”

possível da experiência) corresponde a uma forma muito peculiar de relação com aquilo que

está em causa na noção de “vida”.

Todo este modelo de constituição separada da experiência e da vida parece assentar na pressuposição de que se sabe muito bem de que é que se trata quando se fala da “vida” – i.e.,

de que a “vida” tem um carácter óbvio.

Ora, se tentarmos identificar um pouco mais precisamente o que está em causa quando se fala na “vida”, surgem problemas.

É que o conceito de “vida” também admite diversos usos e também se aplica a diver-

sos campos; é que também ele se dispersa por uma constelação de fenómenos eventualmente

distintos ou contraditórios entre si.

Na verdade, a forma como habitualmente usamos o conceito de “vida” – e percebe-

mos como, entre outros, também a vida pode ser um objecto da experiência, de tal modo que há qualquer coisa como uma experiência da vida, etc. –, ressente-se deste carácter vago, des-

focado, equívoco, etc.

Este ponto é particularmente importante para o complexo de questões que aqui preten- demos analisar em relação à “experiência da vida”.

Com efeito, é justamente esse carácter vago (desfocado, equívoco, etc.) do que está

em causa na “vida” (os contornos pouco definidos, essa relação frouxa com o que constitui a

vida, etc.) que faz que seja igualmente frouxo o nexo entre “experiência” e “vida” no concei-

to mais comum de “experiência da vida”.

Como ficará mais claro na continuação, uma análise de como está constituído o fenó- meno da “vida” acabará por apurar que o nexo com a experiência não é, de modo nenhum,

frouxo nem facultativo. O que se apura é, de facto, o contrário: que toda a “experiência” é sempre já “experiência da vida” e, assim também, que a vida tem, de raiz, a estrutura ou a forma da “experiência”.

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Se tivermos em conta o modelo de constituição separada da experiência e da vida, o que se desenha é que os “objectos” da experiência não afectam de modo nenhum a “forma” da experiência (precisamente na medida em que a mesma “forma” se aplica a uma variedade de “objectos”, que a “forma” é independente dos “objectos” a que se aplique, etc.). O que isto parece querer dizer é que o que “objecto” – qualquer que ele seja – não desempenha nenhum

papel na constituição da experiência.

Porém, o que nos interessará considerar mais detidamente nas secções que se seguem é que a vida não é apenas um campo secundário ou periférico, onde se ganhem meramente de- terminações acessórias ou suplementares a uma matriz fundamental.

Na verdade, o horizonte que de seguida se abrirá altera radicalmente o modo como o

fenómeno da “experiência” nos aparece; e isto de tal modo que, se deixássemos esta possibi-

lidade por considerar, não só a) o fenómeno da “experiência” nos apareceria incompleto e

mutilado de uma parte do que o compõe, como b) poderíamos deixar simplesmente escapar

os factores que modificam o modo como a experiência nos aparece e que – e este é o ponto decisivo – a põem a ser, de certo modo, o contrário de algo abstracto e independente daquilo

que tem por “objecto”.

É que, se não estamos a ver mal, como numa secção anterior já tínhamos mencionado de passagem, as operações próprias da experiência têm lugar no quadro de uma vinculação.

A experiência está, desde a raiz, sob a pressão de quesitos e a sua constituição responde a

exigências.

O que isto indica é que a experiência não é, por assim dizer, de “geração espontânea”. Muito pelo contrário: a experiência está fundada sobre (ou é dependente de) uma estrutura

fundamental que ultrapassa o seu âmbito.

Ora, como veremos mais detalhadamente na continuação, a “vida” é precisamente isso que define ao mesmo tempo a circunscrição do teor e da amplitude dos “objectos” para que a experiência está sempre já voltada.

Daqui decorre que a “experiência da vida” não é algo de facultativo (algo que se po-

deria constituir em objecto ou não), tal como não é algo sem qualquer intervenção sobre os

restantes ramos da experiência. Qualquer “ramo” da experiência está, vendo bem, depen- dente da “experiência da vida”, subordinado a ela; a constituição da experiência do que quer que seja não está à revelia da experiência da vida, etc.

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Para percebermos isto, é indispensável dar lugar, mesmo que de forma muito genérica, a vários aspectos da equivocidade do conceito de “vida”.

A vida pode ser entendida no quadro da scala naturæ (i.e., no quadro da sequência

esse– vivere – percipere/sentire – intelligere).34

“Vida” significa, no quadro da scala naturæ, um determinado modo-de-ser que faz parte de um complexo de modos-de-ser que tende a aparecer-nos a) como esgotando todas as

possibilidades de modos-de-ser e b) como tendo carácter tal que os modos mais complexos só

são possíveis em relação aos menos complexos, que vêm transformar na superveniência que

os excede.

Não estamos neste passo em condições de considerar em toda a extensão a que questão ou complexo de questões responde esta escala, de que modo está esta escala formada ou, em especial, que “lugar” ocupa a vida na escala. Interessa mostrar apenas, muito brevemente, dois aspectos que a escala expõe.

Por um lado, que o que está em causa na scala naturæ é uma precedência de uns ní- veis da escala sobre outros. A scala naturæ apresenta uma etapa como sendo uma dedução da anterior. Assim, essere tem precedência sobre vivere, que por sua vez tem precedência sobre

sentire, que tem enfim precedência sobre intelligere.

O que a scala naturæ parece apontar é que essere é condição de possibilidade de vive-

re, sentire e intelligere, que vivere é condição de possibilidade de sentire e intelligere e que

sentire é ainda condição de possibilidade de intelligere – de tal modo que, invertendo a esca-

34 Não interessa fazer aqui uma historiografia nem da noção formal “scala naturæ” nem das múltiplas

desformalizações que mereceu ao longo da história. Uma historiografia exaustiva mostraria, antes de mais, um questionamento quanto à origem (quer à própria origem da noção, quer à origem do uso ope- rativo de algo como uma scala naturæ): se alguns autores referem o Timeu de Platão, outros citam o

De Generatione Animalium de Aristóteles, por exemplo. Ao mesmo tempo, uma historiografia exaus- tiva como a de Lovejoy (The great Chain of being. A Study of the History of an idea. 1969. Cambrid- ge: Harvard University Press) mostra também uma incrível variedade de escalas muito distintas entre si – quer em relação ao cardinal de níveis de que é composta, quer em relação aos conteúdos que ocu- pam os diversos níveis –, tudo isto consoante os diversos autores e as diversas épocas que se debruça- ram sobre o tema. Ora, o que nos interessa neste passo é apenas fazer notar que o formato que estamos aqui a adoptar (esse – vivere – percipere/sentire – intelligire) corresponde à fixação produzida em tex- tos como os de Mezger (Quatuor gradus naturae: esse, vivere, sentire, et intelligere, Salisburgum: Mayr, 1664) ou de Tomás de Aquilo (Summa Theologiae, Textum Leoninum Romae, 1889, q. 76, a. 4, ad 3) e que aquilo a que estamos em geral a apelar ao fazer uso desta noção é a uma estrutura funda- mental que espontânea e anonimamente domina o modo como estamos constituídos.

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la, intelligere não é possível sem sentire, vivere e essere, que por sua vez sentire não é possí- vel sem vivere e essere e que, por fim, vivere não é possível sem essere. Dito por outras pa- lavras: tudo o que é vivo teria a propriedade de ser, tudo o que sente teria a propriedade de

ser e de ser vivo e tudo o que tem intelecto teria a propriedade de ser, de ser vivo e de sentir. Por outro lado, no entanto, os diversos patamares não se influenciam unidireccional-

mente– do essere (que compreende todas as outras camadas) ao intelligere (que é compreen-

dido por todas as outras). O caso parece, aliás, ser o contrário.

Ainda que “o que é” não dependa de ser “vivo” para “ser”, depende de ser “vivo” pa-

ra ter perspectiva sobre o facto de “ser”.

Isto é: a escala sugere que há algo como uma estrutura retrospectiva de acesso à etapa precedente – isto de tal modo que um ser “não vivo” não tem qualquer perspectiva sobre o facto de ser, que um ser “não sensível” não tem qualquer perspectiva sobre o facto de “estar vivo” e que um ser sem intelecção não tem qualquer perspectiva sobre o facto de ser um “ser vivo sensível”.

Ora, entendida neste sentido meramente formal (no sentido de constituir um modo-de-

ser e de constituir um modo-de-ser que abre perspectiva sobre “o que é”), a vida deixa aberto

o horizonte para uma miríade de formas de abordagem (e tanto quer dizer também para uma miríade de concepções, de ângulos, etc.), consoante as disciplinas que sobre ela se debruçam, consoante os seus pressupostos teóricos e morfologias, etc.

Na verdade, há uma incrível variedade de disciplinas que se dedicam à vida. Porém, aquilo que notamos, ao considerar individualmente cada uma dessas disciplinas, é que elas in- troduzem um movimento de restrição de âmbito – o movimento de restrição de âmbito que diz respeito ao próprio conceito operativo de “vida” que cada uma aplica.

O que daqui resulta é que nenhuma disciplina esgota de modo nenhum a “vida” en- quanto objecto de estudo. Na verdade, cada disciplina deixa em aberto o horizonte para uma

miríade de outros ângulos e outros métodos de abordagem – expresso na miríade de outras

disciplinas que versam precisamente o “mesmo” assunto a partir de outros ângulos e de ou- tras abordagens –, assim como deixa de fora tudo o resto que constitui a vida (tudo o resto que compõe isso a que habitualmente nos referimos quando falamos de “vida”).35

35 Considere-se, por exemplo, a biologia. Por mais que a biologia tenha por objecto a vida, a verdade é

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É neste sentido que o conceito de “vida” pode ser equívoco – e pode ser equívoco pre- cisamente porque se presta a usos ou a ângulos de abordagem que são, por vezes, totalmente incompatíveis entre si.

Ora, o sentido da noção de “vida” que aqui se terá em mente é muito diferente do que vimos até agora. O sentido que aqui se tem em mente é o fenómeno da “vida” como de cada

vez é tido na primeira pessoa e que tem um carácter de totalidade. Vejamos um pouco melhor o que queremos dizer com isto.

A “vida”, no sentido do termo que aqui temos em jogo, corresponde à unidade máxima

do próprio aparecimento – na medida em que não se encontra dispersa, como uma “ilha” to-

talmente perdida em si mesma e privada de qualquer relação com o que se situa para lá de si. E, como veremos melhor na continuação, esta unidade máxima na primeira pessoa (a vida)

produz uma unificação global de tudo o que aparece, constituindo um único horizonte.

É verdade que, por outro lado, essa unidade máxima na primeira pessoa se distingue por ser apenas isso: a unidade máxima na primeira pessoa – e tanto quer dizer: uma ínfima

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