• Nenhum resultado encontrado

Experiência de aprendizagem: Aprender a observar e conhecer

III. Descrição e análise das experiências de aprendizagem

3.2. Experiência de aprendizagem: Aprender a observar e conhecer

Considerando o interesse manifestado pelas crianças em relação ao conteúdo da história do Elmer, sendo a mesma referida em vários e diferentes momentos, decidimos dar-lhe continuidade, explorando o livro intitulado Elmer e o arco-íris de David Mckee5. Trata-se de uma história que aborda os valores de

entreajuda, dar algo sem o perder, bem como os sentimentos de amizade e de felicidade.

Relevamos, neste sentido que, como refere Mata (2008), “a leitura de histórias é uma actividade muito rica e completa,

5

A imagem do livro que consta na figura 13 foi obtida em

http://www.caminho.leya.com/fotos/produtos/500_9789722118620_elmer_e_o_arco_iris.jpg

Figura 13 - Livro - Elmer e o

40 pois permite a integração de diferentes formas de abordagem à linguagem escrita, em geral, e à leitura, de uma forma específica” (p. 78).

Começámos por observar, interpretar e descrever oralmente as imagens da capa e da contracapa, tendo como objetivo que as crianças compreendessem que tanto as palavras escritas como os desenhos transmitem informações. Embora algumas crianças manifestassem possuir conhecimento acerca da composição dos livros, mas que nem conseguiam fazê-lo, entendemos explicar esses elementos às crianças. Procedemos, em seguida, à leitura expressiva da mesma. No final, questionámos as crianças acerca do seu conteúdo e todas referiram que falava sobre o arco-íris, sobre este ter perdido as suas cores e o elefante Elmer ter ajudado a que este as recuperasse. As crianças mencionaram partes da história relevantes, mostrando ter prestado atenção à leitura e tê- la interiorizado. Importa ter em conta que, como se refere nas (OCEPE,ME/DEB, 1997), “é no clima de comunicação criado pelo educador que a criança irá dominando a linguagem, alargando o seu vocabulário, construindo frases mais correctas e complexas, adquirindo um maior domínio da expressão e comunicação” (p. 67).

Nesta linha de pensamento, e aproveitando as ideias que as crianças mencionaram, questionámo-las sobre o que sabiam acerca do arco-íris, tais como quantas cores teria o arco-íris e obtivemos respostas como:

-Tem cinco cores (Diogo)

- Acho que tem seis cores (Gonçalo) - Eu acho que tem sete cores (Tiago) - Tem muitas cores (Laura)

As afirmações das crianças deixam perceber que não tinham a certeza em relação às cores do arco-íris, o que era de esperar dado a tenra idade das crianças. Decidimos revelar às crianças o verdadeiro número de cores que tem o arco-íris, referindo que o arco-íris apresenta sete cores. Continuando o diálogo procurámos levar as crianças a idealizarem e nomear as possíveis cores do arco-íris. Obtivemos as seguintes respostas:

- O arco-íris tem amarelo (Pedro) -Tem também azul (Rodrigo) - Tem verde o arco-íris (Tiago)

- Eu acho que também tem cor de laranja (Gonçalo) - Não, tem é vermelho (Pedro)

- Eu acho que tem cor-de-rosa (Inês)

41 Algumas crianças comentaram que não sabiam porque nunca o tinham visto, outras disseram que já o tinham visto, mas que não se lembravam das cores que eram. Decidimos, então, informar as crianças das cores que o arco-íris possui, nomeadamente: o violeta, anil, azul, verde, amarela, laranja e vermelho.

As crianças que tinham respondido corretamente a uma das cores, sentiram-se bastante satisfeitas, mostraram conforto e confiança em si próprias, comentando a sua resposta entre o grupo. Como referem Hohmann e Weikart (2011), “as reflexões das crianças sobre as suas acções são uma parte

fundamental do processo de aprendizagem. Ouvir e encorajar a forma particular como cada criança pensa fortalece o seu pensamento emergente e as suas capacidades de raciocínio” (p. 47).

Sugerimos às crianças que desenhassem e pintassem numa folha branca, como julgavam que era constituído o arco-íris, exemplo figura 14.

Durante a atividade, as crianças comentavam, entre si, qual seria a cor com que o arco-íris iniciava, tentavam lembrar-se da ordem das cores, e curiosamente comentavam o formato do arco-íris, referiam-se a este como tendo uma forma muito semelhante a uma ponte. Depois de várias crianças terem desenhado o arco-íris, exemplo figura 15, mostrámos a imagem do mesmo, no sentido de melhor perceberem como era constituído. Esta experiência permitiu relembrar as cores, partindo da sua identificação num fenómeno da natureza.

Expusemos uma imagem do arco-íris “real” numa das paredes da sala, para que todos a visualizassem e comparassem com os desenhos que eles tinham realizado anteriormente. A reação das crianças foi surpreendente, comentavam a imagem, sublinhando a beleza da mesma e as experiências possuídas de ter visto ou não esse fenómeno.

A alegria aumentava à medida que descobriam que tinham colocado no desenho cores que correspondiam às observadas no fenómeno do arco-íris e que, uma ou outra, surgiam segundo a mesma ordem.

Figura 14 - Desenho de um arco-íris

realizado por uma criança da sala.

Figura 15 - Arco-íris elaborado

42 No sentido de relembrar e explorar o conteúdo da história Elmer e o arco-íris, propusemos a realização de um jogo de expressão de afetos, intitulado como o “Jogo dos sorrisos”. O objetivo do jogo consistia em compreender a importância de expressar pequenos gestos, que são importantes para quem os recebe e para quem os dá, que não representam perdas mas antes ganhos, como por exemplo, dar um sorriso ou um abraço a alguém. As crianças, manifestaram terem compreendido o conteúdo da história e, por conseguinte, o que se pretendia do jogo.

O jogo constava de uma criança, de cada vez, ir retirar um cartão de dentro de uma caixa, no qual estava escrito uma mensagem, que educadora lhe lia e que ela iria transmitir a alguém da sala, que escolhesse dirigir-lha. Todas as crianças participaram no jogo, recebendo e manifestando gestos. Entre as

mensagens escritas nos cartões encontrava-se, por exemplo, dar um abraço, um beijo no rosto, um aperto de mão, entre outros. As crianças manifestaram grande interesse e entusiamo em realizar o jogo, observando-se grande envolvimento na realização do mesmo, como a título de exemplo a imagem da figura 16 permite perceber que as crianças estão a dar as mãos, manifestando gesto de carinho.

No sentido de ajudar as crianças a compreenderem a que se deve a formação do arco-íris, procurámos, num outro momento, propor uma atividade prática que permitisse observar o surgir desse fenómeno. Começámos por perguntar às crianças se sabiam como este fenómeno surgia, tentando auscultar as ideias prévias. Entre essas ideias surgiram as seguintes:

- Podemos ver o arco-íris quando há sol e chuva (Manuel) - É preciso haver chuva e sol (vários)

- O arco-íris vai sempre buscar água aos rios (Manuel)

Nota de campo, 11 de março de 2013

As afirmações das crianças deixam perceber que algumas já apresentam ideias sobre as caraterísticas temporais que levam a que se dê a refração da luz do sol e se observe a formação do arco-íris, apesar de ainda não dominarem o conhecimento científico do fenómeno. Por usa vez, a afirmação do Manuel deixa perceber que pode entender-se como indo ao encontro do afirmado por Martins et al. (2009), quando

Figura 16 - Crianças jogando o

43 lembram que “as crianças dão explicações que muitas vezes não correspondem ao conhecimento científico actual, mas que tem lógica para si” (p. 12).

Assim, e depois de um breve diálogo sobre o fenómeno, sugerimos a realização de uma atividade sobre a formação do arco-íris, manifestando-se as crianças bastante curiosas em saber como fazer para que o fenómeno ocorresse.

Os materiais utilizados para a realização da atividade prática foram, previamente fabricados e preparados, por nós, bem como testada a experiência. Para tal, fizemos uma abertura estreita, em forma de retângulo, numa cartolina preta, de seguida colocámos a cartolina em frente ao nosso peito, na horizontal e apontámos luz para essa abertura, de forma a conseguirmos um raio de luz estreito. Colocámos um espelho inclinado numa tina com água e inclinámos uma folha grande de cartolina branca, junto da tina com água. Apontámos a luz através da cartolina preta

para que esta acertasse no espelho. No final, tínhamos conseguido ver a formação do arco-íris.

Estes procedimentos foram repetidos com as crianças, na atividade que vínhamos a descrever, foi possível observarmos a refração da luz, formando o arco-íris que se apresenta na figura 17.

Procurámos diversificar os materiais e ajudar as

crianças a compreenderem que o efeito pode provir de várias fontes. Neste sentido, observámos também o aparecimento do arco-íris através de uma lanterna e de um Cd, permitindo este objeto também fazer com que se dê a refração da luz da lanterna e, por conseguinte, a sua divisão em várias cores, fazendo o efeito de arco-íris. Fizemos incidir a luz da lanterna na parte superior do cd e inclinámos o cd para que a luz incidisse na parede, pois, é nesta que as crianças conseguem ver as cores do arco-íris.

Inicialmente, as crianças mostravam-se bastante eufóricas e curiosas em saber como iria aparecer o arco-íris com dois objetos (uma lanterna e um Cd). No entanto, ao iniciarmos a atividade, fez-se uma grande silêncio na sala, dado o interesse e a atenção com que estavam para observar o resultado. Quando mostrámos que era possível fazer aparecer o reflexo do arco-íris na parede da sala, estas ficaram surpreendidas, experimentaram também as crianças refletirem a imagem do arco-íris com os dois objetos. Terminada a atividade prática, as crianças referiram, que gostavam de mostrar aos pais esta atividade, iriam, inclusive, pedir para que estes disponibilizassem uma lanterna e um Cd.

Figura 17 - Resultado da atividade

44 No decurso da semana, sugerimos às crianças uma nova atividade prática, ainda de acordo com o que tínhamos explorado anteriormente. Porém, desta vez, pretendíamos enveredar pelo efeito contrário ao das atividades anteriores, ou seja, a união de várias cores, formando uma só. Assim, solicitámos às crianças que colorissem, com cada cor as divisões de um círculo que lhe apresentámos, desenhado em cartolina branca. Quando terminavam de colorir o círculo, colocavam o lápis de carvão no centro e faziam o círculo girar. O objetivo era visualizar qual a cor que surgiria ao girar o lápis, pois as crianças tinham diferentes cores nos círculos. Mostrámos às crianças um círculo pintado com as cores do arco-íris e perguntámos às crianças se sabiam qual a cor que surgiria ao rodarmos o lápis, observando-se as seguintes respostas:

-Vai ficar azul-escuro (Manuel)

-Se rodares muito depressa vai ficar tudo vermelho (Pedro) -Vai aparecer o arco-íris (Margarida)

-Se calhar vai ficar tudo amarelo (Pedro) - Fica quase branco (Manuel)

Nota de campo, 12 de março, 2013.

Todas as crianças faziam tentativas para acertar na cor que surgiria ao rodar o lápis, decidimos, deste modo, rodá-lo. O objetivo da atividade era, como já antes referimos, que as crianças percebessem que ao juntar todas as cores do arco-íris a cor que surgiria era a cor branca.

É de referir que esta atividade não correu como era esperado, pois, as crianças não conseguiam colocar o lápis a girar de modo a que o movimento permitisse a junção das várias cores e fosse possível observar apenas a cor branca.

Para que as crianças não ficassem desiludidas por um lado, e por outro lado, para promover a interação entre pais e filhos, sugerimos às crianças que realizassem a mesma atividade em casa, com o auxílio dos pais, pedindo-lhes para as ajudarem a fazê-la e que dialogassem de modo a descobrirem com eles a cor que surgiria quando fizessem girar o lápis. Refletindo sobre a atividade, importa sublinhar que aprendemos que nem sempre é fácil gerir imprevisibilidades, mas que temos de saber superá-las, tentando encontrar soluções alternativas. Meditando sobre a experiencia de aprendizagem desenvolvida a partir do livro, Elmer e o arco-íris, sublinhamos as oportunidades criadas para as crianças se envolverem em diferentes atividades, nas quais foram levadas em consideração os saberes e interesses manifestados por elas, valorizar a ludicidade como estratégia de envolvimento na construção de conhecimento científico.

45 Sabemos que há fenómenos que as crianças vão observando e aprendendo a identificar, mas também que nem sempre têm oportunidades de conhecer fatores que lhe dão origem, pelo que importa promover situações de aprendizagem, em contexto pré- escolar, que as ajudem na compreensão dos mesmos. Foi nessa linha de pensamento que surgiram as atividades que desenvolvemos em torno do arco-íris.

As crianças envolveram-se e manifestaram sentir gosto e prazer em concretizar as atividades desenvolvidas, parecendo-nos terem contribuído para que desenvolvessem saberes e criar oportunidades de partilha dos mesmos com os outras crianças e adultos e com os pais.

Relevamos, ainda, a importância que nos parece ter assumido o alertar das crianças para a atenção a prestar aos outros e a importância de manifestar e receber afetos, no quadro de construção de uma sociedade comunicativa, solidária e facilitadora da integração de todos.