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6 AS DIFERENTES PERCEPÇÕES DOS AGENTES DO AVA-MOODLE DA DISCIPLINA DE

6.3 A NÁLISE DO E STUDO III (D OCENTES )

6.3.1 Experiência na Docência Virtual

Essa foi a primeira experiência docente virtual de Libras a distância de todos os docentes entrevistados. Para que atuassem como docentes da UAB-Ufscar, todos receberam formação específica para ofertar a disciplina na modalidade de ensino a distância para alunos

ouvintes. Todos tinham também fluência em Libras, o que favorecia o ensino dessa língua como segunda língua aos alunos.

Em relação à formação para atuar como docente em EaD, os entrevistados avaliam o curso de formação diferentemente. Para Julia foi regular, para Ana foi suficiente/adequado e para Lucas foi boa.

A inclusão da disciplina de Libras, ofertada a partir de 2011, foi inovadora nos cursos de licenciaturas da UAB-Ufscar. A seguir serão apresentados os relatos dos docentes sobre como essa disciplina tem atendido ao processo de ensino e aprendizagem em uma modalidade de ensino a distância e as dificuldades enfrentadas durante o processo.

Quadro 18. Relatos dos docentes sobre a disciplina de Libras na EaD

Julia (PE) - “[Creio que a disciplina tem atendido] Em partes [ao processo de ensino e aprendizagem em uma modalidade EaD]. A coordenação do curso não ofereceu apoio suficiente quando da necessidade de ampliação de tempo de oferta da disciplina, e interferiu no processo de avaliação da professora, mas além das dificuldades no ambiente virtual de aprendizagem (quanto a postagem de vídeos mais longos e com qualidade melhor)”.

Ana (PE) - “Listo algumas dificuldades percebidas nas duas ofertas deste ano: - conteúdo programático extenso para ser ajustado a uma carga horária reduzida; - alunos com dificuldades de acesso aos vídeos (diálogos e vocabulários em Libras);

- alunos com dificuldades para produzir e postar seus próprios vídeos (Produção em Libras)”.

Lucas (EM) - “Não [creio que a disciplina tem atendido ao processo de ensino e aprendizagem em uma modalidade EaD], pois tive dificuldades de frequentar/acessar o ambiente e era impossível explicar aos alunos em Libras, apenas por escrito. Não consegui esclarecer todas as dúvidas dos alunos”.

Fonte: Elaborado pela autora.

Observamos no Quadro 18 que as docentes Julia e Ana, do curso de Pedagogia, afirmam a necessidade de uma carga horária maior na disciplina de Libras para que os todos os conteúdos possam ser disponibilizados no AVA de acordo com as necessidades pedagógicas e se possam alcançar os objetivos da disciplina. Essa constatação também aparece nos relatos dos alunos e tutores. Para a docente Julia da PE, sua experiência foi pior do que esperava, enquanto que, para Ana, foi como esperava.

Lucas, da Educação Musical, relata sua experiência: sendo surdo, teve que realizar explicações sobre a Libras em Língua Portuguesa e isso não foi confortável nem favoreceu o ensino como ele desejaria. Além disso, a Língua Portuguesa é sua segunda língua e o privilégio no AVA a essa língua não possibilitou que ele exercesse todo seu potencial docente. Ele não teve parceira para compartilhar o trabalho, como aconteceu com Jorge (tutor surdo da PE) e, nesse sentido, não pôde esclarecer todas as dúvidas dos alunos por meio da Libras como queria. Segundo ele, exigia-se maior tempo para produção dos vídeos fazendo a sinalização, edição, gravação, postagem no AVA, atendendo às diversas dificuldades dos

alunos, o que nem sempre foi possível. Apesar das dificuldades de Lucas (EM), a disciplina transcorreu melhor do que ele esperava.

Quanto ao grau de dificuldade encontrado durante a docência no ambiente virtual, os docentes das disciplinas vivenciaram diferentes experiências.

Para Júlia (PE), a avaliação referente à disciplina foi mesclada. Há aspectos que a docente considera como ruins: a interação com os alunos na webconferência, da qual só participavam entre três e cinco alunos, e visualização dos vídeos dos alunos, por questões técnicas, tais como problemas de acesso ao tipo do arquivo do vídeo e a péssima qualidade da imagem. Foram diversos aspectos diferentes considerados como regulares envolvendo alunos e tutores, tais como interação com os alunos por e-mail; orientação aos alunos e sobre a disciplina para os tutores; postagem das mensagens; correção das provas presenciais; postagem das notas no AVA. As avaliações consideradas como boas e excelentes também foram, em diferentes aspectos, mostrando que houve uma experiência plural com pontos bons e outros complexos, tais como interação e contato com alunos e tutores nos fóruns; esclarecimento de dúvidas; agendamento com Design Instrucional (DI) da disciplina.

Para Ana (PE), a maioria dos aspectos avaliados pela docente referente à disciplina foram considerados bons, isto é, demonstrou satisfação com o AVA e com as atividades propostas. Os aspectos considerados como regulares foram: interação com os alunos via e- mail; orientação aos alunos; visualização dos vídeos (questão técnica, como a docente Júlia) e contato com os alunos na videoconferência.

Para Lucas (EM), o AVA foi pouco amistoso, pois a Libras foi pouco privilegiada. Os aspectos considerados como ruins pelo docente foram: a interação com os alunos por e-mail e a orientação sobre a frequência aos tutores devido à sua complexidade. O que foi considerado como bom e excelente pelo docente foi a correção de provas, por serem questões objetivas, e a postagem das mensagens eletrônicas e no fórum na Língua Portuguesa. O único aspecto considerado como excelente foi a visualização dos vídeos dos alunos, pois não enfrentou problemas técnicos.

Podemos observar que há uma dissonância em algumas opiniões expressas pelos docentes, que poderiam talvez ser explicadas em primeiro lugar por atuarem em dois cursos de graduação diferentes. O Curso da Educação Musical teve a implantação da disciplina,e os processos pedagógicos mais facilitados com a coordenação sendo mais flexível e favorecendo a atuação de docentes e tutores. Já o curso de Pedagogia teve uma coordenação menos flexível e menos interessada na oferta da disciplina, conforme relato da professora de Libras,

com a qualidade que ela demandaria por suas especificidades e, nesse sentido, o tempo de oferta, o lugar da oferta da disciplina na grade curricular, entre outros, foram menos adequados, o que pode ter conferido aos professores experiências diferentes.

Todavia, o docente surdo, Lucas, marca como regular a maior parte das atividades, e foi ele quem trabalhou no curso de EM. Seu depoimento parece indicar que a única possibilidade de interação entre sistema, instituição, alunos e tutores se deu por meio do português escrito, o que constitui para ele uma barreira. Ele é surdo, usuário de Libras e tem o português escrito como segunda língua. Ele se ressente da ausência de outras possibilidades de interlocução para além da escrita, com maior centralidade à Libras.

Quanto à dificuldade na visualização dos vídeos, percebe-se que foi enfrentada apenas no curso de Pedagogia pelas docentes Julia e Ana, isso pois as turmas da Educação Musical já estão mais adaptadas, devido às outras disciplinas que exigem a produção de vídeos para atividades de Educação Musical, em que os alunos produzem material audiovisual tocando os instrumentos entre outros.

Quanto à interação com os alunos na webconferência, Julia e Lucas avaliam como ruim, pois faltou participação dos alunos (três a cinco alunos, apenas). A coordenação solicita que os docentes ofereçam atividades em diversos momentos do dia, para que os alunos possam participar. Mas, mesmo os docentes perguntando aos alunos quais seriam os melhores horários, a participação permanece baixa.

Observamos que a solução seria cobrar as atividades da webconferência como participação obrigatória para que alunos frequentassem a atividade. Quanto ao problema do docente surdo, a solução seria a solicitação das dúvidas por escrito e a entrega a ele em uma determinada sala do fórum, para que fossem esclarecidas em Libras na webconferência, com a presença de um intérprete de Libras, que faria a mediação entre o docente e os alunos pela tradução com voz na Língua Portuguesa. Restaria o problema de a qualidade da imagem não ser tão boa para alguns alunos quando há movimento das mãos, dificultando a visualização.

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