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2. CONTEXTUALIZANDO E RESGATANDO MEMÓRIAS NO TERRITÓRIO DA

2.4. A SITUAÇÃO DAS UC ESTADUAIS DE USO SUSTENTÁVEL NA BAHIA

2.4.2. A experiência piloto de PSA na APA Estadual de Pratigi: a iniciativa bem

Apesar da Bahia ainda não ter um marco regulatório que abranja os Pagamentos por Serviços Ambientais, PSA, a região sul baiana já se adiantou e uma OSCIP, a Organização de Conservação da Terra, OCT, tomou a iniciativa de conceber, elaborar, propor e implementar um projeto de PSA na região dos municípios de Ibirapitanga, Igrapiúna, Nilo Peçanha e Ituberá, no âmbito da APA Estadual de Pratigi, no bioma Mata Atlântica.

Este projeto consiste em premiar financeiramente os produtores rurais que manejem suas matas, solos e mananciais hídricos dentro de suas propriedades de forma a objetivar a conservação dos recursos naturais em consonância com as atividades produtivas agrícolas e pecuárias.

Este projeto é financiado pela Fundação Boticário, com apoio da metodologia da Agência Nacional de Águas, ANA, mas não só. A OSCIP promotora principal do evento demonstrou uma grande capacidade de articulação ao conseguir atrair vários parceiros, tanto do segmento governamental quanto de origem privada e até Instituições de Ensino Superior, IES, representativas na região: Companhia de Ação Regional, CAR, Governo do Estado da Bahia, Ministério Público do Estado da Bahia, MPE, Consórcio Intermunicipal da APA do Pratigi, CIAPRA, Fundo Nacional para a Biodiversidade, FUNBIO, além dos parceiros de iniciativa privada: BRASKEM, Fundação Odebrecht, Odebrecht Ambiental, Odebrecht Infraestrutura, Odebrecht Óleo e Gás, Odebrecht Realizações Imobiliárias, Odebrecht Transport e IMAFLORA. E as IES que estão como parceiras são a Universidade Federal do Recôncavo Baiano, UFRB, Universidade Estadual de Feira de Santana, UEFS e a Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC.

Na realidade a OCT tem vários projetos articulados a partir do Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade do Mosaico de Áreas de Proteção Ambiental do Baixo Sul da Bahia (PDCIS), fomentado pela Fundação Odebrecht e parceiros públicos e privados. Segundo a OCT: “O desafio é

tornar a região próspera socioeconômica e ambientalmente, de forma sustentável, fixando os jovens no campo, em seus locais de origem, integrados a suas famílias. “ Para alcançar este objetivo foram traçadas algumas estratégias, que se traduzem na instauração de um Conselho Gestor dos Projetos, no qual estes entes parceiros são membros, apoiadores técnicos, financeiros, mobilizadores, de pesquisa, de regulação, auditoria, estruturantes para a realização deste projetos. Um dos projetos que paga diretamente pelos serviços ambientais ao produtor rural é o Produtor de Água do Pratigi, PAP, que além de distribuir mudas, também oferece assistência técnica, novas metodologias produtivas, educação ambiental e acesso à qualidade socioambiental de seus produtos, objetivando a comercialização.

É importante ressaltar o prodígio deste programa em conseguir criar um Consórcio intermunicipal da APA do Pratigi, incluindo todos os municípios da abrangência desta UC, o que dá maior dinâmica à mobilização dos stakeholders locais. A metodologia do PDCIS é orientada pelos Objetivos do Milênio da ONU, e esta dinâmica tem conseguido atrair vários parceiros para os projetos de Pagamentos por Serviços Ambientais.

O projeto, em primeiro lugar identificou sub-bacias estratégicas, rio Mina Nova e rio Vargido, para a recuperação, proteção e conservação, e os proprietários rurais. A meta é a recuperação de 311 hectares de mata atlântica, que abrangem 55 nascentes. Atualmente 46 produtores rurais estão cadastrados para as atividades previstas no projeto, inclusive recebendo recursos de pagamentos por serviços ambientais, tendo como contrapartida a assunção de metas, obrigações e condicionantes a serem cumpridas ao longo do processo.

Esta metodologia é claramente inspirada na metodologia da ANA, no seu projeto piloto Produtores de Água, com experiências realizadas e resultados aferidos no Distrito Federal4.

Não é possível não notar, que, apesar de toda a abrangência deste projeto, da dinamização do território especialmente protegido, e até da atuação e apoio do Governo do Estado da Bahia e da CAR, não é, em momento algum citado o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, INEMA, ou Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, SEMA, responsáveis diretos pela UC,

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Sobre esta metodologia voltaremos a falar de maneira detalhada no capítulo 5 sobre o Projeto de Intervenção proposto nesta dissertação-projeto, no qual utilizamos como base metodológica o projeto da Agência Nacional de Águas, ANA, na sub-bacia do Rio Piripipau.

especificamente como membro, corresponsável pelas ações. Inclusive, a APA do Pratigi nestes últimos anos estava sem um gestor efetivo responsável por si, além de não possuir Conselho Gestor, e estar precisando da revisão do seu plano de manejo.

Portanto, fica a questão, uma UC sem seus instrumentos básicos de implementação e manejo, que é da competência e obrigação do seu responsável legal, o estado da Bahia, possui uma dinâmica de entes que pertencem ao terceiro setor e da iniciativa privada, que conseguem fazer, de maneira independente, as iniciativas acontecerem no território. Por outro lado, esta região, é uma região de grande atração econômica, seja pelo turismo, seja pelos interesses em matrizes energéticas, a exemplo do gás natural que será explorado no subterrâneo de suas águas de estuário. É algo complexo de se avaliar: Um território protegido só será viabilizado financeiramente quando houver interesses em jogo de grandes empresas? Interesses estes, muitas vezes, de grande impacto ambiental.

Sem sombra de dúvidas, é uma iniciativa ousada, grandiosa, pioneira, que poderá trazer grandes ativos socioambientais para a região, mas é complicado pensar que o ente que deveria estar alavancando, mediando,buscando as articulações em iguais condições de igualdade e com o mesmo interesse das instituições privadas e de terceiro setor, sequer esteja participando com o básico de seus instrumentos de gestão, um gestor, um conselho gestor, e um plano de manejo revisto e atualizado. Ainda não se pode deixar de pontuar a reflexão de que, quando a comunidade se apropria do território, é capaz de se mobilizar, independente do Estado, e seu poder de comando e controle.

2.5. OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO DA APA SERRA DO BARBADO, A