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3. PARTICIPAÇÃO POPULAR NO TRANSPORTE PÚBLICO DE PASSAGEIROS

3.3. Experiências internacionais da participação

3.3.2. Experiência sueca

Esta pesquisa foi desenvolvida por Wahl (2013), com o objetivo de avaliar o envolvimento da participação popular no planejamento municipal de transporte público na Suécia. O estudo selecionou 14 planejadores para realização de entrevistas por telefone, sendo 12 deles planejadores municipais e dois eram consultores. Também foram analisados os relatórios e alguns documentos relativos à atuação dos planejadores durante o processo participativo. Os planejadores municipais pertenciam ao departamento de obras rodoviárias locais. As autoridades suecas são obrigadas por lei a realizarem consultas populares quando elaboram os Planos de Desenvolvimento e Zoneamento ou pretendem efetuar qualquer mudança nos planos já existentes. O autor ressalta que a lei prevê que todas as partes afetadas pelo projeto sejam convidadas a

31 participarem do debate. Neste caso, são convidados os Conselhos Administrativos do Condado, os municípios, as comunidades e algumas personalidades para inteirarem e discutirem os planos propostos e suas principais consequências. Os participantes podem contribuir por escrito sobre as propostas, também podem participar em outras etapas do processo de planejamento, podendo valer de seus conhecimentos locais para ajudar os planejadores a compreenderem as suas reais necessidades, com isso, podendo efetuar melhorias necessárias no plano final.

Segundo Wahl (2013), no que se refere ao envolvimento do usuário no planejamento sueco, cabe ao planejador decidir quando, como e em que nível é apropriado. Não há uma definição clara nas determinações legais sobre os critérios do envolvimento da população. O que as diretrizes suecas de planejamento sugerem como métodos para a realização de planejamento de transporte são oficinas, pesquisas, entrevistas com grupos focais, seminários, sessões de casa aberta entre outros. Há vários métodos que podem ser aplicados, no entanto, depende do que o planejador achar mais eficiente para sua realidade. Mesmo adotando estes métodos, pode ser que haja pouco envolvimento popular por parte de alguns segmentos no processo de planejamento. Em consultas gerais, a maioria dos representantes dos grupos são homens com idades avançadas e mulheres mais jovens com filhos. Isso tem a ver com alguns fatores que determinam a vontade da participação, como ressalta Wahl (2013), por exemplo: ter conhecimento do tópico a ser abordada na reunião, a atualidade do tema em pauta, o horário da reunião e as expectativas nos resultados esperados.

Apesar da indefinição de como e quando deve ser envolvido o usuário, o autor ressalta que há um entendimento comum de que o envolvimento dos usuários é mais útil em um estágio inicial do processo, quando algumas prioridades são definidas, mas, mesmo terminando esta etapa inicial, os planejadores ainda recebem e incorporam muitas sugestões. Em teoria, há possibilidades de envolvimento do usuário em todo processo de planejamento, mas o nível de envolvimento e a possibilidade de influenciar as decisões por parte da população ficam cada vez mais difíceis ao longo do tempo.

Os resultados obtidos na pesquisa realizada com os planejadores mostraram que o maior envolvimento da população ocorreu mais no estágio inicial do processo, quando foram definidas as questões gerais e as prioridades do planejamento. Porém, como já mencionado anteriormente, o estágio de envolvimento depende da atitude do planejador.

32 De certa forma, a maioria dos planejadores envolvidos nessa pesquisa tem entendimento de que envolver a população no início de qualquer projeto é mais benéfico do que em qualquer outra etapa, porque os participantes desenvolvem um sentimento de pertencimento e criam vínculo identitário com o projeto, também possibilita a compreensão da lógica e permite conhecer melhor as questões técnicas do projeto, considerando que nesta etapa o projeto ainda não tem uma abordagem técnica mais profunda e complexa. Participar na etapa inicial não impede a contribuição em outras etapas posteriores, os planejadores informaram que sempre estavam abertos para as contribuições.

Há uma questão importante revelada pelos próprios planejadores na pesquisa, eles ressaltaram que a participação da população em qualquer projeto depende da atitude pessoal do planejador que atua em cada município. Além da questão do tempo e de recursos, o planejador que possuir mais habilidade em lidar com vários métodos, dependendo das adversidades locais, consegue incorporar melhor o público no processo de planejamento de transporte nesses municípios. Apesar de a lei prever o uso de várias metodos no processo participativo, foi constatado na pesquisa que os planejadores mais antigos ainda são muito relutantes aos novos métodos, o que explica a baixa participação em alguns municípios. Existe, portanto, uma atitude contrária dos planejadores mais jovens, que internalizaram os métodos propostos para conseguirem maior envolvimento das comunidades. Os resultados segundo as informações obtidas na pesquisa foram positivos e permitem deduzir que quanto mais o planejador tiver as alternativas metodológicas, melhor será o seu resultado com a participação da população.

Existe outra questão interessante revelada na pesquisa feita nos municípios suecos que possuem amplo envolvimento da população e que têm experiências de funcionamento sistemático, considerando o uso de métodos adequados: o processo participativo nesses lugares é dirigido pelos consultores terceirizados. Estes consultores realizam o processo em cooperação com os oficiais de relações públicas internas dos municípios. Os dados revelam que os consultores possuem uma compreensão apurada da metodologia, uma ampla experiência, além de tempo, recursos humanos e recursos financeiros.

De forma resumida, a pesquisa demonstra que apesar da participação popular no planejamento de transporte ser definida pelas diretrizes básicas da lei sueca e conhecida

33 pelos planejadores ou tomadores de decisões, ela ainda é um fenômeno raro em alguns municípios suecos. Os motivos constatados para estas dificuldades estão ligados à questão da falta de compreensão dos procedimentos metodológicos e alegação da falta de recursos, em termos de tempo e dinheiro. Mas, em municípios onde a participação no planejamento de transporte funciona sistematicamente, destacam-se as habilidades dos planejadores em incorporarem metodos adequadas para efetivação do processo participativo. Também ressalta a importância da tradição e emancipação dos municípios para que a participação real seja alcançada.