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4 EXPERIMENTO OLINDA

4.3 ANÁLISE DOS DADOS

4.3.4 Análise Interpretativa dos Resultados

4.3.4.1 Experience Tour

As observações do Experience Tour foram geradas a partir da adaptação deste método, produzido pelo NESTA. O tour, foi contemplado por questões referentes às interações, aos stakeholders envolvidos, aos elementos informacionais, as impressões, aos pontos positivos negativos e outros comentários adicionais.

No que se refere a interação com o espaço, observou-se que Olinda possui diversas ladeiras, algumas muito íngremes, como a ladeira da misericórdia. As casas coloridas despertam a atenção, como também os vários murais artísticos, pelo centro histórico. Durante as três rotas, que desembocavam na Catedral Sé, foi observado que não há mobiliários que proporcionem paradas convidativas. Há, também, muitos carros na rua e, em alguns momentos, atrapalhavam a caminhada ou por estarem estacionados, impedindo a contemplação das ruas, ou por transitarem entre elas. O Design, nesse ambiente, de acordo com Suri (2003), projetaria para a experiência do viandante com o entorno, considerando as particularidades possíveis de serem coordenadas, no ambiente. Diante disso, o projeto para a experiência em um lugar, nesse sentido, conformaria, em sua complexidade, um planejamento da cidade, como apresentado por Bicudo (2007).

As interações com os habitantes de Olinda ocorreram, em sua maioria, por meio dos serviços prestados, pois alguns são guias, outros vendem souvenirs, outros trabalham em museus ou comercializam comidas na rua. Todos se mostraram bastante solícitos, tanto nos seus serviços quanto nas informações concedidas. Nesse sentido, é perceptível que há trocas nas interações dos turistas com os habitantes, tanto nos serviços disponibilizados quanto em uma cumplicidade social, a partir de uma solidariedade, de acordo a afirmação de Canclini (1994).

Durante as caminhadas, no centro histórico, foram observadas questões referentes aos serviços, nas três rotas. No Posto de Informação Turística havia a disponibilidade de uma funcionária para informar sobre os principais pontos turísticos, logo no início do tour. Contudo, percebeu-se que não havia nenhum guia impresso sobre a cidade, apenas um mapa e poucos folhetos. Conforme, Desmet e Hekkert (2007), os produtos também compreendem a experiência, a medida em que eles interferem nas capacidades sensoriais da descoberta.

Houve diversas abordagens dos guias turísticos locais, visando a disponibilidade dos seus serviços. Eles possuem uma tabela fixa de valores,

fardamento e fazem parte de uma associação (ACNO), na qual a cada 6 meses recebem qualificação patrocinada pela prefeitura, para os mais jovens. A continuidade do aprendizado ocorre a partir de um compartilhamento interno de conhecimentos. Os guias também fazem a conservação dos pontos turísticos visitados em seus trajetos. A importância do entretenimento por parte dos viandantes, comentado por Speck (2016), demonstra-se a partir do engajamento do turista na caminhada histórica. Conforme Santos (2006), a extração da história do local aproxima o turista do lugar, pois o faz conhecer às histórias da memória urbana.

A Biblioteca Municipal, localizada na Praça do Carmo, possui um pequeno acervo sobre Olinda, como também um vasto espaço interior, sem uso definido por atividades, havendo grande potencialidade para utilização turística. A preservação dessa construção, a partir de seu uso, compreende também a conservação da memória e de sua estrutura patrimonial, segundo Cardoso (2012).

As lojas de souvenirs, dispostas no caminho, possuem, em sua maioria itens colecionáveis. Os artefatos que representam ícones da cidade, não estavam acompanhados de informações de significância. Vê-se que a vivência da cultura, dita por Richards (2012) foi cravada na vida cotidiana, a medida em que os símbolos locais se tornam transparentes em sua informação. Em uma loja específica de discos e camisetas, a vendedora demonstrou possuir vasto conhecimento sobre música pernambucana. Esse ultimo local fugia do circuito comum de souvenirs, pois as camisetas disponíveis era de uma marca Olindense e havia também CDs que se esquivam dos clássicos músicos locais. Nesse caso, a compreensão do souvenir como artefato turístico da experiência é percebida.

No Alto da Sé, A aproximação dos repentistas de rua aconteceu de maneira incessante. Pediu-se uma contribuição financeira de 30,00 reais e embora não fosse retribuído nessa quantia, os músicos se mantiveram conformados. Houve, também, uma abordagem convidativa por parte de uma das vendedoras de tapioca. Após uma conversa, foi relatado que o serviço funciona a tarde e a noite. A vendedora narrou que trabalha naquele serviço há anos, como também sua irmã e inicialmente sua mãe. Vê-se que os serviços turísticos presentes em Olinda são prestados em sua maioria pelos próprios moradores, o que torna a cidade um lugar potencial para o desenvolvimento do turismo criativo, devido a sua constante interação, de acordo com Richards e Raymond (2000).

A entrada do Museu de Arte Sacra custou 2,50 reais para estudante. Ao observar o acervo, nota-se que é uma contribuição financeira meramente simbólica. O acervo é dividido em obras portuguesas e pernambucanas, sendo a visita guiada por um funcionário que se demonstrou conhecedor dos aspectos referentes à conservação e suas obras. Apesar do traçado urbano da cidade ter sido originado de um estilo urbano português, notou-se que poucos espaços informam e engajam o turista nessa característica cultural.

A rota das ruas São Francisco e Bispo Coutinho é a mais silenciosa e curta das três destinadas à Catedral Sé. Esse percurso possui um espaço de souvenirs, onde há músicas e várias lojinhas, próximos a Catedral. O Convento de São Francisco estava fechado, como também havia a obra de uma praça sendo realizada em frente a ele. Essa rota possui uma grande pousada, muitas moradias e casas a venda. Vê- se, então, um potencial ao engajamento turístico, desconectado em seu circuito, por não atrelar seu casario a experiência de lugar.

Das três rotas, a que compreende a Rua Prudente de Morais e a Ladeira da Misericórdia é a que possui mais edificações conservadas, como também maiores interações, pois há cafés, pousadas, hosteis, restaurantes, habitações, igrejas, escolas, galerias de arte. Percebe-se, nesse caso, que o engajamento constante do transporte pedestre é promovido pela presença de estabelecimentos culturais e comerciais, validando assim a afirmação de Speck (2016), no qual o pedestre precisa de entretenimento em sua caminhada. O transporte por meio das caminhadas, em sua agradabilidade, também é comentado por Iranmanesh (2008).

Os stakeholders, grupo de interesse turístico, envolvidos nesse Experience

Tour foram: funcionárias da biblioteca, funcionária da informação turística,

funcionários e donos de bares, artistas plásticos, moradores, funcionários do museu; vendedores ambulantes de souvenirs, vendedores ambulantes de água, vendedoras de tapiocas, músicos repentistas, vendedores de loja de souvenirs e pessoas que transitam na rua. A partir de então, constata-se a pluralidade de possíveis interações que poderiam surgir em um maior engajamento para a mobilidade turística criativa do lugar.

Os elementos informacionais usados no tour foram mapa, celular, sinalização e conversa na rua. O mapa foi usado a todo momento, pois havia receio em manter o celular como única opção. Contudo, o mapa disponibilizado pelo Posto de Informação Turística não contém informações como distâncias entre os atrativos e outros dados

que fogem dos pontos turísticos, como lojas de souvenirs. Na sua impressão, os nomes das ruas não são visíveis e não há distância entre um monumento e outro. O celular foi utilizado para tirar fotos, como também como localizador GPS. As placas não foram utilizadas durante o percurso, devido a sua descontinuidade nas rotas. A outra forma de se localizar e obter informações sobre os lugares foi através dos próprios prestadores dos vários serviços, que também eram habitantes. Observou-se que a relação com os moradores é constante, pois boa parte deles prestam serviços turísticos. Neste ponto, valida-se também a importância dos artefatos para a experiência estética de lugar, demonstrada por Hekkert e Desmet (2007).

Os acessórios usados no deslocamento foram: celular (para fotos, maps, Qr code), mapa, sapatos confortáveis, bolsa, óculos escuros e água. Apesar disso, as constantes ladeiras e o sol foram elementos que desestimulam, em certos momentos, as caminhadas. Na ladeira da misericórdia há escadas, o que facilita a sua subida. Foi também percebida a presença da antiga sinalização do bonde que circulava por Olinda. As ruas poucos movimentadas provocam receio. A partir dessa observação, enxerga-se a importância da multimodalidade como maneira de incentivar o transporte pedestre, pois deve ser percebida a subjetividade de cada pessoa, de acordo com Antoniou e Tyrinopoulos (2013).

O que mais despertou a atenção, durante o tour, foram as casas coloridas, as ladeiras, os azulejos, as vistas em diversos pontos da cidade e a grande quantidade de ateliês de arte. Compreende-se que o olhar da pesquisadora, aqui, abarca a potencialidade do lugar.

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