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3 GEOLOGIA E HIDROGEOLOGIA DA ÁREA EM ESTUDO

3.4 Enquadramento Hidrogeológico

3.4.2 Sistema Aquífero Margem Esquerda do Tejo-Sado

3.4.2.6 Exploração das águas subterrâneas

Os dois aquíferos principais (Miocénico e Plio-Quaternário) são submetidos a exploração intensiva para:

• Abastecimento público; • Actividade industrial;

• Agricultura intensiva (essencialmente na margem esquerda do Tejo-Sado). Na figura 3.9 apresentam-se os furos que exploram no aquífero livre, os que exploram o aquitardo e os que exploram o aquífero mais profundo, o aquífero cativo.

Figura 3.8 – Localização dos furos estudados com classificação da profundidade de captação

Na Península de Setúbal, o valor total do volume captado pelas captações obtido (213

hm3/ano, ou seja 6,75 m3/s) é muito próximo do valor apresentado pela Hidrotécnica

Portuguesa no seu estudo da zona por meio do modelo matemático (190 hm3/ano, ou

seja, 6,05 m3/s). A diferença observada poderá ser explicada pelo aumento de

necessidades deste sector ao longo dos últimos anos.

O aquífero do Miocénico, exclusivamente explorado para satisfazer as necessidades de água potável dos municípios e das unidades industriais, é solicitada a 77,5% na Península de Setúbal, e a 22,5% na Bacia do Tejo.

Figura 3.9 – Excerto do mapa de capitação de água geral total por concelho (l/hab. dia), com a visualização dos concelhos de grande parte da margem do Tejo, incluindo a Península de Setúbal (INAG, 1999)

Na figura 3.10 podemos observar um excerto do mapa de capitação de água geral total por concelho (l/hab. dia), retirado do Plano de Bacia Hidrográfico do Tejo (INAG, 1999) onde se pode observar o consumo de água per capita dos concelhos. Observa- se então que o concelho do Seixal tem um valor de capitação de água entre os 175 e 200 l/hab. dia, Almada entre os 250 e 400 l/hab. dia, o Barreiro entre 150 e 175 l/hab. dia e, finalmente Sesimbra entre 200 e 250 l/hab. dia. De uma perpectiva geral, com base na Divisão Administrativa de Águas e Saneamento da Câmara Municipal do Seixal (CMS, 2003), o consumo em 2001 foi de 9.675.355 m3. O valor mais alto foi para o consumo doméstico (7.951.641 m3), seguindo-se o consumo industrial/comercial (862.733 m3) e o consumo para obras e outros (860.981 m3).

Dos aquíferos considerados, constata-se que o aquífero superior foi sujeito a um aproveitamento não racional, devido às várias captações construídas e, por outro lado, apresenta também indícios de contaminação antropogénica, embora se observem já algumas situações de contaminação mais profunda. A verdadeira dimensão deste problema não é totalmente conhecida, principalmente para vários furos da zona do Seixal, Almada e Barreiro.

Suspeita-se que o não controlo de extracções nos aquíferos intermédios e noutros níveis dos aquíferos levará a que se observe grandes rebaixamentos dos níveis piezométricos, o que, aliado à existência de roturas no revestimento de furos que são

simplesmente abandonados sem qualquer cimentação, pode provocar cada vez mais contaminações inter-aquíferos (Pais et al, 2006).

3.4.2.7 Qualidade

Segundo Simões (1998), é seguro afirmar que as águas das camadas do Pliocénico são pouco mineralizadas e que vão de encontro ao tipo de depósitos arenosos que aí se encontram. São águas pouco duras, com baixos teores de bicarbonato, cálcio, sódio e magnésio e com reduzida presença de sulfato.

Em relação ao Miocénico, as complexas e frequentes variações laterais e verticais de fácies levam ao surgimento de grande diversidade físico-química das suas águas subterrâneas, predominando a fácies bicarbonatada calco-magnesiana.

Mas na Península de Setúbal, grande parte das captações exploram em conjunto as águas do Pliocénico e do Miocénico francamente marinho a maiores profundidades. As fácies destas águas de mistura são as fácies bicarbonatadas cálcicas, cloretadas sódicas e ainda cloretadas cálcicas, ou seja, temos as fácies típicas para cada uma das formações.

Figura 3.10 – Diagrama de Piper para as água captadas do Pliocénico e Miocénico francamente marinho, estimado a partir de análises químicas da década de 90 (Almeida et al, 2000)

Tabela 3.6 – Principais estatísticas para as águas subterrâneas captadas das formações pliocénicas e miocénicas francamente marinhas (Almeida et al, 2000)

n Média Desvio padrão Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

Condutividade (µS/cm) 169 386 96 125 326 409 456 583 PH 139 6,8 0,6 5,6 6,4 608 7,4 8,1 Bicarbonato (mg/L) 34 113 54 12 63 122 159 177 Cloreto (mg/L) 136 59 22,9 21,3 49,4 54,1 70,9 213 Ferro (mg/L) 44 0,16 0,35 0 0 0,032 0,17 1,62 Potássio (mg/L) 38 3,1 1 1,3 2,5 3,1 3,4 7 Nitrato (mg/L) 75 6,9 11 0,3 1,5 2,5 5,8 43,5 Nitrito (mg/L) 53 0,006 0,01 0 0 0 0,007 0,04 Sulfato (mg/L) 42 13 9,7 4,9 7,7 9,6 13,5 47,6 Dureza (mg/L) 79 139 136 12 99 120 146 930 Oxidabilidade (mg/L) 44 0,5 0,6 0,1 0,2 0,3 0,5 4,2 Sódio (mg/L) 38 25,6 9,9 14,1 19,4 22,3 27 62

Outro aspecto importante que urge fazer frente são os casos cada vez mais generalizados de zonas industriais ou agrícolas levadas a cabo pela actividade humana. Estas acções provocam emissões de fluxos de poluição à superfície que afectam as águas subterrâneas. Um exemplo é o caso dos nitratos utilizados na agricultura, os quais são lixiviados pelas águas pluviais e cuja migração é fortemente intensificada por efeito de irrigação, em regra praticada em volumes muito superiores às necessidades reais das culturas. Sobrepondo-se a esta poluição está a descarga de águas residuais no meio ambiente, de origem humana. Com estas acções, observam-se águas com teores superiores a 100 mg/L de nitratos, afectando essencialmente os terraços da Península de Setúbal (LNEC, 1993).

Há também zonas com teores de Cl- nas captações que ultrapassam os 200 mg/L. No

Barreiro os teores elevados ou muito elevados nos aquíferos captados a 310 m de

profundidade apresentam 340 mg/L de Cl- e captados a 110 m contêm 16000 mg/L de

Cl-, onde a origem marinha destes valores é evidente.

Em Setúbal há variações muito acentuadas de salinidade (inferiores a 50 mg/L de Cl- e

noutros furos com 2000 a 3000 mg/L de Cl-) em furos com profundidades

equiparáveis.

Estes fenómenos de salinização não constituem surpresa face aos caudais de captação desde há uns anos na parte baixa da bacia. Particularmente na Península de Setúbal há cones de depressão piezométrica muito acentuados.

Em termos de balanço aproximado, as captações na zona de Setúbal são cerca de

duas vezes superiores ao caudal natural de alimentação (6,75 m3/s de captação contra

3 m3/s de alimentação). Contudo, verifica-se que nesta zona não há um contexto de

salinização demasiado acentuado, o que leva a pensar que o contexto hidrogeológico é bastante favorável, devido ao facto de:

• Haver um levantamento da série geológica na orla da costa oeste da península, virtude da qual a formação superior do Paleogénico, muito pouco permeável, se apresenta a baixa profundidade, criada assim uma barreira natural entre a água do mar e a água doce do aquífero miocénico.

• Os lodos dos estuários do Tejo e Sado apresentam-se pouco permeáveis devido a serem compostos por camadas que chegam a atingir os 10 m de espessura.

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CONSTRUÇÃO DO MODELO E RESULTADOS

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