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2.1 Floresta Ombrófila Mista

2.1.3 Exploração florestal e a formação de clareiras

A luz solar é um dos fatores mais importantes para o crescimento das plantas e, desse modo, elas competem entre si por esse recurso (NEVAI; VANCE, 2007). As árvores com suas folhas acima da superfície do solo representam uma adaptação

importante à intercepção de luz (TAIZ; ZEIGER, 2013), logo, esses indivíduos respondem às flutuações desse recurso com mudanças nas taxas de crescimento, fisiologia e arquitetura da copa (STERCK et al., 1999).

Na floresta, a variação na competição pode ser observada com o aumento da intensidade de luz próximo à superfície do solo, como, por exemplo, a resultante da queda de uma árvore. Nesse caso, a mudança abrupta da intensidade de luz pode ocasionar efeitos na composição florística local, contudo, o ambiente retorna novamente a níveis baixos de luminosidade em períodos, muitas vezes, curtos com a retomada/recomposição do dossel (STERCK et al., 1999). Schneider e Schneider (2008) ressaltam que árvores liberadas, mas que cresceram à sombra apresentam folhas adaptadas a essa condição e, quando expostas a uma maior intensidade luminosa, devem ajustar-se a esse novo ambiente, sendo que, em casos extremos, árvores suprimidas e depois liberadas podem chegar à morte quando a espécie for incapaz de adaptar-se rapidamente a essa mudança.

A sucessão, a competição, a exposição, o sítio natural e a incidência de luz são fatores ecológicos que determinam a dinâmica nas florestas naturais (MOSCOVICH, 2006). A interação entre os fatores ecológicos, como, por exemplo, o aumento da incidência de luz e, consequentemente, o início do processo de sucessão florestal (novo ciclo de crescimento) pronunciam-se com a formação de clareiras (WHITMORE, 1989). As clareiras são formadas pelo rompimento na estrutura do dossel da floresta causado pela queda de uma ou várias árvores (WHITMORE, 1989) decorrente de distúrbios naturais como tempestades, deslizamentos, incêndios e enchentes (AMARAL et al., 2013) ou antrópicos (LANG et al., 2014). Logo, ocorre à fase de recuperação com o estabelecimento de espécies arbustivas e arbóreas exigentes em luz (pioneiras) e, na fase madura, à medida que ocorre o aumento do sombreamento ao longo do tempo, estabelece-se a gradual substituição dessas espécies dependentes em luz, por outras, tolerantes à sombra (esciófilas) (GANDOLFI, 2000). Por esse motivo, Richard (1952) e Brokaw (1985) afirmaram que espécies esciófilas são tolerantes à sombra somente de maneira limitada, pois dependem do surgimento de clareiras para alcançar a maturidade.

De modo geral, devido aos distintos comportamentos das espécies arbóreas frente à intensidade de luz, Budowski (1965) sugeriu a existência e a combinação de

grupos ecológicos em cada fase da sucessão, conforme pode ser observado na Tabela 1, adaptado de Araujo et al. ( 2010).

Tabela 1 - Características dos grupos ecofisiológicos das espécies arbóreas, de acordo com Budowski (1965).

Característica Pioneira

Secundária

inicial Secundária tardia Clímax

Tolerância à sombra Muito intolerante Muito intolerante Tolerante no estágio juvenil e depois intolerante Tolerante exceto no estágio adulto Crescimento Muito

rápido Muito rápido Rápido a lento Lento Regeneração

sob dossel Muito rara

Praticamente ausente

Ausente ou abundante, com grande mortalidade

nos primeiros anos

Abundante

Fonte: Araujo et al. (2010).

Conforme as características sugeridas por Budowski (1965), Tonhasca Jr. (2005) indicou a evolução desses grupos para o modelo de sucessão florestal, como pode ser identificado na Figura 1. Dependendo do grau de distúrbio, as clareiras são colonizadas inicialmente pelas espécies pioneiras que apresentam rápido crescimento e baixa longevidade. Assim, ao longo do tempo, ocorre a substituição gradual pelas espécies de crescimento mais lento que apresentam menor capacidade reprodutiva, maior longevidade e maior capacidade de competir em ambientes com menor disponibilidade de luz.

Figura 1 - Modelo de sucessão florestal. Fonte: Tonhasca Jr (2005).

Segundo Schneider e Finger (2000), as dimensões das clareiras determinam a predominância do grupo ecológico das árvores, ou seja, em clareiras pequenas, persistem as espécies tolerantes à sombra (esciófilas) e, em clareiras grandes, pronunciam-se as espécies exigentes em luz (pioneiras). Esse efeito, muitas vezes, pode intervir na composição florística e na distribuição espacial das espécies nas florestas, porém, isso é dependente da frequência com que ocorrem os distúrbios (EBERT et al., 2014; AMARAL et al., 2013; JARDIM; SERRÃO; NEMER, 2007).

De modo geral, a composição florística inicial em uma floresta recém- perturbada é determinada, principalmente, pela presença de fatores como o banco de sementes do solo e a capacidade de rebrota dos tocos (KAMMESHEIDT, 1998). Isso deve-se ao fato de que a regeneração natural pode estabelecer-se em decorrência da germinação via sementes, a partir do banco de sementes do solo ou pela dispersão de novas sementes; pela regeneração via plântulas ou plantas jovens pré-estabelecidas que sobreviveram à queda das árvores e pela rebrota de sobreviventes ou daqueles no dossel adjacente (LIMA, 2005).

A rebrota de tecidos vegetais configura-se como uma resposta fisiológica a danos ou à morte da parte aérea, atribuído a cortes, queima, ataques de pragas, doenças ou distúrbios fisiológicos, podendo iniciar por meio da regeneração de cepas ou de raízes (MARTINS, 2009). Segundo o autor, a habilidade de algumas espécies em rebrotar pode favorecer os regenerantes e, assim, grande parte dos indivíduos tolerantes à sombra pode permanecer no sub-bosque após a formação da clareira (LIMA, 2005).

De acordo com Lamprecht (1990), perturbações de maiores proporções numa área florestal levam ao estabelecimento de florestas secundárias menos ricas em espécies, formadas por pioneiras de vida breve que, numa série de etapas, descrevem um processo de sucessão voltado à formação da floresta e, em longo prazo, de uma floresta em estágio clímax. Contudo, para Longhi (2011), perturbações decorrentes da exploração florestal com a intenção de manejar a floresta e obter rendimento sustentável não comprometem a integridade da floresta. Segundo o mesmo autor, baseado em resultados do manejo experimental de uma Floresta Ombrófila Mista Secundária no município de Nova Prata, RS, as intervenções de manejo em matas secundárias são necessárias para melhorar a estrutura e a composição de espécies desejáveis, tornando a floresta produtiva, pois os cortes seletivos, independentemente da intensidade, ocasionaram aumento na densidade e nos parâmetros fitossociológicos das espécies comerciais, em comparação com o tratamento sem intervenção de manejo; sendo que os cortes seletivos, independente da intensidade aplicada na floresta, não provocaram perdas no número de espécies, gêneros e famílias; pelo contrário, constatou-se ganho nos índices de diversidade de espécies para os tratamentos que receberam intervenções de manejo e mínima alteração para o tratamento controle. Os resultados ainda indicaram que cortes seletivos pesados (com reduções superiores a 50% da área basal), além de apresentarem menor incremento em volume, conduzem a um ciclo de corte muito dilatado (34 anos) e são de difícil controle biológico.

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