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4. EXPORTAÇÃO NO CONTEXTO DA PECUÁRIA

4.2. Exportação via Cota Hilton

A Cota Hilton é um programa europeu que define parâmetros de qualidade para a carne bovina importada. De acordo com a ABIEC, trata-se de “uma determinada quantidade de carne bovina fresca ou resfriada, de cortes traseiros, sem ossos e com alto padrão de qualidade, destinada à exportação para a União Europeia”. Para os exportadores que seguem as regras definidas há benefícios fiscais (menor tributação), resultando em melhores preços da arroba. A origem deste programa está na rede de hotéis Hilton, que lançou parâmetros de qualidade para seus fornecedores de carne.

Essa cota é constituída de cortes especiais do quarto traseiro, de novilhos precoces e atinge um volume total aproximado de 66 mil toneladas por ano, que é concedida e distribuída para os principais produtores de carne do mundo a cada ano, dentre os quais Argentina, Uruguai, Nova Zelândia, EUA, Canadá, Austrália e Brasil. O objetivo da Cota Hilton é estimular os pecuaristas a entregarem uma carne de melhor qualidade à indústria, favorecendo as importações e, consequentemente, sendo mais bem remunerado por isso. A carne exportada via cota Hilton pode receber uma bonificação de até R$ 4,00 a mais por arroba. Além da boa produção do animal, é necessário que pecuaristas e frigoríficos cumpram uma série de especificações de qualidade e sanidade (GIRO DO BOI, 2017).

A principal característica do programa é a demanda pela obrigatoriedade de rastreabilidade dos animais antes de 10 meses de idade, ou seja, depende de todo os elos da cadeia e, principalmente, dos produtores. Além disso, as demais exigências dos animais para atendimento à Cota Hilton, segundo a Cartilha Conexão JBS são:

 Identificação até a desmama (máximo 9 meses e 29 dias)  Idade máxima ao abate:

 Novilhas máximo 4 dentes incisivos permanentes;

 Machos castrados máximo 4 dentes incisivos permanentes;  Machos inteiros somente dentes de leite.

A checagem da idade dos animais é feita na ocasião do abate, pelo responsável pelo SIF, na Base Nacional de Dados (BND) - SISBOV. Portanto, todos os animais destinados à cota deverão estar cadastrados na BND, desde o seu desmame (antes de completar 10 meses de

idade). Porém, as propriedades não demandam certificação, ou seja, esse cadastro pode ocorrer mesmo em propriedades cadastrada no SISBOV e sem ser “ERAS” (Estabelecimentos rurais cadastrados). A fazenda de terminação deve ser um ERAS na lista “Traces” e os animais já devem ter cumprido o prazo de 40 dias na última propriedade, bem como o prazo de 90 dias na fazenda habilitada para exportação para a UE.

Já a tipificação dos animais para Cota Hilton é realizada apenas por Fiscal Federal Agropecuário devidamente treinado pelo MAPA. Durante a tipificação, os itens avaliados para que o animal seja classificado para Cota Hilton são:

 Sexo e maturidade  Conformação  Acabamento  Peso de Carcaça

A atratividade dos preços e a garantia de mercado geram incentivos aos produtores nos países participantes do programa. Apesar disso, os rígidos parâmetros e exigências fazem com quem poucos pecuaristas tenham acesso ao programa no Brasil, o que também representa um aumento nos custos de produção. Como consequência, o Brasil não tem logrado atingir a totalidade da Cota Hilton permitida anualmente, perdendo oportunidades de mercado (Gráfico 9). Porém, observa-se que, com exceção do Uruguai e da Nova Zelândia, outros países exportadores tampouco lograram atingir o teto permitido.

Gráfico 9. Cotas e volume atendido pelos países que exportaram via Cota Hilton no período 2015/2016 (em toneladas)

No Gráfico 10 é possível observar uma oscilação representativa do atendimento do Brasil à Cota Hilton, reforçando a baixa capacidade de atender a este mercado europeu específico. Ainda que o atendimento à Cota tenha chegado a níveis baixíssimos entre 2009 e 2011, com menos de 10% do volume permitido, é notável a gradativa recuperação a partir de 2012, chegando a atender 93% do total em 2015/2016. Neste sentido, é inegável que o setor se encontra mais bem preparado para atender às exigências solicitadas.

Gráfico 10. Cotas e volume atendido pelo Brasil para a Cota Hilton (em toneladas)

Fonte: ABIEC (2016)

Dentre os principais entraves que justificam o não atendimento do limite total (que passou de 5 para 10 mil toneladas anuais de 2009 para 20106) da Cota podemos citar questões em

diversos elos da cadeia, a saber: dificuldades em atender aos padrões de carcaça exigidos (ZAFALON, 2010), dificuldade de oferta de animais com rastreabilidade de origem e resistência por parte dos produtores (LANNA; ALMEIDA, 2005), baixa quantidade de fazendas em conformidade e baixa oferta de animais alimentados exclusivamente a pasto. Esta última questão, da alimentação sem o uso de suplementação, foi uma queixa dos produtores brasileiros por ser uma exigência apenas para alguns países exportadores, como

6O aumento do limite da Cota Hilton em 2009 se deu pela entrada da Bulgária e da Romênia ao bloco em 2007. Como o Brasil deixou de exportar 120 mil toneladas de carne para estes dois países, uma forma de “compensação” foi a elevação da Cota brasileira.

99% 100% 100% 50% 25% 8% 5% 26% 30% 41% 80% 93% 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 Cota Uso

Brasil e Argentina. Nos Estados Unidos, por exemplo, os produtores podem adicionar uma ração equilibrada de alta concentração energética durante pelo menos 100 dias. Em 2012, os produtores brasileiros conseguiram flexibilizar essa regra, e o bloco europeu começou a aceitar animais oriundos do Brasil criados em confinamentos.

O custo de produção surge como um outro fator de entrave. Para produzir um animal com a terminação exigida, exige-se um dispêndio elevado de recursos financeiros. Para atender a Cota Hilton é obrigatório que todos os animais da fazenda sejam rastreados, independentemente de ir ou não para o abate, incluindo as matrizes, os touros e os bezerros. Para o produtor, a maior chance de retornos financeiros dentro da cota Hilton é trabalhando apenas com as atividades de recria e engorda, o que representa uma forma de reduzir os custos – especialmente da rastreabilidade da etapa de cria.