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8. DISCUSSÃO

8.1.3 Exposição à hipóxia

Os peixes expostos à hipóxia não modificaram a concentração de HP hepática nem a atividade da SOD, mas apresentaram inibição da GSH-Px e CAT, quando comparados aos peixes do grupo controle (Figura 17). No músculo vermelho houve diminuição das atividades da SOD e da CAT nos peixes expostos à hipóxia (Figura 18). Chandel et al. (2000) afirmam haver aumento na produção de EROs em hipóxia, apesar da redução da respiração aeróbica. Nossos dados não demonstram haver diferença na concentração de HP no fígado e no músculo vermelho em decorrência da exposição do pacu à hipóxia. Evidências de diminuição do metabolismo aeróbico no pacu em hipóxia (como será discutido no próximo item) nos mostram que possivelmente houve diminuição de entrada de oxigênio na cadeia respiratória, impedindo assim aumento na concentração de HP. As mitocôndrias são o principal local de produção de EROs e o músculo vermelho é, proporcionalmente, a maior concentração destas organelas (Graham, 1990). Portanto, este tecido é considerado o maior colaborador na geração de EROs (Chance et al., 1979). Neste contexto, pode-se esperar que as DAs nos peixes dependam do consumo de oxigênio e/ou da disponibilidade deste, pois as produções de EROs na mitocôndria são muitas vezes correlacionadas à tensão de oxigênio (Boveris e Chance, 1976). No músculo branco houve aumento na concentração de HP no grupo de peixes expostos à hipóxia (Figura 19). As enzimas antioxidantes fornecem defesa antioxidante e intrinsecamente espera-se que elas aumentem em resposta à hipóxia, de modo a combater a formação dos EROs (Wilhelm Filho e Boveris, 1993). Este tecido, com menor metabolismo oxidativo e, portanto, menor atividade das DAs, parece não ter mecanismos suficientes para combater os danos decorrentes da diminuição de OD. O aumento de HP pode ter ocorrido em função da semelhança das atividades das DAs mensuradas neste tecido entre os peixes em hipóxia e normóxia, conFigurando EO, no músculo branco dos peixes em hipóxia.

b. Intermediários metabólicos

Evidências demonstram que as elevações do lactato plasmático em peixes são decorrentes da ativação do metabolismo anaeróbico como ajuste bioquímico, fornecendo energia alternativa em condição de estresse (Virani e Rees, 2000; Crestani et al., 2006). Os pacus expostos à hipóxia diminuíram as concentrações plasmáticas de glicose, lactato, piruvato e amônia (Figura 20). Embora não tenha sido medida a taxa metabólica dos peixes no presente

estudo, estes resultados demonstram que, possivelmente, pacus submetidos à hipóxia responderam à diminuição de captação de oxigênio por meio da supressão metabólica. Hochachka e Somero (1984) afirmam que a supressão metabólica é elemento chave à tolerância à hipóxia em uma variedade de organismos, incluindo os peixes. Muitos animais expostos à hipóxia e à anóxia por longos períodos podem inibir a ativação glicolítica para prevenir acidificação metabólica (Sidell, 1983) pois, a diminuição do pH pode prejudicar processos fisiológicos e causar danos severos à célula (Van den Thillard e Van Waarde, 1985; Wood, 1991).

Os dados de pHsg do pacu, após exposição à hipóxia, demonstram que estes organismos estavam em acidose e, portanto, podem sobreviver a esta adversidade diminuindo seu metabolismo. Estes achados estão de acordo com os de Affonso et al. (2002) que verificaram uma diminuição no pH sangüíneo em tambaquis expostos à hipóxia. Estas respostas podem estar relacionadas à prevenção de acidose metabólica decorrente da exposição à hipóxia (Sidell, 1983).

c. Atividade da Na+/K+-ATPase, concentração de Metalotionina branquial e [Cup]

A exposição de pacu à hipóxia não interferiu na [Cup], quando comparado aos peixes do grupo controle (Figura 22), demonstrando que possíveis alterações nos processos respiratórios do pacu, frente às alterações na concentração de OD, não resultaram em maior absorção do cobre presente na água nos níveis controle.

Dentre os biomarcadores que são usualmente utilizados para monitorar a qualidade do ambiente, a indução das MTs tem sido proposta, visto que esta resposta está bem descrita por diversos autores (Roesijadi, 1992; George e Olsson, 1994; Cosson e Amiard, 2000; Carvalho et al., 2004). English e Storey (2003) observaram rápida resposta de expressão de MT em gastrópodos marinhos, Littorina littorea, após exposição à anóxia e congelamento, correlacionando a concentração de MT como fator importante para sobrevivência destes organismos à baixa disponibilidade de OD. Estes autores concluíram que além da resposta à exposição aos metais, as MTs são responsivas também às mudanças ambientais como diminuição de OD e de temperatura. Possivelmente, por ser uma espécie fisiologicamente adaptada à hipóxia moderada (Rantin et al., 1996), o pacu não alterou a concentração de MT branquial após exposição à hipóxia (Figura 21).

Comellas et al. (2007) relataram que, em mamíferos, a hipóxia eleva a produção de EROs aumentando a degradação da Na+/K+-ATPase. Chandel et al. (1998) descreveram que a hipóxia in vitro inibe o transporte ativo de Na+ através da diminuição da atividade dos canais de Na+ e da Na+/K+-ATPase, podendo haver diminuição da sua expressão gênica em uma situação de hipóxia mais pronunciada. Em algumas espécies de peixes tolerantes à hipóxia, a inibição da Na+/K+-ATPase ocorre em paralelo com a diminuição da entrada de Ca2+, contribuindo para a diminuição no consumo de ATP (Buck e Hochachka, 1993). Porém, Nilsson (2001) descreve que espécies de peixes tolerantes à hipóxia, como a carpa cruciana, Carassius carassius, não modificam a atividade da Na+/K+-ATPase em resposta à diminuição do OD. No presente estudo, verificamos que pacu exposto à hipóxia aumentou a atividade Na+/K+-ATPase (Figura 21). Por ser uma espécie tolerante à hipóxia (Rantin et al., 1996) e por ter sido exposta a uma PO2 acima da sua PcO2, o pacu pode não ter inibido a Na+/K+-ATPase no presente estudo.

Segundo Bogdanova et al. (2005), a sensibilidade da Na+/K+-ATPase às concentrações de OD no hepatócito de truta arco-íris foram decorrentes do efeito do oxigênio na cadeia transportadora de elétrons. Estes autores constataram que estas alterações de OD não afetam diretamente a hidrólise do ATP pela enzima, sugerindo que esta inibição é modulada pela produção de EROs. No presente trabalho, verificamos um aumento na atividade da Na+/K+- ATPase e não verificamos aumentos na produção de EROs. O aumento da atividade da Na+/K+-ATPase pode ter sido ativado com o objetivo de manter o equilíbrio iônico, uma vez que houve diminuição significativa do pHsg.

d. Parâmetros Hematológicos

Variáveis hematológicas são usuais em diagnósticos de alterações fisiológicas e bioquímicas de peixes (Wedemeyer e Yasutake, 1977). Normalmente são avaliadas para detectar mudanças decorrentes de condições estressantes como hipóxia (Val e Almeida-Val, 1995; Marcon e Wilhelm Filho, 1999 e Affonso et al., 2002). No presente estudo, os peixes apresentaram aumento de Eri, Htc, Hb e diminuição do VCM após exposição à hipóxia (Figura 23). Estas respostas demonstram que o pacu buscou adaptações hematológicas em decorrência da exposição à hipóxia na tentativa de aumentar a capacidade de captação e transporte de oxigênio. Os dados encontrados no presente trabalho estão de acordo com os relatados por Wilhelm Filho et al. (2005) que observaram elevada concentração de hemoglobina em piaparas

expostas à hipóxia. Affonso et al. (2002) expuseram o tambaqui à hipóxia e observaram aumentos de Eri, Hb e CHCM.

8.2 Efeito da exposição associada dos fatores