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2. Revisão de Literatura: conceitos-chave para o diálogo proposto

2.5. Exposições como meio de participação do público

Cabe então retomar o sentido do “sistema formal intermediário de recuperação de informação” de González de Gomez (1990) e seu sentido para esta discussão, uma vez que nas exposições reside uma grande parcela da responsabilidade social dos museus por serem a interface entre a instituição e o público.

Para melhor entendimento das relações conceituais e práticas propostas, deve- se perceber o museu como domínio plural de ações de informação e de “intervenções” intencionais; e o público como fonte de práticas sociais específicas. A intervenção do museu se dá

[...] como antecipação modelizadora do que seria um fluxo desejável de informação entre os dois polos de geradores e usuários, ao qual se procura otimizar por meio do controle sistêmico de diferentes variáveis do processo (geração, coleta, armazenagem, organização, representação, recuperação, disseminação) (GONZÁLEZ DE GOMEZ, 1990, p. 117-118).

Dessa forma, a Figura 1 apresentada anteriormente (página 45) seria representada e interpretada da seguinte maneira:

Figura 2 – Interpretação do sistema formal intermediário de recuperação de informação

Fonte: Da autora (2017).

Isso significa dizer que, nessa representação, a Curadoria e a Educação, associadas, seriam o sistema formal intermediário de recuperação de informação proposto.

Ao se compreender os papéis dos atores institucionais em relação ao sistema e à sua própria prática, têm-se, igualmente, as representações sociais desses atores. Essa prática é aqui traduzida como ação de informação, uma vez que se caracteriza como aquela ação

realizada por atores sociais em suas práticas e atividades, ancorada culturalmente numa forma de vida e gerada em comunidades epistêmicas ou configurações coletivas de relações intersubjetivas. No contexto sociocultural, uma ação de informação poderá orientar-se preferencialmente em direção a processos de objetivação (uso representativo da linguagem) ou oferecer garantias performáticas à busca de entendimento mútuo (uso comunicativo da linguagem) (GONZÁLEZ DE GOMEZ, 2012, p. 27).

Pode-se dizer, portanto, que as ações de informação possuem um fluxo em que os elementos materiais, gráficos e intelectuais interagem com um dado contexto, originando informações com vieses dados pelos seus produtores e usuários, informações estas que retroalimentam o contexto em que se dão. A Figura 3 abaixo é uma representação desse fluxo.

Figura 3 – Fluxo das ações de informação

Fonte: Da autora (2017).

As ações de informação, portanto, validam socialmente o sistema de informação praticado (Figura 2). E, no caso das exposições, esse sistema possui competências e responsabilidades nos campos técnico, político e administrativo (CURY, 2005).

No viés técnico são depositadas as competências das várias áreas da instituição que participam da construção da exposição, como aquelas que lidam com objetivos museológicos específicos como conservação, segurança, pesquisa etc. Politicamente, “refere-se à capacidade de planejar a ação fundamentada na participação coletiva” (CURY, 2005, p. 116). O conjunto dos envolvidos é onde reside a responsabilidade pela concretização dos ideais institucionais. Já a competência administrativa diz respeito à potencialização e dinamização das competências técnica e administrativa.

Para que a exposição assuma o duplo papel de meio de comunicação dos princípios institucionais e produto das relações que estabelece com seu meio e com a sociedade, é requerida a adoção de estratégias de planejamento que tenham em sua base a participação.

Distribuindo-se o poder formativo e seletivo entre os diferentes agentes que atuam no sistema de informação, mobilizam-se as partes envolvidas a interagirem nesse conjunto informacional, como afirma González de Gomez (2012, p. 28):

[...] distribuição do poder formativo e seletivo entre atores e agências organizacionais, setores de atividades, áreas do conhecimento, regiões locais e redes internacionais e globais, seja pela definição e construção de zonas e recursos de visibilidade informacional, seja pela sonegação e/ou substituição de informações de outro modo socialmente disponíveis ou

acessíveis, seja por efeitos não totalmente intencionais da agregação de ações e meios, sobre aquilo que se define, propicia e mobiliza como valores de informação.

A tomada de decisão seria uma tomada de consciência em relação à participação como proposta democrática, e uma tomada de poder, “poder de transformar a sua realidade organizacional [...] e poder de intervir positivamente na relação do público com o seu patrimônio cultural por meio das exposições” (CURY, 2005, p. 91).

Compreender a comunicação museológica como sistema ajuda a tornar mais claros os movimentos de ação e de adaptação do museu frente à troca contínua na qual ele vive com o ambiente, permanentemente influenciando-o e sendo influenciado. Por isso, ao buscar institucionalmente a associação da Educação e da Curadoria, bem como dos profissionais e de suas funções (educador e curador), é preciso estabelecer uma base conceitual e prática, avaliando os impactos que tal premissa acarreta para as relações entre o museu e seu público.

Nesta pesquisa, propõe-se que a Ciência da Informação forneça esse lastro conceitual mostrando que, na verdade, as práticas são imbricadas desde seu nascedouro. O domínio do processo de comunicação é relativizado pelas estratégias de participação. Todos, coordenadamente e com enfoque cooperativo, deveriam trabalhar para catalisar as ações institucionais à estruturação da linguagem expositiva e à inteligibilidade da exposição.

Ainda que as discussões estejam coordenadas por um profissional ou setor específico, este deveria atuar como coordenador e problematizador das discussões feitas no coletivo. Dessa forma,

[...] a tomada de decisões tem sua origem na equipe, tendendo para um enfoque cooperativo. [...] não se trata de optarmos por uma coisa ou por outra, mas sim criarmos um equilíbrio de ações, no qual quem ganha é a sociedade. (CURY, 2005, p. 110).

Caso se deem separadamente e sem conexão, um ou outro setor ou profissional provavelmente assumirá uma postura autocrática, reduzindo a multiplicidade de leituras e informações advindas do acervo e da exposição à visão de uma única pessoa/setor.

O papel dos museus e das exposições é convidar a sociedade a perceber e questionar a realidade e as relações que se estabelecem nesses entrecruzamentos

de universos e sujeitos, mediados pelos objetos informacionais. Participando dessa discussão, a sociedade passa a exercitar sua própria cidadania e seu poder político, ao mesmo tempo em que exige de maneira mais contundente que as instituições façam seu papel de comunicadoras e alavancadoras dessas trocas.