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4 – ESPAÇO EXPOSITIVO GALERIA HOMERO MASSENA

EXPOSIÇÕES NA GHM

05/01 a 30/01 Jorge Pietra e Mazzone - Pintura 03/02 a 21/02 Objeto Para a Casa - Country Style 09/03 a 16/04 Magno Godoy - Pintura

20/04 a 20/05 José Paulo e Maria da Glória - Pintura 29/05 a 22/06 Artistas da Bahia

21/09 a 07/10 Acervo – realizada no Centro Cultural Carmélia

Tabela 4 – Exposições na GHM no exercício de 1990

Conforme consta em observação no livro de atas da Comissão Estadual de Artes Plásticas, (folha 6), “Após a última ata registrada em 27 de abril de 1988 da Comissão Estadual de Artes Plásticas, somente a partir de 1995 foram retomadas oficialmente as reuniões da Comissão de Seleção da Galeria Homero Massena[...]”149

. Provavelmente esse hiato se deve às reformas por que passou a Galeria, a partir de 1989.

É certo que a arte capixaba nem sempre esteve antenada com os movimentos dos centros hegemônicos, no entanto, a partir dos anos de 1980, especialmente nos anos 1990, uma nova geração de artistas passou a produzir trabalhos experimentais, e é nesse momento que a GHM ganha maior importância. Configurando-se como um espaço de formação e promotor desses artistas, ao dar visibilidade às suas propostas experimentais, consolida-se como referencial para as

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novas gerações de artistas que buscam e encontram aí reconhecimento para seu trabalho.

Não podemos desconsiderar quais eram as diretrizes culturais nacionais e internacionais que norteavam o encargo dos novos artistas capixabas. Na cena artística internacional, o movimento de retorno à pintura figurativa, anunciada no final da década de setenta, fortalece-se a partir da Bienal de Veneza de 1980 e a partir daí, o crítico italiano Achille Bonito Oliva elabora um novo contexto teórico que sucede o minimalismo e a arte conceitual, inscrevendo o que denomina transvanguarda na história da arte moderna.150 A transvanguarda retoma a sensibilidade, permite detectar o patrimônio histórico, as escolhas do artista, o uso de uma linguagem própria. Na Europa e na América, apesar das diferenças existentes, os artistas desenvolvem estratégias que superam o internacionalismo das vanguardas históricas e neovanguardas, fixando-se nos territórios das culturas nacionais e regionais, firmando uma identidade que “corresponde ao genius loci que habita a sua cultura particular”.151

A produção desse período problematiza a pintura e sua tradição, mas envolve uma pluralidade estilística e filosófica, uma diversidade de temas e repertórios que dificulta a sua configuração em um todo ou sua definição em uma escola ou movimento. Há uma busca em definir o presente na sua relação ao passado, como forma de pensar novas possibilidades de produção, de subjetividade, comunicação e construção de novos significantes. No Brasil, o fim do regime militar em 1984 e a volta da normalidade democrática, põem fim às restrições impostas à produção e à circulação de informação e cultura. É um período de grande otimismo, com o crescimento da indústria cultural e a popularização das artes, especialmente as artes visuais.

No acervo da Galeria Homero Massena, esse movimento de retomada da pintura na década de 1980/90 está representado “por obras de diferentes faturas, materiais e

150 Sobre esse assunto: BOURRIAUD, Nicolas. Art. In: Les annés 80 d’anne bony. Paris: Éditions du Regard, 1995. p. 54. “Bonito Oliva denunciou a lógica avant-gardista da desmaterialização da obra de arte, defendendo contra a „impessoalidade da execução‟ – característica da arte minimalista e conceitual – a „retomada da habilidade manual‟ e do „prazer da execução‟. Ele foi capaz, nem mais nem menos, de trazer de volta para a arte a tradição da pintura...”

BOURRIAUD, Nicolas. Art. In: Les annés 80 d’anne bony. Paris: Éditions du Regard, 1995. p. 54. 151

formulações construtivas”152

, que podem remeter ao construtivismo, ao expressionismo, a paisagens imaginárias, criar sintaxes modulares ou explorar relações entre materiais.

O calendário de exposições da galeria no ano de 1994 terminou com a mostra

Pinturas, de Rosilene Luduvico, que acabara de concluir o curso de Artes Plásticas

na UFES. Essa jovem artista,153 que atualmente reside e trabalha em Düsseldorf, Alemanha, em junho de 2009 realizou a individual lugar sem nome, no Museu Vale, em Vila Velha, Espírito Santo, quando pudemos entrevistá-la. Rosi Luduvico diz que era muito jovem quando expôs pela primeira vez e foi muito importante, naquele momento, ter a oportunidade de fazer sua primeira individual numa galeria como a Homero Massena. Sobre seus parceiros na época, em Vitória, Rosilene cita Leonardo Benjamim, Northon, Lando e José Gomes, artistas da sua geração com quem compartilhava idéias e experiências.154

Figura 102 – LUDUVICO, Rosilene. Sem titulo. Mista sobre tela (óleo e acrílica) – Políptico, 63 x 48 cm (cada) 1994. Fonte:

Acervo GHM

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LOPES, Almerinda. O acervo da Galeria Homero Massena: 1977-2007. In: Galeria Homero Massena: trinta anos. [S. l.:s. n.] 2007. p.

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Rosilene Luduvico (Espírito Santo, 1969) Concluiu o curso de Artes Plásticas na UFES em 1995. De 1997 a 2003, estudou na Academia de Artes de Düsseldorf, Alemanha.

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Figura 103 - BENJAMIM, Leonardo. Sem titulo. Mista sobre Eucatex, 25 x 25 cm, 1993. Fonte: Acervo GHM

Rosilene participou de outra exposição na Homero Massena em 1998, dessa vez, a coletiva Chucrute, com mais cinco artistas alemães, seus colegas na Academia em Düsseldorf: Bjorn, Robert, Sonja, Herbert e Kirsten. Ela diz que a sua pintura, então, já estava mais diluída, exata e gestual e que passou a ter uma preocupação maior com o uso da cor. Nos dois primeiros anos na Academia não usou preto nem branco.

E se entusiasma a falar sobre a pintura:

A pintura acabou de ressurgir. Com a virada de milênio, mudou completamente o cenário da pintura. A partir de 2000, aos poucos, começou a se criar uma grande PINTURA, digamos assim. Não vou dizer um renascimento, mas a pintura, ela foi como uma flor que desabrochou, ou uma árvore, não sei explicar. Foram muitas exposições de pintura, os olhares todos voltados para a pintura. Isso começou por volta da virada do milênio na Alemanha e eu me formei lá na Academia de Düsseldorf, exatamente nesse momento. Em 2003 já participei de uma exposição num excelente museu que se chamava „A nova escola de Pintura de Düsseldorf‟[...]

Voltando à Homero Massena, ao ano de 1995, selecionamos algumas exposições, entre as quais a coletiva Pintura/Objeto ( 17 de abril a 17 de maio), que reuniu Luíza Galvão, Lincoln Guimarães Dias, José Cirillo e Ivanilde Brunow. A reportagem de Rose Frizzera, Afinidades em coletiva, publicada no Caderno Dois de A Gazeta de 17 de abril de 1965, nos dá conta de que a união dos trabalhos ofereceu ao público “[...] uma coletiva limpa, afinada e formal”.155

Rose fala sobre os artistas :

“A exposição marca ainda uma mudança no estilo de arte que Ivanilde vinha desenvolvendo nos últimos anos. As telas que compõem o tríptico misturam vinílica, látex, óleo, cobre, chumbo e cerâmica sobre tela. Permitindo-se utilizar referências pessoais, Ivanilde busca inspiração na obra do artista contemporâneo alemão Anselm Kiefer. „ O título deste trabalho é apropriação de Elementos da obra de Anselm Kiefer para inserção em uma paisagem de Fradinhos‟ diz a artista [...]”156

Sobre Lincoln, Rose Frizzera comenta que ele se mantém fiel ao trabalho que vem desenvolvendo nos últimos quatro anos:

“[...] expõe o quadro 24 da série A tentação do Branco. „Encontrei uma afinidade com o tachismo – estilo gestual surgido no Europa, nos anos 50 – que valoriza o fundo em detrimento da figura”, observa ele. Segundo Lincoln, isso cria uma relação com o orientalismo, na busca pelo vazio.”157

155

FRIZZERA, Rose. Afinidades em coletiva, A Gazeta. Caderno Dois, 17 abr. 1995 156

Ibid. 157

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Em Um jogo um Todo, Luíza Galvão compõe 20 telas de 30 x 40 cm, formando um painel e José Cirillo usa material orgânico para construir formas definidas, onde a grama,

“[...] material mais orgânico e desorganizado dá forma a densos objetos geométricos, sólidos, cortantes e metálicos. „É o novo trabalho que Cirillo está desenvolvendo, fruto de transformações de sua obra nos últimos anos‟, comenta Luíza Galvão”. 158

Esses dados mostram claramente uma mudança na poética de uma geração de artistas que a Galeria Homero Massena acolheu, como único espaço institucional fora dos limites da Universidade, dando-lhes visibilidade e até mesmo validando seus experimentos, ao ampliar seu público e permitir sua exposição a outro universo crítico.

Ainda naquele ano, a Galeria Homero Massena homenageou o aniversário de 444 anos da cidade de Vitória, realizando a exposição Aspectos Arquitetônicos de Vitória (01 a 29 de setembro de 1995), que reuniu 16 artistas de diversas áreas. O tema foi proposto pala Comissão de Seleção e aceito pelos artistas Flávia Carvalhinho (Computação), Hilal e Joyce Brandão (Desenho), Penithência e Cristina Oliveira (Escultura), Paulo Bonino, Elizabeth Nader e Alexandre Krusemark (Fotografia), Natália Branco e Maria das Graças Rangel, (Gravura), Rafael Samú e Freda Jardim (Mosaico), Rômulo Cardoso, Humberto Capai (Projeção de paisagens de Vitória). Fátima Nader e Northon (Pintura).

Freda Jardim se inspirou em foto de Simone Guimarães para “[...] compor em pedras naturais do Espírito Santo um mosaico da Pedra do Ovo, próxima ao Penedo. Quando a maré baixa, a Pedra do Ovo dá a impressão de flutuar sobre as águas da Baía de Vitória.”159

158 Ibid.

Figura 105 –JARDIM, Freda. A Pedra do Ovo. Fonte: A Gazeta. Caderno Dois, 01 set. 1995

Nossolivro foi uma exposição de 11 artistas que ilustraram obras de autores

capixabas (16 de abril a 17 de maio de 1996). Segundo Rose Frizzera, em reportagem de A Gazeta, 160 os artistas plásticos “[...] contribuíram na verdade para a formação de um diversificado e valioso acervo unindo as linguagens plástica e literária.” A exposição constou de cerca de 200 ilustrações, e cada artista produziu entre 20 e 25 trabalhos, que passaram pela curadoria de Maria Helena Lindenberg e José Augusto Loureiro. Conforme explica o coordenador da Galeria, José Augusto Loureiro, os trabalhos foram exibidos ao público em seus suportes originais, em uma exposição “acima de tudo, didática”. 161

160 Rose Frizzera, „Nossolivro’ em exposição, A Gazeta. Caderno Dois, 16 abr. 1996 161 Ibid.

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Figura 106 –GUIMARÃES, Nelma. Sem título. Foto de Chico Guedes. Fonte: A Gazeta. Caderno Dois, 16 abr. 1996

Sobre a obra de Nelma, Rose Frizzera diz:

“As Contas no Canto, de Bernadette Lyra, ganharam ilustrações de Nelma Guimarães, que se manteve na atual fase de unir bordados em tecidos com frases ao longo de seu trabalho. A obra de Nelma é algo a ser decifrado por toda a extensão do suporte. Nelma, assim como Bernadette, é uma contadora de histórias.”162

Elpídio Malaquias163, artista popular de Cariacica, que faz uma arte ingênua, esculpe flautas e escreve poesias, participou de diversas exposições na Galeria Homero Massena. Ao abrigar artistas como Malaquias, Rômulo Cardoso, Luiz Natal e

162 Rose Frizzera, „Nossolivro’ em exposição, A Gazeta. Caderno Dois, 16 abr. 1996. 163

Berenice Viana, por exemplo, a Homero Massena efetivava uma política cultural para as Artes Visuais, já explicitada neste trabalho, de tornar a arte e os espaços culturais, acessíveis ao público, o que inclui, também, proporcionar visibilidade à produção local.

Figura 107 – MALAQUIAS, Elpídio. Meu canção – Isto é um paraíso. Vinílica sobre tela, 62,5 x 69 cm. 1980. Fonte: Acervo GHM

Figura 108 - MALAQUIAS, Elpídio. Arara veio me procurar para nós viajarmos juntos. Esmalte sintético sobre Eucatex, 43 x

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De 11 de abril a 22 de maio de 1997, a Galeria participou do projeto “Terra” do Fotógrafo Sebastião Salgado. Esse projeto incluiu o lançamento do livro do mesmo nome contendo as fotos da exposição, prefácio do escritor português José Saramago e um CD com músicas de Chico Buarque. Foi lançado simultaneamente em 200 espaços de arte no Brasil.

A exposição itinerante Nos Passos de Anchieta comemorativa do IV Centenário de falecimento do Padre jesuíta José de Anchieta, buscou o resgate das suas obras através da arte. Vinte artistas plásticos capixabas com formações e visões de mundo diferentes, apresentaram trabalhos que confrontaram processos, gramáticas e concepções poéticas, a exemplo das imagens a seguir, engendrando um universo plástico diversificado. Participaram da exposição Attílio Colnago, Celso Adolfo, Elpídio Malaquias, Fátima Nader, Freda Jardim, Gilbert Chaudanne, Hilal Sami Hilal, Jean R, Jeveaux, Júlio Tigre, Lando, Lecko Magri, Nelma Guimarães, Nelma Pezzin, Northon, Rômulo Cardozo, Rosana Paste, Rosindo Torres, Tânia Calazans, Yara Paiva.

Figura 110 – LANDO (Orlando da Rosa Faria), Sem título, encáustica sobre madeira, 61 x 61 cm, 1997. Fonte: Acervo GHM

Figura 111- MALAQUIAS, Elpídio. A viagem e o padre Anchieta. Pintura esmalte sobre Eucatex, 64 x 99 cm. Sem data.

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Ao abrigar a exposição e dar suporte para sua itinerância através dos municípios do interior, a Galeria Homero Massena contribuiu para a efetivação da política cultural definida pelo Governo do Estado, tanto para difusão da arte e ampliação do público, como para o resgate da memória e obra de José de Anchieta.

No ano de 2002, comemorou-se o 25º aniversário da Galeria Homero Massena. Segundo depoimento a Carol Rodrigues, a Coordenadora de Artes Visuais da Secretaria de Cultura e Esportes, Tereza Giuberti , decidiu

“[...] olhar para quem começou na galeria e construiu o seu caminho junto a ela, inovando, trazendo novidades, expondo lá fora, dando aulas. Selecionei grade de artistas que nunca tinham feito individuais na galeria, apesar de terem participado de muitas mostras coletivas no espaço”.164

Essa proposta permitiu que artistas como Attilio Colnago, Nortton, Dilma Góes e Didico realizassem mostras individuais no local. Nortton relembra que iniciou a vida artística em coletivas na galeria.165 Dessa forma, expuseram na Homero Massena naquele ano: Didico, Regina Rodrigues, Júlio Tigre, Dilma Góes, Jeveaux, Nortton, Attilio Colnago.

Figura 113 – DANTAS, Nortton. Subuary. Acrílica sobre madeira, 51 x 64 cm. 2002 – Fonte: Acervo GHM

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RODRIGUES, Carol. Sob a bênção do MESTRE. A Gazeta. Caderno Dois. 31 mar. 2002. p.1. 165 Ibid.

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Sobre a Galeria, Carol Rodrigues diz:

A Rua Pedro Palácios, mesmo com a debandada recente dos principais órgãos públicos da região da cidade alta para áreas mais ao Norte da Capital, definitivamente não perdeu por completo o fluxo diário de pessoas por suas calçadas e por seus prédios, num vai-e-vem cotidiano. Mesmo quem passa por ali de forma desatenta não deixa de perceber um cantinho que chama a atenção, há (sic) exatos 25 anos, de quem transita pela rua. Como um alento momentâneo para os dilemas pessoais, quem escolhe entrar na Galeria Homero Massena pode, diariamente, ser convidado a penetrar no universo das mais diversas formas de expressão artística, exposta entre as suas paredes.

Mesmo mantendo suas portas abertas durante um quarto de século, ainda há quem tenha dúvidas sobre a função do local. “As pessoas já tem o costume de passar em frente e entrar. Mas algumas ainda perguntam se podem entrar ou se é preciso pagar alguma coisa”

A respeito do calendário de 2003, Tereza Giuberti afirma que “[...] abrirá as portas da galeria para os novos talentos oriundos do Centro de Artes da UFES.”166

Essa proposta não foi realizada totalmente mas, mesmo havendo mudança na coordenação do espaço, as exposições de 2003 mantiveram sua essência inicial. Ou seja, a participação de artistas iniciantes (Andréa Abreu, Thiago Lessa e Eliza Queiroz, oriundos do Centro de Artes da UFES), uma tendência na ocupação que se mantém e prevalece como característica das exposições da Galeria Homero Massena nesse início de século.

Dentre os projetos selecionados nessa fase, destacamos as instalações Wonderbra de Eliza Queiroz (2003); Loteamento do Aroma, de Maruzza Valdetaro; e a

Intervenção no Edifício das Fundações, do Coletivo Maruípe, (2004). Ainda, Marcus

Nemme, Tempo, (2005), bem como Substrato, de Júlio Tigre (2002), foram trabalhos que inovaram na forma e suportes, proporcionando ao público um questionamento a respeito da arte que se produz no estado.

Sobre o trabalho de Elisa Queiroz, sua principal característica é a discussão em torno de uma não-identificação da artista com os padrões estéticos da cultura de consumo contemporânea. Suas obras são povoadas de imagens de corpos, na maioria das vezes, femininos, cujas adiposidades assumem um subversivo significado de sensualidade. Essa investigação sobre uma “adiposidade sedutora”

166 Ibid.

começou em meados dos anos 90167 e aparece em diversas obras da artista, como na exposição no Centro Cultural Palácio do Café, em Vitória, Objeto Obeso; a instalação Namoradeira, em 1999, que percorreu o Brasil, nos anos seguintes, com a seleção da artista no mapeamento realizado, em 2001, pelo Itaú Cultural, dentro do projeto “Rumos: Artes Visuais”; em Odor de Femina, no Espaço Universitário, (2002), ou Sirva-se, na coletiva “Desiderata”, no Museu Ferroviário Vale do rio Doce, Vila Velha, também em 2002.

Na exposição Wonderbra, na Galeria Homero Massena em 2003, Eliza explora dois fatores predominantes no imaginário popular brasileiro: mulher e futebol. Sua predileção pelas formas amplas aparece no revestimento de todo o teto do espaço expositivo, feito com uma grande rede formada por 74 soutiens interligados, com 148 bolas de futebol ocupando o lugar dos seios. Em uma sala anexa era exibido um vídeo em que um grupo de homens (alguns obesos, outros magérrimos) vestidos com espartilhos e peças íntimas femininas, praticava um inusitado jogo de futebol, entremeado com imagens de animais (aos quais são associados alguns estereótipos femininos: vaca, galinha, gata, cachorra, piranha) e por uma trilha de samba-rock dos anos setenta. A subversão de valores que aparece no trabalho de Elisa Queiroz se dá através de diversos suportes e estratégias: o lúdico, a ironia à própria imagem, a conjugação de guloseimas e luxúria são trabalhados em vídeos, instalações e objetos.

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VIEIRA JR, Erly. Arte para degustar . Texto disponibilizado em 27 abr. 2007. In: OVERMUNDO. Disponível em: http://www.overmundo.com.br/overblog/arte-para-degustar, Acesso em 03 dezembro 2009

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Figura 115 – QUEIRÓZ, Elisa – Wonderbra – instalação. 2003. Fonte: Acervo GHM

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Figura 117 - NEMME, Marcus, Tempo. Instalação, 2005. Fonte: Acervo GHM

Na exposição Tempo, Marcus Nemme dá continuidade a uma pesquisa iniciada em 2001, exibida na Homero Massena durante a exposição A Ferro e Sal, que explora as possibilidades dos materiais: vergalhões e cloreto de sódio. Sobre a obra exposta Andréa Pena diz: “apesar de serem esculturas de mesa ou parede, têm um caráter pictórico, pois à medida que o tempo passa, a oxidação modifica a coloração que vai

do branco ao marrom avermelhado da ferrugem, passando pelo azul e amarelo.”168

E o artista completa:

“O sal é o agente condutor do processo de pintura, onde remonto a (sic) contemplação do ambiente litorâneo em que moro, numa atmosfera salgada corrosiva, a horizontalidade do manguezal se cruza com a verticalidade das estruturas expostas da sua arquitetura desordenada.”169

Utilizando materiais diversificados, como látex de seringueira, mel e açúcar, cera de abelha, estruturas metálicas, luz elétrica, poliéster e ventosas de vidro, Júlio Tigre apresentou a exposição Substrato, em 2002. O artista realiza um comentário sobre a cultura instintiva dos seres vivos, criando uma relação com os módulos e o processo de duplicação a partir de uma célula mãe.170

Ele diz: “Quando estou produzindo penso em tudo, menos naquilo que estou fazendo.”171

Assim, não planeja de que forma irá dispor os módulos na galeria. O espaço é que vai ditar seu limite exatamente na hora da montagem. “Foi assim com Substrato. E o resultado é da melhor qualidade”, comenta Andréa Pena.172

Esse tipo de trabalho, que dialoga diretamente com o espaço, pode enquadrar-se no que é denominado "sítio específico" 173, e, entre as instalações realizadas na Galeria

168

PENA, Andréa. Marcus Nemme expõe na Homero Massena. A Gazeta. p.5, 22 nov. 2001. 169

Ibid. 170

PENA, Andréa. Júlio Tigre na Cidade Alta. A Gazeta. p.5. 26 jun. 2002. 171

Ibid. 172

Ibid. 173

Sítio específico ou site specificity, denomina obras criadas de acordo com o ambiente e com um espaço determinado. Trata-se, em geral, de trabalhos planejados - muitas vezes fruto de convites - para certo local, em que os elementos esculturais dialogam com o meio circundante, para o qual a obra é elaborada. Nesse sentido, a noção liga-se à idéia de arte ambiente, que sinaliza uma tendência da produção contemporânea de se voltar para o espaço - incorporando-o à obra e/ou transformando-o -, seja ele o espaço da galeria, o ambiente natural ou as áreas urbanas. In: ITAÚ

CULTURAL. Disponível em

http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_v