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Expressões do neoliberalismo na região: a reforma do Estado na estratégia

DAS REFORMAS NEOLIBERAIS DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL E NA COLÔMBIA

2 A QUESTÃO REGIONAL LATINO-AMERICANA AMAZÔNICA SOB O NEOLIBERALISMO

2.3 Expressões do neoliberalismo na região: a reforma do Estado na estratégia

de transnacionalização e controle do capital no Brasil e na Colômbia

A América Latina apresenta atualmente um processo repleto também de especificidades políticas. Em alguns países como Argentina, Bolívia, Brasil, Equador e Venezuela, que possuem conjunturas diferenciadas, está presente, no entanto, um elemento comum a eles: o discurso da superação do neoliberalismo. Porém, em parte desses países (como Brasil e Argentina, por exemplo), a intenção de superação do projeto neoliberal é apresentada via uma estratégia desenvolvimentista. Ou seja, crescimento econômico feito sob expansão da grande propriedade, em cima de commodities, das riquezas do subsolo, do minério, da soja etc.

Os países da região têm optado por reduzir a pobreza e a desigualdade via programas de assistência social. Mota (2008, p. 41) afirma que tem havido uma alteração na definição da questão social, bem como na sua forma de enfrentamento, à medida que transforma os desempregados e os subempregados em clientela da assistência social em detrimento ao direito ao trabalho. Há, assim, um “[...] deslizamento da raiz do fenômeno e da noção de questão social para as genéricas denominações de ‘exclusão’, pobreza, combate à fome.”

Dados da CEPAL29 apontam que se espalham pela América Latina mais de 40 diferentes tipos de experiências de programas de transferência de renda30 (COMISIÓN ECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA, 2013). Esses programas são desenvolvidos sob uma retórica de que superamos o neoliberalismo, sem,

29 A CEPAL foi criada em 1948 pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas com o objetivo

de incentivar a cooperação econômica entre os seus membros. Ela é uma das cinco comissões econômicas da Organização das Nações Unidas (ONU) e possui 44 estados e oito territórios não independentes como membros. Além dos países da América Latina e Caribe, fazem parte da CEPAL Alemanha, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Países Baixos, Portugal, Reino Unidos da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte.

30 A CEPAL registra a criação de 47 programas de transferência de renda na região no período de

1990 a 2012. São eles: (1) Asignación Universal por Hijo para Protección Social (2009-) - Argentina; (2) Familias por la Inclusión Social (2005-) - Argentina; (3) Jefas y Jefes de Hogar Desocupados (2002-2005) - Argentina; (4) Programa de Ciudadanía Porteña (2005-) - Argentina; (5) Building Opportunities for Our Social Transformation (2011-)- Belice; (6) Bono Juancito Pinto (2006-) - Bolívia; (7) Bono Madre Niña-Niño Juana Azurduy (2009) - Bolívia; (8) Bolsa Alimentação (2001-2003) - Brasil; (9) Bolsa Escola (2001-2003) - Brasil; (10) Bolsa Família (2003-) - Brasil; (11) Cartão Alimentação (2003) - Brasil; (12) Programa Bolsa Verde (2011-) - Brasil; (13) Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) (1997-) - Brasil; (14) Chile Solidário (2002-) - Chile; (15) Ingreso Ético Familiar (2012-) - Chile; (16) Familias en Acción (2001-) - Colômbia; (17) Ingreso para la Prosperidad Social (2011-) - Colombia; (18) Red Juntos (Red para la superación de la pobreza extrema) (2007-) - Colômbia; (19) Subsídios Condicionados a la Asistencia Escolar (2005- ) - Colômbia; (20) Avancemos (2006-) - Costa Rica; (21) Superémonos (2000-2002) - Costa Rica; (22) Bono de Desarrollo Humano (2003-) - Ecuador; (23) Bono Solidario (1998-2003) - Ecuador; (24) Desnutrición Cero (2011-) - Ecuador; (25) Comunidades solidarias (ex Red Solidaria) (2005-) - El Salvador; (26) Mi Bono Seguro (2012-) - Guatemala; (27) Mi Familia Progresa (2008-) - Guatemala; (28) Protección y Desarrollo de la Niñez y Adolescencia Trabajadora (2007-2008) - Guatemala; (29) Ti Manman Cheri (2012-) - Haití; (30) Bono 10.000 Educación, Salud y Nutrición (2010-) - Honduras; (31) Programa de Asignación Familiar (PRAF) (1990-) - Honduras; (32) PRAF/BID Fase II (1998-2005) - Honduras; (33) PRAF/BID Fase III (2006-2009) - Honduras; (34) Programme of Advancement trough Health and Education (PATH) (2001-) - Jamaica; (35) Oportunidades (Programa de Desarrollo Humano, ex Progresa) (1997-) - México; (36) Red de Protección Social (2000-2006) - Nicarágua; (37) Sistema de Atención a Crisis (2005-2006) - Nicarágua; (38) Bonos Familiares para la Compra de Alimentos (2005-) - Panamá; (39) Red de Oportunidades (2006-) - Panamá; (40) Abrazo (2005-) - Paraguay; (41) Tekoporã (2005-) - Paraguay; (42) Juntos (Programa Nacional de Apoyo Directo a los más Pobres) (2005-) - Peru; (43) Programa Solidaridad (2005-) - República Dominicana; (44) Targeted Conditional Cash Transfer Program (TCCTP) (2005-) - Trinidad y Tabago; (45) Plan de Atención Nacional a la Emergencia Social (PANES) (2005-2007) - Uruguay; (46) Asignaciones Familiares (2008-) - Uruguay; (47) Tarjeta Alimentaria (2006-) - Uruguai. Os dados e informações sobre esses programas podem ser acessados na página da CEPAL. Disponível em:<http://dds.cepal.org/bdptc/>. Acesso em: 2 fev. 2013.

entretanto, nenhuma reforma estrutural de fundo que tenha alterado as condições postas. Ao contrário, perpetua-se o receituário neoliberal para as políticas sociais na região.

Na América Latina, a efetivação do projeto neoliberal como parte das estratégias de enfrentamento da crise estrutural do capitalismo em todo o planeta, desde a década de 1970, se desdobra em significativas alterações no campo social, político e econômico, sob incisiva reforma do Estado trazida por estratégias como: 1) a reconfiguração do Estado, reduzindo suas funções por meio da privatização, terceirização, publicização e descentralização; 2) a redefinição do papel regulador do Estado através da desregulamentação; 3) o aumento da governança, ou seja, a recuperação da capacidade financeira e administrativa de implementar decisões políticas tomadas pelo governo através do ajuste fiscal; 4) a ampliação da governabilidade ou capacidade política do governo de intermediar interesses, garantir legitimidade e governar; 5) a reorientação de gastos públicos para saúde e educação básicas.

A delimitação do Estado é claramente expressa pelas ideias de privatização, publicização e terceirização que, conforme Bresser-Pereira e Grau (1999), são essenciais para que o Estado torne-se mais barato, mais eficiente na realização de suas tarefas, para aliviar o seu custo sobre as empresas nacionais que concorrem internacionalmente.

A crise capitalista dos anos 1970, consubstanciada num amplo processo de reestruturação do capital, impôs às classes dominantes a construção de um novo arcabouço político, social, espacial que implicou instauração de novas formas de exploração, produção, dominação e organização do trabalho.

Esse processo de reforma significou uma luta deflagrada pela elite econômica dos países centrais, na busca de ampliar suas ações no mercado mundial, desregulamentando a legislação trabalhista, destruindo a estrutura sindical e pressionando os países periféricos a abrirem seus mercados, conforme salienta Costa (2000). Nesse sentido, é importante destacar que a reforma do Estado

[...] já nasceu num contexto de contra-reformas liberais que, em sintonia com o que estava ocorrendo desde 1980 na Inglaterra e nos Estados Unidos, pregava exatamente o contrário: um Estado menor na área social e a ampliação do espaço do mercado e da iniciativa privada na sociedade (COSTA, 2000, p. 63).

Em toda a América Latina, durante os anos de 1970 a 1990, ocorreu o processo de reforma do Estado realizada por governos neoliberais que satanizou o Estado, levando-o a seu desmonte. Esse processo foi promovido e financiado pelas chamadas instituições econômicas multilaterais que levaram ao aumento do pauperismo, das desigualdades e um preocupante retrocesso das lutas populares pela democratização vivenciadas em muitos países durante os anos de 1980.

Atílio Boron (2004), em seu texto Las reformas del Estado en América Latina: sus negativas consecuencias sobre la inclusión social y la participación democrática, utiliza-se da classificação adotada por Sebastian Edwards, ex- economista-chefe do BM, em que os países da América Latina estão divididos em quatro categorias no que diz respeito à implementação das reformas neoliberais: