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2 HISTÓRIA DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM

2.2 A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA VISÃO DAS

A universidade brasileira em relação ao ensino superior de outros países, como os europeus, pode ser considerada recente. O ensino superior sofreu influência do processo de colonização, da relação colonizador e colonizado, da metrópole com a colônia. Somos fruto não só de uma herança cultural como também econômica e social, sobretudo nessa direção, Fávero (1980, p.31) nos esclarece: “[...] mantinha-se o privilégio de fazer um curso superior, pela simples razão de persistir o privilégio de riqueza e de classe”.

As razões que levavam os estudantes ao ingresso na universidade advêm de manutenção dos privilégios da classe dominante,10 que então tinha acesso à universidade para defender os seus próprios interesses. A referida autora aponta que

[...] havia convergência na maneira de conceber essas instituições de ensino, tanto por parte das classes dominantes, quanto dos setores intermediários: de modo geral, poucos eram os que orientavam seus cursos para os problemas de nossa realidade (FÁVERO, 1980, p. 31).

Implantada desde a sua origem sem direcionamento para os problemas da realidade nacional, a universidade já apresentava em sua gênese uma negação do seu próprio espaço sociopolítico para inovar as relações sociais. Segundo Cunha, os primeiros estabelecimentos com o nome de universidade surgiram no Brasil em 1920; no Rio de Janeiro, e no ano de 1927, em Minas Gerais. Organizaram-se como serviço público para a formação em Medicina, Engenharia e Direito, preparando profissionais liberais para servirem à sociedade da época, essencialmente agrária e dependente. As influências decorridas do aparecimento da

10 É a classe que exerce o poder material dominante na sociedade capitalista. A classe que tem a sua disposição os meios para a produção material. As idéias dominantes não são senão a expressão ideal das relações materiais dominantes. As idéias da classe dominante são as idéias dominantes em cada época. (SANTOS, 1987, p. 72). Por classes sociais, entender-se-ão os agregados básicos de indivíduos numa sociedade, os quais se opõem entre si pelo papel que desempenham no processo produtivo, do ponto de vista das relações que estabelecem entre si na organização do trabalho e quanto à propriedade. Podemos, pois decompor os elementos do conceito de classe em seu nível geral e abstrato em: agregados de indivíduos; básicos na sociedade; opostos entre si. No processo produtivo: às relações de trabalho; à propriedade. (SANTOS, 1987, p. 41).

universidade não são visíveis para a extensão, mesmo para as IES, que vão se consolidando com o processo de implantação e crescimento do ensino superior.

Não havia, naquele momento, uma prática de extensão. A participação das IES nas questões extensionistas demarca períodos quando a presença dessas instituições pode ser clara ou não. Assim, definimos o primeiro período, como o do surgimento do ensino superior, com presença praticamente inexistente. A presença da extensão, quando havia, podia ser observada através de cursos de artes abertos à população, ao mesmo tempo em que se buscavam as vocações eclesiásticas. De acordo com Cunha (1989 b, p.28), “[...] o ensino religioso voltado para os seus objetivos clericais tratava-se também da cultura geral da época”. Observa-se que estávamos sob a égide da educação jesuítica e muitos jovens buscavam a carreira eclesiástica para terem acesso ao ensino.

A extensão, nessa fase, contava com algumas atividades já sendo realizadas nas Faculdades de Direito de Olinda e São Paulo, em 1827, quando os bacharéis fomentavam as idéias sociais, no sentido de questionar o governo monárquico, que, segundo Sousa (2000, p.15), foi a “[...] expressão mais acabada de ação extensionista é que surgiram dessas faculdades os maiores embates sobre as principais situações políticas e sociais da época.” Ainda não podemos falar em institucionalização, pois as IES não haviam concebido um conceito, uma concepção de extensão, uma vez que essa iniciativa partia da sociedade, através dos bacharéis, debatendo os seus interesses sociais e políticos.

No segundo período, dos primeiros passos da história da extensão até o Golpe de 1964, as IES se ausentaram, realizando uma extensão vinculada ao Estado. Nesse momento, vão buscar os modelos americano e europeu com a implantação, pela Universidade popular, de uma extensão voltada para a promoção de cursos gratuitos e conferências para a população. A Escola Superior de Agricultura de Viçosa-MG e as IES se pronunciam, definindo o conceito de extensão como prestação de serviços à sociedade também no setor rural, seguindo assim o modelo americano.

Com a implantação da Lei nº 5.540/68, que tratou da Reforma Universitária, não houve mudanças com relação à extensão, no tocante à sua atuação, concepção, conceito, ao que já vinha acontecendo. A partir da Lei, houve uma legalidade na sistematização das atividades extensionistas, tornando-as obrigatórias. Não há registro de que as IES tenham se empenhado nas questões da extensão até os anos 70. Encontramos, sim, registro de que as IES concebiam a extensão conforme os modelos importados, seguindo as normas estatais.

O terceiro período, do Golpe Militar até a abertura política, as IES definem-se por uma política de extensão atrelada ao Estado, atuando, explicitamente, nos programas e projetos,

como Rondon e CRUTAC, já analisados anteriormente. Sousa (2000, p. 90) analisa que as IES “[...] estarão sempre de acordo com as predeterminações da nova ordem política que procurava se instalar no país”. Essa prática perdurou aproximadamente até a década de 1980. Um dos fatos que marcaram essa época foi a criação do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, em Salvador, com a participação de 18 reitores, sendo que as IES se manifestaram a partir das suas gestões macro com o propósito de realizar reformas na universidade.

O quarto período data dos anos 80 até os dias atuais, em que as instituições iniciam um processo diferenciado de conceber a extensão, desatrelando-se do poder estatal e seguindo suas práticas e interesses. O ponto fundamental para a consolidação da extensão nas IES foi a criação do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas. O surgimento do Fórum se deu em meio a algumas modificações que aconteceram na década de 1980, com novos posicionamentos do movimento dos professores com relação à universidade e também à sociedade. Assim, o I Encontro Nacional do Fórum de Pró-Reitores de Extensão

das Universidades Públicas Brasileiras aconteceu em Brasília, em 1987, que se tornou o

porta-voz das IES junto ao MEC, para as novas diretrizes da extensão. As questões básicas discutidas e que têm se discutido dizem respeito à conceituação, institucionalização e ao financiamento da extensão. Quanto ao conceito, sempre houve muitos equívocos e posições diferentes e até uma falta de clareza conceitual, o que, muitas vezes, não norteava as práticas de extensão e, em muitas atividades, como nos afirma Sousa (2000, p.99) “[...] se colocavam como extensionistas e, às vezes, estavam completamente desvinculadas da vida acadêmica”. O Fórum veio, em primeira mão, construir uma nova proposta, redimensionando a extensão enquanto atividade acadêmica indissociável do ensino e da pesquisa, definindo extensão como,

[...] processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a universidade e a sociedade [...]. Além de instrumentalizadora deste processo dialético de teoria/prática a extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social. (FÓRUM NACIONAL DE PRÓ- REITORES DE EXTENSÃO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS, 1990a, p.14).

Neste sentido, Sousa (2000, p.102) comenta sobre essa proposição: “[...] dizer que a extensão é um processo educativo não estaria contribuindo para clarear sua concepção, pois o ensino e a pesquisa podem também reclamar esse papel” [...] e ainda salienta a autora: “[...] embora

não explicite a defesa de um espaço próprio para a existência da extensão universitária”, insinua Sousa (2000, p.102), que a extensão deverá ser a própria expressão da função social da Universidade. A idéia trabalhada nesse evento traduz o processo que deveria centrar-se no agir necessário para que as ações acontecessem, senão as idéias não se corporificariam, não se movimentariam.

Registra-se que já ocorreram vários encontros de Pró-Reitores das Universidades Públicas Brasileiras com temas indicados pelos próprios participantes. No Encontro ocorrido em 1994, em Vitória, voltou-se à discussão da prestação de serviços, como analisa Sousa (2000, p.105) “[...] desta vez a prestação de serviço foi aceita, além de ser inserida no contexto pedagógico, também como venda de serviços da Universidade para a sociedade”. A venda de serviços precisa ser esclarecida e melhor definida no contexto da extensão, porque essa prática pode se transformar gradativamente num mecanismo de apenas capitanear recursos, uma vez que as fontes de financiamento para extensão estão cada vez mais escassas, e as dificuldades têm sido muitas para realizar os projetos de extensão nas IES.

Quanto à proposta de extensão construída pelo Fórum de Pró-Reitores, têm-se levantado muitos debates na academia, e alguns autores se posicionam fazendo alguns destaques: “[...] a extensão é processo que articula pesquisa e ensino de forma indissociável, não é porque alguém faz extensão que vai haver articulação entre pesquisa e extensão” (BOTOMÉ, 1996, p.95). Para esse autor, o conceito deveria ser mais aprofundado e esclarecedor no sentido do que fazer na extensão na universidade. Um outro aspecto analisado por ele é que “a extensão é uma via de mão dupla, com trânsito assegurado [...]” Esse autor defende a idéia de que o “ensino superior precisa ser, ele mesmo, um trabalho de utilização, teste e avaliação do conhecimento disponível nas circunstâncias de intervenção sobre os problemas sociais” (BOTOMÉ, 1996, p.86). A proposição de extensão, defendida pelos pró- reitores não esclarece como ocorrem esse processos de interação da universidade com a sociedade, não menciona as estruturas sociais e políticas que por si só são construídas, historicamente pelos homens. É como se a extensão estivesse à parte, à margem do processo social ou se constituísse em um conjunto de ações da própria universidade.

Tem-se reafirmado, durante os encontros nos Fóruns, o papel instrumentalizador e articulador da extensão em diferentes funções acadêmicas, principalmente no tocante à falta de transposição da ação para a prática nas universidades.

2.3 A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA VISÃO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL