• Nenhum resultado encontrado

Após a extinção da primeira edição do PR e, no contexto da redemocratização do Brasil, multiplicaram-se as experiências extensionistas. A origem da extensão, entretanto, está na iniciativa das universidades européias, no século XIX. Nesta época houve a necessidade de criar uma relação mais ampla da universidade com a população e formar novas visões e interlocutores, reiniciando discussões sobre uma nova função social, para além do ensino e da pesquisa, a extensão universitária. A partir de então, a história mostra que a extensão esteve ligada às necessidades sociais das populações e foi influenciada por políticas públicas para atendimento das populações excluídas dos programas estatais (SOUZA, 2005).

No Brasil, como visto no capítulo anterior, a institucionalização da extensão seguiu o formato internacional, advindo da crítica à universidade, com grande contribuição do movimento estudantil. Com o fortalecimento da democracia, no final dos anos 1980, abriu- se o espaço para discussões pela sociedade. As Instituições de Ensino Superior (IES) buscaram efetividade no processo de institucionalização, bem como uma reformulação do conceito de extensão.

As discussões inseriam-se no contexto maior da democratização das universidades brasileiras. Reis(1992, p. 68 apud RODRIGUES, 2003, p. 136) afirma que foi a partir de 1985, “com um novo quadro de forças emergentes” no país (eleição de dirigentes universitários pelo voto direto, com candidatos em tese voltados aos anseios da população), que se iniciou um novo entendimento da extensão, como articulação entre ensino e pesquisa.

Em 1985 ocorreu a legalização do princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão (Portaria do MEC nº 742 de 20 de setembro de 1985), buscando ultrapassar a visão tradicional de prestação de serviços e de difusão cultural. Um órgão representativo da extensão no MEC só foi criado em 1993, pela Portaria nº 66- SESu/MEC, instituindo a Comissão de Extensão Universitária, e da Portaria nº 134- SESu/MEC, que formalizou o Comitê Assessor de Extensão.

Entretanto, não há, ainda, uma uniformidade em relação ao lugar que a extensão ocupa no interior das universidades. Ela é marcada por diferentes concepções e práticas, por dicotomias, contradições e conflitos, suscitando grandes polêmicas sobre a questão de definir/redefinir a concepção e as prioridades da extensão universitária no Brasil. Há

dificuldades na conciliação de interesses que se prestam a alterar as relações de poder presentes no interior das IES e nas relações de poder da própria sociedade (RODRIGUES, 2003). Rodrigues (2003) afirma que são três as questões básicas da extensão: conceituação, institucionalização e financiamento. Representam questões polêmicas que, segundo ela, serão sempre abordadas, por exigirem respostas dinâmicas.

O entendimento que se têm hoje da extensão advém, sobretudo, do Fórum de Pró- Reitores de Extensão das Universidades públicas brasileiras (FORPROEX), entidade voltada para a articulação e definição de políticas acadêmicas de extensão. Passou-se a reconhecer a extensão como uma das partes do tripé da universidade e, ao mesmo tempo, como via de mão dupla, capaz de fazer a ligação entre universidade e sociedade. Ainda, segundo o Fórum, seria um instrumento articulador do ensino e pesquisa e, ainda, um trabalho interdisciplinar. Porém, ainda está ausente a explicitação do seu espaço próprio, de como um instrumento articulador poderia estar ocupando espaços (RODRIGUES, 2003).

Não basta, portanto, definir a extensão como processo educativo. Rodrigues (2003) esclarece que o ensino e a pesquisa também são capazes de se estruturarem, de reclamar esse papel, sem a complementação da extensão. Assim, pode ser atribuído um mesmo papel para diferentes funções, ou seja, pode-se gerar confusões conceituais e funcionais. O que parece estar implícito, para ela, é que a idéia de instrumento articulador está sendo posta como alternativa de desentendimento da proposta de extensão.

A mesma autora finaliza argumentando que, após um grande período de discussões e de tentativas de efetivação de uma política para a extensão, a sua inexistência é evidente. As diretrizes políticas trabalhadas desde a criação do Fórum, em 1987, foram deturpadas, tendo em vista as ações assistencialistas previstas no PR Universidade Solidária, o que Rodrigues (2003) também ratifica que se tratou de uma recuperação do antigo PR, embora de maneira não fidedigna.

Uma referência para a sistematização das experiências é feita pelo FORPROEX, por meio de sua Comissão Permanente de Avaliação da Extensão Universitária. Esta definiu linhas de extensão, atendendo a uma ou mais áreas temáticas, reunindo as formas de operacionalização que são mais freqüentes. Dessa forma, têm-se como atividades de extensão, por exemplo (FORPROEX, 2007):

- desenvolvimento regional: elaboração de diagnóstico e de propostas de planejamento regional (urbano e rural) envolvendo práticas destinadas à elaboração de planos diretores, a soluções, tratamento de problemas e melhoria da qualidade de vida da população local, tendo em vista sua capacidade produtiva e o seu potencial de incorporação na implementação das ações; participação em fóruns Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável (DLIS); participação e assessoria a conselhos regionais, estaduais e locais de desenvolvimento e a fóruns de municípios e associações afins; elaboração de matrizes e estudos sobre desenvolvimento regional integrado, tendo como base recursos locais renováveis e práticas sustentáveis; permacultura; definição de indicadores e métodos de avaliação de desenvolvimento, crescimento e sustentabilidade.

- gestão pública: sistemas regionais e locais de políticas públicas; análise do impacto dos fatores sociais, econômicos e demográficos nas políticas públicas (movimentos populacionais, geográficos e econômicos, setores produtivos); formação, capacitação e qualificação de pessoas que atuam nos sistemas públicos (atuais ou potenciais).

- questão ambiental: implementação e avaliação de processos de educação ambiental, de redução da poluição do ar, águas e solo; discussão da Agenda 21; discussão de impactos ambientais de empreendimentos e de planos básicos ambientais; preservação de recursos naturais e planejamento ambiental; questões florestais; meio ambiente e qualidade de vida; cidadania e meio ambiente.

O documento citado lista 53 linhas de extensão, dentro as quais estão ainda os grupamentos resíduos sólidos, recursos hídricos, desenvolvimento rural e questão agrária.

Um projeto de extensão, portanto, constitui uma experiência importante para os universitários, mas ainda não estão bem definidos o seu papel na universidade e a sua articulação no processo de aprendizagem.

O PR, dessa forma, assimila as indefinições da validação da experiência extensionista, ficando a critério de cada universidade destacar uma maior ou menor atenção. Ressalta-se, entretanto, que os 22 anos de prática da primeira edição do PR foram fundamentais no fomento da extensão no país, que logo foi equiparada ao ensino e pesquisa, mesmo distante ainda na prática, conforme explorado nesta seção. O PR proporcionou experimentações diversas por um grande contingente de pessoas. Essa

experiência, dessa forma, é levada adiante nos trabalhos que elas passam a desenvolver ao longo de suas vidas, influenciando nas diversas outras atividades extensionistas, que se multiplicaram com o passar do tempo.

4 PESQUISA DE CAMPO

Este capítulo tratará do estudo de caso cujo enfoque foi a participação da Universidade de Brasília (UnB) na reedição do PR, o que inclui professores da UnB que atuaram em sua primeira edição.

Documentos relacionados