• Nenhum resultado encontrado

2.2 Meio Ambiente e Teoria Econômica

2.2.2 Externalidades e Falhas de Mercado

Os problemas ambientais são vistos na escola neoclássica, como falhas de mercado, que nada mais é do que a falta de precificação do mercado, não existência de substitutos para muitos dos serviços ambientais, tampouco estes são reprodutíveis artificialmente. Assim, o meio ambiente entra na análise como restrições ad hoc, numa incapacidade de aliar estas questões sob o arcabouço teórico utilizado.

A solução encontrada dentro deste arcabouço teórico para dar conta do problema se deu a partir da internalização das externalidades, ou seja, que os custos ou os benefícios privados repassados para a sociedade sejam apropriados privadamente. Segundo Kappel, a economia neoclássica “por meio do conceito de internalização dos custos, fez um importante progresso. A teoria do crescimento (consciente em termos ecológicos) está em posição de integrar o fator natureza e, ainda assim, defender um modelo de crescimento (...)” (KAPPEL, 1994, p. 72).

Temos visto a criação de mercados de serviços ecossistêmicos onde o pioneiro e mais bem sucedido até agora é o mercado de carbono. É necessário que, para o bom funcionamento destes mercados, haja instituições responsáveis por facilitar e promover tanto os mercados já existentes como criar novos mecanismos de internalização de custos e benefícios externalizados.

A economia neoclássica valora estas externalidades a partir do mesmo aporte utilitarista e individualista, construindo os preços a partir de disposição a pagar e disposição a ser compensado. O procedimento utilizado é o de estimar a diferença entre os custos privados marginais e os custos externos marginais encontrando o valor ótimo do imposto a ser cobrado e a quantidade socialmente ótima de poluição a ser alcançada. Para chegar a esta diferença, os economistas se utilizam de pesquisas que buscam captar as disposições a pagar e a serem compensados, com problemas como o de perigo moral para determinar os custos externos. A origem da precificação dos impostos e mercados pode ser encontrada em (HARRIBEY, 2001, nota de rodapé no 8):

A ecotaxa vem de uma ideia de A. Pigou (1958) que data de 1920 e as licenças para poluir negociáveis foram teorizadas por R. Coase (1960) que afirma que a internalização dos efeitos externos pode ser obtida sem intervenção do Estado que não seja o simples estabelecimento de direitos de propriedade e unicamente pela negociação mercantil entre os poluídos e os poluidores, qualquer que seja arepartição inicial dos direitos entre eles. Com a dificuldade de estimar os custos externos, adotam-se padrões onde a quantidade socialmente ótima de emissão de gás carbônico, por exemplo, seria determinada pela Autoridade Ambiental com aval do Estado, chegando a uma taxa ótima de imposto (AMAZONAS, 2002).

A valoração aqui é feita através da percepção subjetiva e contingente dos agentes sobre os bens e serviços naturais. Porém, como vimos acima, apesar de teoricamente as preferências individuais orientarem as medidas tomadas para a determinação de medidas e regulamentações na política ambiental, na prática, são as instituições que determinam, através de seus critérios, as taxações e níveis a serem perseguidos.

In the process of directly or indirectly valuing an environmental impact, individuals depend on their senses through which they perceive these impacts and then analyze them with supposedly rational thinking. Human senses are able to perceive consequences within certain time horizons and

spatial boundaries. Human rational thinking attributes values to these consequences. Whenever these values are monetary they are defined according to an economic rationale that takes into account income constraints and the range of preferences. In this context, individual’s valuations are inevitably defined within the limits of their time and spatial ranges (BITHAS, 2011, p. 1704).

Os valores econômicos são determinados a partir do utilitarismo e do individualismo metodológico, a partir das preferências individuais. A agregação dos indivíduos se dá pelas curvas de oferta e demanda por recursos naturais ou serviços ambientais que vão dar os preços de equilíbrio dos bens e serviços. Para que as preferências individuais possam servir de base para a construção da teoria neoclássica, elas têm que ser pressupostas autônomas (exógenas).

Uma crítica forte que se faz a este tipo de metodologia é a que defende que as preferências individuais são endógenas, formadas dentro de um contexto (spatial range) cultural, econômico, político, ou seja, muitas vezes as pessoas não têm suas valorações formadas e as farão dependendo da natureza do processo (HANEMANN, 1994).

Ou seja, mesmo que o problema seja público e intergeracional, tendo preferências endógenas e informação imperfeita, lidando com um sistema altamente inter-relacionado e complexo, os valores dos serviços ambientais e da natureza são precificados a partir das preferências de indivíduos que não fazem ideia do real valor existente em cada bem ou serviço. Sobre este método de valoração, (Amazonas, 2002, p.132) acredita que este se trata

de uma opção teórico metodológica que permite colocar as ações e preferências dos indivíduos como determinantes de todo o funcionamento econômico, retirando a importância de que as preferências dos indivíduos são formadas em decorrência do ambiente histórico, sociocultural, político institucional, econômico e tecnológico que os cerca.

Desta forma, podemos perceber que a economia neoclássica trata o meio ambiente, no que se refere à utilização dos recursos naturais, como um problema de otimização, maximizando a utilidade intertemporal baseada numa taxa de desconto que somente leva em consideração as preferências da geração atual. Há autores que defendem que a taxa de desconto seja zero, ou seja, nenhuma preferência para a geração atual (VEIGA, 2010). Sobre a utilização de desconto, Martinez-Alier (1991, p. 13) questiona:

?Que razón puede haver para el “descuento”? La ciência econômica no tiene ninguna resposta convincente; se encuentra sin argumentos, en su proprio

terreno, ante la crítica ecológica que puede resumirse en una palabra: la incomensuralidad de los elementos que componem la economia.

Não sendo um bem ou renda privada que deva ser consumida ao longo do tempo, onde seria aceitável utilizar a hipótese de que quanto antes melhor, os recursos naturais deveriam ter um tratamento diferente do convencionado pela economia neoclássica, de forma que as gerações futuras tenham tanto direito quanto a atual.

Mesmo que a teoria neoclássica não comporte de maneira satisfatória as questões da natureza em seu arcabouço teórico, não podemos negar que a criação de mercados e as tentativas feitas para se limitar a poluição e de se precificar os serviços ambientais a serem prestados geram benefício para a sociedade, o que acaba por dar alguma legitimidade para a economia ambiental neoclássica.