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Externalidades negativas das empresas 127

No documento MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS (páginas 127-130)

Capítulo 3 As premiações 67 

3.4 Os projetos empresariais e a Norma ISO 26000 127 

3.4.1 Externalidades negativas das empresas 127

Para se conhecer a seriedade e a concretude da proposta de responsabilidade social de uma empresa é necessário saber se ela realmente se preocupou em estudar o seu negócio e em conhecer as externalidades e os impactos negativos que gera. Não se espera que as empresas “inventem a roda” quando praticam responsabilidade social corporativa, apenas que conheçam amplamente o seu negócio e se preocupem em reduzir os prejuízos que a tomada de decisão e o modelo de produção escolhido possam acarretar à sociedade e ao meio ambiente.

Essa questão, de que a responsabilidade social está afeita e tem relação com as atividades das empresas, e que as empresas devem procurar reduzir os impactos negativos e maximizar os positivos, faz parte da maioria dos projetos encaminhados para concorrer ao Prêmio de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo. Há relação entre a atividade das empresas, suas externalidades negativas e os projetos apresentados, principalmente quando as propostas estão voltadas para questões ambientais. Nos demais projetos, a relação mais evidente é a busca

128 de maximizar os impactos positivos da empresa ou utilizar recursos dela advindos para intervir socialmente em algum aspecto considerado relevante. No entanto, as ações e projetos implantados pelas empresas, voltados a grupos sociais vulneráveis ou à população do entorno, são sempre encarados como um benefício, um favorecimento à população ou a qualquer público- alvo, feito por benemerência. O discurso, na maioria das vezes, é o seguinte: a empresa escolhe um problema social, não diretamente gerado por ela e procura dar-lhe alguma solução. O que é consensual, no entanto, para a responsabilidade social, de acordo com a ISO 26000, é que as instituições precisam se preocupar com o que fazem e fazê-lo bem, de forma ética e responsável, sem gerar passivos à sociedade e ao meio ambiente, não se tratando de favor ou benemerência, mas de sua responsabilidade enquanto agente econômico.

No Prêmio Ozires Silva, boa parte das empresas analisadas afirmou que se preocupa com o impacto negativo que as suas ações causam à sociedade e ao meio ambiente e, recorrentemente, a mitigação de riscos ambientais foi apontada como principal objetivo dos investimentos. Alguns projetos não estão voltados para os impactos ambientais e sociais negativos da empresa diretamente, mas buscam atender às demandas sociais e ambientais, disponibilizando produtos e serviços que possam atingir o nicho de mercado que se abre a partir dessas demandas. O objetivo nesses casos é aproveitar as demandas sociais e ambientais para oferecer produtos e serviços e viabilizar os negócios. O que se afasta da proposta da ISO 26000, uma vez que a responsabilidade social proposta por essa norma não deve servir meramente como uma forma de impulsionar os negócios e as vendas, mas deve ter o objetivo principal de contornar impactos negativos que a atividade econômica traga à sociedade. Existem ainda projetos que não estão voltados diretamente à mitigação dos riscos e danos causados pela empresa, nem à venda de produtos e serviços. São implantados pelas empresas como uma forma de utilizar a sua dimensão, poder e facilidade de acesso a recursos para tornar viáveis os benefícios sociais e ambientais. Seria, parafraseando Giddens, uma forma de fazer uso do poder e recursos institucionais como um meio de conseguir que as coisas sejam feitas.

A maioria dos projetos encaminhados para concorrer ao Prêmio Eco desenvolve as suas ações de responsabilidade social fundamentadas em demandas sociais ou no reconhecimento dos impactos negativos que a empresa causa, procurando agir para contorná-los. Há muita preocupação quanto ao questionamento de grupos sociais específicos ou da sociedade com relação às práticas inadequadas das empresas. Há também considerações sobre o papel social e a

129 responsabilidade da empresa em proporcionar benefícios sociais com base em seus projetos e em uma atuação ética. Muitas empresas afirmam o interesse em criar vínculos de qualidade entre a empresa, empregados, clientes e fornecedores, buscar ideias inovadoras em gestão, produtos e serviços, que respondam aos desafios e às demandas dos envolvidos, em busca de melhores resultados e o aprimoramento dos processos de gestão. Os principais aspectos avaliados para o desenvolvimento dos projetos foram: proteção ambiental, descarte de resíduos, reclamações e atendimento das expectativas dos clientes, qualidade do serviço prestado, diminuição dos impactos das operações sobre o meio ambiente, inclusão social, redução dos índices de acidentes de trabalho, melhoria contínua de seus processos e produtos, prevenção de danos à saúde, melhoria da qualidade de vida, justiça social, uso racional dos recursos naturais, como água e energia, assim como a redução da geração de resíduos sólidos.

Há muitas referências no Prêmio Eco à busca de equilíbrio entre o crescimento da empresa e o desenvolvimento das comunidades vizinhas, sem prejudicar o meio ambiente. Além do compromisso social com o desenvolvimento sustentável, com condições mais humanas de trabalho bem como a preocupação com o meio-ambiente e sobre a intenção de atingir a inovação para obter mais resultados com um menor impacto. As empresas citam também a preocupação com a ética nas relações que estabelecem, o gerenciamento de impactos diretos e indiretos, o investimento na comunidade e a identificação e o desenvolvimento de oportunidades de negócios que sejam, ao mesmo tempo, comercialmente rentáveis e capazes de gerar resultados positivos para a sociedade e para o meio ambiente, além de busca de sucesso dos projetos em longo prazo para que esse tipo de iniciativa possa continuar a trazer benefícios para a comunidade, mesmo ao fim do processo de monitoramento. Várias empresas que encaminharam projetos para o Prêmio Eco defenderam que a melhor forma de conduzir os negócios é através de um comportamento ético, que contribua para o desenvolvimento econômico, social e ambiental e que garanta a qualidade de vida das gerações atuais e futuras.

O objetivo principal da maioria das empresas que encaminharam seus projetos para essa premiação, e algo avaliado pela AMCHAM, é a efetivação de ações que possam gerar resultados aos stakeholders em longo prazo. Nesta estratégia, o diálogo ocupa papel importante, tendo-se optado, em muitos casos, por integrar a participação dos diversos setores da sociedade na condução das propostas de medidas de mitigação e compensação dos possíveis impactos socioambientais dos empreendimentos. Os projetos apresentados pelo Prêmio Eco foram os que

130 mais se aproximaram das diretrizes e objetivos estabelecidos pela ISO 26000. As empresas que encaminharam projetos para esse prêmio estão bem familiarizadas com a terminologia, propostas e diretrizes da norma e praticam, em muitos casos, o engajamento com os stakeholders, diretriz muito citada e exigida pela norma.

No documento MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS (páginas 127-130)