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EXTINÇAO, SUSPENSÃO E PERDA (DESTITUIÇÃO) DO PODER FAMILIAR

As hipóteses de extinção do poder familiar encontram-se elencadas no art. 1.635 do CC/2002:

Extingui-se o poder familiar: I – pela morte dos pais ou do filho;

II – pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único; III – pela maioridade;

IV – pela adoção;

V – por decisão judicial, na forma do art. 1.638. (NERY JUNIOR; NERY, 2008, p. 1.083).

Consoante estudado na seção 3.1, o poder familiar é exercido igualmente pelos genitores. Assim, no caso de falecimento de um deles, o sobrevivente será titular desse poder. Se ambos os genitores morrerem, extingue-se o pode familiar e nomear- se-á tutor ao filho menor. Cessa igualmente o poder familiar com a morte do filho menor. (MONTEIRO; SILVA, 2009, p. 424).

A morte apenas extingue o poder familiar se for de ambos os pais. O pai ou a mãe sobrevivente detê-lo-á de modo exclusivo, enquanto viver e o filho não atingir a maioridade. A morte do filho leva à perda do objeto do poder familiar, pois este apenas existe se houver filho menor.

Outra hipótese que conduz à extinção do poder familiar é a emancipação do filho. Para Denise Damo Comel (2003, p. 302), com ela o “[...] filho obtém antecipadamente a plena capacidade de fato, ficando habilitado para exercer todos os atos da vida civil. O menor emancipado, pois, equipara-se em tudo ao maior. [...]”.

Assim, cessando a incapacidade do filho, estingue-se o poder familiar, haja vista que o seu objetivo é prestar amparo ao incapaz. (COMEL, 2003, p. 302).

A maioridade, elencada no inciso III do artigo em comento, também enseja a extinção do poder familiar. Nesse caso, entende a lei que a pessoa, ao alcançar a capacidade civil, não necessita mais do amparo concedido pelo poder familiar. (RODRIGUES, 2008, p. 372).

O poder familiar extingue-se, ainda, pela adoção, quando se transferem aos pais adotivos os direitos e deveres inerentes ao poder familiar que, até então, pertenciam aos pais consangüíneos. (MONTEIRO; SILVA, 2009, p. 424).

Pelas regras contidas no art. 41, caput, do ECA: “A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com os pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.” (BRASIL, Lei nº 8.069, 1990, p. 8).

Denise Damo Comel (2003, p. 305-306), ao tratar do tema, afirma:

[...] Este rompimento total e definitivo da função paterna com relação ao pai biológico é requisito indispensável à constituição da adoção, uma vez que por meio dela se vai inserir o adotado em outra família, colocando-o na situação de filho, sem qualquer diferença ou discriminação com relação à filiação biológica, com idênticos direitos e qualificação. Assim, portanto, não é compatível com a adoção a manutenção do poder familiar relativamente aos pais biológicos, impondo-se-lhe a extinção de modo total e definitivo.

Importante esclarecer, que a ruptura do casamento ou da união estável por motivos de morte, divórcio ou dissolução, não tem o condão de dissolver o poder familiar, caso haja novas núpcias. Assim, o novo casamento ou união estável não resulta prejuízos ao poder familiar que foi anteriormente fixado. A mesma reflexão vale para os genitores que estão na condição de solteiros e venham a se unir por laços de casamento ou do companheirismo. (RIZZARDO, 2005, p. 608-609).

Por derradeiro, tem-se como causa de extinção do poder familiar, os casos que acarretam destituição, previstos no art. 1.638 do CC/2002.

Além das hipóteses de extinção, o poder familiar também é passível de suspensão. Contudo, ambas não se confundem, pois esta “[...] impede o exercício do poder familiar durante determinado tempo [...]”. (LÔBO, 2008, p. 279).

Ademais, a suspensão, não é tão drástica, tendo em vista que, inexistindo a causa que a produziu e não sendo inoportuno o retorno da prole para junto de seus genitores, a medida pode ser cancelada. Ela pode estar restrita unicamente ao filho que sofreu o dano, não havendo necessidade de estar atrelada a todos os filhos, nem mesmo abarcar todas as prerrogativas do poder familiar. (RODRIGUES, 2008, p. 369).

A suspensão do poder familiar vem contemplada no CC/2002, em seu art. 1.637:

Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar,quando convenha.

Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão. (NERY JUNIOR; NERY, 2008, p. 1.083).

É importante mencionar que o magistrado somente se utilizará da suspensão quando, no interesse e segurança dos filhos e de seus haveres, inexistirem outras medidas que proporcionem os efeitos pretendidos. Desse modo, afastadas as causas que levaram à suspensão, pode o impedido investir-se nas funções do poder familiar, anteriormente suspensas. (LÔBO, 2008, p. 280).

A perda ou destituição do poder familiar, assim como a suspensão, são consideradas sanções que, visando atender o melhor interesse do menor, são aplicadas aos pais, quando estes infringirem os deveres legais inerentes ao poder familiar. (RODRIGUES, 2008, p. 368).

Washington de Barros Monteiro e Regina Beatriz Tavares da Silva (2009, p. 427), sobre o tema, afirmam: “Não é possível confundir a perda com a simples suspensão. Esta é muito menos grave do que aquela. A primeira é permanente; a segunda, temporária. Desaparecendo a causa determinante da suspensão, pode o pai, ou a mãe, retornar ao exercício do poder familiar.”

De acordo com o art. 1.638 do CC/2002, perdem o poder familiar o pai ou a mãe que:

[...]

I – castigar imoderadamente o filho; II – deixar o filho em abandono;

III – praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;

IV – incidir, reiteradamente, na faltas previstas no artigo antecedente. (NERY JUNIOR; NERY, 2008, p. 1.083).

No tocante ao primeiro inciso, esclarece Sílvio Rodrigues (2008, p. 370-371): “[...] O advérbio ‘imoderadamente’ serve para legitimar o jus corrigendi23 na pessoa do pai, pois a infração ao dever só se caracteriza quando for excessivo o castigo. Portanto, quando não exorbita, pode o pai aplicar castigos físicos ao filho, com o propósito de emendá-lo.”

Deixar o filho em abandono também é outra situação que gera a perda do poder familiar. Para Denise Damo Comel (2003, p. 288) o abandono é considerado:

[...] ato que afronta um dos direitos mais caros do filho: o estar sob os cuidados e vigilância dos pais. Traduz-se o abandono na falta de cuidado e atenção, na incúria, ausência absoluta de carinho e amor. É o pai que tem desleixo para com a prole, que pouco se lhe importa a nutrição, faltando aos cuidados básicos e essenciais à própria sobrevivência, e mantendo o filho em estado de indigência. [...]

O inciso III do artigo 1.638 do CC/2002 estabelece, como causa de perda do poder familiar, a prática realizada pelos pais, de atos contrários à moral e aos bons costumes. (NERY JUNIOR; NERY, 2008, p. 1083).

Carlos Roberto Gonçalves (2006, p. 374), ao comentar esse inciso, assevera que o lar é responsável por amoldar a personalidade da prole. Esta, por sua vez, estando em condição de influência dos pais, busca neles a formação de seu caráter. Em razão disso, compete aos genitores conservarem uma conduta digna e honrada diante de seus filhos. Essa foi a intenção do legislador, ao redigir o aludido dispositivo, ou seja, impedir que os filhos sejam moralmente lesionados por seus pais, uma vez que determinadas condutas por parte deles, futuramente, poderão ocasionar influências negativas, podendo, inclusive, levá-los à prostituição.

Outra hipótese que acarreta a perda do poder familiar está elencada no inciso V do dispositivo citado.

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A propósito, esclarece Sílvio Rodrigues (2008, p. 371):

[...] Inova o legislador de 2002 ao acrescentar esta nova causa ao rol de condutas aptas a impor a destituição do poder familiar, inexistente na legislação revogada. Saudável essa inovação, evitando o abuso dos pais na repetida incidência de falha capaz de ensejar a suspensão do exercício do múnus, aguardando a pena mais branda ao ato.

Assim, os pais que incidirem reiteradamente nas faltas estabelecidas no art. 1.637 do CC/2002 e que geram a suspensão do poder familiar, serão destituídos deste.

4 A OBRIGAÇÃO ALIMENTAR E A MAIORIDADE CIVIL

As considerações acima tecidas são de suma importância para a compreensão deste capítulo, tema central do presente trabalho, onde serão abordadas questões referentes aos alimentos devidos aos filhos após a maioridade civil destes.

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