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Filtragem online do detector ATLAS

3.3 Extração de Características e Teste de Hipótese

Os calorímetros são detectores altamente segmentados, de maneira que é possível estimar as classes das partículas a partir de seus perfis de deposição de energia. Esse perfil está contido em uma região de interesse selecionada pelo primeiro nível de filtragem. Essa região pode abranger mais 1000 células, considerando as diferentes camadas desses

elementos.

Os exemplos de perfis de deposição de energia de cada um dos eventos envolvidos no trabalho, mostrados nas Figuras 3.2,3.3 e 3.4, indicam algumas peculiaridades. Os elé-trons são mais pontuais na deposição de energia como mostra a camada EM middle layer e quase não apresentam energia nas camadas hadrônicas. Os jatos hadrônicos, através de seus componentes eletromagnéticos falseiam os elétrons nas camadas eletromagnéticas do calorímetro, apresentando valor de energia maior nas camadas hadrônicas do caloríme-tro e, tipicamente, tendendo a espalhar a energia sobre múltiplas células em uma mesma camada do calorímetro. Entende-se, assim, que a informação relevante pode não neces-sariamente estar no ponto central de impacto, mas em uma vizinhança dele. Os leptonjets excitam uma região maior nas camadas eletromagnéticas do que o elétrons isolados, mas os acompanham no calorímetro hadrônico ao não apresentarem níveis de deposição de energia elevados para esses sensores.

A análise longitudinal demonstra também que a camada Pre Sampler amostra não so-mente mais energia para elétrons e leptonjets, como esses valores são mais concentrados, enquanto os jatos apresentam um maior espalhamento. Analogamente é o que se observa na camada EM front layer, a de maior resolução espacial.

A observação da interação dos objetos de interesse com os calorímetros permite as-sumir que esses interagem de forma (aproximadamente) isotrópica em relação ao eixo de penetração, i.e., dado um ponto de impacto inicial, a partícula tende a decair em ob-jetos menos energéticos ao redor do eixo de penetração [49, 87]. O que os algoritmos de extração de característica fazem é capturar essas informações do ponto de vista de discriminantes.

O algoritmo de nível 1 trabalha com matrizes em η×φ, que armazenam a energia

transversa (ET) por torre - são chamadas assim por transporem as diferentes camadas dos calorímetros. O procedimento ocorre separadamente para os calorímetros eletromag-nético e hadrônico, com uma granularidade típica de ∆η×φ=0,1×0,1. Os valores digitalizados de energia são truncados para oito bits, o que, efetivamente, aplica um li-miar de 1GeV por torre. O algoritmo é baseado em uma janela de 4×4 torres em ambos calorímetros na região|η|<2,5 e consiste de 4 elementos [88]:

• um agrupamento eletromagnético de 2×2 torres usado para identificar a posição da RoI candidata.

• um agrupamento de 2×1 ou 1×2 torres eletromagnéticas usadas para medir a ET dos chuveiros eletromagnéticos - há quatro desses agrupamentos dentro de uma RoI e o mais energético é usado.

• uma região de 12 torres eletromagnéticas ao redor dos agrupamentos, que é usada para teste de isolamento no calorímetro eletromagnético.

• as 16 torres hadrônicas atrás do agrupamento eletromagnético e da região de isola-mento, que são usados para testes de isolamento no calorímetro hadrônico. A janela desliza em passos de uma torre em ambas direçõesηeφ.

Para cada objeto aceito no nível um, a informação da RoI é transmitida para o nível dois com posição (η,φ) e ET. Devido a escolhas do algoritmo (tamanho do passo de 0,1), a posição da RoI é fornecida com resolução∆η×∆φ0,1×0,1. Os eventos selecionados são dominados por fótons deπ0e da troca de cargaπ+ [88].

Um dos algoritmos de referência de filtragem de segundo nível é oT2Calo[88–91]. Esse algoritmo realiza o teste de hipótese sobre a informação de calorimetria para eventos eletromagnéticos isolados e jatos hadrônicos. OT2Caloé um algoritmo de clusterização para chuveiros eletromagnéticos alimentado pelas RoI produzidas pelo primeiro nível de filtragem eletromagnética. Esse algoritmo pode selecionar objetos usando medidas de energia transversa e formato do chuveiro de deposição de energia. As RoI usadas nesse processo são compostas por células dos calorímetros eletromagnético e hadrônico e sua saída é uma classe específica contendo a energia e posição do cluster, e variáveis que descrevem o formato do chuveiro eletromagnético, todas usadas na seleção de eventos. O primeiro passo do algoritmoT2Caloé refinar a posição da RoI de nível 1 encontrando a célula de deposição de energia mais energética na segunda camada do calorímetro ele-tromagnético. Essa posição (η,φ) é mais tarde recalculada ponderando a posição (η,φ) em uma janela de 3×7 células pela energia de cada uma delas. A partir daqui algumas variáveis são calculadas com o objetivo extrair informação de formato do chuveiro [88]:

• EM ET: Energia total depositada nas camadas eletromagnéticas em uma região de 3×7 em torno do centroη×φ. Devido à dependência de energia do ruído de fundo, um corte em energia fornece a melhor rejeição contra dados com alto momento transverso (PT) aceitos pelo primeiro nível.

• HAD ET: Energia total depositada na camada hadrônica em uma janela ∆η×∆φ=

0,2×0,2 ao redor do centro da RoI. Fótons e elétrons, tipicamente, depositam muito pouco de suas energias no calorímetro hadrônico. Contudo, para jatos com componentes eletromagnéticos aceitos pelo primeiro nível, aproximadamente 5% da energia é depositada no calorímetro hadrônico. Essa energia hadrônica pode ser usada para rotular jatos. A energia eletromagnética que vaza para o calorímetro hadrônico de genuínos clusters e/γ, aumenta com a energia incidente. Para baixa energia, ela não é significante quando comparada com a contribuição do ruído e do pile-up. Para ser eficiente com cluster ecom alta ET, os requerimentos do isolamento hadrônico precisam levar essa energia em consideração.

• Rshape: a razão energética E3×7/E7×7(Ei×jé a energia depositada na região i×j)

eletro-magnéticos (tipicamente, mais de 70%) é depositada na segunda camada do calo-rímetro eletromagnético. Essa camada é também menos afetada por ruído e pelo efeito pile-up. Dessa forma, o cálculo é realizado sobre ela. Chuveiros de fótons e elétrons têm (em média) um tamanho lateral de um raio de Molière, enquanto o tamanho lateral dos chuveiros iniciados por jatos é dominado pela fragmentação e o tamanho da interação hadrônica. Assim, a razãoRshapeé calculada para distinguir entre clusters e/γe jatos. Tipicamente esse valor é maior do que 0,9 para clusters eletromagnéticos.

• Rstrip: a razão energética (E1E2)/(E1+E2) (Ei é o i-ésimo pico de energia) entre os dois maiores picos de energia em uma dada região∆η×∆φ=0,125×0,2 em torno do centro da RoI. Após os cortes anteriores, somente jatos com pouca ati-vidade hadrônica e de chuveiros estreitos permanecem. Esses jatos “eletromagné-ticos” frequentemente consistem de um ou múltiplos π0 decaindo para dois fótons. Para rejeitar esses jatos, a granularidade fina da primeira camada eletromagnética pode ser observada para a análise do formato do chuveiro. No caso dos jatos pode-se encontrar dois máximos (ex. dois fótons do decaimento de umπ0). De maneira a rejeitar esses eventos, uma variável que busca por máximo secundário é aplicada. O teste de hipótese é feito através de cortes lineares sobre os descritores extraídos.

Além do T2Calo, outro algoritmo de referência é o RingerNeuralHypo, também

per-tencente ao pacote de algoritmos de filtragem de nível dois do detector ATLAS [92]. No

caso do RingerNeuralHypo outros discriminantes são usados para alimentar o

classi-ficador. Com o objetivo de ressaltar a informação topológica do decaimento, um pré-processamento baseado em somas de anéis [49, 87] é aplicado como algoritmo de ex-tração de características. Nessa abordagem, a célula de máxima deposição de energia é considerada o centro da região de interesse em cada camada do calorímetro (sete no total). Então, um conjunto de anéis concêntricos são formados ao redor dele. É relevante res-saltar que, dependendo da granularidade da camada, os anéis podem ficar incompletos ou mesmo serem formados por apenas uma linha de células, como mostra a Figura 3.5. Por fim, as células pertencentes a um mesmo anel são somadas, reduzindo a dimensão final de cada evento, sem prejudicar suas interpretações físicas. Esse procedimento, realizado por camada do calorímetro, alcança um número final de 100 anéis distribuídos de acordo com a Tabela 3.1.

As características de deposição de energia de cada um dos eventos analisados são pre-servadas após a atuação do algoritmoRinger. O sinal resultante, mostrado na Figura 3.6, explicita as semelhanças e diferenças entre os objetos de interesse.

ORingerNeuralHypofaz uso de uma rede neural artificial no teste de hipótese sobre os dados formatados em anéis (100, no total). A topologia usada, que pode sofrer variação ao longo do seu tempo de operação, conta com alguns neurônios na camada oculta e

(a) (b)

(c) (d)

Figura 3.5: Formação de anéis por camada dos calorímetros: (a) Pre Sampler; (b) EM

Tabela 3.1: Número de anéis por camada do calorímetro. Camada # de anéis Pre Sampler 8 EM front layer 64 EM middle layer 8 EM back layer 8 HAD layer 0 4 HAD layer 1 4 HAD layer 2 4 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 5000 10000 PS EM HAD Energia Eletron 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 1000 2000 3000 Energia Jato 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 1000 2000 3000 4000 Aneis Energia Leptonjets

Figura 3.6: Eventos Formatados em Anéis.

um único neurônio na camada de saída. É definido, também, que o valor esperado para eventos da classe alvo é 1 enquanto−1 para o ruído do canal. Todos os neurônios operam com função de ativação do tipo tangente hiperbólica.

Uma das mais recentes otimizações empregadas foi a incorporação do algoritmo de

anelamento ao T2Calo. O T2Calo possui diversos sub-algoritmos, e, para as versões

mais novas doAthena, o algoritmo de anelamento passa a ser um deles. A principal van-tagem é a utilização de um objeto único que propaga tanto as variáveis doT2Calo, bem como os anéis produzidos, facilitando bastante a integração do algoritmo de anelamento com os outros módulos doAthena. Adicionalmente, sendo parte integrante do T2Calo, não mais se faz necessário, pelo algoritmo anelador, refazer os cálculos de refinamento

de ET, η e φ, podendo esse delegar ao T2Calo tal tarefa. Em resumo, no que tange a extração de características, o algoritmo de anelamento proposto e o T2Calo tornam-se parceiros. A diferença entre os dois, entretanto, é que o T2Calo realiza a decisão sobre o tipo de partícula incidente observando as 4 variáveis calculadas por ele, enquanto o

RingerNeuralHypoemprega redes neurais alimentadas com os anéis produzidos.

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