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2.2 CAFEÍNA

2.2.1 Preparo de amostra de cafeína em matrizes aquosas

2.2.1.1 Extração em fase sólida (SPE)

A SPE consiste numa técnica de separação sólido-líquido que apresenta propriedades de extração similares à cromatografia líquida clássica de baixa pressão. A fase sólida extratora (fase estacionária) apresenta-se compactada num cartucho, entre duas barreiras porosas (fritz), que funciona como filtro das grandes partículas da amostra. Logo, o cartucho de extração atua como uma coluna cromatográfica aberta42.

A quantidade de material a ser empregada na extração depende, diretamente, das propriedades químicas do analito/matriz, da concentração do analito, da quantidade de interferentes e da capacidade adsortiva do material 42.

Dessa forma, para se conduzir uma extração eficiente, é necessário selecionar o tipo de fase sólida em função das características físico-químicas do analito de interesse. Diversos adsorventes estão disponíveis, comercialmente, dentre eles, destacam-se: carvão ativado, sílica gel, alumina, materiais poliméricos e os baseados em sílica modificada, com cadeia linear de 8 carbonos n-octilsilano (C8), de 18 carbonos n-octadecilsilano (C18) e fases sólidas híbridas como de balanço hidrofílico e lipofílico, HLB (do inglês, hydrofilic lipophilic balance), sendo as duas últimas, as mais usadas, atualmente, nos trabalhos que envolvem a separação da CAF em amostras ambientais 6,17.

Os princípios relacionados com a técnica da SPE envolvem a partição e a adsorção de compostos de interesse entre as duas fases: líquida e sólida 40. A SPE convencional possui quatro etapas básicas (Figura 3): (1) condicionamento/equilíbrio, para ativar os grupos químicos do material e equilibrar as forças químicas de separação; (2) separação do analito (loading) que ocorre por meio da percolação da amostra no material que extrai a espécie química, através da interação do analito com grupos funcionais da fase sólida; (3) lavagem, destinada a remover as impurezas, e (4) eluição, que interrompe a interação química do analito com o solvente, migrando-o para a solução eluente, resultando num extrato pré-concentrado 43. Essas etapas são otimizadas a depender da natureza e propriedades da matriz/analito.

Figura 3. Principais etapas envolvidas na extração em fase sólida (SPE) Adaptado de Dourado 43 (1) condicionamento; (2) loading (separação do analito); (3) lavagem e (4) eluição do

Vários trabalhos da literatura desenvolveram métodos com preparo de amostras baseado em SPE, para a determinação de CAF em diferentes corpos hídricos 6,16,17,20. Um exemplo dessa estratégia foi o trabalho desenvolvido por Paíga e colaboradores 20 que empregou a fase sólida reversa (Strata-X), a fim de extrair a CAF presente na água do mar. Os referidos autores utilizaram a CAF como um indicador antrópico para monitorar a contaminação da água do mar por descarga indevida de efluentes. O método apresentou desvio padrão relativo (RSD, do inglês, relative

standard deviation) < 2,0 % e limite de detecção (LOD, do inglês, limit of detection) da

ordem de 0,8 – 1,02 ng L-1. Tais parâmetros analíticos possibilitaram a realização de ensaios para estimar a toxicidade da CAF, no ambiente aquático, e foram propiciados diante do alto fator de concentração, de 500 vezes, obtido através do método de preparo da amostra. Esse efeito evidencia a alta dependência dessa etapa para alcançar as baixas concentrações requeridas ao monitoramento ambiental.

Contata-se que foram analisadas em torno de 100 amostras, nas quais foi possível determinar a CAF com adequados parâmetros de exatidão, precisão nos ensaios de fortificação (> 98 %) e para as quantificações das amostras (na ordem de 18 a 525 ng L-1). Esse trabalho forneceu dados importantes acerca do descarte ilegal de esgoto nas águas, em Portugal, consolidando a eficiência da CAF como marcador químico de contaminação antropogênica.

Um estudo conduzido, no Brasil, por Santana e colaboradores 3 buscou avaliar a qualidade das águas superficiais do Lago Paranoá – DF. Tal trabalho monitorou a presença de vários contaminantes emergentes nessa matriz e, dentre eles, a CAF. Foi possível determinar as concentrações da CAF, em diversos pontos amostrais, nas concentrações de 2 – 85 ng L-1. Devido à amostragem sazonal, foi possível atribuir e indicar em quais pontos da matriz amostral o tratamento de efluentes estava ocorrendo de maneira mais eficaz, bem como estimar os riscos toxicológicos dos contaminantes ao ecossistema aquático. Foram quantificadas concentrações de CAF nas águas, para o consumo de 2 – 16 ng L-1, indicando maior distribuição desse contaminante nos corpos hídricos. Ainda, foi constatado um índice mais adequado da qualidade hídrica, no DF, quando comparada às quantificações, em outros mananciais brasileiros, que registraram concentrações de 2000 ng L-1 de CAF em águas para consumo humano 6,44

Esses trabalhos apontaram breves exemplos de quantificações da CAF que possibilitaram indicar um panorama da qualidade da água e sua importância e funcionalidade como indicador químico. Contudo, a maioria dos estudos utilizam a estratégia de coleta pontual de amostras de água, para posterior submissão ao protocolo analítico desenvolvido em laboratório45. Para isso, são necessárias coletas de

grandes volumes de água, a fim de alcançar uma detecção mensurável 46. A amostragem pontual, apesar de ser muito utilizada, pode indicar erros de estimativas, visto que descreve, apenas, a concentração momentânea do composto na matriz, não permitindo a avaliação da variabilidade de concentração da espécie e, também, a indicação de inserção do poluente de forma isolada 47. Além disso, a depender das propriedades químicas do analito, pode ocorrer perdas de concentração decorrentes dos recipientes utilizados para a amostragem e/ou estocagem 42.

Ainda assim, a junção da amostragem pontual, com posterior detecção, em laboratório pode propagar mais erros na análise química, visto ser necessário submeter a amostra coletada à elaboração de uma subamostra, amostra laboratorial e, por último, o preparo da amostra48. Dessa maneira, para contornar esses inconvenientes, a amostragem passiva apresenta-se como uma alternativa promissora ao monitoramento ambiental da CAF, em água, pois pode proporcionar a separação das espécies in situ, possibilitando suprimir ou eliminar algumas etapas entre a amostragem e o preparo da amostra, proporcionando maior seletividade de separação, redução das perdas do analito, aumento da precisão analítica e melhor detectabilidade da espécie química 49.

A amostragem passiva, portanto, independe da coleta de amostras e, ainda, minimiza as perdas ocorridas na etapa de amostragem, fazendo dessa abordagem uma opção mais vantajosa, prática e exata, para a determinação de CEs 50. Ademais, nesse protocolo, pode-se, também, realizar a pré-concentração do analito, aprimorando os limites de detecção e reduzindo possíveis interferências químicas, diante do tipo de material amostrador empregado 50,51.

2.2.2.2 Amostrador passivo de difusão em filmes finos por Gradiente de

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