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4.3 Resultados dos Ensaios Realizados na Cinza Volante (CV)

4.3.7 Extrato Lixiviado e Extrato Solubilizado da Cinza Volante

A empresa majoritária do grupo Energia Pecém, a Eneva, na pessoa do Sr. Márcio M. Aguiar forneceu o Relatório de Caracterização do resíduo fly ash (cinza volante), bem como sua classificação quanto ao tipo de resíduo sólido (periculosidade). A amostra de cinza volante foi coletada no dia 24/02/2014 entrando no laboratório da Bioagri(empresa localizada no Estado de São Paulo no município de Piracicaba) em 28/02/2014. Esta empresa concluiu a análise no dia 25/03/2014.

O ensaio de Extrato Lixiviado, normatizado pela NBR 10.005/2004, não apresentou seus parâmetros inorgânicos e orgânicos acima dos limites estabelecidos. Porém o ensaio de Extrato Solubilizado, normatizado pela NBR 10.006/2004, apresentou 6 parâmetros inorgânicos, de um total de 21 parâmetros analisados, acima dos limites estabelecidos.

A Tabela 14 mostra esses 21 parâmetros e destaca aqueles 6 (alumínio, arsênio, cromo, fluoreto, selênio e sulfato) que ultrapassam os limites estabelecidos em norma. No Anexo deste trabalho consta o Relatório completo emitido pelo laboratório citado.

Tabela 14 - Resultados do ensaio de Extrato Solubilizado da Cinza Volante.

Fonte: Elaborada pela autora retirado do Relatório dos ensaios ambientais da Cinza.

Pode-se perceber que o sulfato é o parâmetro presente na cinza volante em maior quantidade, 552 mg/L quando o limite é de 250 mg/L, resultando em 120,8% a mais da concentração limite. Já o selênio é o parâmetro existente na cinza com a maior concentração além do limite estabelecido, o componente possui um limite de 0,01 mg/L mas sua concentração na cinza foi de 1,1 mg/L, resultando em 10.900% a mais que o limite estabelecido. Lopes (2011) também só obteve elementos acima do volume máximo permitido apenas para os parâmetros inorgânicos de Extrato Solubilizado, sendo estes, alumínio, fluoretos e fenóis totais.

Além disso, alguns danos causados pelos elementos que estão acima do permitido podem ser citados. Segundo o sítio da Quimlab (2015), o alumínio é um elemento não essencial para plantas e animais, mesmo assim sua concentração no corpo humano é de 0,9 mg/kg. Concentrações acima de 1,5 mg/L são tóxicas e perigosas a vida marinha, o que ocorre neste caso, já que foi encontrada uma concentração de 1,8 mg/L na análise da Bioagri. Níveis abaixo de 0,2 mg/L para este elemento apresentam baixo risco.

Acima dos níveis máximos permitidos o alumínio e o sulfato podem causar no organismo humano, dormências nas pernas, grande oleosidade no couro cabeludo, além de queda de cabelos, osteoporose e característicos do mal de Alzheimer (QUIMLAB, 2015).

Quanto ao elemento arsênio, envenenamentos graves podem surgir a partir da ingestão de pequenas quantidades como 100 mg de trióxido de arsênico (composto do arsênio), efeitos crônicos podem resultar do acúmulo de compostos de arsênio no organismo em níveis baixos de consumo, ou seja, podem causar doenças como o câncer se ingeridas

mesmo em pequenas doses. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e

Agricultura (FAO) recomenda nível máximo para águas de irrigação de 100 μg/L e a

especificação para potabilidade é de 0,01 mg/L pela Portaria 518 do Ministério da Saúde (MS) (QUIMLAB, 2015).

O cromo é um elemento não essencial para as plantas, mas essencial aos animais em sua forma trivalente. Em sua forma hexavalente, o elemento tem se mostrado cancerígeno por inalação e é corrosivo para os tecidos. No abastecimento de água, o cromo pode existir em ambas as formas (trivalente e hexavalente), embora a forma trivalente raramente ocorra em água potável, assim os limites básicos são estabelecidos basicamente em função do cromo hexavalente. O padrão de potabilidade é fixado como valor máximo permissível de 0,05 mg/L pela Portaria 518 do MS (QUIMLAB, 2015).

Já o flúor é um elemento essencial aos animais e plantas, contudo em limites específicos. Ele é tão reativo que nunca é encontrado em sua forma elementar na natureza, sendo normalmente encontrado na sua forma combinada como fluoreto. Todos os alimentos possuem ao menos traços de fluoreto, os vegetais são os que possuem maiores concentrações devido à absorção da água e do solo e o uso da água fluoretada na preparação desses alimentos pode dobrar a quantidade de fluoreto presente, que acima de dosagens específicas provoca a fluorose dentária (doença que causa manchas nos dentes por excesso de flúor). A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera 1,5 mg/L o valor máximo permissível que é o mesmo estabelecido no Brasil para água potável pela Portaria 518 do MS. Além da fluorose dentária, o fluoreto pode causar, no organismo humano, queda de cabelos crônica, varizes, hemorróidas, estrias, flacidez, celulite, dificuldade de cicatrização, catarata, dentre outros problemas de saúde (QUIMLAB, 2015).

Assim como o cromo, o elemento selênio é considerado não essencial às plantas, mas um nutriente essencial para a maioria dos animais, sendo conhecidas doenças por deficiência de selênio na medicina veterinária. Porém, acima dos níveis, o selênio ingerido é tóxico para animais e para seres humanos, podendo causar náuseas e vômitos, queda do cabelo e das unhas, erupção cutânea, lesões nervosas e fadiga. O padrão de potabilidade fixado pela Portaria 518 do MS é de 0,01 mg/L (QUIMLAB, 2015).

Assim, em função dos resultados obtidos, a amostra de cinza deve ser classificada como Classe II A - Resíduo Não Inerte. Lopes (2011) obteve a mesma classificação para a sua cinza volante.

Segundo Lopes (2011), o fato da classificação da cinza volante ter se enquadrado como Classe II A – Resíduo Não Inerte, não a desclassifica como agente cimentante em

misturas com solo, já que, considerando o ensaio de Extrato Lixiviado, que representa a infiltração das águas das chuvas no solo, todos os parâmetros analisados encontraram-se dentro dos limites permitidos. Entretanto, estudos mais aprofundados devem ser realizados, afim de que se possa investigar se os parâmetros que resultaram acima dos limites estabelecidos causam danos ao meio ambiente.

É importante ressaltar que o solo quando aplicado na área de pavimentação está no estado compactado o que pode dificultar o transporte dos elementos que causam a poluição dos mananciais. Sendo assim, é recomendável que normas ambientais específicas sejam desenvolvidas considerando-se a estrutura real de um pavimento. Outro fator a ser considerado é que o emprego de um agente cimentante, como a cal por exemplo, pode favorecer o encapsulamento dos elementos indesejáveis.