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3. Hipertensão arterial resistente induzida por fármacos

3.6 Fármacos que induzem hipertensão arterial

Vários agentes terapêuticos ou substâncias químicas podem induzir aumento transitório ou persistente na pressão sanguínea, ou mesmo interferir com os efeitos dos anti-hipertensores (ANEXO VIII)(53).

36 Alguns podem causar retenção do sódio ou expansão do volume extracelular, ou ativar direta ou indiretamente o sistema nervoso simpático. Os efeitos mais prejudicais de alguns medicamentos são mais pronunciados em pacientes hipertensos com insuficiência renal e em idosos(51, 54). A avaliação cuidadosa do regime terapêutico de um paciente pode identificar a hipertensão induzida quimicamente e permitir a avaliar se é efetivamente necessário o uso da terapêutica anti- hipertensora. Nestes casos, quando identificado que a causa é química, é recomendado a descontinuação do agente causador, ou se em caso do uso deste ser obrigatório, é realizado um ajuste da dose da terapêutica para a hipertensão(51).

Os fármacos ou substâncias que induzem ou aumentam a hipertensão arterial são, entre outros:  Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs);

 Contracetivos orais;  Simpaticomiméticos;  Drogas ilícitas;  Glucocorticoides;  Mineralocorticoides;  Ciclosporina;  Eritropoeitina;

 Suplementos à base de ervas;  Inibidores do VEGF(52).

Os fármacos mais comuns na indução do aumento da pressão arterial são os AINEs e os contracetivos orais(52).

3.6.1 Anti-inflamatórios não esteroides e analgésicos

Os AINEs são a causa mais comum de hipertensão induzida por fármacos. Os AINEs podem induzir um aumento da pressão arterial e interferir com o tratamento anti-hipertensivo, nomeadamente cessar o seu efeito. Embora os mecanismos envolvidos no aumento da pressão sanguínea não estejam bem esclarecidos, as causas podem ser ativação do sistema renina- angiotensina-aldosterona, a retenção de sal e água, indução da vasoconstrição através da endotelina-1, dos metabolitos do ácido araquidónico, e principalmente pela inibição das prostaglandinas vasodilatadoras renais (E2 e I2)(51, 52, 55).

Os efeitos mais prejudiciais dos AINEs, nesta patologia, são o comprometimento da função renal e a lesão aguda do rim, especialmente em doentes de idade avançada, doença crónica renal, hipertensão pré-existente ou diabetes(52).

Os AINEs interferem com alguns agentes anti-hipertensivos, como os diuréticos, os β- bloqueadores e os inibidores da enzima de conversão da angiotensina, mas não com os antagonistas do cálcio e os de ação central(51, 56). A administração concomitante de AINES com antagonistas do cálcio não é acompanhada da elevação da pressão(52).

37 Entre os vários AINES, a indometacina, o naproxeno e o piroxicam estão associados a um maior aumento da pressão arterial. Em relação aos inibidores seletivos da cicloxigenase-2 (COX-2), estudos realizados indicam que o rofecoxib aumenta mais a pressão sistólica do que o celecoxib. Estes últimos têm uma interação maior do que os não seletivos na hipertensão(56-58).

Nos casos da hipertensão resistente, a substituição dos AINEs pelo paracetamol, pode resolver este problema. O alívio da dor é conseguido nos pacientes com osteoartrite e na dor com origem no músculo-esquelético. No entanto, nos casos de doenças inflamatórias crónicas, como na artrite reumatoide, os AINEs possuem uma melhor resposta terapêutica. Nestes casos, é administrado tramadol ou di-hidrocodeína. Contudo, nas situações onde apenas os AINEs são efetivos, deve ser ministrada a dose mínima necessária(52).

3.6.2 Contracetivos orais

Os contracetivos orais representam outra classe de fármacos que são amplamente utilizados e são capazes de induzir hipertensão(59).

O maior estudo realizado para avaliar os efeitos dos contracetivos foi realizado com mais de 60.000 mulheres normotensas durante quatro anos. As mulheres que utilizam contracetivos possuem um risco de 80% de desenvolver hipertensão comparado com mulheres que não tomam este tipo de medicação(59).

O tipo de contracetivo oral também parece possuir interesse clínico. Os contracetivos orais combinados (progesterona e estradiol) são mais associados a elevações da pressão arterial do que os de progesterona(52).

Por outro lado, a drospirenona (quarta geração) reduz a pressão sanguínea quando combinada com o estradiol. No entanto, as guidelines atuais recomendam a uso de contracetivos de apenas progesterona em mulheres com doença cardiovascular estabelecida ou fatores de risco major cardiovasculares(52).

3.6.3 Fármacos anti-VEGF

Outra classe de fármacos que estão a emergir na indução da hipertensão são os fármacos antineoplásicos que possuem como alvo o VEGF (fator de crescimento endotelial vascular). O bevacizumab, que é um anticorpo monoclonal, liga-se à isoforma VEGF-A, bem como a pequenas moléculas que inibem o domínio da tirosina cinase intracelular dos três recetores do VEGF. Este fármaco é utilizado no tratamento de vários tipos de cancro(52).

A hipertensão foi relatada em muitos pacientes que recebiam tratamento com fármacos anti- VEGF. Num estudo realizado, 20-30% dos doentes tratados com bevacizumab desenvolveram hipertensão(52).

O reconhecimento dos mecanismos patogénicos que contribuem para a elevação da pressão arterial por inibir o VEGF pode ser útil para identificar fármacos mais apropriados(52).

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3.6.4 Corticosteroides

A hipertensão ocorre em pelo menos 20% dos pacientes tratados com corticosteroides. O cortisol, por via oral, em doses entre os 80-200mg/dia pode aumentar a pressão arterial sistólica até 15 mmHg em 24horas. A cessação da terapêutica com corticosteroides, por norma, leva à normalização da pressão. No entanto, quando é obrigatório administrar um fármaco desta classe, recorre-se aos diuréticos, pois a sobrecarga do volume é o principal mecanismo pelos quais aumentam a pressão arterial. Nestes casos, pode ser necessário incluir na terapêutica um IECA e por isso, é realizado uma monitorização cuidadosa do potássio(51).

3.6.5 Medicamentos à base de plantas

Alguns produtos à base de plantas têm o potencial de aumentar a pressão sanguínea e podem interferir com o tratamento anti-hipertensivo. Vários estudos têm demonstrado que os suplementos contendo alcaloides de efedrina podem causar hipertensão(51).

Além disso, algumas ervas podem interferir com a biodisponibilidade dos fármacos administrados concomitantemente. A hipertensão também tem sido relatada após a administração conjunta de Gingko e um diurético tiazídico(51).

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