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3. POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS PARA A DIVERSIDADE

3.2 Conferências e fóruns mundiais e suas proposições na construção de uma educação para a

3.2.10 Fórum Mundial de educação (Incheon, na Coreia do Sul, 2015)

Esta conferência resultou na Declaração de Incheon, Educação 2030: rumo a uma educação de qualidade inclusiva e equitativa e à educação ao longo da vida para todos. Este Fórum foi organizado pela UNESCO e dele participaram mais de 130 Ministros da Educação e mais de 1.500 pessoas, entre organizações da sociedade civil, agências bilaterais e multilaterais, professores, e ativistas.

Os temas centrais deste Fórum foram:

i) Direito à educação: assegurar educação equitativa e inclusiva de qualidade e aprendizagem ao longo da vida para todos até 2030; ii) Equidade na educação: acesso e aprendizagem equitativa, particularmente para meninas e mulheres, devem estar no centro da agenda pós-2015 para permitir o pleno potencial de todas as pessoas; iii) Educação inclusiva: uma educação inclusiva não apenas responde e se adapta a cada estudante, mas é relevante para a sociedade e para o respeito à cultura; iv) Educação de qualidade: educação de boa qualidade, provisionada por professores

treinados e apoiados, é direito de todas as crianças, jovens e adultos, não privilégio de poucos; v) Educação ao longo da vida: toda pessoa, em toda a etapa de sua vida deve ter oportunidades de educação ao longo da vida para adquirir conhecimentos e capacidades de que necessitam para realizar suas aspirações e contribuir com suas sociedades (UNESCO, 2015 - destaques nossos).

A declaração elaborada pelo Fórum propõe garantir uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade que assegure oportunidades de aprendizagem, ao longo da vida, para todos, não apenas para a educação básica tão defendida pelo Banco Mundial. Este fórum foi de encontro às políticas implementadas pelos organismos internacionais, numa perspectiva crítica ao neoliberalismo e à lógica do Banco Mundial, mostrando uma contradição interna da UNESCO, a qual, nesse momento, mostrou-se partidária dos clamores sociais. Mais uma vez tem-se uma meta de longo prazo, se pensada para os países desenvolvidos, mas de curto prazo para países como o Brasil, em que as políticas públicas para a educação não surtem o efeito desejado, visto que o governo brasileiro elaborou vários programas para a educação, nos últimos trinta anos, porém com baixo investimento financeiro, dificultando a consolidação das ações (SAVIANI, 2012).

Todas essas Conferências, reuniões e fóruns, por meio de suas respectivas declarações, tiveram como objetivo inspirar os países em desenvolvimento a criar novas diretrizes para atender aos organismos internacionais em suas condicionalidades. Destacam-se as seguintes tomadas de decisões/promessas de cada uma das conferências mencionadas neste estudo.

A Conferência de Jontien (1990) teve como principais objetivos: universalizar o acesso à Educação e promover a equidade; a inclusão das diversidades; promover a participação ativa de mulheres e meninas no processo educativo; superar as disparidades educacionais, respeitando, assim, a diversidade e a pluralidade cultural; alfabetizar na língua materna, observando a necessidade de se contemplarem as diversidades linguística e étnica, fortalecendo a identidade e a herança cultural; eliminar, até 2015, as disparidades de gênero no ensino primário e secundário, alcançando, em 2015, igualdade de gênero na educação, visando principalmente a garantir que as meninas tenham acesso pleno e igualitário, bem como bom desempenho, no ensino primário de boa qualidade; alcançar, até 2015, uma melhora de 50% nos níveis de alfabetização de adultos, especialmente ao que se refere às mulheres, bem como acesso equitativo à educação básica e contínua para todos os adultos; reduzir a taxa de analfabetismo da mulher, buscando diminuir a desigualdade entre a alfabetização de homens e mulheres.

Da Conferência de Nova Delhi (1993), destacam-se a garantia da equidade, mediante a eliminação das “disparidades de acesso à educação básica em função do sexo, idade, renda, família, diferenças culturais, étnicas e linguísticas, e distância geográfica” (BRASIL, 1993, p. 2, destaque nossos).

Na Conferência Mundial de Direitos Humanos, garantiu-se a participação plena das mulheres, em condições de igualdade, na vida política, civil, econômica, social e cultural, nos níveis nacional, regional e internacional, bem como a erradicação de todas as formas de discriminação com base no sexo.

E a na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento assegurou-se a igualdade de participação e representação equitativa da mulher em todos os níveis do processo político e da vida pública, em toda comunidade e sociedade, capacitando-a a organizar seus interesses e necessidades; assegurou-se também que todas as mulheres, assim como os homens, recebam a educação necessária para satisfazer suas necessidades humanas básicas e exercer seus direitos humanos. Propõem-se ações para eliminar a pobreza e o analfabetismo da mulher, garantir os direitos à saúde reprodutiva e sexual; busca-se também promover o empoderamento e a autonomia da mulher e a melhoria de seu status político, social e econômico.

A Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social - Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, destacou que: as mulheres têm garantidos seus direitos a ter controle sobre as questões relativas a sua sexualidade, inclusive sua saúde sexual e reprodutiva, e a decidir livremente a respeito dessas questões, livres de coerção, discriminação e violência.

Na Conferência Mundial contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e a intolerância correlatas, Durban, teve suas principais discussões cortadas e as questões de gênero, raça e etnia foram pouco debatidas, apesar de ser o cenário propicio para tal. Porém, no documento, Parágrafo 5º, recomenda-se aos Estados e aos organismos internacionais, a elaboração de programas voltados para os afrodescendentes e a destinação de recursos adicionais aos sistemas de saúde, educação, habitação, eletricidade, água potável e medidas de controle do meio ambiente, e a promoção da igualdade de oportunidades no emprego, além de outras iniciativas afirmativas ou positivas em relação aos problemas étnico-raciais.

A década de 1990 foi fértil em conferências, encontros e documentos em prol da Educação Básica, da equidade e da garantia de direitos, principalmente relativos à mulher. “Os anos de 1990 registram a presença dos organismos internacionais que entram em cena em termos organizacionais e pedagógicos, marcados por grandes eventos, assessorias técnicas e farta produção documental” (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003, p. 97).

Como resposta institucional às Conferências, no Brasil, foram criadas diversas leis, decretos, estatutos, porém, os documentos oficiais, desde a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (BRASIL, 1996), o atual Plano Nacional de Educação (PNE) 2011-202029, como também os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, 1997), que de acordo com Sousa (2006) fazem pouca referência à diversidade de gênero, raça e etnia.

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