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Neste apartado, iremos abordar a produção cerâmica considerando a composição das pastas, as cozeduras, os tratamentos de superfície e os motivos decorativos.

O conjunto estudado é composto por 3614 fragmentos. Ainda que o grau de fragmentação da coleção fosse relativamente elevado foi possível levar a cabo um número importante de associações de fragmentos e colagens, bem como identificar porções representativas de diferentes formas. Após estas associações, a grande maioria dos fragmentos corresponde a porções de bojos (2454). Os restantes fragmentos foram divididos entre as categorias de asas (181 fragmentos), bordos (468 fragmentos) e fundos (511 fragmentos). Assim, os fragmentos de bojo perfazem 68% da colecção estudada; os fundos 14%; os bordos 13% e as asas 5%. Para o cálculo do NMI, utilizámos a metodologia de contabilização dos bordos diferenciados (após as colagens e associações) conforme proposto por S. Raux (RAUX, 1998), contabilizando-se 468 indivíduos. Para efeitos da análise formal devemos referir também a identificação de 66 fragmentos de fundo para os quais foi possível determinar o tipo de peça a que pertenciam.

Gráfico 2: % Tipos de fragmento

No que toca à funcionalidade das formas cerâmicas identificadas estas correspondem principalmente a cerâmica de cozinha e de utilização à mesa. Em boa verdade, estes dois grupos correspondem à grande maioria de todo o espólio analisado, sendo que em conjunto perfazem cerca de 83% (36% - loiça de mesa; 47% - loiça de

Bordos 13% Bojos 68% Asas 5% Fundos 14%

% Tipos de Fragmento

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cozinha). Para que fique claro, tomámos como loiça de mesa pratos, tigelas, infusas, canecas, e como loiça de cozinha panelas, tachos, frigideiras e testos. Os testos serviriam para cobrir panelas, tachos e potes e optámos por contabilizá-los individualmente, já que não foi possível associá-los a apenas um tipo de forma, considerando a amplitude de dimensões documentadas. Dentro da loiça de cozinha optámos por contabilizar os fogareiros individualmente e categorizá-los como “recipientes de fogo”. Além destas categorias identificámos também em menor quantidade formas de armazenamento (talhas), iluminação (candeias) e higiene (bispotes) (Gráfico 4). Finalmente, cabe-nos referir o número de perfis completos conservados. Entendemos por isso peças inteiras, fragmentos, ou colagens, que apresentem porções de bordo, bojo e fundo e que permitam assim a apreensão do perfil da peça na sua totalidade. Apenas foram recuperados 15 perfis completos, menos de 1% do número de fragmentos total da colecção. Dos perfis completos foram identificados 4 tachos, 3 tigelas, 3 candeias, 2 testos, 2 pesos de tear e 1 prato.

Gráfico 3: Distribuição das formas por funcionalidade

No que diz respeito à caracterização das pastas, as cerâmicas foram classificadas quanto à incidência de elementos não plásticos (ENP’s) e ao seu tamanho. Conforme referimos, no que diz respeito ao tamanho considerámos grão grosso (superior a 5 mm), médio (de 5 mm a 2 mm) e fino (inferior a 2 mm). A quantidade foi classificada como Grande, Média ou Pequena.

A importância destas observações reside no facto de que, regra geral, o nível de depuração das pastas é demonstrativo de um maior ou menor cuidado a nível do fabrico das cerâmicas, sendo que, certas formas – por exemplo as talhas, cujo propósito é o

Mesa, 191 Cozinha, 245

Armazenamento, 73

Iluminação, 10 Higiene, 2 Recipientes de fogo, 2

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armazenamento - tendem a ser muito menos depuradas do que formas como pratos – que servem para servir alimentos à mesa – e que por isso mesmo são mais depuradas, apresentando também outro tipo de tratamentos de superfície.

Esta abordagem é coerente com os tipos de fragmentos estudados, sendo que um número considerável das formas diz respeito a cerâmica de mesa que, como veremos, seria fabricada com recurso a pastas relativamente depuradas e com ENP’s de reduzidas dimensões. O outro grande grupo representado diz respeito à cerâmica de cozinha – como panelas e tachos – para as quais não parece existir esse mesmo cuidado, exactamente porque a sua função não o exige.

Devemos agora abordar o elemento mais expressivo de todo o estudo: a predominância de cerâmica comum e a muito reduzida quantidade de cerâmica vidrada. Esta particularidade do conjunto em questão facilitou o estabelecimento de grupos gerais para a cerâmica, uma vez que a cerâmica vidrada representa somente 0,13% de todo o conjunto, apenas 5 fragmentos. Dada a grande uniformidade do conjunto, composto maioritariamente por fragmentos de cerâmica comum, optámos por subdividir este grupo de acordo com as características evidenciadas pelas pastas, nomeadamente no que respeita à coloração, depuração, compacidade e tipos de ENPs. Estas, regra geral, apresentam tons entre os vermelhos e laranjas – existindo no entanto, pontuais peças de tonalidades negras, que sugerem outros tipos de cozedura ou talvez locais de produção distintos. Assim, registam-se os seguintes tipos de pastas:

I – Pasta de coloração alaranjada (Munsell 2.5 YR 7/8), compacta, contendo inclusões quartzo-micácicas, ocasionalmente com inclusões de calcite e feldspato, e também de chamota. Elementos não plásticos variam conforme a forma e função, sendo, no entanto, de pequena dimensão e média quantidade.

II – Pasta de coloração cinzenta (Munsell 2.5 YR 5/1), semelhante à anteriormente mencionada, não apresentando no entanto inclusões de feldspato. A nível de depuração, estas apresentam desengordurantes de pequenas a médias dimensões e média quantidade.

III – Pasta de coloração cinzento-avermelhada (Munsell 2.5 YR 5/2), em tudo semelhantes às anteriores, apresentando-se no entanto extremamente depurada, com elementos não plásticos de pequena dimensão de escassa ocorrência.

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IV – Pasta de coloração laranja-rosado (Munsell 2.5 YR 7/6), idêntica à pasta I, apresenta elementos não plásticos de pequena dimensão a média dimensão e pequena a média quantidade.

As características das pastas, desde a sua composição à coloração, são semelhantes às de outros contextos estudados na Lisboa tardo-medieval, como por exemplo no Castelo de S. Jorge (GASPAR; GOMES, 2013, p.721). Partindo do princípio que se assiste a uma nova estratégia de exploração de barreiros e consequentemente novos locais de fabrico das peças, os fornos poderiam então, a partir do século XIV, situar-se no Bairro da Mouraria (GASPAR; GOMES, 2013, p.721) onde aliás foi identificado um forno cerâmico na Rua da Amendoeira que estaria em funcionamento no século XV, com produções cerâmicas semelhantes às que estudámos (MARQUES; LEITÃO; BOTELHO, 2012, p.128).

Relativamente aos acabamentos de superfície, identificámos vidrados, engobes e brunidos, sendo que algumas peças analisadas apresentam vestígios de mais do que um tipo de acabamento, como veremos.

Nos escassos fragmentos de cerâmica comum vidrada (apenas 5 fragmentos), verifica-se que as pastas, são em tudo iguais às produções acima discriminadas, registando-se as cores dos revestimentos: vidrado em verde plumbífero e vidrado amarelo melado. Ambos parecem ser semelhantes, a nível de pasta, ao grupo IV, tratando-se de pastas quartzo-micácicas bastante compactas com ocasionais elementos de calcite e feldspato, assim como semelhantes níveis de depuração. Os fabricos de cerâmica vidrada nesta região datam já desde o período islâmico, como evidenciado pelos contextos de produção na Rua dos Correeiros e no Mandarim Chinês, que datam dos finais do século X a XII (BUGALHÃO; SOUSA; GOMES, 2004, p.575). Durante os séculos XV a XVI, estas produções regionais destacar-se-ão, dando-se uma progressiva expansão destas produções da olaria portuguesa durante este mesmo período (BARRADAS, SILVA, 2017, p. 1676). Desta forma propomos também a região de Lisboa como possível local de fabrico, pelas razões acima esclarecidas.

É de salientar que, a maioria das peças que evidenciam tratamentos de superfície como os vidrados, pintura e brunidos dizem respeito a fragmentos relativamente bem depurados, em particular os grupos I e IV, que apresentam entre si a totalidade das

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peças brunidas e pintadas. Os vidrados neste estudo foram somente verificados em pastas de tonalidade laranja-rosado e extremamente bem depuradas (Pasta IV).

No que respeita ao fabrico destas peças, cabe-nos evidenciar que a quase totalidade foi elaborada com recurso à roda de oleiro (torno rápido), com excepção das candeias e dos pesos de tear, que devido às suas formas específicas foram feitas manualmente. O recurso tão generalizado ao torno rápido é característico de uma produção oleira especializada.

Relativamente às cozeduras, como mencionado, a maior parte das peças apresenta colorações avermelhadas/alaranjadas e raramente rosadas. A maioria dos fragmentos analisados apresenta indícios de cozedura oxidante (85%). A cozedura redutora-oxidante verficou-se em 11% das peças, deixando as cozeduras redutoras com apenas 4% de representatividade.

Gráfico 4: % Cozeduras dos fragmentos cerâmicos

No que diz respeito à decoração foram discriminados cinco: caneluras, incisões rectílineas e/ou onduladas, digitações, aplicações de cordão plástico e pintura a branco. Apenas 405 fragmentos (11,2%) apresentam decorações.

A opção decorativa mais recorrente é, sem dúvida, a utilização de caneluras, que estão presentes em 233 fragmentos, o que equivale a 58% de todas as decorações. Este elemento decorativo pode ser observado numa grande variedade de formas – infusas, panelas, tachos e tigelas. Normalmente, situam-se abaixo do bordo destas peças, marcando a parte superior dos bojos. Esta opção decorativa encontra-se bastante

Cozedura Oxidante, 3072 Cozedura Redutora, 153 Cozedura redutora- oxidante; 389

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difundida nas formas referidas, durante os finais do século XIV até meados do XVI (CARDOSO; NETO; BATALHA; REBELO; SANTOS, 2019, p. 90).

O segundo tipo decorativo mais comum é a decoração incisa rectilínea, cujos 114 fragmentos representados perfazem 28% de todos os elementos decorativos. Tal como a maioria das decorações neste conjunto, estas encontram-se maioritariamente nos bojos das peças; apesar disso, dois destes estão presentes nos bordos de dois tachos (B.S.M. LX. 2019. 0166), (B.S.M. LX. 2019. 0223), descrevendo uma linha que percorreria toda a circunferência do bordo. Dez destas incisões encontram-se nas abas dos bordos de dez pratos, sob a forma de pequenas estrias, que percorreriam também toda a aba. Este tipo de decoração apresenta-se em bastantes exemplares, nestas mesmas formas e para o período entre o século XV e XVI (BUGALHÃO; COELHO, 2015, p. 125- 130). Estas duas técnicas compreendem a grande maioria das decorações com as quais nos deparámos nesta colecção – 86%. A decoração incisa ondulada está presente em 32 fragmentos ou seja 8% de todas as decorações. Encontra-se bastante destacada no caso dos alguidares, onde pode adornar o bojo ou o bordo destas peças (B.S.M. LX. 2019. 0104), (B.S.M. LX. 2019. 0162). Neste caso estas decorações verificam-se maioritariamente na zona dos bojos (FERNANDES; CARVALHO, 1995, p. 213).

A decoração digitada representa apenas 3% do total e conta somente com doze elementos. Destes, oito encontram-se em bojos de tachos ou panelas, sendo que os restantes quatro encontram-se também nestas formas, mas na zona do bordo, causando os bordos das panelas a tomarem a forma de “laço” e nos tachos causando um efeito “ondulado” ao longo do bordo.

A pintura a branco aparece em 13 fragmentos, compreendendo assim 3% do total de decorações. Encontra-se na sua grande maioria em fragmentos de bojo, que pelas suas reduzidas dimensões não permite determinar as respectivas formas. No entanto, podemos registar o caso de uma asa em fita que aparece decorada com pintura a branco, assim como um prato que detém também essa mesma característica (B.S.M. LX. 2019. 0315). Esta técnica decorativa de tradição islâmica, está aqui representada maioritariamente sobre a forma de ponto, linha recta e linha ondulada. Apesar dos fragmentos serem de pequenas dimensões, não nos parece que detenham características de cariz naturalista, como será comum do século XV adiante (LIBERATO, 2012, p.104.). Pelo contrário, os fragmentos em questão, parecem ser caracterizados por um tipo de

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“padrões esquemáticos essencialmente geométricos” em oposição às “representações fitomórficas de feição naturalista” (LIBERATO, 2012, p.111). Assim sendo, estas peças inserem-se facilmente nas produções da cidade entre os finais do século XIII e todo o século XIV.

De facto estes fragmentos de cerâmicas de barro vermelho com pintura a branco são pouco frequentes no registo arqueológico do século XV, sendo verossímil dizer que não se trataria de uma produção massificada, apesar de característica da zona de Lisboa (GASPAR;GOMES, 2013, p.722). A sua presença neste contexto dever-se-á a uma continuidade na utilização das peças em momentos posteriores ao seu fabrico. No século XV, no entanto, estas peças representariam um certo estatuto ou poder económico. O objectivo da decoração seria inclusive uma tentativa de inserir as mesmas em redes comerciais que ultrapassassem o abastecimento local, almejando alcançar uma difusão regional (LIBERATO, 2012, pp. 109 e 114).

Por último, existe um único elemento registado de decoração com recurso à aplicação de um cordão plástico digitado num bojo de talha, assim identificado devido à grande dimensão e grossura do fragmento. Este corresponderia ao colo e o cordão percorreria toda a circunferência da peça.

Gráfico 5: % Tipos de decoração

Passando agora para os tratamentos de superfície, devemos começar por referir que, com excepção dos 153 fragmentos que apresentam cozedura redutora e que não

Caneluras, 233 Cordão, 1 Decoração Digitada, 12 Decoração Ondulada, 32 Decoração Rectilínea, 114 Pintura a branco, 13

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sofreram qualquer tipo de aplicação de aguada, todos os restantes fragmentos foram revestidos por uma camada de aguada normalmente de cor vermelha, sendo que as tonalidades acabam inevitavelmente por variar, existindo peças alaranjadas ou rosadas. Esta aplicação é coerente com a designação que recebem estas cerâmicas, frequentemente referidas na bibliografia como sendo de barro vermelho de Lisboa. As formas abertas são revestidas pela aguada tanto na superfície externa como interna, enquanto nas formas fechadas só a parte externa é coberta com esta aplicação. Desta forma, estimamos que 96% de todos os fragmentos analisados foram cobertos com aguada vermelha.

No que diz respeito aos brunidos, existem 77 fragmentos que conservam este tratamento de superfície, mas tratam-se na maioria de fragmentos incaracterísticos, pelo que não foi possível discernir a que tipo de formas poderiam pertencer. Contudo, algumas das peças de perfil completo, ou com bordos e paredes intactas, oferecem-nos um vislumbre para o tipo de formas que passariam por este processo. Estas peças seriam as tigelas, pratos, frigideiras, tachos e alguidares. As peças brunidas obtinham uma espécie de brilho reluzente, assim como algumas propriedades antiaderentes que facilitaria a confecção de alimentos e a própria lavagem, explicando a razão da sua aplicação em cerâmica de cozinha e de mesa para servir alimentos. Contudo, um dos elementos mais peculiares trata-se de um fragmento de infusa que apresenta um brunido incompleto no exterior da peça. É a única peça que não se encontra nos grupos anteriormente mencionados– todos os restantes fragmentos são brunidos internamente, o que poderá sugerir que neste caso o brunido teria uma componente decorativa.

Relativamente aos vidrados, 4 dos 5 fragmentos recuperados apresentam um vidrado em verde plumbífero, enquanto o fragmento restante apresenta uma coloração amarela-melada. O tamanho muito reduzido dos fragmentos impossibilita qualquer aferição das suas potenciais formas, com a excepção de 2 fragmentos: um bordo de alguidar com um revestimento vidrado em verde plumbífero, aplicado tanto na superfície externa quanto interna, e o fragmento revestido em vidrado amarelo-melado, que pela forma e dimensões aparenta pertencer a um púcaro de pequenas dimensões – este encontra-se vidrado somente na superfície externa. O facto de que, nesta colecção cerâmica, praticamente não se tenham documentado peças vidradas, parece ser coerente com uma cronologia de produção onde a prática do vidrado não tinha ainda sido introduzida, a Baixa-Idade Média.

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Concluímos este apartado salientando o elevado nível de homogeneidade a nível de fabricos entre todo o conjunto que aqui estudámos, apesar de algumas distinções entre os mesmos – o feldspato e a calcite são elementos que aparecem esporadicamente e os elementos quartzíticos, assim como as micas são possíveis de ser identificados em todos os fragmentos estudados.

IV.2 Marcas de Uso.

As marcas de utilização nas peças cerâmicas podem ser um dado valioso no momento de analisar um contexto arqueológico como a fossa detrítica documentada no Beco de São Marçal. Como vimos, uma das hipóteses interpretativas para esta fossa é de que estaria associada a um contexto produtivo, podendo corresponder ao nível de descarte de uma olaria, conclusão chegada pela equipa de escavação, que depois é contestada por Clementino Amaro e Alexandra Gaspar (GASPAR; AMARO, 1997, P.337). No entanto, a ausência de materiais defeituosos face às marcas de uso verificadas numa percentagem representativa de fragmentos sugerem outras leituras.

Dos fragmentos de cerâmica analisados, 11,6% (420) apresentam marcas de utilização ao fogo. Estas encontram-se, previsivelmente, em formas como panelas, tacho e frigideiras e testos que seriam utilizados com estas peças. No entanto existem formas como as tigelas carenadas e pratos que apresentam também estas mesmas marcas de uso ao fogo, o que poderia sugerir que seriam utilizadas para aquecer alimentos previamente confeccionados. A incidência destas “queimaduras” é normalmente mais ténue do que nos casos de uma exposição ao fogo muito prolongada. No caso dos pratos seria possível que estes fossem, em alguns casos, utilizados como substitutos dos testos, cobrindo os recipientes de cerâmica de cozinha e acabando assim por ficar queimados. Contudo, nem todos os recipientes que se encontram com marcas de utilização ao fogo resultam de servirem na preparação de refeições. No caso das candeias, estas resultam de, enquanto cerâmica de iluminação, conterem o fogo para que se pudesse iluminar a área circundante. De uma forma distinta, os fogareiros serviriam como contentores de fogo cuja própria utilização – ainda muito difundida nos dias de hoje – exige que este mantenha fogo e brasas no seu interior de modo a poder ser utilizado como meio de aquecimento ou também para auxiliar na confecção de alimentos.

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Outra das características da colecção é o facto de uma grande parte dos fragmentos se encontrarem bastante desgastados, com os bordos mostrando visíveis marcas de utilização, ou também os fundos. Este aspecto não foi contabilizado minuciosamente como os restantes; contudo, de um modo geral, nota-se que estes se encontram bastante gastos, o que implica que estas peças tenham passado por um amplo período de utilização. Um exemplo seria o da peça (B.S.M. LX. 2019. 061), uma escudela, que apresenta um desgaste claro na superfície, resultante do continuo uso de instrumentos – como colheres – na face interna.

Para terminar este apartado, referem-se apenas os 363 fragmentos, 10,4% da colecção total, que apresentam marcas de fogo na fractura indicando que foram expostos ao fogo já após a sua deposição. Parece-nos possível que isto tenha sucedido aquando de uma eventual queima dos resíduos depositados, algo bastante provável se considerarmos que as camadas 4, 7, 10 e 11 apresentaram abundantes quantidades de carvões e cinzas. Este processo de queima de despejos domésticos seria prática comum, especialmente atentando à existência de restos faunísticos, e que ainda se utiliza nos dias de hoje.

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