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2.2 Equilíbrio morfogenético

2.2.3 Face à forma e característica do material

Pesquisando voçorocas em sedimentos cenozóicos, Rodrigues (1984) observou que esses se apresentam mal compactados, o que propicia uma ação erosiva intensa sobre eles. Concluiu que, em relação às características de compacidade dos sedimentos em seu estado natural, mostraram em relação ao Proctor Normal, graus de compacidade inferiores a 91% chegando até 78%. Obteve, para os ensaidos de compressão uniaxial, valores que variaram de 0,04 até 0,30 kgf/cm2 e ângulo de atrito interno de 200 250.

Muitos trabalhos sobre ocorrências erosivas mostraram associação dessas com formações sedimentares arenosas (Setzer, 1949; Prandini, 1974; Vieira, 1978; Furlani, 1980; Rodrigues, 1982; IPT, 1986; Veiga et al 1987; Cabral & Maciel Filho 1991; Suertegaray 1992; Ab’Saber 1995;). Conforme esses trabalhos, a principal razão do surgimento de erosões em sedimentos arenosos deve-se ao fato dessas formações favorecerem o desenvolvimento de solos de textura média e arenosa. Também mostraram que, nas áreas de ocorrência de rochas metamórficas e ígneas, predominam o rastejamento (creep) e nas áreas de rochas sedimentares ocorre em maior intensidade a erosão laminar. Porém, a influência da rocha ocorre de forma indireta, através do condicionamento de certas características do solo.

Mitchell & Bubenzer (1980), Veiga et al. (1993), Azevedo & Kaminski (1995), Salomão (1999) e Schäfer et al. (2001) destacam algumas propriedades do solo que reconhecidamente afetam a sua erodibilidade. Entre elas está a textura, teor de matéria orgânica, estrutura do solo, óxidos de ferro e alumínio além da mineralogia e grau de intemperismo. Baixos teores de argila e de matéria orgânica conferem um caráter débil de resistência aos processos erosivos.

Prandini et al. (1982) observaram Latossolos Vermelhos na região de Casa Branca-SP e relacionaram a presença de um horizonte C altamente erodível, proveniente da alteração de arenitos feldspáticos com intercalações de argilitos e

siltitos da formação Aquidauana, à ocorrência de voçorocas. Conclusão semelhante foi observada por Parzanese (1991), em relação aos terrenos cristalinos constituídos por granitóides da região de Cachoeira do Campo-MG, considerando como principal condicionante à existência de um horizonte C de textura arenosa pouco coerente e bastante erodível.

Os solos com horizonte B textural são mais susceptíveis à erosão do que os solos com horizonte B latossólico. Essa constatação foi obtida por Lombardi Neto e Bertoni (1999), baseado-se na razão entre a relação de dispersão e a argila dispersa pela umidade equivalente.

A influência do relevo no ravinamento e desenvolvimento de voçorocas é enfatizada por Oka-Fiori e Soares (1976) que, estudando a ocorrência de ravinas e voçorocas nas folhas de Piracicaba, Rio Claro, São Pedro e Itirapina, em São Paulo, observaram que 95% dessas se desenvolviam em encostas convexas. O IPT (1986) concluiu pela maior concentração de ocorrências erosivas em relevos de transição e morrotes constituídas por vertentes relativamente declivosas, superiores a 15% e com perfis convexos passando a retilíneos. Justificou a concentração nesses sistemas de relevo pelo aspecto de que a existência comum de vertentes com rupturas de declive favorecem nesses locais a concentração de águas pluviais. Justificou também pelas ocorrências generalizadas associadas a substratos areníticos, de fundo de vales preenchidos por depósitos coluvionares arenosos, altamente suscetíveis ao desenvolvimento de processos erosivos do tipo reativação de drenagens naturais.

A distribuição dos solos é determinada pelos processos e fatores de formação do solo. Entre os fatores de formação, o material, o clima e o relevo afetam as características dos solos em distintas escalas e intensidades. O relevo, devido a sua influência no fluxo superficial e subsuperficial da água, influi na formação dos solos, além de controlar a modelagem da paisagem. O clima atua diretamente pela influência da temperatura, da água e do vento, alterando os minerais das rochas, retrabalhando os produtos de alteração e, indiretamente,

condicionando o desenvolvimento da cobertura vegetal. Esta estabiliza as superfícies e intensifica os processos pedogenéticos, pela atuação dos compostos orgânicos e pela incorporação de material orgânico ao solo (Klamt & Schneider, 1995).

Trabalhando no Noroeste do Paraná, Muratori (1984) observou a influência das feições de ruptura de declive no desenvolvimento de processos erosivos. Considerou como fator condicionante da erosão do solo a topografia, expressa pelas diferenças altimétricas, declividade, forma e extensão da vertente. Estudou a forma da vertente (convexa, côncava, uniforme e complexa) abordando dois valores de declividade: 5% e 10%. Manteve a mesma amplitude altimétrica: sete metros. Concluiu que a forma convexa favorece mais a erosão do que a forma côncava e observou que o máximo de aprofundamento dos sulcos para cada tipo de vertente com 5% de declividade foi: Vertente côncava – 6mm; Vertente uniforme – 9mm; Vertente complexa – 14mm; Vertente convexa – 42mm. Para declividades de 10%, esses valores foram maiores, seguindo essa mesma ordenação. Também observou que essas formas modificam-se após etapas sucessivas de erosão, tendendo à concavidade, o que acarreta, por sua vez, uma diminuição na taxa de erosão.

O relevo tem como modelado formas de acumulação, aplanamento e dissecação. As formas de acumulação constituem as áreas onde predomina a acumulação de material. Nas formas de aplanamento há uma tendência de recuo e suavização das vertentes, mantendo o grau dos declives. Já as feições de dissecação baseiam-se no grau de entalhamento dos vales e na dimensão interfluvial. Portanto, a densidade da drenagem é fator de influência no grau de dissecação do relevo. Essa, por conseguinte, é resultante da ação dos processos erosivos atuantes ao longo da vertente. A densidade de drenagem, razão de textura, freqüência de canais, textura geológica, comprimento médio dos canais e a relação de forma são índices que refletem o grau de dissecação do relevo (Ross, 2003).

A intensidade de rugosidade topográfica constitui importante indicador da fragilidade potencial que o ambiente natural apresenta (Ross, 2003). A rugosidade topográfica, ou índice de dissecação do relevo é determinada pela associação da densidade de drenagem e do grau de entalhamento dos canais.