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Em 2004, Mark Zuckerberg e Eduardo Saverin, ainda estudantes em Harvard, criaram o Facebook. Inicialmente, o dispositivo tinha como espaço de rede apenas alunos da universidade de Harvard, mas, pouco a pouco, expandiu-se. Em 2005, a empresa formalizada permitiu que a rede social digital fosse aberta ao público em geral. Atualmente, o Facebook está ao alcance de qualquer pessoa com acesso à Internet – em qualquer lugar do mundo e tem mais de 1 bilhão de usuários (em torno de 11% da população mundial). Nove anos após sua criação, o Facebook se tornou o fenômeno do século: homens e mulheres, jovens e idosos, crianças, pais e avós, conectados por essa rede social digital.

79 Ressalta-se que o Facebook é uma plataforma (talvez momentânea) e que, em breve, provavelmente, novas redes sociais digitais estarão em seu lugar, assim como o Orkut (http://orkut.com/), que já teve números elevados de usuários, principalmente no Brasil, até 2007. Existem outras redes sociais digitais, inclusive, que já despontam nos EUA como o Pinterest (http://pinterest.com/).

No entanto, acredita-se que os processos e as práticas de comunicação que partilham informações, opiniões – em redes sociais digitais - permanecerão colocando as pessoas em contato umas com as outras, em torno de algo que tenham em comum: uma experiência, um interesse, um problema ou uma causa.

A rede social digital é um espaço público virtual, composto por vários aplicativos, presentes em uma home page, com uma interface e usabilidade de fácil acesso, para a maioria das pessoas. Os aplicativos permitem várias interações, como por exemplo, o convite a outros utilizadores, a elaboração de um perfil (com informações básicas, como sexo e idade, até preferências culturais, religião e ideologia política); permite publicar mensagens no mural, com um carácter assíncrono por não exigir uma espera pela resposta da outra parte, sabendo-se que as mensagens são sempre entregues. As mensagens consistem em comentários, comunicações verbais de vários tipos, promovendo a interação e o diálogo entre dois ou mais participantes no mural de um perfil. A atividade principal da rede, portanto, consiste no compartilhamento ativo de informações.

O Facebook é uma plataforma para pessoas, uma série de nós e conexões, “os nós são as pessoas, e as conexões são as amizades” (KIRKPATRICK, 2011, p. 235). Portanto, ao se conectar a um “amigo” no Facebook, os sujeitos montam suas redes, usadas para distribuir qualquer tipo de informações. Ao adicionar uma foto, o sistema do Facebook avisa a todos os perfis vinculados a sua rede, por exemplo.

O número de idosos que ativam perfis no Facebook é expressivo. Segundo dados do “All Facebook” (2011), a rede, em abril de 2011, já contava com mais de 1,5 milhões de idosos em todo o mundo. No Brasil, a população idosa correspondia a 4% dos usuários, mais de 110 mil sujeitos, em junho de 2012.

80 Entre as redes sociais digitais mais utilizadas no Brasil, o Facebook lidera com 63,40%. Em seguida, vem o YouTube com 18,50%. Em terceiro o Orkut, com 4,21%. Em quarto o Ask.fm, com 2,5% e o Twitter, com 2,06% (SERASA EXPERIANCE, 2012). Novamente, salienta-se que esse é um posicionamento momentâneo. Da mesma forma que o Facebook lidera atualmente as redes sociais digitais, novas plataformas podem alcançar os mesmos números de usuários.

Os estudos demonstram que as práticas de comunicação e interconexões digitais possibilitadas pelo Facebook alteram, positivamente, a rotina dos idosos em busca de uma melhor qualidade de vida. Combatem aspectos existentes na velhice (e, também em outras fases da vida), muitas vezes, como a solidão, a depressão e o isolamento social.

Miller (2011, p. 32), em seu livro, Tales From Facebook, escreve sobre o idoso Dr. Karamath e sua relação com o Facebook:

Dr. Karamath saw his opportunity, swung his lame body into this Facebook saddle and prepared one more time to engage the world”. But. Dr. Karamath was exactly the kind of person to recognize Facebook, not for what it was, but for what it could became. Dr. Karamath saw something entirely different: that Facebook was going to become, in the longer term, a far more instrument within an entirely different segment of the population: the elderly, the infirm, the housebound, the frail and those whose faculties. (…)Dr. Karamath has become part of vibrant, mature and sophisticated circle of close friends that exists in the transnational space facilited circle by Facebook, comprising individuals, none of whom previously were friends with each other but who had net worked through one of various Facebook groups that shared political or activated interested.22

22 Tradução livre da autora: “Dr. Karamath viu a sua oportunidade, balançou o corpo para entrar no

Facebook e se preparou mais uma vez para participar do mundo. Mas, Dr. Karamath era exatamente o tipo de pessoa a reconhecer o Facebook, não para o que era, mas pelo que ele poderia se tornar. Dr.Karamath viu algo completamente diferente: que o Facebook estava se tornando, a longo prazo, um instrumento diferenciado para segmentos da população: os idosos, os enfermos, os impedidos, o frágil e aqueles com dificuldades (...). Dr. Karamath tornou-se parte do círculo vibrante, maduro e sofisticado de amigos próximos que existe no espaço transnacional facilitado pelo Facebook, incluindo individuos, nenhum dos quais anteriormente eram amigos uns com os outros, mas que tinham trabalhado através de um dos vários grupos do Facebook que compartilham interesses comuns”.

81 A tendência é que os sujeitos com mais de 60 anos procurem cada vez mais o espaço da rede virtual para conhecimento, diversão e novas sociabilidades (PANDA SECURITY, 2011). Mesmo com algumas dificuldades para a habilidade na comunicação mediada por computadores, a parcela da população que mais cresce como usuária das redes sociais virtuais é constituída por idosos. Sendo assim, a comunicação pública pode perpassar pelos debates do Facebook para alcançar o diálogo com idosos. A comunicação pública pode se entrelaçar com o entretenimento23 posto pela rede social digital e mobilizar temas para o debate conjunto da sociedade.

Putnam (2005) considera que a participação em redes sociais e em organizações voluntárias são fatores importantes para a democracia e para a satisfação pessoal, por serem canais de expressão de interesses privados e demandas governamentais. As redes sociais de participação podem funcionar como um ambiente de aprendizagem democrático, onde se aprendem habilidades cívicas: debates de questões públicas, de como falar em público ou de organizar uma reunião, por exemplo. Assim, afirma-se que a esfera pública, atualmente, inclui, também, os ambientes virtuais.

As interconexões digitais são ferramentas que podem colaborar no processo de inclusão social24 e de ativação na participação pública de idosos? Para Barbero (2012), a utopia de democracia direta e igualdade total na Internet é mentirosa e ameaça minar as práticas de representações e as participações políticas reais. O autor afirma:

Creio que há pessoas no Facebook que, pela primeira vez em suas vidas, se sentem em sociedade. É uma questão importante, mas não podemos esquecer da maneira como nos relacionamos com o Facebook. Um inglês que passa boa parte da sua vida só, em um pub, desfruta muito desse modo de vida. Nós, latinos, desfrutamos mais estando juntos. Evidentemente a relação com o

23 O entretenimento e sua força política, artigo de Curran (2010), que reforça os processos

democráticos e as deliberações públicas por meio do entretenimento.

24Não se pode descartar, no entanto, questões da exclusão digital, da dificuldade de expandir a rede a

todos os grupos sociais, mas deve-se incentivar e valorizar todas as iniciativas de inclusão digital na coletividade, e, também, aos idosos. Como escreve Goulart (2007, p. 68): “é certo que existem muitas pessoas sem acesso a computadores e à Internet, mas não podemos ficar restritos a essa constatação. Na verdade, a exclusão que existe não é somente digital, mas é social, de conhecimento, informação e cidadania”.

82 Facebook é distinta. O site é real, mas a maneira como nos relacionamos, como ousamos, é muito distinta. O Facebook não nos iguala. Nos põe em contato, mas nada mais.

A relação que se cria com o Facebook, vale ressaltar, é individual e faz parte de um contexto sócio-histórico que envolve a cultura, as práticas de comunicação, os diversos perfis existentes, as características de cada sujeito que participa da rede social digital. São os contratos e as apropriações que os indivíduos fazem com a plataforma tecnológica. Pessoas tímidas no convívio social – por exemplo - talvez desenvolvam maiores contatos pela rede social digital. O que diferencia, nas redes, portanto, é o nível de participação dos sujeitos, suas motivações para interagir e fazer parte do grupo específico. Cada sujeito terá seu contrato de comunicação com as redes sociais nas quais ele se vincula. São objetivos individuais que modificam a apropriação das redes sociais e, com isso, dão a sua forma específica.

Ao colocar os sujeitos em contato, eles têm a possibilidade de aumentar seu grau de participação em debates e questões de seu interesse. Da mesma maneira, mobilizar-se, o que talvez, não fosse tão facilitado anteriormente. As interações e as práticas comunicacionais no Facebook acontecem quando os sujeitos falam pelo bate- papo, publicam vídeos, expressam sentimentos por frases postadas em seus murais ou julgam ações e/ou pensamento postados por outros sujeitos. São ações simplificadas, realizáveis em seus lares.

As subjetividades contemporâneas se ancoram na exterioridade, isto é, nos sinais visíveis emitidos por um sujeito, assim como na conquista de uma alta visibilidade. Portanto, para a autora, a verdade sobre o que cada um é não se encontra mais na Psicologia, em algo misterioso e oculto, mas, cada vez mais, na exposição das superfícies das peles, nas telas do computador (SIBÍLIA, 2008). Exemplifica-se esse fato por meio de um sujeito visível que denota pavor diante da solidão, pois os indivíduos usuários de blogs, fotologs e redes sociais digitais nunca estão a sós: sempre há alguém olhando ou acompanhando tudo o que eles fazem ou que deixam de fazer, supostamente (SIBÍLIA, 2008).

83 O ponto principal é a interação ao entrelaçar as seguintes premissas: a democratização da comunicação dialógica; os protocolos que regulam os fluxos e as trocas dialogais; o resultado final ou parcial do diálogo; as ações colocadas em andamento em função do que se concluiu e, também, as consequências das ações e a responsabilidade acerca delas (MATOS, 2010). Ambientes virtuais, como as redes sociais digitais, são “uma poderosa ferramenta tanto para o capital social quanto para a comunicação pública” (MATOS, 2010, p. 01).

A partir das redes sociais digitais é possível criar redes de relacionamentos, mobilizar e engajar o público idoso. Entretanto, os diálogos das redes sociais digitais podem ser fragmentados; as regras de debate, insuficientes; os resultados quando existem, incertos; as ações, pontuais e sem continuidade e a responsabilidade para o bem ou para o mal, difusa. São questões que prolongam e necessitam de novos debates e estudos (MATOS, 2010).