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O factor empresarial

No documento MESTRADO EM HISTÓRIA E CULTURA DAS REGIÕES (páginas 112-127)

5.1- Exposição geral

No universo de 549 casos que reunimos nesta investigação, referentes a 267 sociedades, encontramos 825 diferentes accionistas, de ambos os sexos. No entanto, se tomarmos em consideração que o mesmo accionista podia participar em diferentes casos, então o número elevou-se a 2085. Estes valores permitiram calcular a média ligeiramente inferior a 4 accionistas por caso e aproximadamente 8 por sociedade. Portanto, podemos concluir que o universo de investidores que apostavam nos sectores agro-industriais do vinho e da cana sacarina não era muito extenso. Porém, esta ilação é ambígua, pois encontramos algumas sociedades representadas por intermédio de gerentes, de procuradores ou de representantes de outras firmas. Por outro lado, as sociedades diversificavam os seus objectos sociais ao longo do tempo. Deste modo, corremos o risco de duplicar as informações quando tivermos em consideração o grupo de investidores relacionados com o sector vinícola ou o sacarino. Convém ainda realçar que os valores apresentados respeitam apenas às sociedades que mencionaram expressamente o açúcar, o álcool, a aguardente e o vinho como áreas de interesse social.184

A presença de elementos do sexo feminino nos registos comerciais equivaleu a uma cifra na ordem dos 3%. Das 25 mulheres, 8 constavam como viúvas, 8 casadas e 9 solteiras. Esta situação deveu- se em parte à legislação em vigor, mais precisamente o Código Comercial de 1888, que exigiu autorização do marido ou o suprimento judicial para as mulheres poderem exercer actividades ligadas ao comércio ou integrar as próprias sociedades. Caso contrário, estas não se podiam inscrever no Tribunal de Comércio e, deste modo, ficavam impedidas de iniciarem os objectos constantes no pacto social.

A mulher desempenhou um papel pouco expressivo na direcção dos negócios. Na maior parte das vezes as sociedades limitaram-se a acrescentar o termo «Viúva» à firma, após o óbito do marido. Foram os casos de Viúva Abudarham & Filhos, de Viúva de Manuel Gomes de Oliveira & Filho, de Viúva de Romano Gomes & Filho e de Viúva de Vicente Cândido Machado & Cª. Como referimos noutro ponto, verificamos um aumento grande no número de casos referentes às décadas de 1910-20, mas

184Pedro Lains e Álvaro Ferreira da Silva (orgs.), História Económica…, vol. II, pp. 387, «Em Portugal só um louco investia em fábricas. A não ser que o governo

isso não se reflectiu nestas sociedades. Naquelas décadas, pareceu evidente a opção pelo termo “Sucessores”, como se constatou em cerca de 2,5% das sociedades. Esta situação podia resultar da disposição legal sobre o trespasse das firmas em conjunto com o estabelecimento comercial, aditando aquela expressão.185

Apesar do que ficou dito, encontramos 4 sociedades formadas unicamente pelo casal. Nestas, a mulher era usualmente a sócia capitalista e o marido o sócio de indústria e gerente. Esta situação aconteceu com as firmas A. P. Santos & Cª e Pestana Santos & Cª, apesar desta última se ter dissolvido ao fim de 5 meses. Na firma Rodrigues & Azevedos Lda., os sócios eram casados em regime de separação de bens. A sociedade foi objecto de liquidação e partilha, em 1927, apurando-se que o esposo devia 125 contos à consorte. Por último, na firma Veiga, França & Cª, o marido controlava 80% do capital social e o remanescente pertencia à esposa.

Nos próximos pontos procuramos agrupar os investidores de acordo com as categorias socioprofissionais constantes nos registos notariais. Essas referências nem sempre coincidiam e, por vezes, os nomes também eram registados de forma diferente, sobretudo quando se tratavam de cidadãos estrangeiros. A tradição de atribuir os nomes dos progenitores aos descendentes também contribuiu para dificultar a organização de séries. Por último, face à existência de 36 diferentes referências socioprofissionais, sentimos necessidade de as categorizar de forma mais simples.

A estratificação social não pode ser considerada de forma estática, pois variou no tempo e no espaço. A divisão social do trabalho e a inerente desigualdade na valorização social de cada função estão na origem dos factores de diferenciação social. Existem diversos critérios a considerar na diferenciação social, tais como a ocupação, os níveis de fortuna e de rendimento, os padrões de educação e de cultura, a posição no seio da estrutura do poder, o lugar ocupado no processo produtivo, a competência ou o prestígio. A categoria sócio-profissional era a mais acessível nas fontes consultadas. Porém, colocavam- se diversos problemas em relação ao momento do percurso social individual a considerar para categorizar

os indivíduos. Assim, as categorias que definimos não devem ser consideradas como estratos sociais nem, muito menos, classes reais.186

Os diferentes estatutos socioprofissionais foram agrupados em oito categorias (Vide Quadro n.º11). As denominações adoptadas foram profissões liberais, capitalistas, funcionalismo público, comerciantes, proprietários, assalariados, diversos e os que não conseguimos determinar. Na categoria de profissões liberais incluímos as actividades ligadas à medicina, à engenharia, ao direito, à formação superior e à gestão. Na categoria de capitalistas englobamos os banqueiros, os industriais e os que viviam de rendimentos. Na categoria de funcionalismo público reunimos os funcionários de finanças, dos correios, da alfândega, do ensino e os oficiais do exército. Os comerciantes e os negociantes formavam outra categoria. Os proprietários e os lavradores integravam a quinta categoria. Na categoria de assalariados incluímos as profissões indiferenciadas, os artesãos e os operários. Na penúltima categoria reunimos diversas situações, mais precisamente os membros do clero, os desportistas e os estudantes. Os casos que não conseguimos determinar formaram a última categoria. Um dos nossos propósitos foi aproximar esta organização da actual divisão da população activa por sectores de actividade.

Quadro 11 - Distribuição sócio-profissional dos investidores

Açúcar Aguardente Vinho Total (*)

N.º % N.º % N.º % N.º % Profissões liberais 6 10,9 22 7,1 15 6,2 40 4,8 Assalariados - - 9 2,9 11 4,5 43 5,2 Capitalistas 2 3,6 7 2,3 8 3,3 13 1,6 Funcionalismo 4 7,3 20 6,5 12 4,9 32 3,9 Comércio 19 34,5 85 27,5 142 58,4 312 37,8 Proprietário 24 43,6 164 53,1 54 22,2 281 34,1 Outros - - 2 0,6 1 0,4 4 0,5 Não refere - - - 100 12,1 55 100 309 100 243 100 825 100

Nota: (*) O total referiu-se ao conjunto dos casos inventariados. Alguns investidores tinham interesses económicos no açúcar, na aguardente e no vinho.

A nossa abordagem permitiu identificar as 2 categorias claramente mais representativas, que no conjunto ultrapassavam 70% dos casos. Falamos de 312 sócios que exerciam actividades ligadas ao comércio e 281 identificados como proprietários ou lavradores. Estes números atestavam a dimensão do

186J. M. Carvalho Ferreira, João Peixoto, Anabela Soriano Carvalho, Rita Raposo, João Carlos Graça e Rafael Marques, Sociologia, McGraw-Hill, 1995, pp. 343 e ss..Rui de Ascensão Ferreira Cascão, Figueira da Foz e Buarcos…, pp. 327 e ss.

espaço económico insular. As culturas da vinha e da cana-de-açúcar assumiram particular destaque em termos de ocupação do solo arável e dos rendimentos agrícolas. Porém, as técnicas de cultivo, a estrutura da propriedade e os factores geofísicos cerceavam as possibilidades de expansão. Nestas circunstâncias, os capitais imobilizados podiam ser reunidos por um grupo relativamente restrito de associados. Os comerciantes e negociantes eram os agentes económicos mais dinâmicos, diversificando o leque de investimentos a todos os sectores que perspectivavam bons retornos, designadamente a preparação e exportação do vinho da Madeira ou a transformação da cana sacarina. Os proprietários e lavradores tinham interesses intrínsecos à agricultura, pelo que se compreende facilmente a vontade de incrementarem os seus proventos através dos investimentos na transformação da matéria-prima.187

Em termos de representatividade, seguiam-se 43 assalariados, 40 ligados às profissões liberais e 32 na área do funcionalismo público, mas em qualquer dos casos não iam além de 4 a 5%. No primeiro caso, a grande maioria correspondia a trabalhadores indiferenciados, relacionados com 3 sociedades, enquanto os empregados de comércio se distribuíam por um número bastante diversificado de sociedades. No que concerne às profissões liberais, a mais frequente era a medicina, representando dois quintos. A segunda mais importante era a advocacia, com um quarto dos casos. A terceira era formada pelos gerentes comerciais, que surgiam com um oitavo dos casos. Quanto ao funcionalismo público, havia uma grande diversidade de situações. Porém, mais de metade seguiu a carreira militar.

As categorias socioprofissionais de menor representatividade eram formadas por capitalistas e diversas situações. No primeiro caso eram 13, mas o peso no conjunto não ia além de 1,6%, e no segundo 4, ficando aquém de 0,5%. Os capitalistas, os industriais e os que viviam de rendimentos constituíam cerca de dois quintos cada, enquanto os banqueiros se ficavam por cerca de um quinto. Metade dos restantes casos diziam respeito a sacerdotes, havia ainda um sportsman e outro que se encontrava a cursar na Universidade de Coimbra.

187 José Amado Mendes e Alda Mourão Filipe (coord.), Estudos do Século…, p. 143, estes resultados aproximam-se aos verificados em Espanha e em outros

5.1.1- Os empresários vinícolas

Neste ponto do trabalho abordamos as categorias socioprofissionais que estavam directamente relacionados com as empresas que preparavam e negociavam o vinho da Madeira. Tratou-se de um grupo de 243 associados, ou seja, uma minoria por comparação com os 825 nomes constantes em 549 casos. Seguindo os critérios definidos anteriormente, as categorias eram, por ordem decrescente, os comerciantes, os proprietários, as profissões liberais, o funcionalismo público, os assalariados, os capitalistas e as outras situações. No entanto, as duas primeiras destacavam-se claramente, englobando cerca de quatro quintos do total de associados.

A primeira conclusão relacionou-se com a clara distinção entre os circuitos de produção e de comercialização do vinho da Madeira. Assim, quase três quintos dos associados negociavam o vinho e exerciam predominantemente actividades de índole comercial. Este valor atestou o domínio das sociedades estabelecidas no Funchal, as quais adquiriam vinho aos produtores, aos partidistas ou a sociedades congéneres, para depois o prepararem para exportação. A regulamentação do sector procurou facilitar a fiscalização da Alfândega, com a concentração dos armazéns dos negociantes nos limites da cidade do Funchal, o controlo da alcoolização do vinho e a elaboração de registos com os exportadores no activo no ano anterior.

O número de proprietários e lavradores que se imiscuíram na comercialização do vinho da Madeira equivaleu a pouco mais de um quinto. Os 54 associados em questão traduziram a inclinação dos produtores para a venda de vinhos claros. Esta cifra pode ser interpretada como uma consequência da diminuição do preço dos mostos, em consequência do decréscimo do valor dos vinhos mais alcoolizados nos mercados internacionais. Podemos comprovar esta realidade mediante a análise das saídas de álcool do Armazém Central, na colheita de 1930-31. Os viticultores efectuaram 582 requisições de valor igual ou superior a quarenta litros, enquanto os exportadores realizaram 537 para beneficiação de vinhos e 26 para fabrico de vinhos surdos. Se tivermos em consideração as quantidades médias solicitadas, os valores eram, respectivamente, de 131, 1.149 e 1.353 litros. Ainda assim, aproximadamente 32% dos viticultores

tratavam cerca de uma pipa de vinho, 34% duas pipas e 14% não mais de três pipas por ano. No extremo oposto, a requisição mais elevada permitiu tratar 30 pipas de vinho.188

A terceira categoria sócio-profissional mais importante relacionou-se com o exercício de actividades liberais. Estamos a falar de 15 indivíduos, ou seja, a pouco mais de 6% dos associados que negociavam o vinho da Madeira. Destes, dois quintos tinham formação em medicina, um quinto em direito e pouco mais de um décimo com formação comercial, pois exerciam a actividade de guarda- livros. No caso da medicina, o vinho tratado era recomendado para debelar algumas doenças. Neste âmbito, o Dr. João da Câmara Leme discorreu sobre «o vinho Cannavial», inteiramente produzido à base da casta Boal. Os guarda-livros desempenhavam funções contabilísticas, sendo uma mais-valia para a organização da escrita comercial. No entanto, a sua participação nas sociedades era muito pouco significativa.189

As categorias socioprofissionais identificadas com o funcionalismo público correspondiam a cerca de 5% dos associados. Destes 12 indivíduos, dois terços eram oficiais do exército. A presença de chefias militares não é alheia ao prestígio da carreira das armas, cujos postos eram usualmente reservados a elementos das famílias mais proeminentes. Assim, conseguiam contactos importantes para o desenvolvimento da actividade comercial. As restantes categorias representavam o terço remanescente, mas correspondiam a diferentes actividades, tais como director dos correios, conservador do Registo Predial e funcionário de finanças.

Os assalariados representavam menos de 5% dos associados ligados à comercialização do vinho da Madeira. A esmagadora maioria desempenhou funções como empregado de comércio. Porém, detinham uma participação minoritária no capital social. A relação de confiança que estabeleciam com os proprietários era recompensada com a admissão na sociedade. Nesta categoria, encontramos apenas um tanoeiro. Estes oficiais eram imprescindíveis ao fabrico do vasilhame empregue na exportação de grande parte do vinho da Madeira, mas estranhamento não participavam nas empresas do ramo. O caso em

188 ARM, Alfândega do Funchal, Saída de Álcool do Armazém Central, 1930.

questão referiu-se à quitação de uma dívida de José Vieira, no valor de 150$00, para com a firma The Madeira Wine Association Lda..

A categoria sócio-profissional de menor representatividade era formada por 8 capitalistas. Tratava-se, mais precisamente, de 4 associados que viviam dos seus rendimentos, 3 banqueiros e 1 industrial. No primeiro destes casos tratou-se de um empréstimo de capital e de mercadorias, vencendo juro, respectivamente, de 8% e 5% ao ano. Ao fim de 2 anos, o capital podia ser levantado em todo ou em parte pelos 2 capitalistas. Os banqueiros diversificaram os investimentos em vários sectores. Quanto ao industrial, o próprio Henry Hinton, esteve associado ao período inicial da firma The Madeira Wine Association Lda.. O seu interesse por este negócio decresceu bastante com as dificuldades advindas da Iª Guerra Mundial, ao ponto de vender a sua quota inicial de 20 contos por apenas 15 contos, em 1917. O industrial ainda constou como procurador da Companhia de Vinhos e Azeites de Portugal, que detinha uma participação de 73.150$00 na referida firma. Neste caso, a cessão efectuou-se em 1924, pelo montante de 119.800$00. Esta ruptura ocorreu precisamente no ano posterior à coligação das principais firmas exportadoras de vinho da Madeira e um ano antes de a firma The Madeira Wine se associar às firmas Blandy Brothers & Cª e Leacock & Cª Lda..190

Em seguida, pretendemos esclarecer o papel desempenhado pelos partidistas na preparação e na exportação do vinho da Madeira. A inclusão destes agentes económicos e de viticultores no registo dos exportadores destinou-se a assegurar o escoamento da produção, no caso de propostas de aquisição a preços reduzidos ou de recusas em adquirir vinho por parte das grandes firmas exportadoras, como se verificou na década de 1900, evitando uma situação de monopólio. Todavia, o rateio da contribuição industrial pelo grémio de exportadores, do qual estavam isentos os viticultores e partidistas, suscitou acesa polémica. Das cerca de 250 entidades inscritas na Alfândega do Funchal, apenas uma dezena apresentou exportações anuais superiores a 100 pipas e integrou aquele grémio. Além disso, alguns negociantes recorriam a subterfúgios para não pagarem a contribuição industrial, designadamente ao declararem não

possuir vinho ou que o mesmo se destinava à venda a retalho. Porém, quando o comércio reanimava, pretendiam utilizar as contas antigas.191

Os partidistas, como o próprio nome indica, compravam pequenas partidas de vinho aos produtores para melhorarem nos seus armazéns e venderem às firmas exportadoras, quer como vinhos especiais, quer em grandes quantidades. Estes intermediários também fabricavam vinho surdo e forneciam vinhos licorosos da Madeira e vinhos comuns ao mercado insular. A título de exemplo, no ano de 1912, cerca de um sexto do vinho negociado pelos exportadores foi adquirido a estes intermediários (Vide Quadro n.º 12). Apesar de se encontrarem registados na Alfândega como exportadores, poucos o faziam. No entanto, as esparsas referências que encontramos na imprensa local mencionavam quantidades apreciáveis, todas elas iguais ou superiores a 100 pipas.192

Quadro 12 - Volume de vinho exportado (em hectolitros) Grandes exportadores Pequenos exportadores Hectolitros % Hectolitros % 1910 29.034 98,01 590 1,99 1911 30.974 97,11 922 2,89 1912 26.863 93,52 1.860 6,48 1913 31.277 96,46 1.148 3,54 1914 22.867 95,58 1.058 4,42 1915 22.309 84,81 3.995 15,19 1916 46.167 97,10 1.380 2,90 1917 11.936 94,07 752 5,93 1918 12.549 97,57 313 2,43 1919 82.112 98,20 1.501 1,80 1920 24.271 94,02 1.543 5,98

Fonte: O Comercio da Madeira, n.º 458, 13 de Setembro de 1921.

Os partidistas tornaram-se bastante úteis às grandes firmas exportadoras porque imobilizavam capitais em vinhos sujeitos a envelhecimento prolongado. Por outro lado, as partidas de vinho permitiram o aparecimento de grande número de pequenas firmas. Podemos ainda salientar que estes agentes económicos intervinham na compra dos mostos em anos de elevada produção. Porém, as alterações legislativas condicionaram a inclusão na categoria de exportadores às entidades possuidoras de armazéns apropriados para a indústria vinícola, matriculadas no Tribunal de Comércio e colectadas na Repartição

191 Idem, O Comercio da Madeira, n.º 455, de 7 de Setembro de 1921. Idem, n.º 458, de 13 de Setembro de 1921. Idem, Alfândega do Funchal, L.º 701, 4 de Abril de 1918.

192 José Tavares, Subsídios para o Estudo…, p. 32. ARM, Diário do Comercio, n.º 2867, 17 de Julho de 1906. Idem, n.º 3123, de 30 de Maio de 1907, a firma Cossart Gordon comprou uma partida de 115 pipas e outra de 300 pipas. Idem, n.º 3711, 17 de Janeiro de 1910, a firma H. P. Miles comprou uma partida de 100 pipas. Idem, Diário da Madeira, n.º 1407, 1 de Dezembro de 1915, José Fernandes de Azevedo vendeu vinhos a retalho para consumo e embarque, em quantias mínimas de 1 litro, mas com desconto nas aquisições à pipa. Benedita Câmara, A Economia da Madeira…, p. 136.

de Finanças, dando origem a sérias reservas por parte dos viticultores e das autoridades administrativas locais relativamente às grandes firmas exportadoras.193

A nossa pesquisa não permitiu reunir muitas informações sobre os partidistas. Sabemos que Augusto C. Bianchi, de origem italiana, possuía uma grande quantidade de vinhos da Madeira. Porém, como não se encontrava matriculado na Alfândega do Funchal, limitou-se a vender partidas de vinho. Os exportadores compravam-lhe grandes quantidades, quando os seus stocks se encontravam em baixa. Este vinicultor utilizou apenas estufas de sol na preparação dos vinhos licorosos da Madeira. As suas lojas ocupavam parcialmente a Praça da Constituição.

A firma Henriques & Henriques foi fundada por João Joaquim Gonçalves Henriques, em 1850. A empresa actuou no mercado como partidista, tendo por base a produção nas suas extensas propriedades, localizadas em Belém, Câmara de Lobos. A firma actual teve origem em 1913, sob a direcção de João Joaquim e Francisco Eduardo. Estes foram responsáveis pelo início da comercialização com marca própria e pela fusão com as firmas Casa de Vinhos da Madeira Lda., Belém’s Madeira Lda., Carmo Vinhos Lda., António Eduardo Henriques Sucessores Lda. e António Filipe Vinhos Lda.. A partir de 1925, deixaram de fornecer as casas exportadoras de vinhos da Madeira e assumiram-se como exportadores. Porém, o registo dos exportadores, publicado por iniciativa da Alfândega, integrou a firma desde 1921, constando em diferentes anos como exportadora, negociante ou produtora.

O Diário do Comércio noticiou uma partida de 115 pipas de vinho. O negócio foi efectuado entre a firma Cossart Gordon & Cª e Jacinto Fernandes. Este último integrou a lista de comerciantes, organizada pela Alfândega do Funchal. O seu nome constou ininterruptamente entre os anos de 1910 e 1922. Porém, a categoria que lhe foi atribuída não era uniforme. Nos primeiros quatro anos e nos últimos quatro surgiu como exportador, mas pelo meio apareceu três anos como produtor e dois como negociante. Estes anos de permeio coincidiram, precisamente, com o primeiro conflito mundial.

O referido diário divulgou outra partida de 300 pipas, também em 1907. Desta feita, o negócio efectuou-se entre a firma Cossart Gordon & Cª e Henrique de Menezes Borges. Este partidista integrou as

193 ARM, Diário da Madeira, n.º 4806, 21 de Julho de 1927. Idem, n.º 4807, 22 de Julho de 1927. Idem, n.º 4815, 31 de Julho de 1927, os viticultores de S. Vicente, reunidos na respectiva Câmara, apelaram ao patriotismo do Governo face aos «estrangeiros endinheirados». Idem, n.º 4819, 5 de Agosto de 1927, protesto da comissão executiva da Câmara Municipal do Funchal contra a alínea d) do art. 6.º do Decreto n.º 13990.

listas anuais publicadas oficialmente entre 1910 e 1924, embora não conste nas de 1918 e 1923. Ele constou como exportador até 1922, em nome próprio ou sob firma individual. Passados dois anos, a referência já era de negociante. A partir de 1925, os negócios estavam a cargo da firma H. M. Borges, Sucessores & Cª Lda., mas ainda como negociante. Nos anos seguintes, a firma constou novamente como exportadora de vinho da Madeira.

A terceira partida de vinho que encontramos relacionou-se com o valor mais baixo, mas ainda assim de 100 pipas. O negócio foi celebrado entre a firma H. P. Miles & Cª e Francisco Nunes Pereira de

No documento MESTRADO EM HISTÓRIA E CULTURA DAS REGIÕES (páginas 112-127)

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