• Nenhum resultado encontrado

Factores envolvidos na gravidez

1.4.4. Factores envolvidos durante o primeiro ano de vida

1.4.4.1. Nutricionais

A duração e o modo de amamentação têm um importante papel na prevenção/desenvolvimento da obesidade infantil. Apesar de alguma controvérsia no que se refere ao aleitamento materno, a maioria dos estudos defende que o aleitamento materno consiste num factor protector da obesidade infantil (Balaban et al., 2004). Esta correlação entre amamentação e baixo risco de desenvolvimento de obesidade tem sido alvo de estudo por diversos investigadores. Num estudo transversal de Von Kries et al., (1999) com 9357 crianças alemãs, com idades compreendidas entre os 5 e os 6 anos de idade, verificou-se uma prevalência de obesidade de 4,5% entre crianças que nunca haviam sido amamentadas e de 2,8% entre aquelas que receberam aleitamento materno (cit. Espanca, 2010).

De acordo com Gillman et al., (2001), verificou-se uma associação significativa entre o aleitamento materno, a sua duração e a prevalência da obesidade, sendo que as crianças que foram amamentadas por um período de 12 meses, apresentam uma menor probabilidade de sofrerem de obesidade do que crianças que são amamentadas por um período de 2 meses. Um outro estudo de Balaban et al., (2004) que se destinou a verificar os efeitos da duração do aleitamento materno, apresenta conclusões semelhantes ao anterior, no sentido em que, verificaram uma relação inversa entre o aumento do tempo de amamentação e a prevalência da obesidade: 3,8% para as que foram amamentadas por dois meses, 2,3% para três a cinco meses, 1,7% para seis a 12 meses e 0,8% para mais que 12 meses.

Um outro aspecto importante de salientar prende-se com os diferentes padrões de ganho de peso entre as crianças que receberam aleitamento materno e as que não receberam. Os bebés amamentados crescem mais rápido nos primeiros 3 meses de vida, mais lentamente até um ano e alcançam o mesmo peso durante o segundo ano de vida. Contrariamente, os bebés não amamentados vêm o seu peso a duplicar mais precocemente do que os que receberam aleitamento materno e o aumento de peso é relativamente mais rápido do que o crescimento da altura (Heinig et al., 1993).

30

As crianças que recebem aleitamento materno nos primeiros 12 meses de vida, apresentam diferentes hábitos alimentares do que aqueles que não recebem, sendo que de acordo com um estudo de Lande et al., (2003), na segunda metade da infância, crianças que foram amamentadas apresentam um menor consumo de bebidas açucaradas, carne e peixe e um consumo mais elevado de água, vitaminas, minerais e fibras.

De facto, a inexistência ou um reduzido aleitamento materno são factores que se encontram fortemente relacionados com o desenvolvimento da obesidade infantil (Fisberg, 2006 cit. Espanca, 2010), ao passo que, a maioria dos estudos relatou um efeito protector do aleitamento materno contra a obesidade infantil (Balaban et al., 2004).

No que respeita o início do desmame, este é determinado pela duração do aleitamento materno, portanto, o impacto de um desmame precoce, o qual se encontra associado à obesidade infantil, será semelhante ao impacto determinado pela pequena duração da amamentação. De facto, a precoce introdução de alimentos diferentes do leite, determina a ausência do efeito protector do leite materno (Tabacchi et al., 2007). Segundo Fisberg (2006 cit. Espanca, 2010), uma introdução inadequada de alimentos complementares é um factor com grande responsabilidade no desenvolvimento da obesidade infantil.

Wilson et al., (1998) mostraram que a precoce introdução de alimentos sólidos corresponde a um aumento na percentagem de massa gorda e a um aumento do peso por volta dos sete anos de idade. Deste modo, um desmame inadequado pode causar uma alteração no controlo da comida ingerida nas crianças.

Na realidade, entre os quatro e os seis meses de idade a criança poderá dar início a uma diversificação alimentar. A indicação varia de acordo com os critérios seguidos pelo profissional de saúde que acompanha o bebé e a situação específica daquela criança, tendo em conta aspectos como: tipo de aleitamento, evolução do peso/estatura, história familiar de alergias e aspectos socioeconómicos. Contudo, existem regras para a introdução dos alimentos que deverá ser acima de tudo faseada e progressiva, no que respeita as quantidades, a diversificação e a textura (Espanca, 2010). De acordo com Brophy et al., (2009), a administração de alimentos sólidos antes dos três meses de idade encontra-se associada ao desenvolvimento da obesidade infantil. Na realidade, a introdução desregrada de novos alimentos, sobretudo em idades muito precoces, pode conduzir ao aumento de peso de forma excessiva.

31 1.4.4.2. Não nutricionais

O nascimento prematuro é um acontecimento importante de ter em consideração no sentido em que pode encontrar-se associado ao desenvolvimento da obesidade infantil. Considera-se nascimento prematuro quando o bebé nasce antes das 36 semanas de gestação, sendo que o seu efeito no desenvolvimento da obesidade infantil deve-se, essencialmente, ao seu baixo peso de nascimento, seguidamente explicitado. Por outro lado, o efeito indirecto do nascimento prematuro na obesidade infantil pode-se explicar através da baixa probabilidade de amamentar uma criança prematura (Tabacchi et al., 2007).

O peso de nascimento consiste num factor que tem sido alvo de controvérsias. Alguns autores descobriram uma relação positiva entre a macrossomia (elevado peso dos recém-nascidos) e um elevado índice de massa corporal na infância (Brophy et al., 2009; Reily et al., 2005). Outros estudos, por sua vez, mostraram uma relação positiva entre um baixo peso ao nascer e uma elevada prevalência de obesidade infantil. Rossi e Vasconcelos (2010) realizaram uma revisão de literatura sistemática, em 14 artigos científicos, tendo como objectivo verificar o nível de evidência científica e epidemiológica da hipótese de associação entre o peso ao nascer e a pré- obesidade/obesidade na infância e adolescência. Através deste estudo, constatou-se que, na maioria dos artigos, o elevado peso ao nascer apareceu associado ao excesso de peso. Por outro lado, três dos artigos mostraram uma relação entre baixo peso ao nascer e o rápido crescimento nos primeiros anos de vida com o excesso de peso na infância e adolescência, um associou o baixo peso a uma maior percentagem de gordura corporal e abdominal e o outro defendeu o baixo peso ao nascer como um factor protector da pré-obesidade/obesidade nas crianças e nos adolescentes. Entre os factores perinatais associados ao excesso de peso na idade pré-escolar, a macrossomia e o baixo peso ao nascer (não necessariamente a prematuridade) consistem em alguns dos factores apontados de forma mais consistente como estando em relação com a obesidade infantil (Martins et al., 2006).

Por sua vez, o rápido crescimento é um factor pertinente que pode encontrar- se em relação com o desenvolvimento da obesidade infantil. Num estudo longitudinal de Eid (1970), foram observadas crianças nos primeiros seis meses de vida e examinadas novamente entre os 6 e os 8 anos de idade. Aquelas que adquiriram peso mais rapidamente durante os primeiros seis meses de vida, sobretudo devido a uma precoce ingestão de cereais, apresentavam um peso e altura mais elevados, sendo o

32

número de crianças obesas significativamente mais elevado. No mesmo sentido, uma revisão sistemática realizada em 2005 por Baird et al.,, concluíram que as crianças que crescem mais rapidamente possuem um elevado risco de desenvolver obesidade. Recapitulando um outro estudo anteriormente referido, o rápido crescimento nos primeiros anos de vida (catch-up growth) associado a um baixo peso ao nascer encontram-se relacionados com o excesso de peso na infância e adolescência (Rossi & Vasconcelos, 2010).

De acordo com Fisberg (2006 cit. Espanca, 2010) o aumento ponderal rápido durante os primeiros meses de vida consiste num factor pertinente ao desenvolvimento da obesidade na idade pré-escolar.