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1 - O utente tem direito a uma factura que especifique devidamente os valores que apresenta.

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2 - A factura a que se refere o número anterior deve ter uma periodicidade mensal, devendo discriminar os serviços prestados e as correspondentes tarifas.

3 - No caso do serviço de comunicações electrónicas, e a pedido do interessado, a factura deve traduzir com o maior pormenor possível os serviços prestados, sem prejuízo do legalmente estabelecido em matéria de salvaguarda dos direitos à privacidade e ao sigilo das comunicações.

4 - Quanto ao serviço de fornecimento de energia eléctrica, a factura referida no n.º 1 deve discriminar, individualmente, o montante referente aos bens fornecidos ou serviços prestados, bem como cada custo referente a medidas de política energética, de sustentabilidade ou de interesse económico geral (geralmente denominado de custo de interesse económico geral), e outras taxas e contribuições previstas na lei.

5 - O disposto no número anterior não poderá constituir um acréscimo do valor da factura.

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A actual redacção deste artigo 9º foi introduzida pela Lei n.º 12/2008, de 26 de Fevereiro, e pela Lei 44/20011, de 22 de Junho.

Era a seguinte a redacção original deste preceito legal:

Artigo 9º Facturação

1- O utente tem direito a uma factura que especifique devidamente os valores que apresenta.

2 - No caso do serviço telefónico, e a pedido do interessado, a factura deve traduzir com o maior pormenor possível os serviços prestados, sem prejuízo de o prestador do serviço dever adoptar as medidas técnicas adequadas à salvaguarda dos direitos à privacidade e ao sigilo das comunicações.

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Comentário:

Ao determinar que “o utente tem direito a uma factura que especifique devidamente os valores que apresenta”, o legislador pretendeu garantir ao utente uma informação detalhada acerca dos valores peticionados e sua origem.

São, pois, razões que se prendem com o direito à informação do utente que estão na origem do normativo legal do n.º 1.

Já no que diz respeito ao normativo legal constante do n.º 2, são razões de protecção dos interesses económicos do consumidor/utente que estão na sua origem.

Efectivamente, ao impor-se uma facturação com uma periodicidade mensal e que discrimine os serviços prestados e as correspondentes tarifas, impediu, desde logo, o legislador que os prestadores dos serviços pudessem, por exemplo, apresentar facturas semestrais ou anuais, correspondentes aos serviços prestados durante esse período de tempo.

Uma coisa é receber uma factura mensal onde se discrimina os serviços prestados nesse mês e os valores devidos, outra é uma factura semestral ou anual. É muito mais penoso para o consumidor/utente ter que proceder a pagamentos de montante elevado, relativos a longos períodos de tempo, em vez de pagamentos mais reduzidos, relativos a curtos períodos de tempo.

A periodicidade mensal (atendendo a que as pessoas também recebem os seus salários mensalmente) constitui um benefício para o planeamento dos orçamentos pessoais e

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familiares, reduzindo a margem de incerteza que possa existir quanto aos valores a pagar27.

Jurisprudência:

“I- Não é excluído do regime prescritivo previsto na Lei n.º 23/96, de 26 de Julho o fornecimento de energia eléctrica em média tensão.

II- O direito de exigir o pagamento de fornecimento de energia eléctrica de média tensão prescreve no prazo de seis meses (ver artigo 10.º/1 da Lei n.º 23/96, de 26 de Julho).

III- A prestação de serviços essenciais, nos quais se inclui o fornecimento de energia eléctrica, não se enquadra em nenhum dos créditos referidos nos artigos 316.º e 317.º do Código Civil, mas no n.º 1 do referido artigo 10.º onde não se concede que a prescrição tenha natureza outra que não a extintiva.

IV- A emissão de factura (e a sua comunicação ao devedor) não constitui causa interruptiva do prazo de prescrição, trata-se de mera interpelação para pagar que não encontra abrigo na previsão constante do artigo 323.º do Código Civil”.

(Ac. do TRL, de 19/09/2006, proferido no proc. n.º 2737/2006-7, acessível na internet em www.dgsi.pt).

O prazo de seis meses previsto no artigo 10.º, n.º 1 da Lei n.º 23/96, de 26/07 refere-se à prescrição do preço devido pelo fornecimento do serviço, sem que a apresentação da factura tenha efeito

27 Na esteira de FROTA, Mário, in Os Serviços de Interesse Geral e o Princípio Fundamental da Protecção dos Interesses Económicos dos Consumidores, RPDC, pag. 39, tanto a sobre facturação como a sub facturação decorrente de acertos pontuais, em virtude de as empresas terem abandonado a facturação mensal regular, tendo por base a leitura real dos contadores, e enveredado pela facturação por estimativa, poe em causa o princípio do equilíbrio dos orçamentos domésticos.

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interruptivo, sendo inaplicáveis os prazos de prescrição previstos no Código Civil”.

(Ac. do TRC, de 08/04/2008, proferido no proc. n.º 56/07.5TBFAG.C1, acessível na internet em www.dgsi.pt)

“1. A finalidade da Lei nº 23/96, de 26/07, indicada no seu artigo 1º, nº 1, é a de proteger o utente ou utilizador de qualquer dos bens ou serviços públicos nela enumerados. Com a entrada em vigor dessa Lei, os créditos provenientes da prestação de serviços públicos essenciais, como é o serviço de telefone (artigo 1º, n° 2, alínea d)), passaram a prescrever no prazo de 6 meses após a sua prestação - cfr. artigo 10º, nº 1.

2. Estabelecido que “o direito de exigir o pagamento do preço prescreve no prazo de seis meses após a sua prestação”, os próprios termos literais desse normativo inculcam que o crédito e respectiva obrigação se extinguem; e constituindo a prescrição extintiva a regra e a presuntiva a excepção, esta só funciona nos casos expressamente previstos, o que não é o caso daquele artigo 10º.

3. Atenta, ainda, a finalidade da Lei referida, tem-se concluído que no seu artigo 10º, nº 1, se consagrou uma prescrição extintiva ou liberatória, e não meramente presuntiva.

4. O envio da factura ao consumidor funciona, quanto muito, como interpelação para pagamento e, consoante artigo 805º, nº 1 do Código Civil, constituirá o devedor em mora, mas não importa ou determina a interrupção do prazo prescricional.

5. Deve prevalecer o regime especialmente previsto para a prestação de serviços de telecomunicações ou para o serviço de telefone e deve considerar-se que o direito ao pagamento do preço se extingue, por prescrição, seis meses após a prestação de cada serviço prestado.

6. A apresentação da factura valerá como interpelação para pagar, significando que o devedor se constitui em mora se não cumprir após o fim do prazo indicado na factura; não marca, todavia, o início da

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contagem do prazo de prescrição, que começa com a realização da prestação correspondente ao preço pedido.

7. O prazo prescricional inicia-se após a prestação mensal do serviço, sem que a apresentação da factura tenha efeito interruptivo do mesmo e sendo inaplicáveis os prazos de prescrição previstos no Código Civil, sob pena de se sujeitar o utente a um prazo prescricional, no mínimo de cinco anos e seis meses (seis meses para o envio da factura mais cinco anos para a prescrição extintiva).

8. O direito ao pagamento do preço do serviço de telefone fixo extingue-se, por prescrição, seis meses após a prestação de cada serviço prestado, desde que seja apresentada a correspondente factura, sem que, porém, a apresentação da factura marque o início da contagem do prazo de prescrição - que começa com a realização da prestação correspondente ao preço pedido - valendo apenas como interpelação para pagar, isto é, significando somente que o devedor se constitui em mora se não cumprir após o fim do prazo indicado na factura”.

(Ac. do TRL de 12/03/2009, proferido no proc. n.º 9022/2008-1, acessível na internet em www.dgsi.pt)

“O prazo de seis meses previsto no artigo 10.º, n.º 1 da Lei n.º 23/96, de 26/07 refere-se à prescrição do preço devido pelo fornecimento do serviço, sem que a apresentação da factura tenha efeito interruptivo, sendo inaplicáveis os prazos de prescrição previstos no Código Civil”.

(Ac. do TRC de 08/04/2008, proferido no proc. n.º 56/07.5TBFAG.C1, acessível na internet em www.dgsi.pt)

“I - O prazo de prescrição previsto no artº 10º nº 1 da Lei 23/96 de 26 de Julho, aplicável aos créditos resultantes de prestação de serviços de fornecimento de água, quer na sua redacção originária, quer na redacção que lhe foi dada pela Lei 12/08 de 26 de Fevereiro, tem natureza extintiva;

II - Tal prazo conta-se desde a data da efectiva prestação do serviço;

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II - A apresentação da factura ao utente do serviço vale como interpelação de pagamento, mas não constitui facto interruptivo da prescrição”.

(Ac. do TRC de 14/05/2009, proferido no proc. n.º 1044/08.0TBFAF.G1, acessível na internet em www.dgsi.pt)

No documento Lei dos Serviços Públicos Essenciais (páginas 118-124)

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