Falhamentos de Meso-escala na Área de Estudo

Os principais falhamentos na área de estudo foram determinados pelas descontinuidades litológicas presentes, evidenciando o contato anômalo entre diferentes unidades litoestratigráficas. O exame de exemplos de falhas mesoscópicas fornece informações adicionais sobre a cinemática das grandes estruturas. Em adição, alguns elementos ou feições estruturais são indicativos das relações entre a sedimentação, diagênese e a deformação, sendo discutidos a seguir.

Bandas de deformação foram reconhecidas nos arenitos das formações Cariri,

Missão Velha e Abaiara, com diferentes características – cataclásticas ou hidroplásticas.

Formam sistemas conjugados ou compostos por planos isolados, com bandas entrelaçadas que podem alcançar espessuras de até 20 cm. São, em geral, de pequena escala e não superam os 20 metros de comprimento e 20 cm de rejeito de mergulho (Figura 3.12).

Nas diferentes localidades encontradas, as bandas de deformação refletem o mesmo sistema de esforços descrito em escala regional. O comportamento dos sistemas conjugados e/ou das bandas isoladas em relação com as direções das estrias medidas sobre

os planos de falha, permitem inferir uma direção NW do esforço distensivo principal (σ3) e

um esforço intermediário (σ2 ) vertical. A geração das estruturas em relação com os

esforços deduzidos sugere condições de desenvolvimento distensional transicional (transitional tensile behavior; Davis & Reynols, 1996), no qual o fraturamento é resultado

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Figura 3.11 - Linha sísmica Norte-Sul Oeste 141-006. A contínua influência da sinéclise pré-rifte com mergulho original para sul influenciou na história subseqüente de deposição das unidades sobrepostas (Veja localização da linha na figura 3.1).

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da combinação, em diferentes proporções, de distensão e de cisalhamento (figuras 3.13 e 3.14).

Boa parte das estruturas descritas como “bandas de deformação” correspondem a falhamentos hidroplásticos. Os mesmos são característicos de arenitos com alta porosidade e saturação em água, que foram cisalhados sob condições que induzem a reorientação dos clastos numa matriz de baixa resistência mecânica. Posteriormente, a precipitação dos fluidos reduz drasticamente a permo-porosidade da rocha e das estruturas, resultando em planos cimentados que se tornam resistentes à erosão. ( Davis & Reynols, 1996)

Figura 3.12 - A) Bandas de deformação subverticais na Formação Cariri, com orientação média E- W a ENE. Neste afloramento, microfraturas nos seixos permitem inferir deformação cataclástica e, em conjunto com estruturas S-C, uma cinemática transcorrente sinistral nesses planos; B) Detalhe de uma banda E-W, deslocando (cinemática sinistral) bandas conjugadas e fraturas T. Localização a leste da cidade de Mauriti, e C) Bandas de deformação NNE/NE subverticais, com componente de rejeito dextral, na Formação Missão Velha. Leste da Rodovia BR-116 e a sul de Milagres.

A partir desta nova condição, a continuação dos esforços é acompanhada por processos de fricção, que geram cataclase em escala granular. No estágio inicial, com

A B

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presença de fluidos preenchendo o espaço poroso, este processo recebe o nome de deformação hidroplástica e é um fenômeno que ocorre comumente em sedimentos pouco ou parcialmente litificados. (Davis & Reynols, 1996) A freqüência deste tipo de feição sugere que as formações Missão Velha e Abaiara foram submetidas a esforços deformacionais ainda em estágio não litificado, o que é consistente com o seu posicionamento no estágio Rifte, ou no início do mesmo. No caso da Formação Cariri, o freqüente fraturamento de seixos, ao longo das bandas de deformação, sugere predomínio de feições cataclásticas.

Figura 3.13 - A) Sets de falhas N-S ilustrando a distribuição dos esforços sob um esquema de desenvolvimento distensional transicional, e B) Detalhe das bandas em C, ilustrando slickenlines de alto rake que indicam um falhamento com componente principal de mergulho; provavelmente trata-se de bandas associadas a falhas normais, basculadas (verticalização dos planos).

Na Formação Abaiara, falhas sinrifte ilustradas na Figura 3.15A exibem

slickenfibers bem desenvolvidos, uma feição mais típica de deformação cataclástica com

percolação de fluidos. Essas feições cataclásticas também ocorrem nas outras formações, Abaiara (exemplo na Figura 3.15B) e Missão Velha, convivendo com as bandas hidroplásticas, que são mais freqüentes (Figuras 3.12C, 3.13, 3.14).

Na Formação Abaiara, a deformação ainda se manifesta pela presença de sucessões basculadas por falhas distensionais de expressivo rejeito, que podem superar dezenas de

σ

σ

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metros. Nos blocos falhados, o acamamento exibe mergulhos superiores aos 35° (Figura 3.15).

Figura 3.14 - A e B) Bandas de deformação na Formação Missão Velha, observadas em seção horizontal, C) Seção com orientação aproximadamente E-W, no mesmo afloramento. Um sistema de bandas mais espessas, mergulhando para SE, tem componente de movimento normal; bandas finas com mergulho forte, no mesmo sentido, são interpretadas como fraturas T. Um segundo sistema de bandas mais espessas com orientação N-S tem componente de movimento dextral (observado na seção horizontal).

Figura 3.15 - Falhas em arenitos finos na formação Brejo Santo (A) e Abaiara (B), com slickenfibers bem desenvolvidos, típicos de regime cataclástico com percolação de fluidos.

A B

C

B A

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Figura 3.16 - A) Falhas distensionais basculando a Formação Abaiara, capeada em discordância angular pela Formação Barbalha (a seta azul marca esse contato). Pedreira a norte da Cidade de Crato, a oeste da área mapeada no presente estudo, e B) Detalhe do falhamento, com superposição de efeito de arrasto (rejeito em condições hidroplásticas).

WSW ENE

A

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